202 - PEDRO REIS

Ao dedicar grande percentagem da carreira sénior à equipa principal de Paranhos, Pedro Reis conseguiu, naturalmente, um lugar de destaque na centenária história do “velhinho” Salgueiros. Todavia, para além das 12 temporadas cumpridas no Estádio Vidal Pinheiro, muitos foram os marcos que o antigo defesa ajudou a alcançar.
Foi na cidade de Matosinhos, no clube da sua terra, que, juntamente com o irmão Berto, decidiu mostrar os seus dotes de futebolista. Ao dar os primeiros chutos na bola nas camadas jovens do Leixões, Pedro, no entanto, veio a terminar a formação noutra popular colectividade do concelho. Como atleta do Leça, em 1986/87 e a militar na 3ª divisão, estreou-se como sénior. Tão poucas dúvidas terão deixado as suas exibições que os responsáveis do Salgueiros, ao terminar a dita época, decidiram fazer do jovem futebolista uma aposta para reforçar o sector mais recuado da equipa. Contratado, rapidamente as suas qualidades puseram-no como uma das principais escolhas para o “onze” titular. Tanto na direita, como no eixo da defesa, durante a dúzia de anos em que jogou no Vidal Pinheiro, foi uma das figuras de proa e, como é exemplo a participação nas competições da UEFA, fez parte dos momentos mais áureos do emblema.
Meritoriamente chegou à condição de “capitão” e como dono da braçadeira, na temporada de 1999/00, pôs um ponto final à sua vida nos relvados. Na bagagem da memória, arrecadou 340 partidas ao serviço do Salgueiros, que fizeram dele o recordista de presenças pelo clube. No somar desses números, carregou também uma inabalável dedicação. Paixão que fez o antigo defesa abraçar a “ressurreição” do emblema e a tornar-se no primeiro treinador do Salgueiros 08.

201 - MADUREIRA

Filho de Matosinhos, Jorge Madureira foi um dos bons produtos que a “cantera” do Leixões deu às provas nacionais. Foi nas “escolas” do Estádio do Mar que o guardião terminou a formação. Sem mudar de emblema, deu também os primeiros passos no futebol sénior. No entanto, “para mal dos seus pecados”, a segunda metade dos anos de 1970 trouxe um Leixões enfraquecido e a afastar-se das lides do escalão maior do Campeonato.
Logicamente, o lugar de um jogador com o currículo preenchido por diversas chamadas às jovens selecções nacionais – entre os sub-16 e os sub-18, conseguiu 18 internacionalizações – não era, de certeza, a 2ª divisão. Por isso, não foi de estranhar que o Boavista, à altura sob o comando de Mário Lino, fosse resgatar o guarda-redes à equipa sediada nos arredores do Porto, trazendo-o, em 1979/80, para os palcos principais do futebol português. No entanto, o “dono e senhor” da baliza “axadrezada” era Matos e a jovem promessa, durante os anos que andou de “Pantera” ao peito, pouco mais fez do que marcar presença no banco dos suplentes.
Sem conseguir conquistar a titularidade, a previsão de uma nova transferência veio a concretizar-se. Depois do Académico de Viseu em 1983/84, Madureira tomou a decisão que veio a mudar toda a sua vida desportiva. Com a ida para o Salgueiros, as 12 épocas que passou em Paranhos serviram para demonstrar que, entre os postes, como nas arrojadas saídas da pequena-área, era um atleta cheio de destreza. As suas exibições deram à defesa salgueirista uma segurança nunca vista. Em 1990/91 contribuiu para o 5º lugar na tabela final do Campeonato Nacional e para levar o emblema do Estádio Vidal Pinheiro aos jogos organizados pela UEFA. A sua entrega e ambição transformaram-no num exemplo dentro e fora do balneário e, ainda hoje, é recordado como uma das figuras míticas da “Alma Salgueirista”.

