637 - PÉTER DISZTL

Há “cromos “ e momentos no futebol que, sem que encontremos grande explicação, perduram e destacam a sua importância na nossa memória. O húngaro Disztl e o Mundial de 1986 assim funcionam comigo!!!
Apesar do torneio disputado no México ter sido, na minha “relação” com o antigo guarda-redes, um ponto de viragem, a carreira de Disztl, por essa altura, já se construía há largas temporadas. Mais precisamente nos anos 70, o jovem atleta era uma das promessas das escolas do Videoton. O dito estatuto, passados esses anos de formação, haveria de assegurar para si um lugar na equipa principal da cidade de Székesfehérvár. Após este primeiro passo, a maneira natural como foi impondo o seu jogo era a prova que as esperanças depositadas em si não tinham sido em vão. Nas selecções jovens, também Disztl ia mostrando qualidades. A convocatória para disputar o Mundial S-20 de 1979, dois anos após a sua subida aos séniores, também serviria de prova a essa sua evolução.
Curiosamente, e sendo o clube ao qual estava ligado um dos históricos do campeonato, troféus era coisa que rareava na sua carreira. No entanto, e no meio de tanta escassez, a época de 1984/85 haveria de trazer um enorme marco à sua vida como futebolista. Com presença na Taça UEFA, o Videoton haveria de galgar as diversas fases da competição. Tal era a força com que se iam apresentando na prova, que nem o Manchester United, adversário calhado em sorte para os quartos-de-final, conseguiria travar tamanho ímpeto. Chegados à derradeira etapa, onde Disztl jogaria ambas as partidas, o adversário acabaria por ser o possante Real Madrid. O Videoton acabaria por claudicar perante o poderio dos espanhóis. No entanto, e apesar do resultado desanimador da primeira mão (0-3), os húngaros não baixariam os braços e acabariam, em pleno Santiago Barnabéu, por impor uma derrota (0-1) aos “Merengues”.
Outro dos momentos marcantes que viveria como profissional acabaria por ser, como acima referido, o Mundial de 1986. Ele que, num particular frente à Noruega, tinha feito, em 1984, a sua estreia pela principal equipa nacional, via agora o seu nome incluído na chamada para o certame mexicano.
Engraçado haveria também de ser o seu regresso às lides clubistas. Depois de mais de uma década a defender as redes do Videoton, Disztl acabaria, findo o Campeonato do Mundo, por trocar de emblema. Mudar-se-ia para o Honvéd e, logo nos dos dois primeiros anos, contribuiria para a conquista do “bi-campeonato”.
Seria já em 1990, aquando da sua passagem para os 30 anos, que Disztl teria a sua primeira experiência no estrangeiro. Apesar das “brechas” na cortina de ferro, o guardião magiar não iria para muito longe e o Campeonato da Alemanha de Leste seria o seu destino.
Já depois de representar o Rot-Weiß Erfurt e o Leipzig, e de, ainda, contar com uma passagem pelos malaios do Selangor, Disztl volta ao seu país natal. Essa última fase da sua carreira, acabaria por caracterizar-se pela constante mudança de emblema. 
Após o seu afastamento dos relvados, a sua ligação com a modalidade tem tido alguma continuidade. Destaque para a sua aparição como adjunto de Paulo Sousa, naquele que seria o clube mais representativo da sua vida futebolística, o Videoton.

