930 - GERMANO

Após emergir das “escolas” do Sporting pela mão de John Toshack, os poucos jogos disputados nas temporadas de 1983/84 e 1984/85 levariam os responsáveis leoninos a equacionar a sua cedência. Nesse sentido, as 3 campanhas seguintes seriam passadas na condição de “emprestado” – “Ingressei na época de 85-86 no SC Covilhã devido a estar ligado contratualmente ao Sporting Clube de Portugal e sendo o Covilhã uma filial, demos preferência ao clube para poder jogar com mais regularidade e ganhar experiência. Na época 87-88 foi totalmente diferente, porque tinha o SC Farense, que representei na época anterior, interessado na minha continuidade, assim como outros clubes da 1ª divisão, mas optei pelo Covilhã, por ter adorado a cidade e o clube”*.
Seria também ao serviço dos “Serranos” que Germano voltaria às selecções lusas. Tendo vestido as cores nacionais nos diversos escalões de formação, o defesa acabaria por ter a oportunidade de, mais uma vez, jogar por Portugal. As ditas chamadas seriam, acima de tudo, a prova de que era uma das grandes promessas do nosso futebol. Esse estatuto, juntamente com a experiência que tinha adquirido no escalão principal, transformá-lo-iam num atleta de cariz primodivisionário. Tal aferição levaria a que outros emblemas fossem no seu encalço. No meio disso tudo, a transferência do internacional Miguel do Vitória de Guimarães para Alvalade, levaria a que o central viajasse no sentido contrário.
A chegada à “Cidade Berço” em 1988/89, transformar-se-ia no melhor período da sua carreira. Tido como um jogador disciplinado tacticamente e lutador, a sua estatura física ajudaria também a que Germano ganhasse um lugar no centro da defesa vimaranense. Durante as 3 primeiras temporadas o defesa seria um dos mais utilizados no plantel. Visto como um exemplo, também a braçadeira de “capitão” seria entregue à sua responsabilidade. No entanto, o que parecia ser uma rampa de lançamento para novos sonhos, acabaria por conhecer alguns infortúnios. Afectado por graves lesões, o atleta acabaria por ser ultrapassado por outros colegas. Ainda assim, a sua passagem pelo Vitória de Guimarães seria bastante positiva. Rescaldo feito e esse período de 5 anos saldar-se-ia pela luta dos lugares cimeiros na tabela classificativa, pela participação nas competições europeias e, acima de tudo, pela conquista da Supertaça de 1988/89.
O que restou da sua carreira seria, na sua maioria, passada na 1ª divisão. O União da Madeira serviria assim para as 2 derradeiras temporadas entre os “grandes”. Mesmo havendo fontes que referem uma última aparição ao serviço do Seixal, Germano terminaria o seu percurso profissional com 30 anos de idade. Após o fim da sua caminhada como desportista, o antigo defesa afastar-se-ia do futebol. Desde então, tem-se dedicado aos seus negócios, nomeadamente na gestão de uma oficina de automóveis, de um salão de beleza e de um cabeleireiro.

