1437 - LOBO

Mais uma vez, e começa a parecer fado, escolhi escrever a biografia de um atleta que, sem saber de antemão, iria revelar-se, em boa parte da carreira, um verdadeiro mistério. Nesse sentido, de Joaquim Lopes Lobo, natural de Vieira de Leiria, posso dizer-vos que encontrei como referência a um primeiro emblema, sem contudo encontrar a(s) correspondente(s) temporada(s), a sua passagem pelo Sport Lisboa e Marinha.
Mais consistente surgiu-me a informação da sua integração no plantel do Belenenses de 1965/66. Com os “Azuis”, o defesa-esquerdo, a trabalhar às ordens do brasileiro Jorge Vieira, terá feito, na campanha ainda agora referida, a estreia na 1ª divisão. Será dessa mesma época a única de 3 internacionalizações que, através da deficiente comunicação encontrada no “site” oficial da Federação Portuguesa de Futebol, consegui confirmar como pertencente ao currículo do atleta. A partida, disputada a 23 de Maio de 1966, frente à Bulgária, fez parte do calendário agendado para o Torneio Internacional de Juniores da UEFA. Nessa ficha de jogo, que nos dá a conhecer José Maria Canhoto como “timoneiro”, podemos ainda encontrar nomes que haveriam de singrar no desporto luso, casos de Damas, Rebelo, Camolas ou Brasfemes.
Também no escalão máximo do futebol português, parece ser certa a sua passagem pelo Atlético Clube de Portugal de 1966/67. Na colectividade sediada no bairro lisboeta de Alcântara, o defesa terá dado continuidade à sua caminhada primodivisionária. O pior, no que ao conhecimento diz respeito, emergiu dos anos seguintes. Num somatório de dados contraditórios, omissos e, acima de tudo, muito confusos, as poucas coisas que consegui aferir foram as experiências do atleta com as camisolas do Salgueiros e, na tão habitual passagem por África e pelo Serviço Militar Obrigatório, as jornadas feitas com o emblema do Sporting de Lourenço Marques.
Com a chegada da temporada de 1972/73, e avante no tempo, quero pensar nos dados encontrados, em diversas fontes, como fidedignos. Com essa ideia presente, posso asseverar-vos a chegada de Lobo ao Estádio do Bessa como reforço para a temporada mencionada no encetar deste parágrafo. Num grupo de trabalho comandado por Aymoré Moreira e com nomes como Bernardo da Velha, Mário João, Taí, Acácio Casimiro, Barbosa ou Moinhos, o defesa-canhoto conseguiria erigir aquela que, em prestações pessoais, terá sido a época de maior constância na sua carreira como futebolista. Daí em diante, ainda que tendo perdido alguma da preponderância inicial, o atleta manter-se-ia como um elemento de boa presença no plantel dos “Axadrezados”. Os grandes destaques terão de ir para as duas últimas épocas realizadas pelo jogador ao serviço do conjunto com os jogos domésticos disputados na “Cidade Invicta” e para as prestações colectivas na Taça de Portugal. Já com José Maria Pedroto à frente das “Panteras”, a equipa portuense chegaria, consecutivamente, a 2 finais. Quanto a Lobo, esse contexto glorioso, apesar da única presença na derradeira contenda da competição ter-se cingido à segunda edição aqui aludida, traria ao seu palmarés as vitórias nas edições de 1974/75 e 1975/76 da apelidada “Prova Rainha”.
O resto do seu trajecto competitivo seria feito, exclusivamente, nos patamares secundários. Após a transferência para a União de Leiria na temporada de 1976/77, Lobo, com um par de campanhas cumpridas na agremiação da “Cidade do Lis”, arrepiaria caminho para o Rio Maior. Seguir-se-iam, com experiências como treinador-jogador à mistura, as passagens por Vieirense, Marinhense e, num regresso ao emblema da terra natal, o fim da carreira com o termo da época de 1982/83.

1436 - CAÍCA

Ao transitar do Comércio e Indústria ainda em idade de formação, num negócio que envolveria a compra de equipamentos para a popular colectividade fundada na cidade de Setúbal, seria nas “escolas” do Vitória Futebol Clube que Carlos Alberto Martins Pereira, popularizado no mundo do futebol como Caíca, viria a concluir o percurso formativo.
Com a subida ao conjunto sénior a acontecer em 1972/73, a falta de presenças em campo não impediria o jovem praticante de manter o lugar no plantel às ordens de José Maria Pedroto. Como um elemento sério no trabalho apresentado e com prestações a demonstrar uma valentia e desempenhos acima da média, a concorrência por um lugar no “onze”, numa equipa que contava com nomes ilustres no cenário desportivo português, casos de Octávio Machado, Carriço, José Maria, Carlos Cardoso, José Mendes, Matine, Jacinto João, Rebelo ou Torres, começaria a ser quebrada na campanha de 1974/75. Com a estreia na 1ª divisão do Campeonato Nacional a acontecer, pela mão de José Augusto, à 8ª jornada da última temporada referida, o médio, frente a Académica de Coimbra encetaria uma caminhada que cimentaria a sua carreira como a de um atleta em grande medida ligado ao emblema a jogar em casa no Estádio do Bonfim. Daí em diante, independentemente dos homens à frente das diferentes equipas técnicas dos “Sadinos”, Caíca tornar-se-ia num dos futebolistas habitualmente inscritos nas fichas de jogo. Tanto nas provas nacionais, como nas pelejas agendadas para os calendários além-fronteiras, onde há a destacar a Taça Intertoto de 1975/76, o jogador, na segunda metade da década de 1970, participaria nos mais importantes momentos da agremiação setubalense e com isso inscrever-se-ia na história do Vitória Futebol Clube como uma das suas notáveis figuras.
Apesar do forte laço a unir Caíca ao emblema vitoriano, a separação entre o atleta e a colectividade a exibir-se com o listado vertical verde e branco findaria com o termo da temporada de 1979/80. Mesmo ao pautar-se como um dos habituais titulares da equipa, a transição para a época seguinte levaria o jogar a dar outro rumo à sua caminhada competitiva. Essa resolução levá-lo-ia, sem abandonar as contendas primodivisionárias, a optar pelo Portimonense orientado por Manuel Oliveira. Depois da passagem de 1 ano pelo conjunto com sede no Algarve, seguir-se-iam, numa fase da sua carreira caracterizada pela enorme errância, o Rio Ave e o Belenenses. Em Vila do Conde, apesar de pouco utilizado pelo também setubalense Mourinho Félix, o médio participaria no histórico 5º lugar alcançado, pelo emblema da caravela, na edição de 1981/82 do Campeonato Nacional. Já a sua presença no Restelo, onde voltaria a trabalhar sob as ordens do último treinador mencionado, iniciaria as suas prestações no escalão secundário. Nesse patamar, destaque ainda para os seus desempenhos com as camisolas da União de Leiria e com as cores do Amora, onde, com o fim da campanha de 1984/85, viria a “pendurar as chuteiras”.

