1286 - LEÃO

Augusto Pinto Duarte Maia, mais conhecido no mundo do futebol como Leão, dividiria a caminhada formativa entre Águias da Areosa, FC Porto e Salgueiros. Ao destacar-se como um atleta possante e aguerrido, o emblema sediado no bairro de Paranhos dar-lhe-ia a oportunidade para integrar o plantel principal. Com o clube, na temporada de 1989/90, a militar no escalão secundário, ainda assim não tardaria muito para que o jogador encetasse o seu trajecto nos palcos maiores do futebol luso. O título de campeão da 2ª divisão e a subida alcançada no final dessa época de estreia no patamar sénior empurrá-lo-iam em direcção ao objectivo primodivisionário.
Mantendo-se, depois da promoção do clube, sob a alçada do treinador Zoran Filipovic, Leão, aos poucos, cimentar-se-ia no grupo de trabalho. A primeira época em que sua presença no “onze” começaria a ser mais notada, coincidiria com a campanha de estreia do Salgueiros nas competições continentais. Na sequência do 5º lugar do Campeonato Nacional do ano anterior, o médio teria o ensejo de disputar a edição de 1991/92 da Taça UEFA. Seria chamado pelo aludido técnico montenegrino para a peleja agendada na 1ª mão da 1ª eliminatória e, ao entrar em campo aos 68 minutos de jogo, contribuiria para a vitória, por 1-0, frente aos franceses do Cannes.
Daí em diante, ainda que com algumas excepções, Leão tornar-se-ia num dos atletas mais utilizados e, por essa razão, começaria igualmente a ser visto como um dos elementos de maior preponderância no desenho táctico. A prova dessa importância, que tinha feito do “trinco” um dos bons intérpretes no contexto futebolístico português, chegaria com a temporada de 1997/98. Com a mudança do treinador Carlos Manuel para o Sporting a meio da referida campanha, também o jogador, acompanhado pelo defesa Renato, deixaria o Salgueiros para dar entrada em Alvalade. Porém, a aventura de “verde e branco” não correria de feição. Assolado por uma arreliante lesão, o médio-defensivo não alcançaria as oportunidades desejadas e passados uns meses após a chegada a Lisboa, veria o seu nome inscrito no rol de dispensáveis.
Apesar do desaire vivido sob a divisa leonina, o jogador não veria o seu valor diminuído. Como um intérprete de cariz vincadamente primodivisionário, não seria difícil para o “trinco” encontrar um lugar num emblema do escalão máximo. Em 1998/99, ao reforçar uma União de Leiria bem sustentada entre os “grandes”, prosseguiria a carreira num clube com a ambição a revelar-se pela disputa dos lugares com acesso às provas sob a chancela da UEFA. Para além de trabalhar com José Mourinho, nos 5 anos passados na “Cidade do Lis”, ao ser chamado por Manuel Cajuda à disputa da Taça Intertoto de 2002/03, entraria em campo na 1ª mão frente aos estónios do Levadia e, dessa maneira, participaria na estreia do emblema beirão nas competições continentais.
Depois de 13 temporadas consecutivas a disputar a 1ª divisão, a campanha de 2003/04 levá-lo-ia, em definitivo, a deixar o patamar maior. Numa fase descendente da carreira do médio, seguir-se-iam 4 épocas com as cores do Leixões. Já em 2007, o atleta decidiria ser a hora certa para “pendurar as chuteiras”. No entanto, apesar de retirado das actividades como futebolista, Leão haveria de voltar a ligar-se à modalidade. Como técnico, no papel de treinador-principal ou como adjunto, tem tido várias experiências nas divisões inferiores. Como exemplo, há que referir as passagens por Pedrouços, Salgueiros, Aldeia Nova e Padroense.