*retirado da entrevista publicada em http://www.historiascc.com

929 - FESTAS

Com a formação repartida entre o Leça e a Académica de Coimbra, seria com as cores do Varzim que Festas faria a sua aparição no escalão sénior. O jovem atleta, que tanto podia actuar no eixo da defesa como na posição mais recuada do meio-campo, acabaria por participar numa das melhores fases da história dos “Lobos-do-Mar”. Orientados por António Teixeira, antiga estrela do FC Porto, os “Povoeiros” acabariam a lutar pelos lugares cimeiros da tabela classificativa.
Após a subida de divisão no final de 1975/76, as épocas seguintes revelariam um Varzim de grandes recursos. Com Festas a assumir um papel cada vez mais relevante, o grupo conseguiria atingir o 7º posto em 1977/78 e o 5º lugar duas temporadas depois. Pelo meio, o jovem atleta acabaria por ser chamado aos sub-21 portugueses. Esses bons resultados e as internacionalizações daí resultantes, acabariam por pôr o jogador na rota de outros clubes. Quem ganharia a corrida seria o Vitória de Guimarães e a transferência consumar-se-ia no Verão de 1979.
Na equipa minhota o atleta veria o seu estatuto a ser catapultado. A coragem que mostrava em campo levá-lo-ia a ser considerado como um dos grandes futebolistas a actuar na 1ª divisão nacional. Incapaz de virar as costas à luta, as 3 temporadas passadas na “Cidade Berço” fariam dele um esteio na composição táctica da equipa. O apoio defensivo que dava a toda a equipa começaria a ser visto como fulcral nos objectivos do conjunto. Mesmo sendo avaliado por alguns como um jogador “duro”, essa aferição não seria suficiente para diminuir as suas qualidades. Foi isso mesmo que os responsáveis do Sporting entenderiam.
Impressionados pelas suas características, a transferência de Festas para Alvalade consumar-se-ia no “defeso” de 1982. Com os “Leões” a saírem de uma “dobradinha”, a sua contratação teria como objectivo dar mais segurança ao sector intermediário. Mesmo sendo visto como o “polícia” ideal para um departamento liderado por António Oliveira, a verdade é que o “trinco” nunca haveria de impor-se de forma indiscutível no “onze” inicial. Ainda assim, as suas exibições durante a primeira temporada de “verde e branco” seriam suficientes para que Otto Glória visse nele um elemento válido para também vestir as cores de Portugal. Com a estreia a acontecer num “amigável” frente à antiga Alemanha Federal, seria durante o ano de 1983 que o jogador conseguiria as suas 4 internacionalizações “A”.
Tido como uma pessoa um tanto fleumática, seria dito que a sua saída de Alvalade dever-se-ia a polémicas com a Direcção do clube. Verdade ou não, o que é certo é que na temporada de 1984/85 o atleta passaria a representar o Sporting de Braga. Depois de uma campanha no Minho, a sua transferência para o Salgueiros marcaria uma mudança na sua relação com o futebol. Durante a época de 1986/87, Festas seria convidado a comandar os seus colegas. Apenas com 30 anos de idade, o antigo internacional daria o passo inicial de uma carreira que, passados alguns meses, assumiria em exclusivo. Como treinador, o seu percurso seria feito, em grande parte, nos escalões secundários. Excepção para duas situações: a já referida experiência em Paranhos e, em 1995/96, a passagem pelo comando técnico do Leça.