1435 - MARCO AURÉLIO

Ao dar os primeiros passos como sénior ao serviço do Internacional de Porto Alegre, Marco Aurélio Berg, nessa temporada de 1968, encetaria uma caminhada que, nos primeiros anos, seria percorrida em emblemas do seu país natal. Ainda ligado contratualmente à agremiação do Estado do Rio Grande do Sul, a campanha de 1970 seria dividida entre o “Colorado” e o Náutico de Rio Pardo. Seguir-se-iam, após um pequeno regresso ao Estádio Beira-Rio, o resto da época de 1971 com as cores do América de Santa Catarina e pouco tempo depois, dando início à fase seguinte do seu trajecto profissional, surgiria a viajem com destino à Europa.
À chegada a Portugal, Marco Aurélio seria apresentado como reforço do Tramagal. A disputar a 2ª divisão, essa época de 1971/72 e a seguinte serviriam para o jogador conseguir demonstrar capacidades merecedoras de emblemas de outra monta. Ainda assim, a transferência para o FC Porto não deixaria de constituir uma surpresa. Com a entrada nas Antas a ocorrer na campanha de 1973/74, rapidamente o médio emergiria como um dos predilectos de Béla Guttmann. Contudo, a ida para o comando técnico dos “Dragões” de Aimoré Moreira e, com o despedimento deste, de Monteiro da Costa, o atleta acabaria por perder alguma preponderância no alinhamento da equipa portuense.
Os 3 anos passados no Varzim, onde encontraria o treinador António Teixeira, serviriam para voltar a sublinhar o médio como um intérprete de grande habilidade. Muito para além desse acréscimo de valor, Marco Aurélio também entraria para a história dos “Lobos-do-mar”. Ao lado de nomes sonantes do futebol luso, como Lima Pereira, Fonseca, Festas ou Ibraim Silva, o jogador ajudaria o clube do listado alvinegro a atingir, com o termo da temporada de 1976/77, a melhor prestação de sempre no Campeonato Nacional, ou seja, o 7º lugar da tabela classificativa.
As boas prestações no emblema sediado na Póvoa de Varzim acabariam a patrocinar o regresso de Marco Aurélio ao FC Porto. Logo nessa época de 1978/79, onde conseguiria convencer José Maria Pedroto a dar-lhe um lugar no “onze”, o médio viveria um episódio que viria a condicionar o resto da sua carreira. Num lance disputado com o benfiquista Toni, o brasileiro acabaria com uma grave fractura da tíbia e do perónio. A lesão entregá-lo-ia a um largo período de recobro e nem a comemoração da vitória no Campeonato Nacional conseguiria aligeirar a gravidade das mazelas.
Apesar de ter voltado ao activo na temporada de 1979/80, as prestações de Marco Aurélio nunca mais recuperariam os índices exibicionais de outrora. Após deixar o FC Porto com o termo da campanha mencionada no começo deste parágrafo, o médio, com mudanças de emblema a cada ano cumprido, encetaria uma fase em que a errância seria a nota dominante. Nessa sequência, o Vitória FC orientado por Rodrigues Dias, tornar-se-ia na derradeira colectividade onde o jogador participaria em pelejas primodivisionárias. Seguir-se-iam, numa caminhada que findaria em 1985, o Juventude de Évora, o Nacional da Madeira, o Vilanovense e o Barreirense.