1285 - VÍTOR CAMPOS

Apesar do percurso formativo cumprido no principal emblema da região natal, o Torreense, seria a mudança para a cidade de Coimbra, com o principal desígnio de prosseguir os estudos, que também levaria Vítor Campos ao estrelato no futebol.
Ao entrar para a Académica na temporada 1963/64, a quantidade de vezes que, nessa época de estreia como sénior, conseguiria ser chamado a jogo por José Maria Pedroto, elevaria o médio para um plano de enorme destaque. A titularidade conquistada logo no arranque da caminhada no conjunto principal, em paralelo com o ingresso na Licenciatura de Medicina, transformá-lo-ia num ícone da tradição da “Briosa”. Ao ser visto como uma figura de indubitável valor primodivisionário, o jovem jogador, igualmente pelo auferido estatuto de estudante-atleta, tornar-se-ia num dos favoritos da massa adepta. Até pela aplicação exemplar demonstrada durante o período a envergar de negro, manteria a estima dos seguidores no decurso de toda a carreira desportiva. Já as metas alcançadas pelo colectivo, serviriam apenas para reforçar o apreço vindo das bancadas do Calhabé.
Parte integrante dos planteis que construiriam uma das fases áureas da Académica de Coimbra, Vítor Campos participaria em marcos de inolvidável valor futebolístico. Com a temporada de 1966/67 a levar os “Estudantes”, sob alçada do “Velho Capitão” Mário Wilson, ao 2º lugar da tabela classificativa do Campeonato Nacional, a presença do médio na final da Taça de Portugal da mesma campanha, embelezaria ainda mais o seu percurso competitivo. Já outros momentos, de idêntica importância, vivê-los-ia mais adiante na carreira. Passados 2 anos, ao lado do irmão Mário Campos, repetiria a comparência na derradeira peleja da apelidada “Prova Rainha”. Claro está, nessa senda seria impossível esquecer as participações nas competições sob a alçada da UEFA. Depois de, na Taça das Cidades com Feira de 1968/69, acompanhar em campo a estreia da “Briosa” nas provas continentais, o destaque chegaria na época seguinte, ao jogar 5 das 6 partidas que, na Taça dos Vencedores das Taças, levaria o clube beirão aos quartos-de-final.
Durante o aludido percurso clubístico, Vítor Campos teria também a oportunidade de envergar a “camisola das quinas”. Convocado primeiro à participação numa partida agendada para a equipa “B”, alguns dias após o jogo frente à Bélgica, o médio faria a estreia pelo conjunto principal de Portugal. No Estádio Olímpico de Roma, aos 38 minutos da metade complementar, José Gomes da Silva faria o atleta entrar em campo, para substituir o “capitão” Mário Coluna. O particular, disputado a 27 de Março de 1967 frente à selecção de Itália, muito mais do que acrescentar ao currículo do futebolista 1 internacionalização “A”, serviria, meritoriamente, para premiar as excelsas exibições conseguidas ao serviço da Académica.
Os anos seguintes vivê-los-ia, igualmente, com as cores da “Briosa”. Aliás, Vítor Campos, no seu trajecto sénior, não conheceria outro emblema. Esse facto, mesmo ao contar com uma temporada passada no escalão secundário, daria aos números do futebolista uma inspiração especial. Com 248 jornadas cumpridas em 12 campanhas na 1ª divisão, o médio, que deixaria os relvados em 1978 para abraçar em exclusivo as tarefas de médico, tornar-se-ia no 6º jogador que, na história da Académica de Coimbra, mais presenças conseguiria no patamar maior do futebol português.

1284 - FRANCISCO CALÓ

Promissor elemento das “escolas” do Sporting, o destaque merecido pelas suas exibições, levá-lo-ia, ainda durante esse período formativo, a ser chamado aos trabalhos das jovens selecções nacionais. Com a “camisola das quinas” jogaria as edições de 1964 e 1965 do Torneio Internacional de Juniores da UEFA. Nesse âmbito, o maior destaque consegui-lo-ia na disputa do primeiro dos dois referidos certames. Na competição organizada nos Países Baixos, Francisco Caló, numa equipa orientado pelo treinador Marco Linhares, entraria em campo em todas as partidas e ajudaria Portugal à conquista do terceiro lugar do pódio.
Com a sua chegada aos seniores leoninos a acontecer na temporada de 1965/66, o jovem defesa deparar-se-ia com uma forte concorrência para ocupar um lugar no centro do sector mais recuado. Num plantel que contava com José Carlos e Alexandre Baptista, poucas seriam as presenças de Francisco Caló em jogo. Ainda assim, depois da estreia sob a batuta de Otto Glória, as oportunidades conseguidas naquela que é a principal competição lusa de futebol, permitir-lhe-iam, logo na primeira época a jogar na equipa principal, listar o seu nome no rol de atletas vencedores do Campeonato Nacional.
As duas épocas seguintes não trariam um cenário muito diferente para o defesa-central. Com poucas partidas disputadas de “verde e branco”, a solução para alimentar correctamente a sua evolução surgiria, no desenrolar da campanha de 1968/69, com o empréstimo ao União de Tomar. Com a temporada ao serviço da agremiação nabantina, o jogador, sem deixar de competir no escalão principal do futebol português, finalmente conseguiria confirmar as qualidades que tinham feito dele uma das maiores promessas do universo leonino. Como um atleta dono de uma estampa física possante e capaz de marcações ferozes, Francisco Caló, com o argentino Oscar Tellechea como treinador, afirmar-se-ia como um dos titulares da colectividade ribatejana e, como prémio por tão boa prestação, asseguraria o regresso a Alvalade.
De volta ao Sporting, já com Fernando Vaz ao leme dos destinos técnicos do “Leão”, Francisco Caló conseguiria impor-se como uma das principais figuras das estratégias delineadas pelo aludido treinador. Como um dos elementos com presença regular no “onze” inicial, o defesa tornar-se-ia de fulcral importância para as conquistas do Campeonato Nacional de 1969/70 e da vitória na Taça de Portugal do ano seguinte. Curiosamente, mesmo como figura central de tais feitos, só mais tarde é que conseguiria merecer a convocatória para a selecção principal. Depois de também ter representado as “esperanças” lusas, a disputa de uma das jornadas referentes à Fase de Qualificação para o Euro 72, transformar-se-ia num merecido prémio. Chamado por José Gomes Silva para a peleja frente à Escócia, a partida agendada para o Hampden Park a 13 de Outubro de 1971, daria ao atleta a sua internacionalização “A”.
Depois do completo ocaso verificado durante a temporada de 1972/73, Francisco Caló deixaria o Sporting para ingressar no Atlético. Naquele que seria o único ano da sua carreira passado no patamar secundário, o defesa ajudaria o emblema do bairro “alfacinha” de Alcântara a regressar ao convívio dos “grandes”. Ainda jogaria outra época na Tapadinha e, mantendo a presença na 1ª divisão, faria uma derradeira campanha já com as cores do Estoril Praia. Finda a época esgrimida ao serviço dos “Canarinhos”, o atleta, com apenas 29 anos de idade, decidiria terminar a caminhada enquanto futebolista.