928 - PEDRO ESPINHA

Apesar de ter terminado a formação no Belenenses, Pedro Espinha só voltaria ao emblema do Restelo passados alguns anos. Sem lugar no plantel de 1984/85, seria no Cova da Piedade que, nessa mesma temporada, conseguiria fazer a sua estreia como sénior. Na 2ª divisão, e apesar de mudar de clube, continuaria por mais uma campanha. Contudo, a passagem pelo Torreense teria resultados completamente diferentes. Com exibições que já demonstravam algum grau de maturidade, o guardião haveria de despertar a curiosidade de emblemas de outra monta.
A Académica surgiria no seu percurso na época de 1986/87. Mesmo não tendo conseguido sair da sombra de Vítor Nóvoa, essa temporada, ainda assim, serviria para o seu lançamento na 1ª divisão. Apesar do desafio para o Campeonato frente ao Benfica e ainda da comparência numa partida a contar para a Taça de Portugal, as poucas presenças em campo levariam o jovem guarda-redes a procurar uma solução que asseverasse melhor a sua evolução. Nesse sentido, o regresso aos escalões secundários, dessa feita ao serviço do Sacavenense, serviria para relançar a sua carreira.
É já em 1989/90 que o Belenenses volta ao seu dia-a-dia. Com uma chegada discreta, Pedro Espinha, ao longo das temporadas seguintes, iria impor-se no plantel “Azul”. Aos poucos, a segurança que mostrava entre os postes, a maneira sóbria como atacava cada lance, levá-lo-ia a conquistar o seu lugar no “onze” inicial. Essas exibições, já depois de uma curta passagem do clube pelo 2º escalão, iria sublinhá-lo como um dos melhores atletas a actuar na sua posição.
Tanto no Salgueiros, para onde seria transferido no Verão de 1994, como no Vitória de Guimarães a sua qualidade mantê-lo-ia no topo. Esse estatuto só poderia resultar na sua convocatória para a selecção nacional. Com a “camisola das quinas”, Pedro Espinha, segundo palavras do próprio, viveria um dos momentos mais importantes do seu percurso profissional. Convocado por Humberto Coelho para o Euro 2000, o guarda-redes seria chamado a jogo na partida frente à Alemanha – “Na altura tinha 35 anos, era um jogador com experiência, pelos muitos jogos que fiz. Encarei o jogo mais como um fator motivacional do que como inibidor. E, até hoje, foi o jogo que mais me marcou em termos de carreira, sem dúvida (…).É lógico que recebi a notícia com uma grande alegria, por dois motivos: porque iria ser a minha estreia no campeonato da Europa e porque era a minha primeira e única participação”*.
Outro prémio, que viria na sequência da sua participação no Europeu, acabaria por ser o interesse demonstrado pelos “grandes” do nosso futebol na aquisição do seu “passe”. O FC Porto, mesmo tendo em conta a sua idade, acabaria por ver no experiente atleta um bom reforço. Tendo que competir por um lugar com Vítor Baía, Ovchinnikov ou Rui Correia, as oportunidades que conquistaria nas Antas, tanto sob a alçada de Fernando Santos, como com Octávio Machado ou José Mourinho, acabariam por saber a pouco. Nisto, e numa carreira que o elevou a um dos grandes guardiões portugueses da sua era, faltaram mais alguns títulos. Mesmo tendo dado a sua contribuição para a conquista de 1 Taça de Portugal e 1 Supertaça, a sua passagem pela “Cidade Invicta”, em certa medida, sairia defraudada – “Acima de tudo saio com uma frustração, porque na minha vinda para o F.C. Porto o objectivo era ser campeão. A passagem por aqui foi frustrante nesse sentido”**.
Com uma última temporada com as cores do Vitória de Setúbal, Pedro Espinha, que contava com 37 anos, decide ser a altura certa para pôr um ponto final na sua caminhada como futebolista. Após tomada essa decisão, o antigo internacional manter-se-ia ligado à modalidade. Tendo começado como técnico nas “escolas” dos “Sadinos”, seria na Federação Portuguesa de Futebol que, passados alguns anos, daria continuidade às novas funções. A trabalhar com as cores nacionais há mais de uma década, o ex-guarda redes continua a desenvolver o seu trabalho com jovens atletas.

*retirado do artigo publicado em https://desporto.sapo.pt, a 23/05/2012
**retirado do artigo de Filipe Caetano, publicado em https://tvi24.iol.pt, a 14/05/2002