1434 - BREHME

Seria no modesto HSV Barmbek-Uhlenhorst que Andreas Brehme terminaria a sua formação para, na segunda metade da década de 1970, surgir na equipa principal da colectividade sediada em Hamburgo, a cidade natal do atleta. Mesmo ao disputar as divisões inferiores da antiga República Federal Alemã, o defesa-esquerdo depressa começaria a despertar a cobiça de emblemas com maiores ambições. O passo seguinte na sua evolução seria dado à custa do contrato assinado com o 1. FC Saarbrücken. No entanto, com o talento a justificar a mudança seguinte, pouco tempo o jogador estaria no novo emblema e envolvido nas pelejas do segundo escalão. Um ano volvido sobre a chegada à agremiação com casa no estado germânico de Saarland, chegaria a vez de rubricar um novo acordo e o lateral encetaria o laço com aquele que viria a tornar-se no clube mais representativo da sua carreira.
No Kaiserslautern a partir da campanha de 1981/82, Andreas Brehme, de forma natural, acabaria por conquistar um lugar no “onze” do novo clube. A titularidade no degrau maior da Bundesliga serviria também para empurrar o jogador para as pelejas da selecção. Depois das primeiras chamadas, logo na temporada de estreia pelos “Die Roten Teufel”, terem ocorrido no âmbito das contendas agendadas para os sub-21 e de também ter passado pelos “olímpicos”, o defesa, como prova do seu excelso crescimento, viria a ser convocado para a principal “Mannschaft”. Arrolado por Jupp Derwall para disputar, a 15 de Fevereiro de 1984, um amigável frente à Bulgária, o lateral-esquerdo encetaria aí uma caminhada que terminaria com 86 internacionalizações “A”. Durante esse trajecto, surgiriam as presenças nos maiores certames dedicados às equipas nacionais. Para além da participação nos Jogos Olímpicos de Los Angeles, o atleta também seria chamado ao Euro 84, Euro 88, Euro 92 e aos Mundiais de 1986, de 1990 e de 1994. Claro está que o maior destaque emergiria no Campeonato do Mundo organizado em Itália, onde, com um golo da sua autoria, ajudaria a derrotar a Argentina na final do torneio, por 1-0.
Voltando ao seu percurso clubístico, os anos passados ao serviço do Kaiserslaurten, apesar de serviriam para cimentá-lo como um intérprete de categoria superior, acabariam por não trazer qualquer título ao seu palmarés. Esse paradigma mudaria com uma nova transferência. Aferido como um elemento fiável defensivamente, com óptimos índices ofensivos, com uma habilidade de passe tremenda e um remate forte e preciso, Brehme revelaria os lances de bola parada como uma arma mortífera. Com tantos predicados, o jogador seria convidado pelo Bayern München para reforçar o plantel de 1986/87. Logo nessa temporada de estreia, o jogador ajudaria o emblema bávaro a vencer a Bundesliga. Também nas provas continentais, o lateral seria de fulcral importância para a caminhada na Taça dos Clubes Campeões Europeus. Na final do Praterstadion, de boa memória para os adeptos portugueses, o jogador seria listado para a disputa frente ao FC Porto. Infelizmente para o grupo de trabalho comandado por Udo Lattek, os “Azuis e Brancos” venceriam por 2-1 e levariam o troféu para as Antas.
A mudança para aquela que, à altura, era tida como a melhor liga do mundo, levaria o atleta a envergar a cores do Inter Milan. No “calcio” desde a época de 1988/89, Brehme voltaria a brilhar e a sublinhar-se como um dos grandes nomes do futebol. Também no que diz respeito aos títulos, o lateral-esquerdo somaria ao currículo importantes marcos. Para além do “Scudetto” de 1988/89 e da Supercoppa do ano seguinte, há ainda a registar a conquista da Taça UEFA de 1990/91. Numa equipa onde também marcavam presença os seus conterrâneos Lothar Matthaüs e Jürgen Klinsmann, o defesa seria chamado às duas mãos da derradeira ronda da competição e, desse modo, daria um enorme contributo para a vitória frente à AS Roma.
Após a passagem de um ano pelos espanhóis do Zaragoza, Brehme acabaria por regressar ao seu país natal e ao Kaiserslautern. Todavia, ao contrário da experiência inicial, o novo elo com a agremiação sediada no sudoeste germânico surgiria repleto de fortes emoções. Para iniciar a mencionada senda, viria, em primeiro lugar, uma surpreendente despromoção. De seguida, a conquista do Campeonato referente ao escalão secundário e, no ano do regresso ao convívio com os grandes, a vitória na edição de 1997/98 da Bundesliga.
O último título nacional referido coincidiria com o fim da carreira de Brehme como futebolista. Mesmo ao “pendurar as chuteiras”, o antigo defesa não deixaria a modalidade e passaria a dedicar-se às artes de treinador. Nessas funções, o maior realce haveria de ser dado à sua passagem pelo comando técnico do Kaiserslaurten. Ainda assim, há igualmente a registar a sua experiência no SpVgg Unterhaching ou a ligação aos sérvios do FK Vojvodina, no papel de consultor.

1433 - ALFREDO QUARESMA

Ao emergir das “escolas” do Belenenses, Alfredo Quaresma, ainda durante a caminhada formativa, daria fortes indicações de ser um praticante com qualidades distintas. A prová-lo surgiriam as chamadas para as jovens equipas à guarda da Federação Portuguesa de Futebol. Integrado no trabalho dos agora conhecidos como sub-18, o defesa-central acabaria por fazer parte do grupo que seria convocado a disputar a edição de 1962 do Torneio Internacional de Juniores da UEFA. Ao lado de nomes como Gervásio, Guerreiro, Rui Rodrigues ou Godinho, o jogador, a 20 de Abril de 1962, estrear-se-ia com a “camisola das quinas”, numa partida frente à República Federal Alemã. Anos mais tarde, já como um futebolista conceituado, a sua caminhada desembocaria na principal selecção de Portugal. Nesse contexto competitivo, a primeira aparição, pela mão de José Augusto, dar-se-ia a 3 de Março de 1973, num jogo de preparação frente à França e terminaria com o currículo do atleta colorido por 3 internacionalizações “A”.
No que concerne ao percurso clubístico, o início da caminhada sénior de Alfredo Quaresma é, pelo menos para mim, um pequeno mistério. A fonte que faz referência a uma data mais antiga, é o jornal “Record”, no qual podemos ler que “Em 1960 estreou-se nos seniores, com apenas 17 anos, frente ao Sporting”*. Da leitura de outras publicações, podemos chegar à conclusão que o defesa terá chegado a sénior na temporada de 1962/63**. Já o que parece ser unanime são os passos iniciais do jogador no que diz respeito à 1ª divisão, ou seja, a época de 1963/64. Nessa campanha, o central seria chamado, por Mariano Amaro, a entrar em campo na 20ª jornada daquela que é a prova de maior monta no calendário futebolístico português. Daí em diante, quase sempre como titular dos “Azuis”, o atleta somaria 323 jogos, o que faria dele o elemento da “Cruz de Cristo” com mais desafios cumpridos no patamar maior do Campeonato Nacional.
Nesses anos em que jogaria pela categoria principal do Belenenses, o defesa, que também chegaria a posicionar-se no meio-campo, viveria muitos momentos dignos de registo. Sempre a disputar a 1ª divisão, o futebolista seria um dos esteios do plantel que, na temporada de 1972/73 e sob a alçada de Alejandro Scopelli, terminaria o Campeonato na 2ª posição da tabela classificativa. Há também que mencionar as suas participações nas provas continentais. Na Taça UEFA de 1973/74, entraria em ambas as mãos na eliminatória perdida frente aos ingleses do Wolverhampton Wanderers. Porém, seria na edição de 1976/77 da competição ainda agora aludida que o atleta mereceria os maiores louvores. Com o FC Barcelona a calhar em sorte à equipa “alfacinha”, Alfredo Quaresma participaria na partida agendada para Lisboa, como na peleja da Catalunha. Contudo, o jogo que ficaria na memória dos adeptos dos “Azuis”, seria o disputado no Estádio do Restelo e que, para além do empate conseguido, daria a oportunidade ao jogador de marcar um golo.
Apesar da longa ligação ao Belenenses que, entre os anos passados nas “escolas” e a equipa principal, duraria 18 anos consecutivos, a união entre o clube e o atleta acabaria por conhecer o fim. Com a última época passada ao serviço do Belenenses a acontecer com o decorrer das provas agendadas para a campanha de 1976/77, Alfredo Quaresma, por diversas vezes nomeado capitão de equipa, deixaria o Restelo para ainda representar outras colectividades. No Norte do país, o defesa encetaria a derradeira fase da sua senda enquanto praticante e o Vila Real e o Avintes dariam cor a uma carreira que terminaria em 1979.

