721 - FILIPE ANUNCIAÇÃO

Tendo sido um produto das escolas do Boavista, Filipe Anunciação só conseguiria integrar a primeira equipa “axadrezada”, uns bons anos após terminar a sua formação. Seria então, com as cores do Feirense, que o atleta acabaria por fazer a estreia na categoria principal. Depois, apareceria o Paços de Ferreira e, passadas duas temporadas sobre a sua estreia a sénior, os primeiros passos na 1ª divisão.
Apesar de 2000/01 ter marcado o início do seu percurso no escalão máximo, o caminho que, até aí, já tinha feito, contava com diversas presenças na selecção nacional. Pelas camadas jovens de Portugal, o médio tornar-se-ia numa presença habitual. Combativo, como um dos primeiros entraves às ofensivas adversárias, Filipe Anunciação era uma preciosa ajuda nas manobras defensivas. Nesse sentido, a sua integração no grupo que disputaria o Mundial s-20 de 1999, acabaria por não surpreender ninguém.
Já depois da curta passagem pelos principais palcos do futebol português, na qual não conseguiria grande destaque, seria o regresso à divisão de honra que devolveria o trinco às exibições de excelência. No Desportivos das Aves, o médio voltaria a demonstrar as suas qualidades de batalhador incansável. Os seus predicados, que haveriam de o manter em evidência durante esse ano e meio, acabariam por merecer a atenção do Boavista. À procura de alguém que, com características semelhantes, pudesse suprimir a ida de Petit para o Benfica, Jaime Pacheco decide apostar na contratação de um jogador acostumado à “filosofia da casa”.
Habitual presença no “onze” boavisteiro, foi confuso constatar que o final da temporada de 2003/04, levasse à sua saída do Bessa. A carreira do médio, sem que abandonasse o escalão principal, acabaria por prosseguir no Moreirense. Depois, mais uma vez, viria o emblema da Vila das Aves e, por fim, o início do capítulo mais marcante do seu percurso profissional.
Na verdade, esse virar de página, um pouco como no caminho até aí percorrido, não traria nada de muito novo à sua vida. A grande diferença, é que este novo ingresso no Paços de Ferreira conseguiria, em primeiro lugar, cimentá-lo como um dos bons futebolistas do nosso campeonato. A seguir, e reconhecidas as suas qualidades pelos responsáveis e adeptos do clube, viria a progressiva elevação a um dos históricos do emblema da “Capital do Móvel”.
As temporadas que se seguiriam, desde o seu começo em 2007/08, fariam de Filipe Anunciação numa das mais respeitáveis figuras do clube. Conseguindo, com todo o mérito, tornar-se num dos esteios, e figura de proa, dos pacenses, não tardou muito que a braçadeira de capitão fosse a si confiada. Seria nesse estatuto que, dentro de campo, comandaria os seus companheiros naqueles que seriam os melhores capítulos da história do Paços de Ferreira. Com o 3º lugar conquistado na classificação de 2012/13, a época seguinte traria à localidade nortenha as competições europeias. Depois de ter liderado a equipa no “Play-off” da Liga dos Campeões, a eliminação perante os russos do Zenit, levaria Filipe Anunciação, e os seus colegas, a disputar a Liga Europa. Num grupo que contava com Pandurii, Dnipro e Fiorentina, o Paços de Ferreira terminaria na 3ª posição.
O fim da carreira de Filipe Anunciação viria em 2014/15. Sem conseguir atingir o nível exibicional dos anos anteriores, o médio, já com a temporada a decorrer, decide mudar o rumo da sua vida. Aceitando o convite dos dirigentes do clube, o atleta acede em deixar os relvados, para, integrando a equipa técnica de Paulo Fonseca, dar início ao seu percurso como treinador. Nas funções de adjunto, tem, desde então, estado ao serviço dos “Castores”.