927 - CÉSAR PRATES

Jovem estrela revelada pelo Internacional de Porto Alegre, César Prates conseguiria destacar-se pelas soberbas qualidades físicas e técnicas. A sua velocidade e os cruzamentos certeiros, muito mais do que o pôr em destaque no seu clube, levariam a que outros agentes do futebol começassem a prestar mais atenção aos seus desempenhos. Já depois de, no Outono de 1996, ter feito a estreia pela principal selecção brasileira, o Real Madrid decidiria apostar na sua contratação. A transferência do lateral-direito ocorreria em Janeiro de 1997. No entanto, a mudança para Espanha acabaria por não trazer os resultados esperados.
Conseguindo pouco mais do que jogar pela equipa “b” dos “Merengues”, o futuro de César Prates passaria pelo regresso ao seu país. Numa série sucessiva de empréstimos, o defesa acabaria por conseguir mostrar as suas habilidades com as cores do Vasco da Gama, Coritiba, Botafogo e Corinthians. Durante as referidas cedências, também o seu palmarés sairia revigorado. A juntar ao “Estudual Gaúcho”, ainda ganho ao serviço do Internacional, o currículo do atleta ficaria preenchido pelas vitórias no “Brasileirão” de 1997 e 1999.
Também o Sporting entraria no caminho do defesa através de um empréstimo do Real Madrid. Contratado no “Mercado de Inverno” de 2000, a sua transferência, a par da chegada de jogadores como André Cruz ou Mbo Mpenza, seria fulcral na conquista de um dos títulos mais importantes da história recente dos “Leões”. Após esse Campeonato de 1999/00, que poria fim a um jejum de 18 anos, o emblema de Alvalade tomaria a decisão de, em definitivo, adquirir o seu passe. Nas temporadas seguintes, manteria a sua importância no seio do plantel leonino. Tanto de início, com Augusto Inácio, como com Laszlo Bölöni, o atleta brasileiro conseguiria segurar o estatuto de titular. Dono da lateral direita, César Prates seria peça fundamental nas vitórias das Supertaças de 2000/01 e 2002/03 e na “dobradinha” conseguida na temporada de 2001/02.
Curiosamente, seria durante a sua estadia no Sporting que, das escolas “leoninas” emergiria um dos melhores jogadores na história do futebol mundial. Cristiano Ronaldo, ainda à procura de referências, veria no internacional brasileiro uma preciosa ajuda para a o seu crescimento técnica e também… na evolução do seu aspecto:
– “Uma coisa muito legal foi que eu batia faltas e chamava ele. Ensinava a fazer cobranças de falta (…). Quando eu vejo ele batendo na bola, fico muito feliz. Vejo que não sou responsável direto, mas era uma das virtudes que eu tinha e não queria que ficasse só comigo. Ele ficava batendo 20, 30 bolas depois do treino. Eu chamava ele e ensinava. Ele ouviu e colocou aquela postura”*.
– “O cabelo dele não era liso. E eu usava cabelo comprido e liso. E negão sempre tem cabelo ´black´. Eu usava cabelo comprido liso porque eu passava um produto pra alisar. E aí o que acontecia? Eu passava no cabelo dele também”*. 

Após a passagem por Lisboa, a falta de acordo para a renovação do contrato que o ligava ao Sporting, levá-lo-ia a optar pela Liga Turca e pelo Galatasaray. Daí em diante, até aos últimos dias do seu percurso profissional, o jogador encetaria uma caminhada que o conduziria a inúmeras colectividades. Em constantes mudanças de emblema, destaque para as suas passagens pela “Serie A” italiana, onde vestiria as camisolas de Livorno e Chievo, e pelo Figueirense, onde ajudaria à conquista do “Catarinense” de 2008.
Em 2010, o antigo futebolista decidiria pôr um ponto final na sua carreira. Desde então, a sua principal ocupação surgiria de outra das suas devoções. César Prates, sem nunca esquecer o futebol, começaria a exercer as suas funções de Pastor numa igreja da cidade de Balneário de Camboriú.

*retirado do artigo de José Ricardo Leite, publicado a 11/09/2012, em www.uol.com.br