*retirado do artigo publicado em www.record.pt, a 31/03/2007
**”Equipas e Jogadores da 1ª divisão do Campeonato Nacional de Futebol de 1967/68” (caderneta de cromos), Agência Portuguesa de Revistas, Março de 1968

1432 - SOUSA

Com o trilho formativo a levá-lo a emblemas como o Vitória de Lisboa e o Oriental, seria no Sporting que Fernando Sousa terminaria esse primeiro capítulo como praticante. Contudo, muito distante do que os vários anos passados sob a égide de Alvalade poderiam sugerir, o médio, na altura de subir ao escalão sénior, acabaria por ir parar às “distritais”. Depois da experiência no Alverca de 1986/87 e de um ano sabático que arriscaria um termo à sua imberbe carreira, o jogador passaria a envergar a camisola do Vialonga. Já na disputa da 3ª divisão, o jovem atleta chamaria a atenção de outro emblema e a mudança para o Alto Alentejo, ainda longe de alguém adivinhar o seu destino, viria a mudar radicalmente a ligação do angolano ao futebol.
Com a entrada no plantel de 1989/90 do Campomaiorense, Sousa daria o primeiro passo para inscrever o seu nome na história da colectividade alentejana. Com o emblema raiano ainda a militar na 3ª divisão, a ambição dos seus responsáveis directivos depressa iria fazer com que o clube começasse a subir vários degraus competitivos. Com o centrocampista a assumir um papel deveras importante nos esquemas tácticos dos diversos treinadores, a temporada de 1992/93, após a consagração dos “Galgos” como campeões da 2ª divisão “b”, apresentaria o jogador à divisão de Honra. Nos patamares profissionais, o atleta manteria a sua preponderância e conservar-se-ia como um dos pilares do listado verde e branco. Depois viria a tão almejada promoção à 1ª divisão e, na campanha de 1995/96, a estreia da colectividade e do médio no convívio com os “grandes”.
A chegada ao escalão maior do futebol português não afastaria Sousa do “onze” inicial. Numa equipa inicialmente comandada por Manuel Fernandes e, depois da saída deste, orientada por Diamantino, o jogador continuaria a manter-se como uma das figuras do sector intermediário do Campomaiorense. Porém, apesar de um plantel riquíssimo em jogadores de enorme qualidade, dos quais gostaria de destacar Jimmy Hasselbaink, Paulo Torres ou Beto, as prestações colectivas não seriam suficientes para evitar a descida de patamar. Já o regresso à 1ª divisão dar-se-ia um ano depois e com o atleta a arrecadar para o palmarés pessoal o Campeonato da divisão de Honra.
Sem nunca perder o estatuto de titular, Sousa, nessa segunda incursão pelo degrau maior, acabaria por participar noutro episódio digno de registo. Muito mais do que a permanência continuada do Campomaiorense na 1ª divisão, o grande destaque emergiria com a campanha feita pela agremiação alentejana na edição de 1998/99 da Taça de Portugal. Nessa caminhada, onde os “Galgos” chegariam à derradeira partida da competição, o médio entraria em campo em diversas partidas programadas para as rondas preliminares. Já na final calendarizada para o Estádio Nacional do Jamor, o atleta, apesar de convocado pelo treinador José Pereira, acabaria por nunca sair de banco e, como suplente, veria o almejado troféu, após a derrota por 1-0, a ser erguido pelo Beira-Mar.
Antes ainda da final mencionada no parágrafo anterior, Sousa registaria outros momentos de inolvidável importância. Chamado aos trabalhos da principal equipa nacional de Angola pelo Professor Neca, após a estreia, numa partida frente ao Zimbabwe, a 23 de Fevereiro de 1997, Sousa manter-se-ia nos planos do referido treinador e acompanharia os seus camaradas até a uma das principais competições organizada para selecções. Na CAN de 1998, ao lado de conhecidos do futebol luso, como Lito, Quinzinho, Akwá, Lázaro ou Paulão, o médio participaria no torneio agendado para o Burkina Faso e apesar de ter participado nas 3 pelejas da fase de grupos, as suas prestações não seriam suficientes para empurrar os “Palancas Negros” para a fase seguinte da competição.
Voltando ao seu percurso clubístico, Sousa, a partir da presença do Campomaiorense na partida de decisão da “Prova Rainha”, perderia algum do fulgor competitivo. Sem voltar aos índices anteriormente apresentados, a temporada de 2000/01, com a abertura do “Mercado de Inverno”, traria o fim da sua ligação ao emblema alentejano. Ao partir dos “Galgos” como o atleta com mais partidas disputadas pelo clube, o médio prosseguiria a carreira não muito longe do Estádio Capitão César Correia. No “O Elvas”, o jogador entraria na derradeira fase da carreira e, para além do emblema “Azul & Ouro”, numa caminhada que terminaria em 2004, ainda envergaria as cores do Benavilense.