1283 - HUSSAIN YASSER

Filho do futebolista egípcio, Yasser Elmohamady, ao nascer num lar onde o desporto assumia grande importância, Hussain Yaser, ainda em tenra idade, acabaria aferido como um prodígio a despontar no Médio Oriente. Com a habilidade a destacá-lo dos demais praticantes, rapidamente começaria a galgar etapas. Nessa rápida senda, mesmo ao passar pelas “escolas” do seu clube e pelas camadas de formação ligadas à Associação de Futebol do Catar, o jovem extremo entraria na equipa sénior do Al-Khor ainda como juvenil. À selecção principal também chegaria bastante cedo e, com a estreia a acontecer em 2001, o atacante alcançaria a primeira internacionalização “A” com apenas 17 anos.
Mesmo com a rápida evolução a revelá-lo como um futebolista de enorme potencial, seria a “mão” de um treinador dos Países Baixos a puxá-lo para a ribalta. Orientado por René Meulensteen nas camadas jovens da selecção catari, a entrada do referido técnico para os quadros do Manchester United, abrir-lhe-ia as portas do emblema inglês. Desde há muito impressionado com as qualidades do atacante, o neerlandês proporia a Sir Alex Ferguson a sua aquisição. Sem revelar o nome, descreveria Hussain Yaser como dono de uma impressionante velocidade, detentor de uma técnica acima da média e, espantem-se, como um promissor jogador brasileiro!
Após Meulensteen justificar a pequena mentira com o facto da nacionalidade do atleta, sem grande tradição no futebol, ter o poder para afastar o “manager” escocês de uma análise justa, a verdade é que o atacante, contratado ao Al-Rayyan em 2002/03, rubricaria uma ligação com o Manchester United. Problemas com o visto de trabalho levá-lo-iam a juntar-se às “reservas”, para, na campanha de chegada a Inglaterra, ser ainda emprestado ao Antwerp. No emblema belga passaria outra época, mas sem nunca conseguir conquistar uma oportunidade nos “Red Devils”. Já uns anos mais tarde, em 2005/06 e após um périplo que levaria o avançado ao Chipre e de volta ao Catar, chegaria a vez de tentar a sorte no Manchester City. Dessa feita, cruzar-se-ia com um Guardiola em fim de carreira e, também ele, a prestar provas nos “Citizens”. Tendo o espanhol recusado o contrato oferecido pelo emblema inglês, Hussain Yaser não viraria as costas a novo ensejo para vingar no futebol britânico. Todavia, mesmo ao integrar o plantel principal e depois de jogar uma partida para a Taça da Liga, o atacante não conseguiria, novamente, segurar o lugar num emblema da “Premier League”.
Nova oportunidade na Europa surgiria pouco tempo depois. Ao partilhar o balneário de 2006/07 do Al-Rayyan com João Tomás, seria o internacional português que, ao ingressar no Sporting de Braga, haveria de sugerir a contratação do futebolista nascido no Catar. No Minho apenas permaneceria meia época. Com a abertura do “mercado de Inverno” de 2007/08, o extremo mudar-se-ia para o Boavista. No entanto, as jornadas em que conseguiria inscrever o seu nome na ficha de jogo não seriam suficientes para justificar a sua continuidade em Portugal e Hussain Yaser acabaria por partir em direcção a uma nova aventura.
No resto da caminhada enquanto futebolista profissional, a passagem pelo Egipto acabaria por transformar-se na etapa mais prolífera da carreira do atacante. No Al-Ahly, onde também seria treinado por Manuel José e, posteriormente, por Nelo Vingada, ajudaria à conquista de 2 Campeonatos e de 1 Supertaça Africana. Sem sair do “país dos faraós” representaria ainda o Zamalek. Seguir-se-iam, num percurso que conheceria o fim em 2018, as temporadas com os belgas do Lierse, o catari Al-Wakrah, os espanhóis do Olímpic Xàtiva e, finalmente, os egípcios do Wadi Degla.