926 - BRIGUEL

Nuno Miguel Pereira Sousa, mais conhecido por Briguel, ganharia a alcunha pela comparação com o antigo internacional alemão Hans-Peter Brigel. Tal como o germânico, o jovem jogador também sabia posicionar-se nas laterais do sector mais recuado. Evoluindo tanto à direita como na esquerda, o defesa atravessaria os diversos escalões de formação, até que, nos finais da década de 90, faria a estreia nas categorias seniores do Marítimo.
Com a presença nas “escolas” maritimistas a remontar aos seus 7 anos de idade, a estreia de Briguel na primeira categoria do emblema funchalense seria precedida também por alguns períodos no conjunto “B” e, em 1999/00, na AD Camacha*. Após a passagem por aquele que era, à altura, o “satélite” do Marítimo, Briguel não voltaria a experimentar outro clube. Na colectividade sediada no Estádio dos Barreiros, o defesa cumpriria a quase totalidade dos 18 anos como profissional. Tendo sido chamado ao banco de suplentes ainda na época de 1998/99, a primeira partida na equipa principal jogá-la-ia apenas na temporada de 2000/01. Esse desafio frente ao Alverca, referente à 1ª jornada da referida campanha, marcaria o começo de uma caminhada que o levaria a tornar-se num dos grandes símbolos da colectividade.
Muitos factores contribuiriam para a estima alcançada ao longo desses anos. Logicamente, um deles seria a fidelidade demonstrada. Apesar do assédio de outros emblemas, Briguel acabaria por nunca sair para outro conjunto - "Ao longo da minha carreira, cheguei a ter conversações com outros clubes, mas nunca chegaram a bom porto. E também entendi que devia retribuir tudo o que o Marítimo fez por mim"**. Outra causa desse seu estatuto seria o peso nos sucessos alcançados pelo colectivo. As diversas qualificações para as competições europeias, com a sua estreia a acontecer frente aos ingleses do Leeds United, ou a chegada à final da Taça de Portugal de 2000/01, seriam algumas das façanhas que ajudariam a cimentar a sua carreira.
Depois de, no final de 2015/16, ter posto um ponto final na sua carreira como atleta, Briguel manter-se-ia ligado à modalidade e ao clube. Após quase 350 partidas disputadas no principal escalão nacional e diversos anos a envergar a braçadeira de capitão, o reconhecimento pela sua entrega surgiria na forma de um novo desafio. Sobrinho do Presidente Carlos Pereira, o internacional sub-21 português, com presença no Europeu 2002, seria convidado a trocar os relvados pelos bastidores. Tendo sido nomeado na temporada de 2017/18, o antigo defesa ocupa o cargo de Director Desportivo para o futebol.

*informação retirada de artigo publicado www.ojogo.pt, a 16/04/2014
**retirado do artigo de André Cruz Martins, publicado em relvado.aeiou.pt, a 08/11/2011

925 - VÍTOR MARTINS

Há uma expressão no futebol inglês capaz de definir a carreira do médio. Ora, um desportista que jogou a totalidade da sua carreira profissional num clube apenas, é um “One-Club men”… e foi isso que o Vítor Martins foi!
Antes ainda de chegar aos juniores do Benfica, seria nas “escolas” dos Nazarenos que Fernando Cabrita o descobriria. Transferido para a formação das “Águias”, e após uma passagem pelas “reservas”, seria na temporada de 1969/70 que participaria no primeiro jogo pela categoria principal. No entanto, não seria uma estreia qualquer! Frente a um Celtic que contava com Billy McNeill, Jim Craig ou Bobby Murdoch, vencedores da Taça dos Campeões Europeus uns anos antes, a confiança nas suas capacidades daria a Otto Glória a necessária certeza para lançá-lo numa partida de tal importância. O Benfica acabaria por perder na decisão por moeda ao ar, mas essa partida para as competições europeias marcaria o início de uma grande caminhada.
Muito desse seu trajecto seria feito de trabalho. Muito mais do que um virtuoso, o médio era um trabalhador. Recto nas suas intervenções, Vítor Martins não tinha medo de qualquer confronto mais físico. Ainda assim, era um atleta que tratava bem a bola. As habilidades técnicas que possuía permitir-lhe-iam posicionar-se em qualquer lugar no rectângulo de jogo. Por tudo isso, transformar-se-ia num elemento indispensável para qualquer um dos seus treinadores. Desde o já referido Otto Glória, a Jimmy Hagan, passando por Mário Wilson ou John Mortimore, a inscrição do seu nome na ficha de jogo passaria a ser uma rotina. Seria assim na maioria das 9 temporadas em que representou o plantel principal das “Águias” e, razão de tudo o que foi aqui escrito, um pilar em diversas conquistas.
Campeonatos seriam 6. Ainda somaria ao palmarés 2 Taças de Portugal. Ironicamente, seria naquela que é uma das provas mais estimadas por adeptos, técnicos e jogadores que Vítor Martins conheceria o fim da sua carreira. Nas rondas iniciais da edição de 1977/78 da “Prova Rainha”, calharia ao Benfica receber a formação do Desportivo de Chaves. Nesse fatídico dia 26 de Novembro Vítor Martins acabaria aleijado num joelho. Durante à operação ao menisco, o médio seria vítima de uma embolia cerebral. As mazelas resultantes do acidente obrigá-lo-iam a afastar-se do futebol.
Numa caminhada interrompida precocemente, os 27 anos que tinha na altura representariam a força de uma carreira no auge. Ainda assim, e apesar de curto, o seu trajecto ainda daria ao jogador a honra de vestir as cores nacionais. Representaria os sub-18, os sub-21 e, a meio do seu percurso profissional, a equipa “A”. Com a estreia a acontecer em Novembro de 1974, a chamada de José Maria Pedroto para um “amigável” frente à Suíça marcaria a primeira de 2 internacionalizações*.