1431 - JAIME CERQUEIRA

Ao terminar a formação ao serviço do Amarante, Jaime Cerqueira, na temporada de 1986/87, seria promovido à equipa principal. Tido como um praticante de enorme potencial, o jovem atleta, apesar de disputar o 3º escalão, depressa conseguiria chamar a atenção de colectividades de maior ambição. Por essa razão, passada apenas uma temporada desde a sua promoção a sénior, o jogador seria desafiado por um Estrela da Amadora com aspirações a lutar por um lugar entre os “grandes” do futebol luso. Logo no ano da sua chegada ao emblema da Linha de Sintra, orientado pelo mítico Joaquim Meirim, o futebolista contribuiria para a vitória na Zona Sul da 2ª divisão e para a consequente promoção ao patamar máximo português.
Com Estrela da Amadora a estrear-se na 1ª divisão, Jaime Cerqueira, também ele como debutante no escalão máximo, acabaria por inscrever o seu nome na história do clube. Outro momento de relevância na carreira do médio chegaria com a edição de 1989/90 da Taça de Portugal. Com os “Tricolores” surpreendentemente a avançar na competição, o atleta haveria de ser chamado pelo treinador João Alves à derradeira peleja da apelidada “Prova Rainha”. No Estádio do Jamor, o jogador iniciaria a finalíssima no banco de suplentes. Porém, perto do fim dos 90 minutos regulamentares, seria chamado a entrar em campo e desse modo, frente ao Farense, contribuiria para a gloriosa vitória da sua colectividade.
Pouco utilizado na última temporada na Reboleira, para o futuro próximo de Jaime Cerqueira, muitos terão, com forte probabilidade, vaticinado um passo atrás na carreira. No entanto, a transferência para o novo clube indicaria tudo menos um retrocesso. Com João Alves a transitar para o Boavista na temporada de 1990/91, também o médio seguiria caminho até à cidade do Porto. No Bessa passaria duas épocas e mesmo sem conseguir conquistar um lugar como titular absoluto, o jogador deixaria boas indicações. Já no que toca aos melhores momentos na passagem pelos “Axadrezados”, mais uma vez vivê-los-ia na disputa da Taça de Portugal. Ainda que ausente da final frente ao FC Porto, o atleta jogaria as eliminatórias anteriores e, com essas participações, entraria para o rol de vencedores da edição de 1991/92 da prova.
Seguir-se-ia o Gil Vicente e aquela que viria a tornar-se, em termos de prestações individuais, na melhor fase da sua carreira. Em Barcelos, o médio sublinhar-se-ia como um atleta de cariz primodivisionário e para tal avaliação em muito contribuiria a titularidade conquistada com os diferentes técnicos. Depois viria a passagem pelo plantel de 1994/95 do Desportivo de Chaves e o regresso ao Minho para, mais uma vez ao serviço dos “Galos”, terminar a sua experiência nos palcos maiores do Campeonato Nacional.
Já com 8 temporadas consecutivas e 125 partidas na 1ª divisão, Jaime Cerqueira entraria nas derradeiras etapas da sua caminhada enquanto futebolista. Daí em diante sempre nos escalões secundários, Paços de Ferreira, Sporting da Covilhã, Ovarense, Sporting de Lamego, Amarante e o Aparecida completariam um currículo que viria a terminar em 2001.

1430 - FONSECA


Com a curiosidade de ter, durante os anos de formação, mudado de emblema a cada temporada, Fonseca viria a representar as “escolas” do SL Olivais, Sporting, Oriental, Torralta e Benfica. Porém, ao contrário do que tanta alternância poderia deixar adivinhar, as avaliações feitas a António Fonseca dariam o lateral-esquerdo como uma das grandes promessas do futebol luso. A provar essa apreciação, surgiriam as chamadas às jovens equipas da Federação Portuguesa de Futebol. Com a primeira aparição com a “camisola das quinas” a acontecer a 9 de Abril de 1982, a partida dos sub-16 frente à Checoslováquia, com a orientação de José Augusto, levá-lo-ia a uma caminhada por vários escalões. Já no conjunto principal de Portugal, o jogador estrear-se-ia pela mão de Juca e esse particular frente a Angola, agendado a 29 de Março de 1989, lançaria o atleta numa senda que terminaria com 4 internacionalizações A.
Apesar de ser aferido como um jogador de enorme potencial, a verdade é que a sua estreia no patamar sénior dar-se-ia longe do Estádio da Luz e na disputa da 2ª divisão de 1983/84. Depois do plantel do Cova da Piedade, a época sequente traria ao seu trajecto o Ginásio de Alcobaça, para na campanha de 1985/86, sem escapar ao escalão secundário, passar a representar o Tirsense. Com 2 campanhas cumpridas ao serviço dos ”Jesuítas”, a Fonseca ser-lhe-ia dada a oportunidade de competir no degrau maior do futebol luso. Com algum espanto, o convite surgiria por parte dos responsáveis do Benfica e a transferência do lateral-esquerdo dar-se-ia para a temporada de 1987/88.
O regresso à Luz, num plantel inicialmente às ordens do dinamarquês Ebbe Skovdahl, apresentar-lhe-ia como concorrentes Álvaro Magalhães e António Veloso. Tão forte competição faria com que o jovem atleta pouco jogasse. Ainda assim, a destacar-se, surgiria a sua participação na Taça dos Clubes Campeões Europeus que, na temporada a marcar o regresso de Fonseca a Lisboa, levaria o Benfica até à final da prova. Já a época seguinte, com Toni no comando técnico, mostraria o defesa como um dos titulares das “Águias” e um dos pilares da conquista do Campeonato Nacional. Surpreendentemente, a campanha de 1989/90 devolveria o jogador ao rol de escolhas secundárias. Mesmo sem ser grande opção para Sven-Göran Eriksson, ao lateral seria dada a oportunidade de participar, mais uma vez, na principal prova de clubes organizada pela UEFA e, com a sua presença na eliminatória frente ao Derry City, auxiliaria à chegada dos “Encarnados” ao derradeiro desafio da competição.
Ao perder espaço no Benfica, a aposta do jogador recairia no Vitória Sport Clube. Em Guimarães, o defesa, apesar de números satisfatórios, nunca conseguiria agarrar a titularidade de forma inequívoca. Ao fim de duas épocas, o esquerdino deixaria o Minho para ingressar no plantel de 1992/93 do Estrela da Amadora. Nos “Tricolores”, apesar da campanha inicial no 2º escalão, as restantes passá-las-ia no convívio com os “grandes”. Ao recuperar o estatuto de titular, Fonseca contribuiria, de forma bem vincada, para uma sucessão de 6 anos da colectividade da Reboleira na 1ª divisão e cujo 7º posto conseguido com o termo da temporada de 1997/98, constituiria um recorde para a agremiação da Linha de Sintra.
Em 1999, na derradeira fase do seu itinerário enquanto futebolista, Fonseca deixaria Portugal e viajaria até ao Canadá. Nos Vancouver Whitecaps, o defesa-esquerdo acabaria por “pendurar as chuteiras”, para encetar a sua carreira como técnico. Nas novas funções, o maior destaque viria com a sua ligação à Canadian Soccer Association, na qual ocuparia a posição de adjunto da selecção principal, de treinador dos sub-23 e onde, embora de forma interina, também chegaria a assumir o cargo de seleccionador da equipa “A”.