636 - ALBERTINO


No seu tempo de menino, nas ruas da cidade do Porto, chegou a partilhar a bola de trapos com o amigo Humberto Coelho. Já após percorrer as camadas jovens leixonenses, e certo que era como craque, Albertino acabaria por ganhar um lugar na equipa sénior de Matosinhos.
Com a estreia na temporada de 1968/69, a ocupar a posição de avançado, o seu crescimento como futebolista, do qual faria parte uma cedência ao Desportivo de Peniche, haveria de ser interrompido pelo Serviço Militar Obrigatório e pela Guerra Colonial. Destacado em Angola, acabaria por ser no Recreativo do Uíge que, fazendo o papel de treinador/jogador, daria continuidade à sua paixão desportiva.
Já após o 25 de Abril de 1974, Albertino regressaria a Portugal. Os dois anos que se seguiriam, sempre ao serviço do Leixões, acabariam por alimentar uma preciosidade na sua carreira. Ora, e se nos escalões de formação, na senda de um “namoro” com o FC Porto, tinha tentado mudar-se para os “Dragões”, o evoluir das suas habilidades alimentaria, ainda mais, esta “paixão”. 
Por duas vezes tentar-se-ia uma transferência. Na primeira, pequenos detalhes afastariam Leixões e FC Porto de um acordo. Já da vez seguinte, seria o Boavista a intrometer-se no caminho. A mudança para o Bessa consumar-se-ia de uma forma curiosa. Após uma viagem à América do Sul, onde o FC Porto pediria “emprestado” o jogador ao Leixões, tudo parecia encaminhado para que Albertino vestisse de “Azul e Branco”. Contudo, na volta, Valentim Loureiro antecipar-se-ia a todos (Benfica e Sporting incluídos) e contrataria o atleta.
Seria de “Pantera” ao peito, que Albertino conseguiria afirmar-se como um jogador de topo. Logo na primeira metade dessa temporada de 1976/77, seria chamado às selecções nacionais. Primeiro com uma convocatória para as “Esperanças” e, logo de seguida, com duas partidas realizadas pelos “AA”, o atleta, ao serviço do Boavista, alcançaria o estatuto de internacional.
Ao fim de 3 épocas de “axadrezado”, e com uma Taça de Portugal (1978/79) no currículo, Albertino, finalmente, vê realizado o seu sonho de criança. A mudança para o FC Porto mostraria um atleta motivado, mas, de uma forma ou outra, preterido por outros colegas. Apesar de, raramente, ter sido uma primeira escolha, o que levaria Albertino a deixar o Estádio da Antas seria a chegada de Hermann Stessl e de um outro avançado – “Era o melhor marcador nos primeiros dez jogos do campeonato [1980/81]. Antes do jogo com o Benfica, no entanto, o F.C. Porto contratou o Mike Walsh para a vaga do Fernando Gomes, que tinha ido para o Gijon. O técnico resolveu, injustamente, tirar-me do onze. E acabou com a minha carreira no clube”*.
Segundo o próprio, seria o Marítimo, para onde se transferiria na temporada de 1982/83, que adiaria o fim planeado da sua vida no futebol. Ainda voltou, com início no Estarreja e passagens por Trofense, Sp. Covilhã (na 1ª divisão), Vila Real e Lousada, àquelas que são as rotinas de treinador. No entanto, o seu horizonte fixava-se noutra paixão. Tal como seu pai, o louvado Fernando Ventura Pereira, Albertino haveria de optar pelas “Belas Artes”. Acabaria por pôr o desporto de parte, dedicando-se com mestria às telas e pincéis. Hoje em dia, merece destaque como pintor.


* Retirado do artigo em www.maisfutebol.iol.pt, a 12 Janeiro de 2001

635 - TIÃO

Depois de no Brasil ter feito carreira em emblemas como o Campo Grande ou Guarani, Tião, de seu verdadeiro nome Sebastião Soares Thomé, decide aventurar-se pela Europa. Com o campeonato de 1977/78 já a decorrer, o extremo esquerdo brasileiro, que também sabia posicionar-se no centro do terreno, chega ao Portimonense. Atleta pujante, cujo forte remate constituía uma das suas principais armas, rapidamente arranjaria maneira de se adaptar ao futebol português.
Conseguindo a titularidade quase com a sua chegada, Tião haveria de se tornar num dos grandes símbolos do clube. A despromoção, que aconteceria logo na época da sua chegada, não o desmoralizaria. Continuaria ao serviço do Portimonense e, durante as 6 temporadas em que envergaria o “alvi-negro”, acabaria por inscrever o seu nome na história do clube.
Para além da conquista do Campeonato Nacional da 2ª divisão, a qual permitiria o seu regresso ao escalão principal, houve outros momentos que, recorrentemente, vemos recordados. Os livres directos que marcava, para sempre deixarão sorrisos na cara daqueles que os testemunharam. Já os golos conseguidos frente aos “grandes”, com especial apetência para o Sporting, acabariam por ser uma das melhores memórias deixadas em Portimão.
Sendo o Portimonense o clube que em mais épocas o acompanhou na 1ª divisão, é normal que o seu nome esteja ligado à colectividade do Barlavento. Apesar deste laço, Tião, ainda no principal escalão português, haveria de representar o Estoril-Praia. Estrela da Amdora, Recreio Desportivo de Águeda, Pessegueirense e Oiveirense, haveriam de ser os outros emblemas, aos quais o esquerdino manteria ligação. Aliás, o vínculo que Tião conservaria com o emblema de Oliveira de Azeméis acabaria por ser muito especial. Seria no emblema do Distrito de Aveiro que o atleta terminaria a sua carreira como futebolista; seria aí, também, que escreveria a maior parte dos capítulos do seu percurso como treinador.
Infelizmente, Tião deixar-nos-ia em 2014. A recordá-lo como Homem, ficam as palavras de Hermínio Loureiro, afamado dirigente desportivo, Deputado da Assembleia da Republica, Secretário de Estado e Presidente da Câmara de Oliveira de Azeméis – “Um enorme profissional que escolheu Oliveira de Azeméis para viver. Um espirito guerreiro invulgar que marcou a sua passagem pelo futebol em Portugal. Homem simples e com uma esmerada educação. Vai deixar saudades”.*