*Vítor Martins jogaria uma terceira partida, não oficial, frente à selecção de Goiás.

924 - KALADZE

Com a estreia pela selecção a acontecer num “particular” frente ao Chipre, seria também com as cores da Geórgia que, um ano e meio depois desse “amigável”, Kaladze despertaria a atenção de vários emblemas europeus. Nesse “zero a zero” conseguido frente à Itália em Setembro de 1997, muitos atestariam que a figura maior do jogo tinha sido um jovem defesa saído do Dínamo de Tbilisi. Como tal, não tardaria muito até que uma proposta fizesse o jogador mudar de cores e de campeonato. O emblema que se seguiria seria o Dínamo de Kiev e as participações nas competições europeias empurrá-lo-iam, em definitivo, para um caminho recheado de sucessos.
Mesmo tendo feito parte do percurso formativo como avançado, ter recuado no terreno de jogo faria com que as suas melhores características emergissem. Claro que esses primeiros anos passados no Lokomotiv Samtredia, emblema presidido pelo seu pai, em muito contribuiriam para os seus desempenhos. Ainda que tido como um futebolista capaz de marcações implacáveis e, por vezes, muito duro nas suas acções, as temporadas nos escalões juvenis acabariam por dar-lhe a técnica que a maioria dos colegas de profissão não possuía.
Com o seu crescimento e com a confirmação do potencial apresentado na fase inicial da carreira, outros saltos pareciam estar na eminência de acontecer. No entanto, e ao contrário de muitos atletas, não seria necessário a mudança para um dos “gigantes” do futebol mundial para que os títulos começassem a chegar ao currículo de Kakha Kaladze. Tendo conseguido estrear-se no patamar sénior com apenas 16 anos, entre a temporada de 1993/94 e 2000/01 o defesa somaria no seu palmarés 5 Campeonatos e 4 Taças da Geórgia, seguindo-se 3 Ligas e 3 Taças Ucranianas.
Claro está, a mudança para o AC Milan em 2001, dar-lhe-ia outra projecção. Começando pelos valores da transferência, cujos 16 milhões de euros valer-lhe-iam o título de jogador mais caro de sempre na história do futebol georgiano, os troféus conquistados, compreensivelmente de outra monta, elevá-lo-iam à condição de estrela. Todavia, a sua chegada a San Siro não o poria imediatamente nos píncaros da glória. A presença no plantel de Maldini, Costacurta, Chamot ou Roque Júnior fariam com que ainda passasse algumas vezes pelo banco de suplentes. Ainda assim, Kaladze tinha uma enorme arma. A polivalência que exibia, resultado da sua admirável técnica e compreensão de todas as dinâmicas, permitir-lhe-ia jogar bem em diferentes lugares. Podendo posicionar-se no centro ou esquerda da defesa, tal como nas funções de “trinco”, o internacional georgiano acabaria por ter uma enorme vantagem, conseguindo, durante as campanhas seguintes assegurar várias presenças em campo.
Mesmo tendo sido veiculada, inclusive pelo atleta, uma possível transferência para o Chelsea, a verdade é que tal nunca viria a concretizar-se. Depois de nas primeiras temporadas na “Serie A”, resultado das poucas oportunidades conseguidos, o defesa ter revelado o desejo em mudar de clube, os anos seguintes seriam completamente diferentes. Uma vez acostumado às exigências do “Calcio”, Kaladze transformar-se-ia num elemento de grande importância para o plantel. Nesse sentido, em 9 anos e meio como jogador do AC Milan, a sua contribuição resultaria em 1 Scudetto, 1 Coppa de Itália, 1 Supercoppa, 2 “Champions”, 2 Supertaças UEFA e 1 Mundial de clubes.
Após ter terminado a sua carreira com 2 temporadas no Genoa, o antigo defesa haveria perpetrar uma radical mudança de vida. Tendo posto de lado o desporto, o regresso à sua Geórgia natal revelaria o político Kakha Kaladze. Como membro do Georgian Dream–Democratic Georgia, em Outubro de 2012 seria nomeado Ministro da Energia. Já em 2017, seria eleito como Presidente da Câmara de Tbilisi.