200 - JORGINHO

Nascido no Porto, foi nos clubes da sua cidade que Jorginho passou toda a vida como profissional de futebol. Porém, ao contrário de muitos, o avançado não surgiu no seio de um dos emblemas de maior monta. Apareceu no modesto Futebol Clube da Foz. Aí fez-se Homem; cresceu como desportista e, acima de tudo, fez com as suas habilidades, mesmo ao disputar as “distritais” da Associação de Futebol do Porto, chamassem a atenção dos maiores emblemas da “Invicta”.
O passo seguinte, bem mais ao jeito de um grande salto, levou-o à 1ª Divisão. Apesar de contar apenas 19 anos, as qualidades mostradas no rectângulo de jogo faziam dele uma boa aposta e o Boavista não viu razão para não arriscar na sua contratação. Por intermédio do Prof. João Mota, treinador da referida agremiação sediada na Foz e que chegou a ser preparador físico no FC Porto, a transferência avançou. Com a mudança na temporada de 1974/75, Jorginho juntou-se ao plantel “axadrezado” comandado por, também ele recém-chegado, José Maria Pedroto. Todavia, apesar do potencial revelado, os espaços deixados por um grupo que contava nas suas fileiras com João Alves, Taí, entre outros, não foram muitos e raras foram as vezes que o jovem extremo-esquerdo teve oportunidade para mostrar o seu valor.
Mesmo ao contribuir para as vitórias do Boavista nas edições de 1974/75 e 1975/76 da Taça de Portugal, o seu espaço no clube manteve-se reduzido e a proposta vinda de Paranhos fez com que Jorginho fosse para o Salgueiros. No Estádio Vidal Pinheiro a partir da temporada de 1978/79, finalmente teve o ensejo para mostrar tudo o que sabia; finalmente o seu brilhante pé canhoto e a capacidade de entender o jogo, postos ao serviço dos seus passes, conseguiram, geometricamente, traçar intermináveis movimentos ofensivos. Assim o fez durante 12 temporadas e reconhecida a sua entrega, tornou-se num dos mais acarinhados atletas e num dos grandes exemplos da “Alma Salgueirista”.

199 - SALGUEIROS

Foi no rescaldo de um Porto-Benfica que um grupo de jovens amigos, entusiasmados pelo encontro que, nesse dia, tinham assistido no Campo da Rainha, decidiram formar um clube de futebol. Rapidamente foram resolvidas as primeiras questões, como a denominação ou o desenho dos equipamentos. Ficou Salgueiros, em homenagem a uma fábrica existente em Paranhos. Já para a cor das vestimentas, em referência aos rivais dos “Azuis e Brancos”, foram escolhidos o vermelho e branco.
Ainda assim, tudo o que ficou decidido na noite de 8 de Dezembro de 1911, debaixo do candeeiro 1047, entre a Rua da Constituição e a Particular Salgueiros, não era suficiente para pôr o projecto a andar. Faltava o dinheiro! A solução encontrada, em razão da proximidade com a quadra natalícia, passou por formar um grupo de Janeiras, o qual percorreu as casas da freguesia portuense. A iniciativa até teve algum sucesso e com a maquia angariada, o recém-formado Sport Grupo e Salgueiros pôde comprar algo de essencial para a prática da modalidade que os apaixonava, a bola de futebol.
Tal como o clube, a designação do mesmo foi tendo a sua natural evolução. Assim, a primeira mudança, por quererem mostrar a paixão que nutriam pela terra natal, ocorreu no ano de 1917. Os associados decidiram que na identificação da agremiação devia também figurar o nome da cidade. A resolução levaria a colectividade, a partir daquele momento, a chamar-se Sport Porto e Salgueiros. Passados 3 anos, surgiu uma segunda transformação. Contudo, seria sinónimo de muito mais que uma mera alteração de imagem. Por essa altura, os salgueiristas tinham em mãos uma grande crise financeira e a resposta para os resgatar da anunciada falência acabou por ser a junção com o Sport Comércio.
Da dita união nasceu o emblemático Sport Comércio e Salgueiros, o qual, na época de 1943/44, fez a estreia no Campeonato da 1ª Divisão. Logo na primeira temporada atingiu um espantoso 6º lugar, mas a sua melhor prestação conseguiu-a já na última década do seculo XX, quando, no final da campanha 1990/91, a 5ª posição na tabela classificativa colocou o emblema nas competições europeias.
A disputar a Taça UEFA do ano seguinte, o sorteio ditou como adversário os franceses do Cannes. Apesar de não ser um nome muito sonante, no plantel gaulês figuravam nomes como Zinedine Zidane, Luís Fernandez ou Alen Boksic. Os jogadores do Salgueiros bateram-se orgulhosamente. Todavia, apesar do brio empregue na disputa da ronda, o conjunto português acabou por ser afastado. Depois de, na 1ª mão, o grupo luso conseguir uma vitória caseira por 1-0, a partida em França ditou igual resultado, mas a favor do conjunto sediado na Riviera. Já o desempate por penaltis selou a eliminação dos portuenses.
Novas dificuldades financeiras fizeram com que o Salgueiros, dessa feita com reflexos bem mais sérios, desaparecesse de forma abrupta dos “palcos” do futebol nacional. Depois de extinto o plantel profissional e de alienado quase todo o património, a “Alma Salgueirista” acabou por renascer em 2008, num novo projecto. Hoje em dia, enquanto o Sport Comércio Salgueiros luta com toda a força para evitar o desaparecimento, um “recuperado” Sport Grupo e Salgueiros, ao qual acrescentaram a terminação 08, alimenta, nas divisões distritais da Associação de Futebol do Porto, a esperança dos adeptos.