1429 - PINTO

Tornam-se cada vez mais difíceis os desafios que proponho para este “blog” ou que acabam por ser sugeridos. Nesse fado, hoje trago à barra um jogador do qual praticamente não consegui obter qualquer informação! Ainda assim, não virei as costas ao repto e, mesmo com o risco de cometer sérios erros, vou apresentar-vos esta pequena biografia.
De Manuel Pinto da Silva, de quem dizem ter nascido em Lourosa, o primeiro registo que encontrei foi o da sua presença no plantel de 1969/70 do Lusitânia de Lourosa. Este par de dados, com a naturalidade a ser veiculada por diferentes fontes, parece estar correcto. É certo que relativamente ao clube a única coisa que consegui confirmar, foi que o primeiro emblema na caminhada do guarda-redes terá sido a agremiação acima referida. De seguida, sem descortinar de forma fidedigna a cronologia das etapas, apresentou-se-me a época de 1971/72 no grupo de trabalho do Varzim e, como as primeiras experiências naquele que viria a tornar-se num dos emblemas mais representativos da sua carreira, as passagens pelo Feirense.
Da vivência na colectividade sediada em Santa Maria da Feira, tirando as espaçadas campanhas a que fiz referência no parágrafo anterior, terá havido, hipoteticamente, um período de vários anos consecutivos em que o jogador envergou a camisola dos “Fogaceiros”. Se aceitarmos que esse intervalo de tempo terá começado em 1973/74, então, pelas várias informações encontradas, posso atestar que as temporadas de 1976/77 e 1977/78 terão sido cumpridas por Pinto no Feirense. Esses dois registos acabariam por ser deveras importantes no evoluir do trajecto competitivo do guardião, pois, se o primeiro corresponde à promoção da equipa, a segunda época aludida será a da sua estreia na 1ª divisão.
A campanha a encetar a caminhada primodivisionária do jogador, começaria sob a alçada técnica do argentino Eduardo González, mas correria na sua grande fatia com a orientação de João Mota. No entanto, num plantel a contar com alguns nomes interessantes, casos de Baltemar Brito, Babalito, José Pedro ou José Domingos, os resultados colectivos ficariam aquém das espectativas e o termo do Campeonato Nacional ditaria o Feirense como último classificado e como um dos conjuntos despromovidos. No que diz respeito às prestações individuais de Pinto, mesmo tendo em conta que dividiria as presenças em campo com Silva Morais, seriam suficientes para que terminasse a época como o guarda-redes mais utilizado pelos “Fogaceiros”.
Daí em diante, pela informação oferecida pelo “site” da Federação Portuguesa de Futebol, o percurso do atleta deixa de ser um tão grande mistério. As duas épocas imediatamente a seguir à da despromoção vivida com o Feirense, seriam cumpridas com o Sporting de Espinho e, num regresso a casa, feita com as cores do Lusitânia de Lourosa. Com esses dois anos passados de volta às contendas dos patamares secundários, os dois que os sucederiam, à baliza do União de Lamas, também viriam a ser atravessados no mesmo contexto competitivo. Seria nova transferência, nesse caso para o Salgueiros, que viria a permitir ao guarda-redes registar novos convívios com os “grandes”. Com a mudança para Paranhos a acontecer em 1982/83, essa e a temporada seguinte, com Henrique Calisto a apadrinhar o regresso de Pinto ao patamar máximo e ao lado de Fidalgo, Carvalho, Soares, Penteado, Jorginho e tantos outros futebolistas de excelsa tradição no desporto luso, viriam a ser realizadas como as últimas do jogador na 1ª divisão.
Seguir-se-iam, numa caminhada a entrar na veterania, o União de Lamas, o Candal e numa carreira sénior a supostamente a terminar na temporada de 1988/89, o Anadia. Bem, tenho de ser franco e dizer que não consigo garantir que a campanha mencionada tenha, de facto, correspondido ao fim do seu trajecto como profissional. Existem outros registos, nomeadamente ao serviço do Fiães, do São Roque e, mais uma vez, na defesa do União de Lamas. Porém, a informação encontrada em algumas fontes, diz-nos que estas experiências terão sido vividas nas disputas das provas de veteranos.

1428 - MIRA

Natural do Barreiro, Luís Mira entraria para as ”escolas” do Barreirense para aí completar todo o percurso formativo. Os bons desempenhos conseguidos durante esse período levá-lo-iam a ser olhado como uma grande promessa do futebol português e, por essa razão, acabaria incluído nos trabalhos dos jovens conjuntos à guarda da Federação Portuguesa de Futebol. Nesse âmbito, seria chamado por David Sequerra para a disputa da edição de 1961 do Torneio Internacional de Juniores da UEFA. O certame, disputado em Portugal, haveria de contar com inúmeros atletas que, não muitos anos depois, passariam a ser tidos como elementos de enorme valia. Numa equipa onde pontuavam nomes como Simões, Peres, Oliveira Duarte, Serafim, Carriço ou Manuel Rodrigues, no grupo técnico o treinador-principal haveria de ser José Maria Pedroto. Com tamanha qualidade reunida num só agregado, a “equipa das quinas”, com Luís Mira a marcar presença na partida frente a França*, avançaria na prova até à final e, já no derradeiro jogo, arrecadaria o troféu corresponde à vitória.
Intérprete de cariz marcadamente ofensivo, seria ainda na temporada referente à campanha do torneio mencionado no parágrafo anterior que Mira haveria de ser chamado à equipa principal do Barreirense. A estreia ocorreria pela mão do treinador António Pinto e daria início a uma ligação sénior que, ao começar na 25ª ronda do Campeonato Nacional de 1960/61, viria a prolongar-se por 14 anos consecutivos. Para ser mais correcto, o jogador, durante a totalidade da sua caminhada desportiva, não conheceria outra camisola. Dentro do mencionado somatório de épocas, com algumas despromoções à mistura, 10 dessas campanhas seriam cumpridas na disputa do escalão máximo português. O último número apresentado conferiria ao atleta a oportunidade para inscrever o seu nome em 161 jogos a contar para a 1ª divisão e, com isso, mereceria 4º posto na lista de elemento com mais jornadas a contar para o degrau maior do futebol luso, feitos pela agremiação sediada na Margem Sul.
Não só de algarismos seria construída a ligação entre o atleta e o clube. É certo que seriam esses números que viriam a proporcionar ao futebolista a presença em momentos de inolvidável importância. No entanto, na caminhada do jogador com o listado alvirrubro, há para realçar episódios cuja relevância ultrapassa a frieza dos dados quantificáveis. Um desses capítulos, talvez um dos mais significativos, chegaria com as belíssimas prestações colectivas na temporada de 1969/70. Numa equipa comandada por Manuel Oliveira e com nomes como Bento, Faneca, Valter ou Bandeira, Mira desempenharia um papel vital no 4º lugar alcançado no final do Campeonato Nacional. A referida classificação, a melhor de sempre na história da agremiação, levaria o grupo, na época seguinte, à disputa das provas além-fronteiras. Inseridos na Taça das Cidades com Feira, num Barreirense já orientado pelo brasileiro Edsel Fernandes, Mira seria chamado à disputa da prova continental e entraria em campo na 1ªmão referente à peleja agendada frente ao Dinamo Zagreb.
Após terminar a carreira de jogador com o termo da campanha de 1973/74, Luís Mira, através das actividades entregues a um treinador, voltaria a ligar-se ao futebol. No cumprimento dessas funções e sem grande surpresa, destaque para as suas passagens pelo comando técnico do Barreirense.