923 - VÍTOR VIEIRA

Vítor Vieira foi um autêntico “globetrotter”! Doze clubes em dezoito anos de carreira profissional, muito mais do que atestar tal afirmação, poderiam indicar alguma incapacidade do atleta em adaptar-se ao futebol de alta competição. Muito pelo contrário! Para testemunhar a favor do seu percurso, há números que muitos jogadores apenas conseguiram sonhar. Nesse sentido, estão as onze temporadas passadas a disputar a 1ª divisão e as quase duas centenas e meia de partidas naquele que é o principal escalão português.
Muito antes das dezoito temporadas que completariam a sua carreira, o extremo haveria de emergir das “escolas” do Penafiel. Seria também no emblema duriense que, na temporada de 1991/92, Vítor Vieira faria a primeira aparição por um conjunto sénior. Para além da estreia na categoria principal, essa campanha acabaria também por levar o atacante à primeira partida no patamar mais importante do nosso futebol.
Rápido e com uma técnica bem acima da média, o extremo depressa começaria a ser visto como uma das grandes promessas do futebol português. Com o Penafiel relegado à Divisão de Honra, não tardaria muito para que emblemas mais bem posicionados fossem no seu encalço. A proposta que mais agradou ao atleta acabaria por vir de um dos históricos do nosso desporto. No entanto, a mudança para o Belenenses não correria tão bem quanto o esperado. Mesmo tendo em conta as capacidades que apresentava, Vítor Vieira nunca chegaria a conquistar espaço suficiente para ser uma presença regular no “onze” inicial. Por outro lado, e reflexo das características já aqui apregoadas, da Federação chegam as primeiras convocatórias para os Sub-21. Com as “Quinas” ao peito, o atacante seria chamado a disputar o Torneio Internacional de Toulon e ajudaria Portugal a atingir a final de 1994.
O seu regresso à 1ª divisão, após a saída do Belenenses e uma passagem pelo Paços de Ferreira, traria a confirmação de que o lugar de Vítor Vieira era, sem sombra de dúvida, o “escalão máximo”. Daí em diante, e pelos diversos clubes por que passou, o extremo seria sempre uma peça fulcral no desenho táctico dos seus treinadores. Marítimo, Desportivo de Chaves, Estrela da Amadora, Gil Vicente, Santa Clara e Académica acabariam por testemunhar aquilo que de melhor o atleta tinha para oferecer. Mesmo tendo em conta as constantes mudanças de clube, a verdade é que, independentemente das cores representadas, a importância do atleta no desempenho do conjunto raramente seria posta em causa.
No que restou da sua carreira, naquela que pode ser vista como a curva descendente da mesma, Vítor Vieira acabaria por ter a sua primeira e única experiência no estrangeiro. No Gansu Tianma, o extremo experimentaria o futebol chinês. Claro está, e sendo essa uma constante no seu percurso profissional, o atacante, durante os últimos anos como futebolista, ainda passaria por mais alguns emblemas. O final acabaria por aparecer em 2008 e após estar ao serviço do Lusitânia dos Açores.
Sem conseguir estar muito tempo afastado da modalidade, seria logo na temporada de 2008/09 que o antigo jogador testaria as suas capacidades como técnico. Com a porta aberta no clube que o tinha lançado na modalidade, Vítor Vieira agarraria o comando dos Sub-17 do Penafiel. Nos anos seguintes, tirando uma curta experiência como adjunto no Machico, seria com os jovens que mais trabalharia. Nesse sentido, o seu currículo também já conta com uma passagem pelos sub-19 penafidelenses.