720 - ALFREDO

Tendo feito a sua formação no Rio Ave, Alfredo não demoraria muito a tornar-se num dos melhores guardiões do campeonato nacional. Já depois da estreia a sénior na temporada de 1981/82, o ano seguinte traria ao atleta a responsabilidade da titularidade. Tal cargo não haveria de fazer tremer o jovem jogador que, daí em diante, tomaria o lugar como seu.
Como parte do “onze” vila-condense, e integrando um plantel cheio de futebolistas feitos na casa, Alfredo tornar-se-ia num dos esteios das contendas do Rio Ave. Nessas caminhadas, o ano de 1984 haveria de ficar para história do emblema. Já depois de terem deixado para trás equipas como o Vitória de Guimarães, eis que chega o momento de disputar a final da Taça de Portugal. No Estádio Nacional, frente a um FC Porto que nesse mesmo ano haveria de atingir a final da Taça dos Vencedores das Taças, os vareiros acabariam por claudicar. Para a história ficariam os 4-1 que selaria a vitória “azul e branca”. No entanto, muito mais do que o resultado, a histórica partida serviria para catapultar a carreira de alguns dos futebolistas do Rio Ave.
No rescaldo da partida do “Jamor”, alguns dos jogadores vila-condenses começariam a ser cobiçados por outros emblemas. Tal como Quim, que sairia em direcção ao FC Porto, Alfredo (acompanhado por Casaca) veria o destino levá-lo ao Estádio do Bessa. Quase década e meia a defender as balizas axadrezadas, fariam dele, como é óbvio, uma das referências do clube. Todavia, muito mais do que a longevidade alcançada, a postura que sempre apresentou em campo foi o seu melhor legado. A bravura que mostraria entre os postes, uma pitada de loucura e estiradas memoráveis, fariam dele um exemplo a seguir. Depois, havia o resto. O resto era a sua voz, a voz que, desde lá de trás, ecoava pelo campo fora. Esses seus comandos torná-lo-iam num dos atletas mais respeitados dentro e fora do rectângulo de jogo; torná-lo-iam, durante muitos anos, no capitão de equipa.
Ao serviço do Boavista, Alfredo passaria os melhores anos da sua carreira. Tendo conquistado 2 Taças de Portugal (1991/92; 1996/97), o seu currículo ficaria ainda mais preenchido com a vitória das “Panteras” nas Supertaças de 1992/93 e 1997/98. Seria também durante os anos em que estaria ao serviço do emblema portuense, que o guarda-redes faria a sua estreia pela principal selecção portuguesa. Com a “camisola das quinas”, em Oslo, Alfredo jogaria a sua primeira partida, em Abril de 1994. No entanto, muito mais do que esse particular frente à Noruega, ou as duas internacionalizações que se sucederiam, a sua presença na fase final do Euro 96 seria o reconhecimento pela sua brilhante carreira.
Depois de estar presente no Campeonato Europeu disputado em Inglaterra, o seu trajecto profissional duraria apenas mais um par de anos. Tendo posto um ponto final na carreira com o terminar da época de 1997/98, o jogador voltaria à principal equipa boavisteira já depois da viragem do milénio. Fazendo parte da equipa técnica liderada por Jaime Pacheco, Alfredo seria umas das peças de um dos mais importantes episódios da história do clube. Como treinador de guarda-redes, o antigo atleta ajudaria na conquista do Campeonato Nacional de 2000/01.
É nas já referidas funções que Alfredo tem mantido a sua ligação com o futebol. Principalmente no Boavista, mas também com passagens pelo Rio Ave e pelos romenos do Pandurii, o seu trabalho tem sido reconhecido como valoroso. De volta ao Bessa desde 2012/13, tem, desde as divisões inferiores, ajudado na recuperação do emblema. Já nesta temporada de 2016/17, fez parte do “staff” de Erwin Sánchez. Já depois da saída deste último, Alfredo continuaria de “xadrez” e auxiliando o treinador Miguel Leal.

719 - HUMBERTO

Fez sua estreia pela equipa principal do Marítimo, numa temporada que haveria de ficar para a história do emblema madeirense. Em 1976/77, nesse que seria também o seu primeiro ano no escalão sénior, os do Funchal disputavam a 2ª divisão. Tentando voltar aos palcos maiores do futebol nacional, coisa inédita no formato de “liga”, o clube acabaria na 1ª posição da Zona Sul.
Com a promoção alcançada, veio também a estreia de Humberto no patamar máximo do nosso futebol. Preferencialmente ocupando posições defensivas, a vida de Humberto, por essa altura, não era das mais fáceis. Jogando tanto no meio campo, como na direita da defesa, o jovem futebolista estava tapado por outros atletas. A presença de colegas mais experientes, caso do histórico Olavo, faria com que Humberto tivesse algumas dificuldades em impor-se. Todavia, este cenário alterar-se-ia e na temporada de 1980/81, o jogador consegue alterar o seu estatuto no seio do plantel.
Já como elemento do “onze” inicial, Humberto acompanharia a equipa na descida de escalão e numa nova promoção. Contudo, por altura do regresso à primeira divisão (1982/83), o seu percurso com os “verde-rubro” estava para terminar. Na época seguinte, Humberto regressaria ao emblema no qual havia feito toda a sua formação. De volta ao União da Madeira, o jogador acabaria, mais uma vez, por fazer parte de um momento muito importante. Já depois de, durante 6 anos, disputar o campeonato da 2ª divisão, Humberto ajudaria o seu clube a estrear-se no convívio com os “grandes” do futebol português.
A derradeira parte da sua carreira passar-se-ia, também, ao serviço de colectividades da Ilha da Madeira. Já depois de vestir as cores de Machico e São Vicente, Humberto decide ser a altura certa para pôr um ponto final na sua vida como futebolista. Tendo, logo de seguida, dado início ao seu percurso como treinador, seria igualmente no São Vicente que surgiria a oportunidade de encetar novo caminho. Aos primeiros passos, suceder-se-iam passagens por diversos emblemas madeirenses. Esse caminho, encetado a meio da década de 90, levá-lo-ia a também ao Marítimo. Já esta temporada (2016/17), depois de, em anos anteriores, ter orientado as camadas jovens e a equipa “b”, Paulo César Gusmão escolhê-lo-ia para adjunto da sua equipa técnica.