*por razão da desistência de algumas selecções, foram efectuados alguns jogos fora do torneio principal. O Portugal – França (3-1) foi um deles.

1427 - LIBERTO DOS SANTOS

Tendo em conta a altura em que o jogador fez carreira, mais uma vez foi fácil de adivinhar as dificuldades que iria encontrar na procura por dados suficientes para conseguir construir, de forma fiável, uma biografia capaz de ilustrar o seu percurso desportivo. O prognóstico, simples de fazer, veio a confirmar-se e para não prolongar em demasia esta nota introdutória, posso afirmar que essa projecção, por sorte, será uma das poucas verdades incontestáveis daquilo que agora comecei a escrever!
Segundo a Federação Portuguesa de Futebol, informação replicada amiúde por outras fontes, Liberto dos Santos terá nascido a 1 de Fevereiro de 1908 (1). Com a comunicação tida como certa, gostaria de apresentar um dado que assevera ser de 1922 a primeira aparição do jogador com as cores do União Lisboa (2). Tendo em conta a fraca probabilidade de, à altura, existirem patamares de formação, o último elemento cronológico exposto, até pode parecer, aos olhos de hoje, um pouco estranho. No entanto, mesmo ao aceitar que o ano, provavelmente, fará alusão à sua estreia sénior, a referência não é assim tão esquisita, pois antigamente era habitual haver atletas de tenra idade já inseridos na categoria principal. Ainda assim, tenho de sublinhar uma ressalva e indicar que a fonte utilizada, no que concerne ao arranque da caminhada competitiva do jogador, foi a única onde encontrei menção a 1922.
No que pertence ao currículo com as cores de Portugal (1), e acho que neste contexto as dúvidas serão mínimas, a estreia de Liberto dos Santos com as cores lusas terá acontecido a 24 de Janeiro de 1926. A partida, um “amigável” frente à Checoslováquia e sob a orientação de António Ribeiro dos Reis, seria disputada no portuense Campo do Ameal e viria a terminar com um empate a 1 bola. Depois desse embate, à data do qual o avançado contava 17 anos de idade, seguir-se-iam outras 4 pelejas internacionais e sempre de cariz preparatório. O referido percurso viria a servir de rampa para a sua inclusão no grupo que, em 1928, marcharia para a cidade neerlandesa de Amesterdão. Nos Jogos Olímpicos, na intendência de Cândido de Oliveira, o atacante acabaria por nunca entrar em jogo. Ainda assim, é impossível de desassociar a convocatória para tão importante certame desportivo, à sua qualidade como praticante e, com tal ideia em mente, não vincar a grandeza do atacante no cenário futebolístico nacional.
Ao regressar à sua caminhada clubística, há ainda para somar alguns factos relevantes. Com o União Lisboa a destacar-se como uma dos bons conjuntos da modalidade, muito para além das participações no Campeonato de Lisboa, o grande destaque surgiria com a presença da equipa “alfacinha” na final da edição de 1928/29 do Campeonato de Portugal. Na derradeira partida da prova, onde, à baliza, marcaria presença Carlos Silva, outro internacional pelo emblema do bairro de Alcântara, Liberto dos Santos, como a figura de maior peso e capitão da agremiação, também viria a ser escolhido para o “onze” a apresentar-se na contenda (3). Infelizmente para o listado alvinegro, a vitória sorriria ao adversário e o troféu, com o resultado final a quedar-se pelos 2-1, seria arrecadado pelo Belenenses.
Há ainda um par de acontecimentos que, tirando a curiosidade dos mesmos, revelam bem a importância do avançado no panorama do futebol português. O primeiro surgiria a 27 de Junho de 1926, com a inauguração do Campo da Tapadinha, à altura na posse do Carcavelinhos, para mais tarde, por junção do referido emblema com o União Lisboa, ficar como propriedade do Atlético. Para o evento seriam convidadas uma série de figuras solenes da modalidade e Liberto dos Santos, entre os futebolistas Carlos Canuto, António Augusto Lopes e João Francisco Maia, surgiria como um dos nomes convidado a apadrinhar o novo empreendimento desportivo.
O outro episódio emergiria com a tournée (4) feita pelo Sporting ao Brasil no Verão de 1928. Como era habitual à data, por altura de particulares com equipas estrangeiras ou em digressões além-fronteiras, os clubes tinham por costume pedir “emprestados” alguns atletas a outras colectividades. Na viagem transatlântica, com o plantel leonino, ao lado dos também “olímpicos” António Roquete, Armando Martins e Carlos Alves, Liberto dos Santos partiria em direcção a “Terras de Vera Cruz”.

(1)https://www.fpf.pt/pt/Jogadores/Jogador/playerId/729713
(2)https://heroisdabola.com.br/jogadores/liberto-santos/grande
(3)https://www.zerozero.pt/jogo.php?id=1666185
(4)https://camaroteleonino.blogs.sapo.pt/fotografia-com-historia-dentro-222-6361286?thread=63329990