*Retirado de “Correio da Manhã”, a 27/08/2014

634 - ALBERTO

Tendo terminado a sua formação nas escolas do Benfica, John Mortimore, conhecido por promover atletas como Chalana ou José Luís, chamá-lo-ia à equipa principal das “Águias”. Forte fisicamente, veloz e dotado de uma boa técnica, Alberto era seguro a defender e um verdadeiro acréscimo na hora de atacar. Essas suas características, logo na segunda temporada com sénior (1977/78), fá-lo-iam destacar-se na lateral canhota do Estádio da Luz. Curioso era também o seu lado mental. Num plantel onde os internacionais Pietra, Artur Correia ou Barros eram os nomes normalmente chamados a ocupar o lado esquerdo da defesa, o “miúdo” Alberto não se deixaria intimidar.
Esse seu atrevimento, tanto espiritual como físico, fez com, rapidamente, arrepiasse caminho como futebolista. Nessa caminhada, quem, igualmente, não deixaria de reparar nas suas características, seria Mário Wilson. Aliás, haveria de ser pela “mão” do “Velho Capitão” que Alberto chegaria à selecção nacional. Tal como no clube, a maneira como o atleta haveria de vingar com a “camisola das quinas”, surpreenderia mesmo os mais crentes nas suas habilidades. Feita a estreia em Novembro de 1978, num jogo frente à Áustria, Alberto marcaria também o seu primeiro golo por Portugal. Depois dessa brilhante exibição, o defesa seria presença habitual nas convocatórias, para a Qualificação do Euro 80.
Depois de ter ajudado a vencer o Campeonato Nacional de 1976/77, Alberto preparava-se para disputar o segundo troféu da sua carreira. Curioso, é que nessa final de 1980, o jogador, já consolidado como um dos principais trunfos “Encarnados”, granjeava, injustamente, da fama de agressivo. Esse “prestígio”, que ninguém gosta de ver associado ao seu nome, vinha de um famoso embate entre Benfica e Sporting. Esse “derby”, que ficaria para a história pelo brinco perdido de Vítor Baptista, acabaria por ter outro lance de destaque. Numa disputa de bola, Alberto encontra-se com Jordão. Dessa contenta, resultaria uma grave lesão para o avançado leonino. Contudo, muito mais do que a perna partida do atacante, quem, por conta das difamações que se seguiram, sairia do jogo com graves “mazelas”, acabaria por ser Alberto.
Ironicamente, a já referida final da Taça de Portugal daria a conhecer um instante idêntico. Desta feita, tendo como intervenientes Alberto e o portista Frasco, quem saí do Jamor para o hospital, viria a ser o lateral benfiquista. Apesar da vitória das “Águias”, o jogo haveria de marcar o resto da carreira do defesa. A partir desse momento, a vida profissional de Alberto como que se extinguiu. Às costas com uma recuperação complicada, o período de recobro parecia estender-se eternamente. Depois de parado por dois anos, Alberto volta à competição ao serviço do Boavista. No entanto, essa temporada de 1982/83 serviria apenas para confirmar que o atleta estava longe de estar recuperado.
Após mais uma paragem prolongada, é só na época de 1985/86 que Alberto volta a competir. Com a camisola do Belenenses, mormente na época seguinte à sua chegada ao Restelo, o defesa volta a ganhar algum destaque. Merece ainda duas chamadas à selecção, mas, infelizmente, a forma que o tinha notabilizado tinha-se perdido naquele fatídico jogo do Estádio Nacional. Alberto retirar-se-ia no final dessa mesma temporada. Hoje em dia, gere um pequeno negócio, na Ilha de São Vicente, Cabo Verde.