198 - FANECA

A 27 de Abril de 1935, em Montemor-o-Novo, nasceu Fernando Salvador Faneca. Tal como muitos dos alentejanos seus conterrâneos, ao procurar fugir às agruras da vida no interior, cedo migrou em direcção à Grande Lisboa. Atrás de novas oportunidades e ao escolher o Barreiro para assentar arraiais, uma das portas que primeiro viu abrir-se foi a do Futebol Clube Barreirense. Ainda com idade de juvenil, sensivelmente 16 anos, pela primeira vez envergou o listado alvirrubro da histórica camisola da Margem Sul. O passo seguinte foram 19 anos, 17 dos quais na equipa principal, em que Faneca não conheceu, nas “andanças da bola”, nenhuma outra cor.
Só o facto de ter sido tão fiel ao Barreirense, por si só, é suficiente para pôr o jogador no rol dos notáveis do clube. A verdade é que o carinho que os adeptos têm por ele, vai para além do número de anos dessa relação. É por isso que, ainda hoje, a sua identidade é sinónimo de entrega e de dedicação. Por essa mesma razão, bem distante daquilo que era o homem fora do campo, Faneca tinha a fama de ser rijo e implacável nas acções defensivas. No entanto, muito mais do que temido pelos atacantes adversários, era, acima de tudo, um atleta respeitado e um nome que ocupou, nas palestras que antecediam as partidas, os habituais cuidados dos treinadores oponentes.
Durante tantos anos acompanhou o Barreirense nos bons, como nos maus momentos. Caminhou ao lado do emblema nas 8 temporadas consecutivas em que, nos anos de 1950, esteve na 1ª Divisão. De seguida, foi incapaz de largar o clube nas descidas e subidas que caracterizaram a década de 1960. Por fim, envergou a braçadeira de “capitão” e foi um dos principais intérpretes da 4ª posição no Campeonato Nacional de 1969/70 e na resultante ida às competições europeias do ano seguinte.
Já com 35 terminou a sua ligação contratual com o clube. Contudo, a vontade de praticar a modalidade estava longe de ter chegado ao fim e, reflexo da sua tenacidade, prolongou a carreira, entre o Luso do Barreiro e o Vasco da Gama de Sines, até aos 41 anos de idade.
Apesar da separação que marcou os seus últimos anos como futebolista, soube-se sempre a quem pertencia o seu coração. Era normal, já depois de “penduradas as botas”, encontrá-lo sentado nas bancadas a assistir aos encontros do Barreirense. Dizem também que, no dia em que deitaram abaixo o saudoso Estádio D. Manuel de Melo, não conteve a emoção e as lágrimas correram-lhe face abaixo.