718 - VITAL

Jogava hóquei em patins pelo Sporting de Tomar, quando recebe um pedido de ajuda. João Segorbe, guardião que por essa altura era atleta do GD Matrena, e que ao mesmo tempo aí treinava os iniciados, vê-se sem jogadores para ocupar a baliza. Sabendo que Vital estava habituado a funções semelhantes, lá consegue convencer o jovem a trocar os ringues pelos campos da bola.
Apesar da pequena estatura, a sua elasticidade, poder de elevação e segurança entre os postes, faziam de Vital um bom guarda-redes. Nesse sentido, não tardou muito que do União de Tomar chegasse o interesse na sua contratação. No emblema da “cidade templária”, criadas que estavam as condições para o surgimento dos escalões de formação, o jovem atleta é chamado a ocupar a baliza dos juniores. A aprendizagem demonstrada levaria a que, ainda em 1978/79, começasse a aparecer junto da equipa principal. No entanto, a sua integração definitiva apenas aconteceria na temporada seguinte.
É então, pelo União de Tomar que faz a sua estreia no nível sénior. Num plantel onde também estava João Segorbe, Vital acabaria por tornar-se numa enorme revelação. Mesmo sendo muito jovem, o lugar à baliza rapidamente é por si ocupado. Com tamanha evolução não foi de estranhar que, com a descida do União de Tomar à 3ª divisão, logo viessem outros emblemas no seu encalce. Rio Maior e, logo de seguida, o Lusitano de Évora acabariam por servir de trampolim para o escalão maior.
A sua estreia pelo Portimonense dá-se na temporada de 1984/85. Com Manuel José aos comandos da equipa, o clube consegue a melhor classificação na sua existência. Com o 5º lugar conquistado no ano da sua chegada, é Vital que, no ano seguinte, tem o dever de defender as redes algarvias nas provas europeias. Frente ao Partizan, o guardião é chamado ao “onze inicial”. Todavia, a sua prestação seria incapaz de evitar a passagem dos de Belgrado.
Mesmo sem nunca ter obtido uma internacionalização pela selecção principal portuguesa, Vital acabaria por integrar a lista de pré-convocados para o México 86. Ainda que sem conseguir um lugar no grupo que iria disputar a fase final do Campeonato do Mundo, as boas exibições levam a que o Sporting o vá buscar a Portimão. Em Alvalade, apesar de reconhecidas as suas qualidades, a concorrência de outros grandes futebolistas tornaria a sua afirmação muito difícil. Vítor Damas, Rui Correia e, mais tarde Rodolfo Rodriguez ou Ivkovic, acabariam por tornar a sua estadia em Lisboa em algo muito discreto.
Seriam necessários mais alguns anos, e passagens por Estrela da Amadora e Tirsense, para que Vital voltasse ao nível exibicional que havia atingido nos primeiros anos da sua carreira. No Gil Vicente, onde chegaria na temporada de 1993/94, o guardião volta a ser um atleta preponderante. Com os de Barcelos a disputar o patamar maior, o jogador acabaria por tornar-se numa das figuras do clube.
Depois de 4 anos em contendas primodivisionárias, os “gilistas” acabariam despromovidos. Essa descida coincidiria com a entrada de Vital na derradeira fase do seu percurso como atleta. A partir desse momento, o guarda-redes manter-se-ia nos escalões secundários. Já ao serviço do Esposende, quando estava bem perto de completar 40 anos de idade, o jogador decide ser altura certa para deixar os relvados. Logo de seguida, enceta as suas tarefas como treinador de guarda-redes. No cumprimento das mesmas, tirando uma curta passagem pelos “Leões”, tem defendido as cores do Sporting de Braga. Esta temporada (2016/17), coadjuvando José Peseiro, Vital continua a trabalhar em prol do sucesso dos minhotos.