633 - VALDEMAR

Tendo feito a primeira parte da sua carreira no Fafe, aliás, onde terminaria a formação como jogador, Valdemar haveria de fazer a sua estreia na 1ª divisão, ao serviço do Varzim.
Ora, depois de, na época de 1975/76, ter subido ao plantel sénior da colectividade minhota, as 5 temporadas que se seguiriam, acabariam por consolidar Valdemar como futebolista. Apesar de construído na 2ª divisão, o percurso feito pelo avançado não o deixaria na sombra de outros jogadores. Tanto assim é que, do escalão máximo em Portugal, começa a despertar alguma cobiça.
Quem, no defeso de 1980, acaba por dar aval à sua contratação, seria o antigo internacional português e capitão do Sporting, José Carlos. Sem ser, logo de início, uma das escolhas incontornáveis no “onze” varzinista, a evolução que ia apresentando agoirava bons momentos.
Sendo a velocidade a sua principal arma dentro de campo, o atacante, na segunda temporada com os da Póvoa, começa a ganhar preponderância no seio do plantel. A despromoção do Varzim no final da temporada de 1980/81, e a saída de alguns dos seus companheiros do sector ofensivo, abrir-lhe-iam, em boa hora, as portas da titularidade. Apesar de, em termos de números, essa época passada na 2ª divisão ter sido uma das mais prolíferas da sua carreira, um dos maiores destaques da sua vida como profissional chegaria com o regresso ao convívio dos “grandes”. Tendo como treinador José Torres, à 7ª jornada do Campeonato, os “Lobos do Mar” preparavam-se para receber no seu estádio o campeão em título. Mais do que favorito, o Sporting apresentar-se-ia em campo com uma equipa recheada de estrelas. Contudo, no meio de Jordão, Manuel Fernandes ou António Oliveira, o nome que, naquela tarde de Outubro, mais brilharia seria o de Valdemar. Com dois golos da sua autoria, contra um de Lito, o atacante acabaria por ser o principal responsável por uma das mais memoráveis vitórias na história do Varzim. A prova é que, ainda hoje, é recordado por essa brilhante exibição.
Depois de 5 temporadas ao serviço do Varzim e mais uma com as cores do Paredes, Valdemar decide-se por encerrar a seu trajecto como futebolista. Todavia, e tendo sido um aluno exemplar, o antigo avançado sabia que a vida não se esgotaria com a sua saída dos relvados. Licenciado em Biologia, Valdemar é, nos tempos que correm, um estimado professor do Ensino Secundário.