197 - RAUL JORGE

Passados alguns anos sobre a data do seu nascimento, o ainda menino Raul Jorge da Silva abandonou a Moita de onde era natural. Por razão dessa informação, surge uma pequena dúvida sobre a sua vida. Por um lado, alguns testemunhos referem que terá ido morar, quando contava apenas 7 anos, primeiro para Lisboa e depois, já no início da adolescência, para o Barreiro. Outros há que dizem, que foi aos dez anos que saiu da sua terra natal para logo mudar para o concelho vizinho. Com certeza pouco interessará este pormenor. O que importa dizer é que foi no extinto emblema “alfacinha”, o Império Lisboa Clube, que Raul Jorge, provavelmente, terá dado os primeiros pontapés no futebol.
O passo seguinte da sua carreira de desportista, talvez pelo ofício que exercia na CUF, deu-o na margem esquerda do Rio Tejo. Ao contrário do previsível, não pensem que foi jogar para um dos já bem instituídos emblemas da zona! Não! Raul Jorge acabou por ser um dos responsáveis pela unificação de duas das colectividades do Barreiro, o Estrela e o Independente.
A junção dos dois clubes, com intuito de afrontar a hegemonia do FC Barreirense, resultou em tal sucesso que o novo Estrela-Independente rapidamente conseguiu sagrar-se campeão daquela terra. No entanto, e sem que tenha conseguido descortinar o motivo, o facto é que, na época de 1922/23, o avançado decidiu transferir-se para o aludido rival. Com o listado branco e vermelho, fez-se um jogador famoso e a 24 de Março de 1929, num particular frente à França, tornou-se no primeiro futebolista da colectividade a conseguir estrear-se pela equipa nacional portuguesa.
Depois de, sempre em representação dos “Alvi-Rubros”, ter sido convocado mais 4 vezes à selecção das “quinas” e após 16 épocas a jogar pelo Barreirense, o extremo-direito decidiu ser a hora para “pendurar as chuteiras”. Ainda assim, a sua paixão pela modalidade não terminou, havendo registos da sua passagem, durante 7 anos, pelo comando técnico do Grupo Desportivo da CUF.
Raul Jorge veio a falecer em 1994, não sem antes, prova do amor que a cidade que o acolheu nutria por si, ser devidamente homenageado pelo Município que, de forma tão briosa, carregou ao peito.

196 - BARREIRENSE

Já a modalidade tinha sido introduzida na Margem Sul havia uns anos, quando um grupo de aprendizes decidiu formar uma colectividade na qual pudessem praticar aquilo que começava a ser um verdadeiro fenómeno de popularidade em Portugal. Da paixão pelo futebol, no seio do universo trabalhador do Barreiro, mais precisamente nas Oficinas Gerais dos Caminhos de Ferro do Sul e Sueste, nasceu o Sport Recreativo Operário Barreirense. A aceitação do novo emblema foi imediata e, talvez pela fundação num contexto fabril, a colectividade começou a crescer a “olhos vistos”.
Cada vez mais eram aqueles que juntavam esforços ao grupo inicial e o desaparecimento de associações de menor expressão, veio ajudar ao crescimento da colectividade. Contudo, com a equipa a aumentar em quantidade, as dificuldades organizativas começaram, principalmente no campo financeiro, a ser a razão de graves aborrecimentos. Com a resolução dos problemas em mente, a 11 de Abril de 1911, após uma assembleia geral, ficou decidido que, entre muitas outras mudanças, a agremiação devia dar lugar a outra que, daí em diante, passou a denominar-se Foot-Ball Club Barreirense.
Jamais as mudanças pretenderam acabar com o projecto fundador. Pelo contrário, para além de todo património, manteve-se intacto o vermelho e branco das camisolas. De igual modo, ficou preservada a crença numa juventude emergente e com muito a dar ao futebol. Essa fé, já na época de 1929/30, levou o Barreirense a chegar à maior competição da altura e à final frente ao Benfica. Contudo, a caminhada não ficou na memória dos adeptos apenas pela presença em tal desafio. Infelizmente, toda a polémica à volta do derradeiro encontro da prova também ficou para a história. Começou pelo agendamento da partida que, ao contrariar os regulamentos que ditavam o jogo para terreno neutro, foi marcada para o Estádio do Campo Grande, o ressinto das “Águias”. De seguida, veio o perdão do castigo imposto, por agressão a um árbitro, a João Oliveira, uma das estrelas dos “Encarnados”. Por fim, a nomeação para juiz da partida de Silvestre Rosmaninho, um dos mais antigos sócios benfiquistas.
Montado o “teatro”, entre lances muito duvidosos e claros atropelos às leis do jogo, o Barreirense saiu derrotado da contenda. Porém, o episódio não esmoreceu adeptos e praticantes, que continuaram a alimentar aquele que veio a tornar-se num dos principais emblemas da senda portuguesa. O sublinhar desse engrandecimento surgiu com o galgar dos anos e com o arranque do Campeonato Nacional. Foram 24 as campanhas em que o grupo da Margem Sul acompanhou, no patamar máximo, todos os outros históricos do nosso futebol. Houve, no entanto, uma temporada em que o sucesso emergiu de forma mais clara. A época de 1969/70, com o 4º lugar na tabela classificativa, tornou-se na melhor posição de sempre para o clube. Por arrasto, trouxe as provas europeias e a participação na última edição da Taça das Cidades com Feira. Apesar da eliminação logo à 1ª ronda, a eliminatória disputada frente ao Dínamo Zagreb transformou-se num verdadeiro marco e num motivo de orgulho para todos os envolvidos.
Os dias que correm para os lados do Barreiro não são os melhores. A atravessar uma grave crise financeira, o clube desceu às divisões “distritais” da Associação de Futebol de Setúbal. Ainda assim, apesar de um futuro difícil, um clube por onde passaram nomes como os de Raul Jorge, Arsénio, José Augusto, Bento, Chalana, entre tantos e tantos outros, de certeza que conseguirá fazer surgir novos “craques”, que farão o Barreirense emergir e, mais uma vez, caminhar em direcção aos maiores palcos do desporto português.