717 - PEPA

Minuto 84 do jogo frente ao Rio Ave, Graeme Souness põe em campo, para o lugar de Nuno Gomes, um dos mais prometedores atletas das camadas jovens do Benfica. Pouco tempo passado após a sua entrada e o incrível acontece – “Foi um passe do João Pinto. Se tivesse apanhado um fiscal-de-linha que tivesse dormido pouco se calhar tinha assinalado fora-de-jogo, mas eu não estava. Recebi de pé direito, ajeitei com o esquerdo e depois rematei de bico, à Romário”*. Referente à 19ª jornada da temporada de 1999/00, essa partida poderia ter sido o começo de uma história brilhante… mas não foi!
Pepa, que por essa altura tinha apenas 17 anos, era um prodígio. Talvez não tão grande quanto o próprio terá sentido, ou tanto quanto os adeptos quereriam. O avançado haveria de ser traído pela sua imaturidade. A ansiedade, o deslumbramento e, a contenda entre o seu empresário e o Presidente Luís Filipe Vieira, terão destruído o resto.
E o que foi o resto? O resto seria apenas um pequeno resquício daquilo que o jogador poderia ter conseguido, daquilo que tanto havia prometido. Nessas sobras, naquilo que sobejaria do seu trajecto enquanto atleta, restam as passagens por diferentes emblemas, sem que, em nenhuma delas, nada de gratificante dali tirasse.
Primeiro, viria o empréstimo ao Lierse. Problemas burocráticos e dificuldades de adaptação a um contexto bem diferente, fariam com que a estadia do avançado na Bélgica fosse apenas tempo perdido. Depois, Pepa teria a passagem pela equipa “b” do Benfica, uns escassos minutos entre o plantel principal e, como foi referido, a zanga entre o seu representante e o clube “encarnado”. Na resolução desta equação, a saída do atacante seria o resultado. A caminho estaria o ingresso no Varzim e, como muito se especulou por essa altura, a promessa de um lugar nas Antas.
Na Póvoa, com o emblema a disputar o escalão máximo português, o avançado até conseguiria mostrar algumas das suas qualidades. Contudo, a despromoção a que o clube seria vetado no final dessa temporada de 2002/03, como que voltaria a despertar em si os piores momentos. A partir daí, a carreira de Pepa ficaria entregue aos patamares secundários e, já depois de vestir as cores de Paços de Ferreira e Olhanense, uma grave lesão acabaria por pôr um ponto final no seu curto caminho como futebolista.
O seu regresso ao futebol dar-se-ia já depois de uma sincera reflexão sobre os anos despendidos nos relvados. Arrependido pelo percurso escolhido, a atitude que, desde então, haveria de assumir, abrir-lhe-ia diversas portas. Tendo apostado na carreira de treinador, e sendo reconhecido como um árduo e idóneo profissional, as competências que foi ganhando, levá-lo-iam a progredir nessa nova tarefa. Os anos investidos nas camadas jovens de diversos clubes, as funções de adjunto no Tondela ou o papel como coordenador das escolas benfiquistas, prepará-lo-iam para os primeiros trabalhos com técnico principal. Nesse exercício registam-se as passagens pela Sanjoanense e Feirense, que, para o começo desta época de 2016/17, levariam os responsáveis do Moreirense a dar-lhe a primeira oportunidade no universo primodivisionário.

 
*retirado do artigo de Nuno Travassos, em http://www.maisfutebol.iol.pt, publicado a 31/12/2007