1282 - ALEXANDRE ALHINHO

Ao chegar a Portugal ainda em idade adolescente e apenas para estudar, seria por desafio do irmão mais velho, o internacional Carlos Alhinho, que Alexandre aceitaria treinar à experiência nas camadas jovens da Académica. Tendo agradado, começaria na colectividade conimbricense um percurso formativo que, pela qualidade demonstrada, encaminharia o defesa para os trabalhos da Federação Portuguesa de Futebol. Tido como um atleta de enorme potencial, seria chamado à equipa de juniores e a estreia, sob a égide do “magriço” José Augusto, aconteceria a 11 de Novembro de 1971, numa partida frente à Suíça.
Já a passagem para o patamar sénior seria um pouco atribulada. Alegadamente como represália pela mudança do irmão para o Sporting, Alexandre Alhinho cumpriria a totalidade da temporada de 1972/73 sem marcar qualquer presença na equipa principal da “Briosa”. Na campanha seguinte, a mudança para o Farense revelar-se-ia a mais acertada. Depois da estreia na 1ª divisão pela mão do treinador Carlos Silva, o defesa agarraria a titularidade. Tão espectacular seria a sua evolução que, ainda durante o decorrer da época de 1973/74, acabaria convocado à selecção “A”. Não chegaria a entrar em campo, mas a importante chamada catapultá-lo-ia para outros voos.
Com um crescimento brutal, seria o FC Porto a tomar a dianteira na corrida pela sua contratação. No entanto, à chegada às Antas, o jovem jogador deparar-se-ia com um balneário recheado de atletas de fama. A presença de nomes como Rolando, Teixeira ou até Simões, faria com os técnicos Aymoré Moreira e, posteriormente, Monteiro da Costa não dessem a Alexandre Alhinho grandes oportunidades. A falta de presenças em campo, levaria o defesa-central a mudar de rumo e o regresso à Académica de Coimbra, com 2 temporadas no escalão máximo, serviriam para confirmar o atleta como um elemento de indubitáveis qualidades primodivisionárias.
O ingresso no Belenenses de 1977/78 encetaria, provavelmente, a melhor fase da carreira do defesa. Numa caminhada com algumas mudanças de emblema, as 5 temporadas passadas com a agremiação da “Cruz de Cristo”, dariam a necessária estabilidade a um registo, mesmo que positivo, a padecer de alguma volatilidade. Ainda assim, a solidez desses anos no Restelo seria interrompida pelo, tão popular durante esses tempos, “período de férias” na North American Soccer League. Com os registos a assinalar a presença de Alhinho na época de 1979, a passagem pelos New England Tea Men, serviria de pequeno interlúdio na prolífera experiência ao serviço dos “Azuis”. Para esse bom registo em muito contribuiriam as épocas realizadas como titular no centro do sector mais recuado. Com a excepção de 1979/80, o jogador afirmar-se-ia como um dos mais importantes do plantel. Esse estatuto recuperá-lo-ia para a selecção e, durante os anos ao serviço da colectividade lisboeta, acrescentaria ao currículo 2 internacionalizações pelas “esperanças” e outras 2 pelo conjunto “B” de Portugal.
No resto da caminhada como futebolista, Alexandre Alhinho retornaria um pouco à modalidade de “saltimbanco”. Apesar de mais afastado dos cenários de maior monta, o defesa ainda voltaria a pisar os principais palcos do Campeonato Nacional. Com o regresso ao Farense a acontecer na temporada de 1982/83, o atleta ajudaria à promoção dos algarvios e, ao lado do irmão Carlos, volveria ao escalão máximo. Já a derradeira experiência primodivisionária coincidiria com a última campanha realizada pelo atleta nos relvados. Após passagens de um ano pelo Lusitano de Évora e pelo Estoril Praia, a mudança para o Académico de Viseu, depois de um par de épocas a jogar pelos beirões no patamar secundário, empurrá-lo-ia para a disputa da edição de 1988/89 da 1ª divisão.
Após “pendurar as chuteiras” e já com a Licenciatura em Educação Física terminada, o regresso ao arquipélago que o viu nascer levá-lo-ia a abraçar o ensino. Paralelamente dedicar-se-ia também às actividades de treinador. Nas aludidas funções, tem orientado emblemas do seu país natal, como a Académica do Mindelo ou o Batuque. Porém, o maior destaque terá de ser dado aos anos passados como seleccionador nacional de Cabo Verde.