195 - JOSÉ MARIA

Com pouco mais de ano e meio de existência, este “blog” já proporcionou diversos desafios. Uns melhor que os outros, todos foram ultrapassados. Porém, quando, na sequência do tema escolhido para o mês de Dezembro, decidi seleccionar este jogador, jamais pensei que estava perante um confronto nunca antes por mim experimentado!
A história conta-se depressa. Há já uns largos anos, encontrei dentro de uma velha sebenta, pertença de um familiar meu, a estampa de um futebolista que desconhecia. A curiosidade que sempre tive sobre tal figura, fez-me pô-lo na lista de “cromos” a publicar. O que não estava no meu horizonte eram as dificuldades que tal decisão trouxe. A primeira complicação foi com o nome. Como já repararam, o que aparece impresso é “J. Maria”. Obviamente, levantou-se a dúvida sobre o que é que escondia a letra com um ponto à frente! João? Joaquim? A verdade é que, sem conseguir deslindar uma resposta indubitável, o único registo que encontrei no Lusitano de Évora que coubesse em tal denominação, foi o de um atleta chamado José Maria.
Mesmo sem ter a certeza da ligação entre a fotografia e o referido jogador, pareceu-me que o mistério estava a resolver-se. Contudo, a ilusão pouco durou. Com um nome entre mãos, pensei ser fácil descobrir mais alguma informação. Grande erro o meu! Por mais e mais que pesquisasse, tirando alguns dados que, repetidamente, foram aparecendo, pouco encontrei. Assim, a minha história deste, que agora sei ser atacante, resume-se praticamente a alguns números correspondentes à época de 1964/65.
Na aludida temporada, José Maria acabou por ser uma das principais escolhas do treinador Miguel Bertral para o escalonamento do “onze” do Lusitano. Ao ser chamado à titularidade por 24 vezes e, nessas presenças em campo, responsável pela concretização de 9 golos, transformou-se, apesar da quantidade de remates certeiros não ser espantosa, no melhor marcador do emblema alentejano no Campeonato Nacional. Se a marca é suficiente para justificar que, sobre o atleta, houvesse mais alguma coisa escrita, não deixa de ser uma boa questão. No entanto, para minha infelicidade, o que resta acrescentar a esta parca biografia, é aquilo que, gentilmente, foi indicado pelo “bloguista” Armando Ribeiro (http://acribeiro.blogs.sapo.pt/), ou seja, a nacionalidade brasileira do avançado.
Para terminar, quero deixar-vos o encarecido pedido para, caso saibam mais alguma coisa sobre este “misterioso” jogador, que partilhem a informação nos comentários.