716 - JORGE COUTO

É já nos últimos anos da sua formação que Jorge Couto chega ao FC Porto. Veloz e com boa técnica, as movimentações que fazia no ataque possibilitavam que, muitas das vezes, aparecesse em boa posição para finalizar. Essas suas características, mesmo tendo em conta a sua entrada tardia para as escolas “Azul e Brancas”, permitiriam com que o atacante conseguisse afirmar-se com alguma facilidade.
A rapidez da sua evolução faria com que, para além do clube, também da selecção quisessem testar as suas qualidades. Nesse caminho, o extremo-direito acabaria por despertar a atenção de Carlos Queiroz, que o chamaria a vestir a camisola de Portugal. Integrando o primeiro lote daquela que ficaria conhecida como a “Geração d’Ouro”, seria convocado a participar no Mundial s-20 de 1989. Na Arábia Saudita, já no seu primeiro ano como sénior, o atleta seria de importância fulcral na conquista do referido troféu. Na final, onde a jovem equipa “lusa” defrontaria a congénere nigeriana, Jorge Couto marcaria um dos golos que permitiram a Portugal vencer por 2-0.
A sua estreia pela principal equipa do FC Porto, já depois de um ano emprestado ao Gil Vicente, aconteceria na época de 1989/90. O traquejo conseguido ao serviço dos de Barcelos, que por altura da sua cedência disputavam a Divisão de Honra, servira para simplificar a sua integração no plantel portista. Num grupo de gabarito, Jorge Couto, logo nesse primeiro ano, conseguiria a proeza de ver o seu nome, por diversas vezes, fazer parte da lista de titulares.
Mesmo sem chegar ao estatuto de “indiscutível”, a frequência com que era trazido a jogo, valer-lhe-ia, durante o decorrer da primeira temporada nas Antas, a chamada à selecção “A” portuguesa. Na Maia, o jogo com os Estados Unidos da América, marcaria um percurso que, apesar de ser feito apenas de amigáveis, contaria com 6 partidas disputadas.
Uma das razões que poderão justificar a falta de mais internacionalizações, prender-se-á com a perda de preponderância a que o jogador, depois dos dois primeiros anos de “Dragão” ao peito, ficou sujeito. Mais sentido a partir do tempo em que estava sob a alçada de Bobby Robson, o afastamento do atacante levá-lo-ia a alterar o rumo da sua vida profissional. A chance de mudar surgiria alguns anos depois, com a compra de Artur ao Boavista. No decorrer das negociações, o nome de Jorge Couto surgiria como “moeda de troca” e, desse modo, ser-lhe-ia dada a oportunidade de, no Estádio do Bessa, dar seguimento à carreira.
Já depois de vencer 5 Campeonatos, 2 Taças de Portugal e 3 Supertaças pelo FC Porto, Jorge Couto passa a integrar um Boavista que estava, cada vez mais, próximo dos ditos “grandes”. A sua contratação acabaria por ser de grande importância no reforço da equipa. Impondo-se como um dos homens mais importantes nas manobras do clube, também de “xadrez” haveria de conseguir amealhar alguns títulos. A vitória na Taça de 1996/97 e na Supertaça do ano seguinte, acabariam por servir de mote para que, ao que consta, o FC Porto tentasse o seu regresso. Contudo, o jogador continuaria a vestir as cores da “Pantera” e, já em 2000/01, nos derradeiros anos como futebolista, acabaria por auxiliar o Boavista a sagrar-se Campeão Nacional.
Depois de ter ajudado a escrever um dos mais belos episódios na história boavisteira, eis que o antigo jogador, outra vez ao serviço do clube, volta ao futebol. Como adjunto, primeiro de Sánchez e, já depois do despedimento deste, do treinador Miguel Leal, Jorge Couto é, por esta altura (2016/17), parte integrante da equipa técnica “axadrezada”.