1281 - VÍTOR DUARTE

Apesar de integrado na primodivisionária Académica de 1978/79, a verdade é que Vítor Duarte, no plantel sénior comandado por Juca, não conseguiria alcançar qualquer oportunidade para jogar. Seguir-se-iam os escalões inferiores e, logo nas duas épocas imediatas à experiência com a “Briosa”, “Os Marialvas” e o Recreio de Águeda. Já de regresso à “Cidade dos Estudantes”, o defesa-central passaria a representar o emblema que acabaria por catapultar a sua carreira competitiva. As 4 temporadas de bom plano com a camisola da União de Coimbra, ainda que a disputar a 2ª divisão, seriam suficientes para empurrar o seu nome para os principais escaparates do desporto nacional e a caminho de um dos “grandes” do futebol português.
Mesmo sem grandes créditos naquela que é a principal competição lusa, os responsáveis do Benfica veriam em Vítor Duarte uma boa aposta para fortalecer o plantel construído para a campanha de 1985/86. Como um intérprete possante e aguerrido, a sua contratação teria como principal objectivo dar mais uma opção a uma defesa que já contava com nomes como Oliveira, António Bastos Lopes ou o jovem Samuel. Na realidade, a forte concorrência por um lugar no centro do sector mais recuado das “Águias”, não daria grande espaço ao recém-chegado elemento. Num grupo de trabalho comandado pelo técnico inglês John Mortimore, o jogador apenas conseguiria entrar em campo numa das partidas referentes à disputa do Campeonato Nacional e por essa razão, finda a época, aceitaria dar outro rumo à carreira.
No Farense de 1986/87, mas, principalmente, no Sporting de Braga da época seguinte, Vítor Duarte afirmar-se-ia como um futebolista de indubitável cariz primodivisionário. Aliás, a passagem pelo referido emblema minhoto transformar-se-ia, em termos pessoais, na experiência mais prolífera da sua caminhada profissional. Sempre como um dos pilares do estratagema táctico montado pelos diferentes treinadores, mantida a titularidade durante as 4 temporadas com os “Guerreiros”, o defesa consagrar-se-ia como um dos bons elementos a actuar nos principais palcos do futebol nacional.
Já ultrapassados os 30 anos de idade, o Beira-Mar surgiria na sua caminhada como a derradeira experiência do atleta no patamar maior. Apesar de modesta a temporada de entrada no Estádio Mário Duarte, a campanha seguinte, a de 1992/93, mostraria Vítor Duarte como um elemento fulcral no alinhamento inicial do emblema auri-negro e, nesse sentido, na plenitude das suas capacidades competitivas. Por essa razão, avaliado como uma figura preponderante na manobra táctica, a surpresa chegaria com o fim da ligação à colectividade aveirense. Seguir-se-ia o regresso às margens do Mondego e as temporadas passadas ao serviço da Académica e da União de Coimbra.
Num trajecto cujas 8 temporadas a actuar no escalão máximo serviriam para demonstrar a qualidade das exibições do defesa-central, o fim da carreira de Vítor Duarte enquanto futebolista, chegaria com o termo da temporada de 1996/97 e após um ano em que envergaria as divisas do Lousanense.