194 - VITAL

Existem instantes capazes de mudar o rumo de uma vida. Assim aconteceu com Dinis Vital, médio nos escalões de formação da equipa da sua terra, o Grandolense, quando o habitual guarda-redes não compareceu a um jogo. Como já adivinharam, o elemento escolhido para substituir o faltoso foi aquele que, passados alguns anos e sem abandonar o referido conjunto alentejano, conseguiu estrear-se como sénior!
A rapidez de reflexos, a frieza e a valentia que, com apenas 18 anos, levaram o jovem praticante à categoria principal do emblema de Grândola, transformaram-se nas qualidades que, volvida apenas uma temporada, fizeram do guardião um dos reforços do Lusitano de Évora. Contratado para a temporada de 1951/52, o salto dado por Vital, enorme, fê-lo transitar das “distritais” para a 2ª divisão. No entanto, aquilo que, para muitos, teria sido um passo arrebatador, para o jogador foi encarado com uma naturalidade espantosa. A prova disso chegou com o Campeonato já a meio, pois, ao começar pelas “reservas”, acabou por destronar o habitual titular, Manuel Martelo.
A sua integração no alinhamento inicial, ainda na época de chegada ao Campo Estrela, teve um papel deveras importante no fortalecimento do “onze” e na subida do Lusitano ao principal escalão do futebol luso. O resto é fácil de contar! Foram 14 temporadas consecutivas na 1ª divisão, a defender o listado “verde e branco” dos eborenses. Durante esse período, por conta do estilo felino, ficou conhecido como “El Tigre de Évora”. Conseguiu também o maior prémio para qualquer desportista e recebeu a convocatória para representar a formação principal de Portugal. O encontro aconteceu a 16 de Maio de 1959, em Genebra, contra a congénere suíça. Nisso de internacionalizações, apesar do jogo referido ter sido a única chamada à selecção “A”, pelo seu país também vestiu as camisolas do conjunto “B” e da equipa “Militar”. Aliás, por esta última teve a honra de sagrar-se campeão mundial.
A ligação de Vital ao emblema da “Cidade de Diana” só terminou em 1966 e com a descida de divisão dos alentejanos. Rumou, então, à foz do Rio Sado e a Setúbal. No Vitória Futebol Clube, ao lado de nomes como Conceição, José Maria, Jacinto João, entre outros, brindou os últimos anos da carreira com momentos de enorme nível, como serve de exemplo a conquista da Taça de Portugal de 1966/67. Já o fim da caminhada como futebolista, passou-o ao serviço do Juventude de Évora e, depois, na condição de treinador-jogador, com as cores do União de Montemor.
Ao aproveitar a fase de transição, que incluiu o regresso ao Juventude de Évora, Vital, com o Dinis a figurar, em definitivo, à frente do apelido, continuou a vida de técnico. Nessa senda passou, maioritariamente, pelos escalões secundários. Contudo, ao comando do Farense, o antigo guarda-redes ainda conseguiu uma experimentar a 1ª Divisão.

193 - LUSITANO de ÉVORA

Foi da vontade de um grupo de estudantes de liceu e de trabalhadores do comércio, entusiasmados pela crescente popularidade do futebol, que, a 11 de Novembro de 1911, nasceu o Luzitano Foot-Ball Clube. Sob o lema “Fazer Forte Fraca Gente”, as pelejas, ainda numa fase precoce do sonho, aconteceram frente a outros grupos de entusiastas. Tal como os mentores, o projecto cresceu e tal foi o sucesso dos primeiros jogos que a ambição conduziu-os a novas disputas. Numa fase inicial, a cautela levou-os a competir contra as segundas categorias das equipas da cidade. Porém, a qualidade apresentada logo empurrou os praticantes do novo emblema eborense a planear outros voos.
 Na temporada de 1917/18 o grupo levantou, pela primeira vez, o troféu que o consagrou como campeão de Évora. Nesse correr, o clube começou a crescer a olhos vistos. No entanto, o emergir de novas modalidades no seio do clube, exigiu uma pequena alteração na “imagem” da colectividade. Após uma reunião da direcção, decidiu-se ser necessário a adopção de nova uma denominação e, a 04 de Setembro de 1925, deu-se a mudança do nome para Lusitano Ginásio Clube.
A grandeza que o emblema conquistou no panorama eborense, começou também a pedir outra estabilidade, no que concerne às infra-estruturas. O “andar com a casa às costas” deixou de fazer sentido. Em 1931, consagrados como vencedores a edição de 1926/27 do Campeonato Regional, os dirigentes do Lusitano, num esforço financeiro bem justificado, decidiram investir 30.000 escudos na compra dos terrenos onde acabou por nascer o Campo Estrela.
 Já bem alicerçado o clube, um dos maiores marcos da vida do Lusitano aconteceu nos anos de 1950. Com a estreia no Campeonato Nacional da 1ª Divisão a surgir na época de 1952/53, seguiram-se 14 anos consecutivos de presenças na categoria maior do futebol português. Com o emblema a transformar-se, muito mais do que numa bandeira da cidade de Évora, num estandarte de todo o Alto Alentejo, jogadores como Falé, Dinis Vital, Demétrio Patalino, José Pedro ou José Cardona, entre tantos outros, desfilaram, de norte a sul do país, o listado verde e branco das suas camisolas. Com o crer, o orgulho e com a qualidade dos seus atletas, a agremiação conseguiu muito mais do que lutar por uma simples manutenção. Como exemplo, temos a 5ª posição na tabela classificativa de 1956/57 ou a boa prestação na edição de 1958/59 da Taça de Portugal, onde atingiram as meias-finais.
Infelizmente, a glória conquistada durante o referido período teve um fim. Em 1965/66, com a descida dos alentejanos à 2ª divisão, encetou-se uma crise de génese financeira. A carolice de alguns associados, com a angariação de dinheiro, evitou, na altura, o desaparecimento do emblema. No entanto, a colecta não foi suficiente para desviar o clube do declínio que, este ano, por altura do centenário, viu emergir o pior capítulo da sua história. Sem fundos, o Lusitano suspendeu, por tempo indeterminado, a equipa de futebol sénior.