922 - JOHN MORTIMORE

As “escolas” do Woking, emblema sediado nos arredores de Londres e perto da sua terra natal, serviriam para que John Mortimore tivesse o primeiro contacto com o futebol associativo. Após ter terminado o percurso formativo, o jovem defesa haveria de, no mesmo clube, fazer a transição para o patamar sénior. Aí permaneceria até aos 21 anos, idade com que seria resgatado dos escalões amadores.
O salto dado na temporada de 1955/56, desde os “regionais” até à “First Division”, não amedrontaria John Mortimore. Após o normal período de adaptação a um contexto competitivo completamente diferente daquele a que estava habituado, o defesa começaria a aparecer com alguma regularidade na primeira equipa do Chelsea. Na campanha de 1957/58, já o central era um dos titulares do “onze” londrino. Durantes os anos vindouros raramente esse estatuto seria posto em causa. A importância que tinha para o grupo era tal que, como reconhecimento pela sua dedicação, a braçadeira de capitão acabaria entregue à sua responsabilidade.
Curiosamente, só no último ano em Stamford Bridge é que os títulos chegariam à sua carreira. Após representar os “Blues” em 10 temporadas diferentes, os derradeiros passos no seu percurso como futebolista levá-lo-iam a disputar a final da “League Cup”. Tendo falhado a primeira mão, no segundo jogo, marcado para a casa do adversário, John Mortimore seria chamado ao “onze” inicial. Depois da vitória por 3-2 em Londres, a sua participação serviria para aguentar o nulo nessa partida e, acima de tudo, para garantir o triunfo frente à equipa do Leicester.
Antes de encetar a sua actividade como treinador-principal, John Mortimore ainda faria uma última temporada com as cores do Queens Park Rangers. Contudo, a referida mudança só chegaria passados alguns anos e num país diferente. Ao contrário daquilo que seria previsível, a oportunidade de orientar um clube surgiria na Grécia. No Ethnikos de Pireus e, mais tarde, ao serviço do Portsmouth, o antigo defesa central ganharia a experiência necessária para, em 1976, enfrentar o maior desafio da sua curta carreira como técnico – “O trabalho no Benfica apareceu através da “Football Association” (FA) e eu agarrei a oportunidade. Eu penso que o clube abordou a FA, que recomendou uma ou duas pessoas e nós fomos entrevistados”*.
Na chegada à “Luz”, uma das primeiras decisões tomadas pelo inglês seria reforçar a equipa com os juniores Alberto, José Luís e Fernando Chalana. Tendo conseguido afinar o conjunto pela mistura dessa juventude com a experiência dos restantes elementos, o técnico levaria o Benfica à vitória no Campeonato. No entanto, e apesar desse bom arranque, as temporadas seguintes seriam dominadas pelo FC Porto de José Maria Pedroto. Sem o sucesso exigido por dirigentes e adeptos, John Mortimore haveria de deixar o clube para, em 1985/86, regressar aos comandos das “Águias”.
A segunda passagem pelos “Encarnados”, ainda melhor do que a primeira, seria recheada de êxitos. O Campeonato ganho em 1986/87, as 2 Taças de Portugal e 1 Supertaça seriam o saldo desses 2 anos. Outro dos resultados dessa estadia acabaria por ser a sua contratação pelo Real Bétis. Todavia, a experiência no conjunto de Sevilha seria pouco proveitosa. Num plantel que contava com Chano (ex-Benfica) e Ralph Meade (ex-Sporting), John Mortimore acabaria por ser dispensado na mesma temporada da sua contratação.
O que restou da sua carreira como treinador, ainda o levaria a orientar o Belenenses e o Southampton.  A maior curiosidade desse troço seria a ligação com o emblema do sul de Inglaterra. John Mortimore, cuja relação com os “Saints” remontava aos anos 60 e à altura em que ainda era adjunto, haveria de passar pela Presidência do clube.
 
*retirado da entrevista conduzida por Dominic Bliss e publicada a 24/12/2014, em https://portugoal.net