715 - GAMA

Nascer no seio de uma família de futebolistas, como que obriga um indivíduo a ter uma postura de dever perante a modalidade. Mas se a obrigação para com a geração dos pais e tios é uma realidade, a responsabilidade de ser o irmão e o primo mais velho, é ainda maior. Augusto Gama, com grande sobriedade e muito trabalho, conseguiu ser sempre um bom exemplo no futebol.
Já depois do pai, os irmãos Augusto, Rui, José, Bruno, e Feliciano e, ainda, o primo Jorge, dariam continuidade ao legado dos Gama. Augusto começaria a destacar-se nas camadas jovens do Sporting de Braga e, por altura da sua transição para os seniores, perdido o primeiro nome não se sabe bem onde, já se apresentava apenas como Gama. Encargo acrescido, o de carregar o apelido sem o escudo de um nome próprio. Contudo, o atacante não deixava atormentar-se por tal e, no decorrer da temporada de 1987/88, apresenta-se com a equipa principal bracarense.
Como é sabido, a chegada à categoria sénior é um momento delicado para qualquer praticante. Neste campo, e apesar do valor já demonstrado, reforçado até por algumas chamadas às selecções jovens, para Gama nada estava garantido. A prova disso mesmo viria nos anos seguintes, e os esforços feitos nas primeiras temporadas, as exibições conseguidas durante o empréstimo ao Fafe e a passagem pelo Arsenal de Braga (equipa satélite), seriam insuficientes para convencer os responsáveis bracarenses.
Pouco utilizado, é então que o jogador decide mudar de ares. Deixa o seu Minho natal e, sem se afastar muito, viaja até Vila do Conde. Para o Rio Ave entra na época de 1992/93. O clube estava então na Divisão de Honra, patamar ideal para o atleta cimentar o já aprendido. Esses anos passados no nosso patamar secundário, voltariam a mostrar aquilo que já se sabia do atleta. Veloz e tecnicista, tinha na garra e no crer as suas maiores armas. Pelas alas do ataque, Gama começava a ser conhecido pela maneira como conseguia vencer as defesas contrárias. No transporte de jogo, no último passe ou, até, em inspirados momentos de finalização, Gama, rapidamente, tornar-se-ia num dos favoritos da massa adepta.
15 anos como jogador, muitos dos quais embelezados pelo uso da braçadeira de capitão, fariam dele o atleta com mais partidas disputadas na história do clube. A dedicação que sempre pôs ao serviço do emblema vila-condense foi, e para sempre será, reconhecida como exemplar. Os agradecimentos, ainda enquanto atleta, foram uma constante. Um desses momentos, que reflecte o apreço conseguido, ser-nos-ia relato pelo próprio – “Num jantar de aniversário do clube, um sócio ofereceu-me o seu emblema de prata que tinha acabado de receber. Recusei, mas ele insistiu e acabei por aceitar”*.
Seria em 2006/07, com o Rio Ave no segundo escalão nacional, que Gama poria um ponto final na sua carreira de futebolista. Todavia, a sua paixão pela modalidade impedi-lo-ia de estar muito tempo afastado do jogo. Já com alguns anos de experiência no cargo, Gama é um dos adjuntos de Nuno Capucho, no Rio Ave de 2016/17.