632 - RACHÃO

Quando em 1971 deixa os juniores, Vítor Martins, Toni ou Jaime Graça eram nomes que abrilhantavam o balneário sénior benfiquista. Nesta conjuntura, conseguir um lugar na equipa principal era, para o jovem médio, um trabalho muito difícil. Voltar a Peniche e ao Desportivo local, muito mais do que um regresso ao emblema onde tinha dado os primeiros pontapés na bola, serviria para ganhar alguma experiência.
Já a sua estreia na 1ª divisão, ocorreria ao serviço do Montijo. Na Margem Sul do Tejo, as 4 épocas que aí passaria, fariam do clube o mais representativo da sua carreira. No entanto, entre as temporadas de 1972/73 e 1975/76, a vida de José Rachão haveria de sofrer alguns sobressaltos. Com o Serviço Militar Obrigatório por cumprir, o futebolista acabaria por ser destacado para a Escola Prática de Artilharia de Vendas Novas – “No dia 24 [Abril de 1974], fui chamado pelo comandante e avisado de que não deveria sair do quartel, sem me explicar os motivos. A verdade é que me pirei para ir treinar e dormi na residencial onde morava. Só me lembro de ser acordado pelo dono da residencial, às cinco da manhã, dizendo-me que tinha de me apresentar imediatamente. Arranquei à pressa, sem saber o que se passava, e cheguei ao quartel, onde fui recebido com metralhadoras. Lá me deram uma e enviaram-me de imediato para o Cristo-Rei, onde estavam canhões apontados para o rio e para Lisboa! Só os oficiais sabiam ao certo o que se passava, entre nós havia nervosismo e ansiedade. Felizmente não se ouviu um tiro.”*
Depois de, na sua última temporada ao serviço do Montijo, ter ajudado o clube a regressar ao escalão máximo, decide-se pela mudança para Coimbra. Com este novo capítulo, Rachão acabaria por iniciar uma fase curiosa na sua carreira. Ainda que quase sempre no maior patamar do futebol português, o centrocampista começa, regularmente, a mudar de clube. Depois da Académica, seguem-se Vitória de Setúbal, Académico de Viseu e Portimonense. O Farense e Leixões, já na 2ª divisão, acabariam por marcar o fim da sua vida como futebolista.
Apesar de se retirar cedo, com 31 anos apenas, a sua ligação à modalidade continuaria. Ainda em Matosinhos, faria a mudança para o banco de suplentes. Como treinador, e a exercer as funções em Portugal, José Rachão faria a sua carreira baseada em emblemas das divisões secundárias. Numa das poucas excepções, no Vitória de Setúbal, o técnico seria chamado a substituir José Couceiro. Apesar de contestado inicialmente, a temporada de 2004/05 acabaria, como o próprio haveria de referir, por gravar o seu nome na “história do Vitória e do futebol português”**.
A conquista dessa Taça de Portugal frente ao Benfica, acabaria por ser o seu grande sucesso em competições “lusas”. Já a mudança, muito por culpa desse seu brilharete, para os países árabes, daria a José Rachão a oportunidade de conquistar outras metas. Desde 2006 a exercer funções em África e no Médio Oriente, e com passagens pelo Kuwait, Líbia, Síria e Arábia Saudita, o treinador português converter-se-ia numa pequena estrela. Para tal, muito contribuiriam os títulos conquistados ao serviço de Al-Arabi , Al-Naser (Kuwait) e Al-Ittihad (Líbia).


*retirado do artigo de Vítor Hugo Alvarenga, a 25 de Abril de 2014, em www.maisfutebol.iol.pt
*retirado da entrevista de João Manuel Fernandes, Jornal Record

631 - QUINITO

Jogava pelos juniores do Vitória de Setúbal, quando a entrada no Curso de Medicina o leva a mudar-se para Coimbra. Já na “Cidade dos Estudantes”, Quinito decide prestar provas na Académica. Mário Wilson, que por essa altura era o técnico principal, agradado com as qualidades do médio, junta-o ao plantel sénior. Contudo, muito mais do que jogar, esses primeiros anos serviriam para definir o seu trajecto. As temporadas que passaria na Académica, e já depois no Belenenses, acabariam por mostrar que o seu caminho, na impossibilidade de compatibilizar estudos e actividade desportiva, estava no futebol.
Seria já em Belém que Quinito começaria a jogar, com alguma regularidade. Aliás, seria com a “Cruz de Cristo” ao peito que começaria a ganhar crédito como jogador. Nos vários anos que passaria no Restelo – 6, para ser mais exacto – a qualidade que dava ao sector intermediário do Belenenses, faria dele um dos melhores centrocampistas a actuar no campeonato. Tanto assim foi que de Espanha, numa altura em que o limite de estrangeiros dificultava as transferências, chega um convite.
Ora, para a época de 1975/76, Quinito muda-se para Santander. Já depois de o terem observado num particular frente ao Belenenses, os responsáveis do Racing, encantados com as suas qualidades, decidem avançar para a sua contratação. Ao mais alto nível na “La Liga”, e sempre como um dos mais utilizados no plantel, o atleta acabaria por ficar 3 temporadas. Com Damas, que chegaria uma época depois, como companheiro de balneário, Quinito viveria uma bela experiência :
[A adaptação foi difícil?]
Quando cheguei a Santander, era o único que fumava e bebia. Reconheço que foram os empregados dos bares, aqueles que mais se esforçaram por integrar-me na sociedade .
[Fala-se muito das irregularidades em Espanha. Alguma vez jogou drogado?]
Não posso assegurar. Não sei se o cognac que tomávamos por intermediários era realmente cognac ou havia extras.”*