1280 - TOMMY DOCHERTY

Nascido num bairro pobre da cidade de Glasgow, seria num modesto emblema da zona de residência que Tommy Docherty, ainda nas camadas de formação, daria os primeiros passos no futebol. Com a carreira no Shettleston Juniors ainda no início, o jogador acabaria por ver interrompida a actividade desportiva pelo cumprimento do Serviço Militar Obrigatório. Contudo, os seus dias como soldado serviriam para catapultá-lo na modalidade. Descoberto ao representar a selecção militar britânica e depois de terminados os deveres com o exército, o médio-direito seria convidado a integrar o plantel principal do Celtic.
Com a entrada a acontecer na temporada de 1947/48, as duas campanhas passadas com os “The Bhoys”, sem nunca conseguir impor-se como um dos nomes mais importantes no alinhamento inicial, antecederiam o seu ingresso nos ingleses do Preston North End. Com a mudança para o novo clube, Tommy Docherty encetaria a fase mais representativa do seu trajecto como futebolista. As 9 épocas ao serviço dos “Lilywhites”, tendo também passado pela posição de extremo-esquerdo, ajudaria o médio a consolidar-se como um atleta de topo. Um desses momentos chegaria com a presença do clube na final da edição de 1953/54 da FA Cup. No entanto, o que de melhor emergiria nos anos com as cores do emblema sediado no condado de Lancashire, surgiria com as chamadas à equipa nacional escocesa. Com a estreia pela principal selecção da Escócia a acontecer a 14 de Novembro de 1951, a partida, disputada no Hampden Park frente ao País de Gales, serviria de arranque para uma caminhada que somaria um total de 25 internacionalizações “A”. Nesse itinerário, há que destacar a presença do médio em dois importantes certames futebolísticos: os Campeonatos do Mundo de 1954 e 1958, respectivamente disputados na Suíça e na Suécia.
Já conceituado como um dos grandes nomes do desporto escocês, o jogador transferir-se-ia para o Arsenal de 1958/59. Na agremiação de Londres, onde continuaria a ser chamado à selecção, experimentaria também a posição de médio-centro. Porém, o melhor teste feito à sua continuidade no futebol viria em 1961/62, com a transferência para outra colectividade da capital inglesa. Como elemento do Chelsea, começaria por abraçar os deveres de técnico logo na campanha de chegada. Primeiro como treinador-jogador para, na época seguinte, assumir, em exclusivo, as aludidas tarefas, Tommy Docherty iniciaria aí uma extensa e brilhante marcha. Com uma longa ligação aos “Blues”, o técnico, que iniciaria esse périplo com uma radical limpeza de balneário, ficaria também conhecido pela agitada relação com alguns jogadores. Mais importante que essa faceta flamejante, a sua passagem por Stamford Bridge acabaria glorificada pela presença do emblema na final da FA Cup de 1966/67 e, principalmente, pela vitória na edição de 1964/65 da League Cup.
Rotherham United, Queens Park Rangers e Aston Villa precederiam a sua chegada a Portugal. Todavia, apesar de afamado nas incumbências de treinador, a verdade é que a entrada de Tommy Docherty no FC Porto, não traria os resultados projectados pelo Presidente Pinto Magalhães. Ao assumir os destinos do clube a partir de Fevereiro de 1970, a sua primeira aventura no estrangeiro terminaria com os “Azuis e Brancos” a acabar o Campeonato Nacional na 9ª posição da tabela classificativa. Manter-se-ia à frente dos “Dragões” até à 25ª jornada do da temporada de 1970/71, mas em planteis que contavam com nomes como Pavão, Rolando, Seninho, Custódio Pinto, Nóbrega ou Abel Miglietti, o destaque terá de ir para a sua relação com António Teixeira, o nome que o sucederia na colectividade portista e que um dia, entre risos, disse não confiar muito!
Apesar do desaire vivido nas Antas, os melhores anos de Tommy Docherty como treinador chegariam não muito tempo depois da sua passagem pela “Cidade Invicta”. Os bons resultados obtidos à frente dos destinos da selecção escocesa, para onde entraria em 1971, levá-lo-iam a ser contratado pelo Manchester United. Apesar de não ter evitado a descida na temporada de 1972/73, o estilo de jogo, assumidamente ofensivo, mantá-lo-ia no comando dos “Red Devils”. Conseguido o regresso ao patamar máximo, o seu trabalho faria com que a equipa começasse a crescer e o zénite da sua experiência no histórico emblema inglês chegaria com a vitória na FA Cup de 1976/77.
O resto da sua carreira seria feito nuns moldes, um tanto ou quanto, erráticos. Derby County, os regressos ao Preston North End e ao Queens Park Rangers seriam intercalados pelas aventuras na Autrália, à frente do Sydney Olimpic e do South Melbourne. Finalmente, chegariam ao seu currículo o Wolverhampton Wanderers e, na temporada de 1987/88, a despedida com o Altricham.