 
*retirado de http://reisdoave.blogspot.co.uk/, publicado a 17/03/2011

714 - ERWIN SÁNCHEZ

Conta-se que por altura de uma visita dos mais altos cargos do futebol à Bolívia, Michel Platini terá sido barrado por um segurança. Quem acompanhava o francês terá dito ao responsável pelo controlo qualquer coisa como: “Não há problema, este senhor é o Platini”. Como resposta teve: “O Platini conheço eu bem, e não é ele!”.
Foi desde muito novo que Erwin Sánchez, ou, para muitos, o “Platini da Bolívia”, começou a mostrar grande entusiasmo pelo futebol. Mas ao invés de tantos outros, à paixão pela modalidade também conseguia adicionar uma dose igual de aptidão. Esse seu jeito, levá-lo-ia, pouco depois de entrar na adolescência, a uma das mais categorizadas academias do seu país. Seria, então, na Tahuichi que o antigo médio começaria a jogar. Logo aí, todo esforço que punha em campo, a sua força e ímpeto, transformá-lo-iam num dos maiores craques da instituição. As chamadas à selecção não tardariam, e já depois de participar nos maiores certames para jovens, eis que chega a profissionalização.
O emblema que daria a primeira grande oportunidade a Sánchez seria o Destroyers. Mantendo a mesma atitude que havia caracterizado o seu percurso de formando, o jogador, rapidamente, passaria a estrela da equipa. Tanto assim foi que, não tardou muito tempo para que um dos gigantes da Bolívia fosse no seu encalço. Já a jogar na capital La Paz, e com as cores do Bolívar, o médio atingiria o topo do futebol no seu país. Por um lado viria o título de campeão nacional; por outro a chamada à selecção principal, a participação na Copa América de 1989 e a projecção além-fronteiras.
Foi já depois do referido torneio sul-americano, que o Benfica decide apostar no jovem jogador. Sven-Göran Eriksson, talvez impressionado pelas suas actuações no referido certame, inclui Sánchez no novo elenco das “Águias”. Contudo, a temporada de 1990/91 acabaria por ficar um pouco aquém do esperado. É certo que o Benfica conseguiria sagrar-se campeão nacional, mas, no plano individual, Sánchez, com algumas dificuldades em adaptar-se, pouco jogaria.
Já na temporada seguinte, o empréstimo ao Estoril-Praia serviria para uma mudança de paradigma. No “clube da linha” Sánchez voltaria a brilhar. Exibições pungentes, remates portentosos e alguns golos, seriam a receita para o seu sucesso. Contudo, e numa altura que o seu regresso à “Luz” seria o mais normal, tal acaba por não acontecer. Com a transferência de João Pinto do Boavista para o Benfica, o médio boliviano vê-se envolvido no negócio. João Pinto acabaria por vestir de “encarnado” e Sánchez marcharia no sentido inverso.
Não sei se esta mudança alguma vez terá sido vista como frustrante. A verdade é que sem a mesma, Sánchez passaria ao lado dos melhores anos da sua carreira. Com os “Axadrezados”, o médio cimentar-se-ia como um dos grandes futebolistas a jogar em Portugal. Num Boavista cada vez mais a beliscar a hegemonia dos ditos “grandes”, o atleta acabaria por ter um papel fulcral nesse crescimento. Como um dos grandes dínamos do meio-campo, o jogador, tanto a nível nacional, como nas competições europeias, ajudaria nas boas campanhas do emblema portuense. O momento mais alto dessa sua primeira passagem pelo clube, aconteceria na final da Taça de Portugal de 1996/97. Com 2 golos da sua autoria, o Boavista derrotaria o Benfica por 3-2 e, desse modo, Sánchez ajudaria a levar o troféu para o Estádio do Bessa.
Seria também durante este período que, com a camisola do seu país, Sánchez entraria para a história do futebol boliviano. Com uma espantosa campanha, que levaria a selecção sul-americana a superar congéneres bem mais poderosas, a Bolívia consegue o apuramento para o Mundial de 1994. Já nos Estados Unidos, e apesar de a sua equipa ter caído ainda na fase de grupos, Sánchez conseguiria um feito único. Com um golo frente à Espanha, o médio tornar-se-ia no primeiro jogador boliviano a marcar num Campeonato do Mundo.
Feitos como este, ou como a final da Copa América alcançada em 1997, fariam com que o valor do jogador subisse em flecha. Nesse sentido, e com a entrada de Manuel José para os “comandos” do Benfica, foi com alguma naturalidade que Sánchez foi apontado como reforço das “Águias”. Todavia, o regresso a Lisboa, mais uma vez, ficaria abaixo das espectativas. O reencontro com o seu antigo treinador no Boavista até que nem começou muito mal. O pior viria com a saída do mesmo e com a entrada de Souness e, já mais tarde, de Heynckes. Tanto o escocês, como o alemão, deixariam de apostar no médio e, entre um empréstimo ao Boavista e novo regresso à “Luz”, Sánchez acabaria a jogar pela equipa “b” do Benfica.
Após este período mais azarado, Sánchez volta novamente à “Invicta”. Mais uma vez no Boavista, o médio voltaria a fazer o que melhor sabia. Ainda que com a forte concorrência de Timofte, o boliviano, depois de uma fase inicial em que seria menos utilizado, volta a tornar-se num dos pilares do emblema nortenho. Com Jaime Pacheco como treinador, o Boavista volta aos anos de glória. Primeiro, vem a estreia na Liga dos Campeões; depois aquilo que há muito o grupo já prometia. Em 2000/01 as “Panteras” conseguiriam superar Benfica, FC Porto e Sporting. Com Sánchez em plano de destaque, o clube faz uma época única e sagra-se campeão nacional.
Com a saída de Jaime Pacheco para o Maiorca, e por razão de uma grave lesão, Sánchez passa para o “banco” boavisteiro. A sua primeira experiência como técnico seria, contudo, interrompida com o regresso do jogador à Bolívia. De volta à sua cidade natal, o internacional boliviano decide aceitar o convite do emblema da sua terra e volta a calçar as chuteiras. Durante dois anos ajudaria o Oriente Petrolero nas suas contendas. No entanto, este desafio conheceria um fim quando, após uma agressão a um árbitro, Sánchez acaba punido com uma suspensão de 18 meses.
O seu regresso ao futebol dar-se-ia, de uma forma lógica, com o retorno às funções de treinador. Com passagens pela selecção da Bolívia, Oriente Petrolero e Blooming, o currículo conseguido durante esse seu percurso leva o Boavista a apostar nos seus préstimos. Em 2015/16 consegue a proeza de salvar o clube de uma descida, por muitos, vaticinada. Depois da meta alcançada, eis que a nova temporada, que ainda decorre, acabaria por não trazer novos sucessos. Sem conseguir atingir o que estaria planeado, Sánchez, vítimas das famosas “chicotadas psicológicas”, acabaria substituído por Miguel Leal.