Depois desta fabulosa entrevista, dada após o seu regresso a Portugal, Quinito passa a integrar o plantel do Sp. Braga. Espantosamente, e sem nunca ter jogado abaixo da 1ª divisão, dois anos após voltar de Espanha, o médio decide-se pelo final da sua vida nos relvados.
Entusiasta da modalidade, Quinito acabaria por abraçar outras tarefas. É no Sp.Braga, ainda como adjunto, que dá os primeiros passos na carreira de treinador. Verdade seja dita, os melhores anos que passaria nessas funções, vivê-los-ia na “Cidade dos Arcebispos”. Com os “Arsenalistas” chegaria à final da Taça de Portugal de 1981/82. Aí, em mais um dos seus típicos episódios, apresentar-se-ia no Jamor vestido com um “fraque” branco… e laço a condizer!!!
Numa carreira tão longa, que o levaria às “Arábias”, ao prestigiado Estádio das Antas ou a diversos emblemas primodivisionários, Quinito ficaria conhecido por algumas das melhores tiradas do desporto nacional. Dono de célebres momentos, como são exemplo as frases “colocar a carne toda no assador” ou “se tivesse muito dinheiro compraria Pedro Barbosa para jogar futebol comigo, no meu quintal”, a Quinito todos reconhecem uma grande paixão. Contudo, os agradecimentos que tem merecido, vão muito para além desse seu furor. Vão para a maneira protectora como sempre tratou os seus jogadores e, acima de qualquer outra coisa, vão para a maneira poética como entende o futebol.



*Adaptado do artigo de Rui Miguel Tovar, “Jornal i”, a 14/09/2015

630 - ÓSCAR

Tendo sido activista pela independência de Cabo Verde, Óscar acabaria como preso político. É já após a sua libertação, que apenas chegaria com o 25 de Abril de 1974, que o antigo atleta da Académica da Praia volta a tentar a sua sorte no futebol. Pela mão de Carlos Alhinho, vai a um treino das “Águias”. Não fica, mas convence Fernando Cabrita, adjunto de Pavic, a aconselhá-lo ao Sporting da Covilhã.
Na Beira Baixa, ajuda os “Serranos” no caminho de volta aos patamares maiores. Já depois de se sagrar campeão da 3ª divisão, seria na temporada 1975/76 que acabaria por despertar a atenção de outros clubes. O salto da 2ª divisão para o principal patamar do futebol português, acabaria por acontecer no defeso de 1976. O Estoril-Praia, naquilo que era a luta pela manutenção, apostava no médio para reforçar o seu plantel. Já o atleta, acabaria por ser um dos principais trunfos nesse combate.
Batalhador e de passe certeiro, Óscar começaria a demonstrar que as suas capacidades se prestavam a muito mais do que as batalhas de fim de tabela. A primeira prova disso mesmo, viria pela mão dos responsáveis técnicos da Federação Portuguesa de Futebol. Juca, que por essa altura ocupava o cargo de seleccionador nacional, acabaria por incluir o nome do centrocampista numa das convocatórias. O particular contra a França, disputado em Março de 1978, acabaria por servir como estreia de Óscar com a camisola das “Quinas”.
O segundo momento alto na carreira do atleta, e que acabaria por confirmá-lo com um jogador de topo, seria o interesse dos “grandes” do futebol português. Conhecido por marcar golos ao FC Porto, o médio acabaria transferido para os “Dragões”. Nos “Azuis e Branco” deparar-se-ia com um balneário recheado de craques. Nomes com os de Rodolfo ou Frasco pouco espaço deixariam para que o internacional “luso” conseguisse impor o seu jogo. Campeão Nacional nessa temporada de 1978/79, Óscar acabaria por deixar o Estádio das Antas no final da mesma.
A mudança para outro emblema da “Cidade Invicta”, traria ao seu currículo mais um troféu. Numa equipa orientada por Mário Lino, Óscar, que jogaria a final como titular, acabaria por ajudar à conquista da Supertaça Cândido de Oliveira de 1979/80. Contudo, e apesar de um começo de época auspicioso, o percurso do médio com a camisola do Boavista, acabaria por não ser assim tão positivo.
É já depois de jogar pela Académica, que veste as cores do Farense. Na capital algarvia, o médio, em 1983/84, cumpriria a sua derradeira época primodivisionária. Ainda antes dessa sua última aparição nos maiores palcos nacionais, Óscar, sendo um dos mais utilizados no seio do plantel, assumiria um papel importante no regresso do clube à 1ª divisão.
Depois, ao serviço de equipas como o Lusitano de Évora, Atlético ou União de Santarém, o médio cumpriria as últimas etapas da sua vida profissional. O fim da carreira, já bem perto de completar 40 anos de idade, aconteceria em 1990, e ao serviço do Beneditense.
A sua ligação à modalidade continuaria, mas agora no papel de treinador. Nestas funções, o maior destaque vai para a sua passagem pela equipa nacional de Cabo Verde. À frente dos “Tubarões Azuis” durante 5 anos, Óscar acabaria por ter um papel fundamental no desenvolvimento do futebol do arquipélago. Conhecido por “reinventar” a selecção cabo-verdiana, seria ele a comandar o país, na conquista da Taça Amílcar Cabral de 2000.