192 - FONSECA E CASTRO

Dizer que o Académico Futebol Clube, mais conhecido por Académico do Porto, começou pela vontade de um grupo de estudantes, até pela obviedade do nome, não há-de ser surpresa. O que realmente terá espantado, até mesmo o grupo de liceu que o idealizou, foi a popularidade com que a ideia foi acolhida. Porém, os tempos eram outros; o entusiasmo que movia os praticantes era apenas o desporto, o jogo, a competição. Encarada essa paixão como uma forma de divulgar, não só o “jogo da bola”, como uma maneira de disseminar a actividade física por entre os seus pares e – porque não? – por entre todos os portuenses, dois anos foi o tempo necessário para que o sonho ganhasse forma.
A 15 de Setembro de 1911, nasceu o novo emblema da “Invicta”. O dinamismo típico da juventude depressa catapultou o clube para outros projectos. Rapidamente, os seus dirigentes compreenderam a necessidade de encontrar infra-estruturas que dessem largo ao objectivo de formar, não só atletas, como pessoas. Apareceu o Estádio do Lima e a novidade de um relvado em Portugal.
É nesse contexto de saudável ambição que cresceu Fonseca e Castro, um desportista, avançado saído do futebol, a quem coube a responsabilidade de ser o primeiro elemento da agremiação estudantil a representar o país. A estreia deu-se em Lisboa, a 18 de Junho de 1925. No Lumiar, para medir forças, apresentaram-se em campo Portugal e Itália. A partida ficou na história, pois, com o 1-0 final, o resultado assinalou o encetar de vitórias da selecção nacional. Já o atacante, numa altura em que os jogos internacionais não aconteciam com a frequência a que hoje estamos habituados, voltou, por mais duas vezes, contra a Checoslováquia e frente à França, a ser convocado para envergar as cores lusas.

CENTENÁRIOS 2011

Haverá, com certeza, um largo rol de efemérides e conquistas passiveis de serem comemoradas durante a existência de um clube. No entanto, nenhum marco é comparável ao "Centenário". 100 anos de existência são a prova cabal da vontade de um emblema. Resistir, durante um século, às inúmeras adversidades que, como pedras, vão acentuando as agruras de tal caminho, não é só sinónimo de força. É, acima de tudo, a imagem de um crer feito de Homens que, tantas vezes, alienando parte das suas vidas, entregam-se a troco de um ideal, de uma irmandade.
Este ano são exemplos dessa perseverança, até pelo papel que tiveram no desporto e, em particular, no futebol nacional, o Académico do Porto, o Lusitano de Évora, o Barreirense e o Salgueiros. Por isso, neste último mês de 2011, é dessa gente e dessas colectividades que celebraram tamanho triunfo que falaremos. Assim, o mês de Dezembro é dedicado aos "Centenários".