713 - CAPUCHO

Apesar de representar o Gil Vicente desde tenra idade, Capucho, como o próprio haveria de afirmar, só começaria a dar mais importância ao futebol no seu último ano como sénior. Todavia, e por essa altura, já o avançado era um dos nomes habituais nas convocatórias das jovens selecções portuguesas. Nesse sentido, seria com as “quinas” ao peito que, na sua primeira temporada como sénior, conseguiria consolidar-se como um dos craques da “geração d’ouro”.
Ora, seria pela mão do Prof. Carlos Queiroz que Capucho chegaria ao Mundial S-20 de 1991. Disputado em Portugal, a equipa nacional, que contava com nomes como os de Luís Figo, João Vieira Pinto ou Rui Costa, conseguiria, dando seguimento ao brilharete alcançado 2 anos antes, renovar o título de campeã. A conquista de tal troféu, faria com que os jogadores inseridos nesse grupo vissem o seu valor acrescido. Fazendo parte de um clube de menor monta, foi com alguma naturalidade que o atacante viu alguns dos emblemas de maior tradição irem no seu encalço. Quem ganharia a corrida seria o Sporting e, para a temporada de 1992/93, o atleta apresentar-se-ia em Alvalade.
Os 3 anos passados de “verde e branco”, primeiramente orientado por Bobby Robson e, mais tarde, pelo seu velho conhecido Carlos Queiroz, acabariam por não ser suficientes para confirmar tudo aquilo que já havia prometido. Actuando, mormente, pelo centro da zona ofensiva, as qualidades que Capucho possuía não eram, de alguma forma, condizentes com a posição escolhida para si. A temporada de 1994/95, mesmo tendo vencido a Taça de Portugal, acabaria por ser, no plano individual, a menos excitante. Excluído da maioria das partidas, o atacante vê-se envolvido no negócio de aquisição de Pedro Barbosa e Pedro Martins. Sem grandes chances no Sporting, Capucho, no final da referida época, acabaria mesmo transferido para o Vitória de Guimarães.
De regresso ao Minho, Capucho voltaria também às exibições de excelência. Já mais encostado ao flanco direito do ataque, o atleta acabaria por destacar-se como um dos melhores extremos a actuar no Campeonato português. Auferindo desse estatuto, foi sem surpresa alguma, que Capucho seria incluído nos trabalhos da Selecção “A”. Por Portugal, e no cômputo da sua carreira, o atleta conseguiria 34 internacionalizações. Destaque para as suas chamadas ao Euro 2000, Mundial de 2002 e, pela selecção olímpica, aos Jogos de 1996.
Nisto de metas e vitórias, os melhores capítulos da sua vida desportiva, talhar-se-iam a “azul e branco”. A mudança para o FC Porto, inscreveria no palmarés do jogador grande parte dos seus troféus. Tendo chegado às Antas na época de 1997/98, Capucho ainda entraria para a história do “Penta”. Curiosamente, a conquista desses 5 Campeonatos (Capucho só participaria nos 2 últimos), e que, sem sombra de dúvida, celebrariam a hegemonia dos “Dragões” nos anos 90, precederiam uma série de 3 anos pouco abonatórios para o clube. Conseguindo, ainda assim, amealhar 2 Taças e 2 Supertaças, só a chegada de um treinador “especial” é que poria um fim a esse período menos prolífero.
Com José Mourinho aos comandos do FC Porto, embora sem a preponderância dos tempos em que era um dos principais municiadores de Mário Jardel, Capucho consegue acrescentar ao seu rol de títulos a “dobradinha” de 2002/03. No entanto, o grande momento dessa temporada seria a conquista da Taça UEFA. Na final disputada em Sevilha, o atleta seria escalonado para o “onze” inicial e, dessa forma, ajudaria o seu clube a derrotar os escoceses do Celtic.
Curiosamente, no defeso seguinte, Capucho voltaria a cruzar-se com mais um emblema da cidade de Glasgow. Contudo, a passagem pelo Rangers acabaria por marcar os derradeiros passos de uma carreira que, na temporada seguinte, e ao serviço do Celta de Vigo, conheceria o seu fim.
Já depois de “penduradas as chuteiras”, e após um pequeno interregno no futebol, o antigo jogador voltaria ao clube do seu coração. Desta feita como treinador, Capucho passaria a integrar a estrutura técnica das “escolas” do FC Porto. É já depois de largos anos nestas funções que, em 2015, surge a sua primeira oportunidade como treinador principal, numa equipa sénior. A experiência de um ano ao serviço do Varzim, acabaria por servir de trampolim para o escalão máximo em Portugal. Seria com as cores do Rio Ave que Capucho, já este ano (2016/17), faria a sua estreia na 1ª divisão.

EQUIPAS TÉCNICAS 2016

Com o começo de mais uma temporada, eis que novas caras aparecem. Bem, na verdade nem todas são novidade, mas muitas delas aparecem agora em novas funções. Para vos dar a conhecer a história de alguns dos treinadores dos campeoantos nacionais, eis que, Novembro, será dedicado às "Equipas Técnicas".