1426 - DAVID

Formado entre as “escolas” do Feirense e as do FC Cortegaça, seria no Sporting de Espinho que David Manuel Reis da Silva faria a sua estreia como sénior. Logo nessa temporada de 1982/83, treinado por Álvaro Carolino, o jovem médio-esquerdo, mesmo a actuar no escalão máximo do futebol português, daria boas indicações quanto à sua habilidade. A campanha seguinte, ainda sem conseguir ser um dos mais utilizados do plantel dos “Tigres da Costa Verde”, serviria para que sublinhasse os números registados na época anterior. Porém, a despromoção do clube acabaria por atrasar a sua evolução e o jogador, nos anos vindouros, passaria a disputar a 2ª divisão.
Com 2 temporadas cumpridas no escalão secundário, a transferência para o Desportivo de Chaves, muito mais do que marcar o regresso do médio ao convívio com os “grandes”, confirmaria o jogador como um elemento de calibre primodivisionário. Ao ser apresentado como reforço do emblema transmontano para a campanha de 1986/87, David encetaria aí uma caminhada que, para além de transformar o listado azul-grená no mais representativo da sua caminhada competitiva, iria inscrevê-lo, logo no ano da sua chegada, nos anais do clube.
Orientado por Raul Águas, David, na já referida temporada de 1986/87, seria um dos intérpretes a contribuir para o 5º posto na tabela classificativa do Campeonato Nacional da 1ª divisão. Aquela que, à altura, viria a transformar-se na melhor prestação de sempre da agremiação sediada em Trás-os-Montes, serviria também para a qualificação e estreia do emblema flaviense nas provas continentais. A disputar a edição de 1987/88 da Taça UEFA, o médio, numa altura em que já tinha assumido um lugar como titular, ajudaria ao afastamento dos romenos da Universitatea Craiova e, já na ronda seguinte, jogaria as duas mãos correspondentes à eliminatória disputada frente aos húngaros do Hónved.
A época de 1987/88, a juntar à participação nas competições europeias, traria a David outro momento inolvidável. Chamado aos trabalhos dos conjuntos à guarda da Federação Portuguesa de Futebol, o jogador acabaria integrado nas oportunidades idealizadas para a equipa olímpica. A laborar sob a direcção técnica do seleccionador Juca, a estreia do médio com a “camisola das quinas” dar-se-ia a 24 de Maio de 1988 e, nessa partida agendada frente à Islândia, o atleta acabaria a embelezar o seu currículo com 1 internacionalização com as cores de Portugal.
Voltando ao percurso feito pelo médio ao serviço do Desportivo de Chaves, os largos anos passados pelo jogador em Trás-os-Montes contribuiriam para que o seu nome ficasse inscrito como uma das figuras históricas do clube. Para além dos acontecimentos aludidos em parágrafos anteriores, David também somaria 9 temporadas consecutivas a envergar a camisola dos “Flavienses”. Esse somatório de épocas, das quais 8 cumpridas nas contendas do mais importante patamar luso, levá-lo-iam a adicionar ao trajecto pessoal um total de 230 partidas disputadas entre os “grandes”, facto que transformaria o atleta no elemento da colectividade com mais jogos feitos na 1ª divisão.
Com o fim da ligação ao Desportivo de Chaves a acontecer com o termo da temporada de 1994/95, David ainda teria disponibilidade para prolongar a sua caminhada competitiva por mais algum tempo. Naquelas que viriam a vincar-se como as derradeiras etapas da sua carreira, o médio ainda regressaria, por um ano, ao Sporting de Espinho e terminaria a caminhada como futebolista, ao serviço do Esmoriz, na campanha de 1998/99.

1425 - BRUNO CAIRES

Filho de Eurico Caires, antigo atleta com passagem pelas “Águias”, Bruno Caires começaria por ser um dos grandes destaques das “escolas” do Benfica. O relevo dado às suas exibições, depressa iria pôr o atleta nos trilhos das jovens equipas à guarda da Federação Portuguesa de Futebol. Com o primeiro jogo com a “camisola das quinas” a acontecer a 18 de Julho de 1991, essa partida de sub-15 frente à Bélgica, orientada por Rui Caçador, daria início a uma caminhada que, por entre vários patamares, viria a colorir o seu currículo com 52 internacionalizações. Pelo meio, as chamadas aos mais importantes torneios organizados para jovens, onde os maiores destaques iriam para a conquista do Campeonato da Europa sub-18 de 1994, para a Medalha de Bronze trazida do Mundial sub-20 de 1995 ou ainda para o 4º posto alcançado no Jogos Olímpicos de 1996.
A promoção aos seniores do Benfica ocorreria na temporada de 1994/95. Porém, numa equipa comandada por Artur Jorge e com correntes directos para a posição de “trinco” como Paulo Bento e Tavares, Bruno Caires não conseguiria qualquer oportunidade e seria, em Dezembro, emprestado ao Belenenses. As boas exibições feitas no Restelo e a presença no Mundial sub-20 referido no parágrafo anterior seriam suficientes para, na campanha de 1995/96, justificar o regresso à Luz. Já como um dos atletas em maior destaque no plantel dos “Encarnados”, o médio-defensivo veria a sua cotação a subir em flecha e não tardaria muito para que, de outras paragens, começassem a olhar para o jogador como um bom reforço.
Seria como titular do Benfica e mais de um ano depois de, pelas “Águias”, ter cevado o palmarés pessoal com a presença e a vitória na final da Taça de Portugal de 1995/96, que chegaria o convite do Celta de Vigo. Ao aceitar o desafio lançado pelo emblema espanhol, a mudança, já com a época de 1997/98 em andamento, levaria o médio-defensivo a disputar o principal patamar da “La Liga”. No entanto, contrariando as auspiciosas projecções feitas com a transferência, a ruptura dos ligamentos cruzados do joelho direito levaria a deitar por terra a aposta. Na sequência da grave lesão, por não conseguir recuperar completamente das mazelas, Bruno Caires, pouco utilizado na colectividade galega, haveria ser cedido ao Tenerife. Todavia, os sinais dados pelo jogador não seriam convincentes e a ligação aos de azul-celeste terminaria com o fim da campanha de 1999/00.
A contratação pelo Sporting ainda devolveria alguma esperança ao jogador. Ainda assim, o regresso a Portugal na temporada de 2000/01, pouco mais traria ao atleta do que escassas ilusões de retornar aos índices exibicionais de antigamente. Depois de, na primeira época em Alvalade, ter apenas participado em duas partidas oficiais, os anos seguintes passá-los-ia entre a equipa “b” leonina e os empréstimos ao Maia e ao Sporting da Covilhã. Por fim, já desvinculado dos “Leões”, viria o Louletano e antes ainda de completar 30 anos de idade, com o termo da única campanha passada no Algarve, chegaria o fim da sua carreira enquanto futebolista.
Após “pendurar as chuteiras”, o antigo jogador, juntamente com outros elementos, fundaria a empresa “Friends & Company” que, através de parcerias, tem coordenado as “escolas” de formação de colectividades como o Amora ou o Leão Altivo.