1279 - MONTÓIA

Foram poucos os apontamentos, por mim descobertos, a retratar, com maior minúcia, a carreira deste jogador que, para ser correcto, só recordo como pertença assídua das colecções de cromos. A primeira nota que encontrei, numa altura em que o atleta já contava com 19 anos de idade, refere-se à temporada de 1967/68, num Leixões treinado por António Teixeira e numa partida alusiva à disputa da Taça de Portugal. No que diz respeito à campanha seguinte, posso garantir que os arquivos acabaram por revelar-se um pouco mais generosos com a minha procura. Mais uma vez ao serviço da equipa de Matosinhos, Montóia, já orientado pelo mítico José Águas, aparece como um dos elementos do plantel com casa no Estádio do Mar e que disputaria a edição de 1968/69 do Campeonato Nacional da 1ª divisão.
Quando tudo parecia estar a compor-se, é então que novo mistério surge nesta minha busca. Sem qualquer dado encontrado, durante 3 temporadas consecutivas nada consegui apurar sobre a vida do atleta. Bem! Nada, não é o caso! Tendo “escavado” mais um pouco, haveria de ler uma curiosa crónica que dá Montóia, em determinado momento do tal hiato temporal, integrado, ao lado de José Carlos, antigo atleta do Vitória Sport Clube, no contingente que, na Guiné-Bissau, viveria os horrores da guerra colonial. Ora, ao saber que era bastante comum para os futebolistas, quando destacados em África, passarem a envergar emblemas desses países, pensei ser fácil deparar-me com algumas pistas elucidativas e prontas a encaminhar-me nesse sentido. Que posso mais dizer?! Sabem o que descobri?! Nada!
A partir da temporada de 1972/73, tanto para Montóia, como para pesquisa feita para esta modesta biografia, tudo mudaria. No Leixões, o atleta, que podia posicionar-se na defesa ou no miolo do terreno de jogo, passaria a jogar com bastante regularidade. Mais uma vez sob a batuta de António Teixeira, o jogador começaria a afirmar-se como um das figuras de proa do colectivo matosinhense. Por tal razão, após 3 temporadas de bom nível passadas no escalão máximo, a admiração chegaria com a sua transferência e, ainda por cima, para uma equipa a militar no 2º escalão.
Para ser correcto, a mudança para o Varzim até terá tido uma boa explicação. A razão, por certo, terá estado relacionada com a presença de António Teixeira à frente dos destinos técnicos da equipa sediada na Póvoa. A opção do atleta, a envergar o listado alvinegro a partir da temporada de 1975/76, levá-lo-ia a participar em momentos históricos. Depois do regresso ao patamar maior do futebol luso, no final do 3º ano consecutivo entre os “grandes”, o jogador daria o contributo para aquela que viria a transformar-se na melhor prestação de sempre do clube no Campeonato Nacional. Sendo um dos nomes utilizados com maior regularidade nas épocas anteriores, Montóia faria também parte do grupo de trabalho que, sob a alçada do treinador referido no começo deste parágrafo, terminaria a campanha de 1978/79 na 5ª posição da tabela classificativa.
Depois deste feito, a carreira de Montóia, fazendo fé nos “tais” registos, não duraria muito mais tempo. Com outra temporada ao serviço dos “Lobos-do-mar” a conferir ao currículo do atleta um total de 9 campanhas na 1ª divisão, seria no regresso ao Leixões que o futebolista, terminada a época de 1980/81, tomaria a decisão de “pendurar as chuteiras”.
 
PS: Já depois da publicação desta biografia, chegou-me a informação que Montóia, durante a passagem na Guiné-Bissau, terá representado a União Desportiva Internacional de Bissau

1278 - JOANITO

Com o percurso formativo todo cumprido com as cores da AD Estação, os bons desempenhos ao serviço da popular agremiação fundada na cidade da Covilhã, levariam João Manuel Matos Sousa, conhecido no “universo da bola” como Joanito, a ser introduzido aos trabalhos das jovens equipas sob a alçada da Federação Portuguesa de Futebol. Integrado no conjunto de “iniciados”, seria a 06 de Maio de 1981 que entraria em campo frente à França e, desse modo, acrescentaria 1 internacionalização aos passos iniciais da sua carreira.
Ao contrário de muitos atletas que, por conta da falta de oportunidades, vêem na chegada a sénior um passo atrás na sua evolução, a transição de Joanito corresponderia a um salto deveras qualitativo. Após dar sinais promissores durante os anos de formação, o defesa seria contratado pelo Sporting da Covilhã e acabaria incluído no plantel de 1984/85 que, entre outros elementos, contava também com dois nomes que viriam a tornar-se míticos no futebol luso: os avançados César Brito e Rui Barros.
Com o comando técnico dos “Serranos” entregue às ordens do treinador Vieira Nunes, a qualidade patente nas exibições de Joanito, apesar da sua juventude, rapidamente permitiria ao atleta agarrar um lugar de destaque no “onze” do Sporting da Covilhã. Como um dos nomes a amealhar mais presenças no alinhamento inicial da equipa, o defesa, no decorrer dessa primeira época como sénior, tornar-se-ia num pilar do regresso do emblema beirão ao escalão máximo.
Com a referida promoção, a temporada de 1985/86 transformar-se-ia na sua campanha de estreia na 1ª divisão. Ao conservar a importância no desenho táctico, a solidez oferecida por si ao sector mais recuado dos “Leões da Serra”, não seria suficiente para evitar a descida do colectivo covilhanense. Curta a passagem pelo escalão secundário, pois a época de 1987/88 revelaria, mais uma vez, o emblema com casa no Estádio Municipal José dos Santos Pinto como um dos emblemas arrolados à disputa do patamar maior do futebol luso. Infelizmente para Joanito, o último lugar na tabela classificativa dessa edição do Campeonato Nacional, não deixaria outra alternativa para além de nova despromoção. Ainda assim e apesar de reconhecida a sua qualidade como capaz de pelejar em desafios primodivisionários, o defesa acompanharia a equipa no regresso aos degraus inferiores.
Mesmo com a carreira intimamente ligada ao Sporting da Covilhã, Joanito, enquanto sénior, acabaria também por vestir as cores de outras duas históricas colectividades. Porém, ao apostar na União de Leiria e depois na Académica de Coimbra, respectivamente nas campanhas de 1989/90 e 1990/91, o defesa, em ambas as experiências, veria gorada a oportunidade de retornar ao convívio dos “grandes”. Aliás, a 1ª divisão nunca mais voltaria ao percurso profissional do jogador. Regressaria, isso sim, aos “Leões da Serra” e de 1991/92 em diante, independentemente dos resultados obtidos pelo colectivo, o atleta conservar-se-ia fiel ao listado verde e branco.
“Penduradas as chuteiras” no final de 1999/00, ano em que partilharia as funções de jogador com as de treinador, a união de Joanito com o Sporting da Covilhã manter-se-ia. Sendo um nome histórico do clube, o qual chegaria a capitanear, o antigo defesa abraçaria as tarefas de adjunto e durante quase década e meia passaria a fazer parte dos quadros técnicos dos “Serranos”.