629 - BARROS

Fruto das escolas do Leixões, seria no emblema de Matosinhos que Barros daria os primeiros passos como sénior. Essas duas temporadas, que serviriam à sua estreia na 1ª divisão, seriam suficientes para que da “Luz”, o confirmassem como um bom reforço.
A garantia dos jogos feitos pelo seu anterior clube, acrescentados às presenças nas selecções jovens nacionais, eram a certeza de que Barros era valor certo para o Benfica. Contudo, a sua chegada a Lisboa – cara ainda imberbe – iria esbarrar na concorrência de Humberto Coelho, Zeca e, mais tarde, de Rui Rodrigues.
Nesse contexto, a sua pretensão de se afirmar no sector mais recuado das “Águias”, acabaria por sair defraudada. A solução, para que sua evolução continuasse no sentido positivo, acabaria por passar por um empréstimo. O tempo cumprido ao serviço do União de Coimbra, serviria para mostrar que o seu regresso à “casa mãe” estava a ser bem acautelado.
O retorno, para a época de 1973/74, revelaria um atleta muito mais maduro. O trabalho feito na “Cidade dos Estudantes” começaria a trazer os seus frutos, com o jogador a ser chamado com mais frequência à equipa. No entanto, a sua época de afirmação só viria passado um ano. O grande responsável pela sua ascensão ao “onze”, haveria de ser Milorad Pavic. Vendo nele um jogador que, tanto na esquerda quer no centro, conseguia cumprir com rigor as tarefas defensivas, o técnico jugoslavo confiar-lhe-ia um lugar no sector mais recuado.
A regularidade com ia aparecendo no esquema benfiquista, fá-lo-ia merecer outros patamares. Nesse caminho, a chamada à principal selecção portuguesa acabaria por acontecer com naturalidade. Aproveitando alguns “amigáveis”, José Maria Pedroto começa a juntar o nome de Barros às convocatórias de Portugal. A estreia acabaria por acontecer, em Novembro de 1974, frente à congénere suíça.
Naquilo que Barros foi para o futebol, houve um sentimento que, por parte de quem assistiria por fora, deixou alguma amargura. É opinião quase consensual, que o defesa poderia ter dado muito mais ao desporto. Dizia-se que Barros, muito mais do que da modalidade, gostava das actividades extra “bola”. Muitos o apontaram como boémio; muito se falou de uma faceta irascível, que o teria levado a agredir uma corista do Parque Mayer; muitos pasquins foram vendidos, a quando da sua detenção por posse de drogas; muitos haveriam de dizer que poderia ter sido muito mais jogador do que aquilo que foi.
Já depois de, com as cores do Benfica, ter arrecadado 4 Campeonatos Nacionais, Barros entra na derradeira fase da sua carreira. Em 1978/79 muda-se para o Boavista. Já os anos seguintes passá-los-ia em Portimão e, onde acabaria por pôr um ponto final na sua vida profissional, ao serviço do Estoril-Praia.

BARBA RIJA

Se há requisito que deveria ser obrigatório num jogador de futebol, esse deveria ser... “pelos faciais”. Todos sabemos que os melhores nas “quatro linhas”, usaram, pelo menos e uma vez que fosse, um farfalhudo bigode!!! O que terá levado à extinção desta prática? De quem é a responsabilidade por esta perda? 
Ora, será com o desígnio de responder a estas dúvidas, que dedicaremos este mês de Fevereiro aos homens de “Barba Rija”!!!