1277 - JACINTO

Nascido nas Barrocas, Cova da Piedade, seria na Margem Sul que Jacinto Marques encetaria a prática do futebol. Liberdade FC, Piedense e Aldegalense precederiam a travessia do Rio Tejo e a contratação pelo Carcavelinhos. No emblema de Alcântara, para além de começar a receber contrapartidas financeiras, o atleta também ganharia notoriedade suficiente para merecer a atenção de um dos “grandes” do cenário português. Tido como um atleta de trabalho, aguerrido, mas, contrariamente ao típico defesa daquela altura, dotado de habilidade com a bola nos pés, o Benfica acabaria por despender 10 contos para a obtenção do seu” passe”.
Chegaria às “Águias” na época de 1943/44, com 21 anos de idade e para reforçar o plantel sob a batuta de János Biri. Porém, mesmo bem cotado, a presença  de atletas mais experientes, casos de César Ferreira ou de Gaspar Pinto, daria a Jacinto poucas oportunidades nas duas primeiras campanhas. Seria já no desenrolar da temporada de 1945/46 que o defesa, ou médio-direito, acabaria por conquistar o seu lugar no “onze”. A partir desse momento, a sua importância no esquema táctico desenhado pelos diferentes treinadores contratados pelo Benfica, cresceria exponencialmente. Outra prova da sua evolução viria com a chamada aos trabalhos da Federação Portuguesa de Futebol. Nesse âmbito, sem ter chegado a internacional “A”, conseguiria, no entanto, uma chamada à equipa “B” e, a 3 de Maio de 1947, entraria no Stade du Parc Lescure para defrontar a França.
Tido como um modelo para colegas e adversários, exemplo de abnegação e lealdade, também o dever de capitão haveria de ser entregue à sua responsabilidade. Aliás, seria nessa condição que participaria num dos grandes momentos da história “encarnada”. Com a Taça Latina de 1950 agendada para o Estádio Nacional, atingiriam o derradeiro desafio o Benfica e os gauleses do Bordeaux. Depois de ter participado na final, encontro que, após o prolongamento, terminaria 3-3, o treinador Ted Smith voltaria a chamar Jacinto para o encontro da finalíssima. Como líder em campo, tornar-se-ia de fulcral importância para a vitória do colectivo português por 2-1. No entanto, com a conquista a ser obtida após dois prolongamentos (150min), o cansaço do defesa seria de tal ordem que o impediria de subir à tribuna presidencial e, para erguer o troféu, acabaria nomeado Rogério de Carvalho.
Curiosamente, seria após a conquista do referido troféu internacional que Jacinto, progressivamente, começaria a desaparecer das fichas de jogo. O ocaso acentuar-se-ia de tal maneira que, na época de 1953/54, o jogador não participaria em qualquer partida oficial. Chegaria a equacionar-se um “jogo de despedida”, mas a entrada de Otto Glória para o comando das “Águias” alteraria os planos de reforma do atleta. Ao entender a sua importância para o grupo, o treinador brasileiro convencê-lo-ia a reverter a decisão de deixar o futebol. Sob a alçada do referido técnico, voltaria a recuperar o lugar no “onze” e, mais uma vez, tornar-se-ia num pilar das conquistas do Benfica.
Com uma idade já bem avançada até para um veterano, o termo da campanha de 1956/57 traria também o final da carreira de Jacinto enquanto futebolista. Como uma das figuras históricas da existência do Benfica, ainda hoje é recordado como um grande atleta. Para tal, em muito contribuiriam os números somados durante a carreira. Nesse sentido, podemos referir as 14 temporadas em que o atleta representaria as “Águias”. Durante esse período, os títulos engrossariam a sua preponderância e, para o palmarés pessoal, para além da aludida vitória na Taça Latina, arrecadaria 4 Campeonatos Nacionais e 4 Taças de Portugal.