202 - PEDRO REIS

Ao dedicar grande percentagem da carreira sénior à equipa principal de Paranhos, Pedro Reis conseguiu, naturalmente, um lugar de destaque na centenária história do “velhinho” Salgueiros. Todavia, para além das 12 temporadas cumpridas no Estádio Vidal Pinheiro, muitos foram os marcos que o antigo defesa ajudou a alcançar.
Foi na cidade de Matosinhos, no clube da sua terra, que, juntamente com o irmão Berto, decidiu mostrar os seus dotes de futebolista. Ao dar os primeiros chutos na bola nas camadas jovens do Leixões, Pedro, no entanto, veio a terminar a formação noutra popular colectividade do concelho. Como atleta do Leça, em 1986/87 e a militar na 3ª divisão, estreou-se como sénior. Tão poucas dúvidas terão deixado as suas exibições que os responsáveis do Salgueiros, ao terminar a dita época, decidiram fazer do jovem futebolista uma aposta para reforçar o sector mais recuado da equipa. Contratado, rapidamente as suas qualidades puseram-no como uma das principais escolhas para o “onze” titular. Tanto na direita, como no eixo da defesa, durante a dúzia de anos em que jogou no Vidal Pinheiro, foi uma das figuras de proa e, como é exemplo a participação nas competições da UEFA, fez parte dos momentos mais áureos do emblema.
Meritoriamente chegou à condição de “capitão” e como dono da braçadeira, na temporada de 1999/00, pôs um ponto final à sua vida nos relvados. Na bagagem da memória, arrecadou 340 partidas ao serviço do Salgueiros, que fizeram dele o recordista de presenças pelo clube. No somar desses números, carregou também uma inabalável dedicação. Paixão que fez o antigo defesa abraçar a “ressurreição” do emblema e a tornar-se no primeiro treinador do Salgueiros 08.

201 - MADUREIRA

Filho de Matosinhos, Jorge Madureira foi um dos bons produtos que a “cantera” do Leixões deu às provas nacionais. Foi nas “escolas” do Estádio do Mar que o guardião terminou a formação. Sem mudar de emblema, deu também os primeiros passos no futebol sénior. No entanto, “para mal dos seus pecados”, a segunda metade dos anos de 1970 trouxe um Leixões enfraquecido e a afastar-se das lides do escalão maior do Campeonato.
Logicamente, o lugar de um jogador com o currículo preenchido por diversas chamadas às jovens selecções nacionais – entre os sub-16 e os sub-18, conseguiu 18 internacionalizações – não era, de certeza, a 2ª divisão. Por isso, não foi de estranhar que o Boavista, à altura sob o comando de Mário Lino, fosse resgatar o guarda-redes à equipa sediada nos arredores do Porto, trazendo-o, em 1979/80, para os palcos principais do futebol português. No entanto, o “dono e senhor” da baliza “axadrezada” era Matos e a jovem promessa, durante os anos que andou de “Pantera” ao peito, pouco mais fez do que marcar presença no banco dos suplentes.
Sem conseguir conquistar a titularidade, a previsão de uma nova transferência veio a concretizar-se. Depois do Académico de Viseu em 1983/84, Madureira tomou a decisão que veio a mudar toda a sua vida desportiva. Com a ida para o Salgueiros, as 12 épocas que passou em Paranhos serviram para demonstrar que, entre os postes, como nas arrojadas saídas da pequena-área, era um atleta cheio de destreza. As suas exibições deram à defesa salgueirista uma segurança nunca vista. Em 1990/91 contribuiu para o 5º lugar na tabela final do Campeonato Nacional e para levar o emblema do Estádio Vidal Pinheiro aos jogos organizados pela UEFA. A sua entrega e ambição transformaram-no num exemplo dentro e fora do balneário e, ainda hoje, é recordado como uma das figuras míticas da “Alma Salgueirista”.

200 - JORGINHO

Nascido no Porto, foi nos clubes da sua cidade que Jorginho passou toda a vida como profissional de futebol. Porém, ao contrário de muitos, o avançado não surgiu no seio de um dos emblemas de maior monta. Apareceu no modesto Futebol Clube da Foz. Aí fez-se Homem; cresceu como desportista e, acima de tudo, fez com as suas habilidades, mesmo ao disputar as “distritais” da Associação de Futebol do Porto, chamassem a atenção dos maiores emblemas da “Invicta”.
O passo seguinte, bem mais ao jeito de um grande salto, levou-o à 1ª Divisão. Apesar de contar apenas 19 anos, as qualidades mostradas no rectângulo de jogo faziam dele uma boa aposta e o Boavista não viu razão para não arriscar na sua contratação. Por intermédio do Prof. João Mota, treinador da referida agremiação sediada na Foz e que chegou a ser preparador físico no FC Porto, a transferência avançou. Com a mudança na temporada de 1974/75, Jorginho juntou-se ao plantel “axadrezado” comandado por, também ele recém-chegado, José Maria Pedroto. Todavia, apesar do potencial revelado, os espaços deixados por um grupo que contava nas suas fileiras com João Alves, Taí, entre outros, não foram muitos e raras foram as vezes que o jovem extremo-esquerdo teve oportunidade para mostrar o seu valor.
Mesmo ao contribuir para as vitórias do Boavista nas edições de 1974/75 e 1975/76 da Taça de Portugal, o seu espaço no clube manteve-se reduzido e a proposta vinda de Paranhos fez com que Jorginho fosse para o Salgueiros. No Estádio Vidal Pinheiro a partir da temporada de 1978/79, finalmente teve o ensejo para mostrar tudo o que sabia; finalmente o seu brilhante pé canhoto e a capacidade de entender o jogo, postos ao serviço dos seus passes, conseguiram, geometricamente, traçar intermináveis movimentos ofensivos. Assim o fez durante 12 temporadas e reconhecida a sua entrega, tornou-se num dos mais acarinhados atletas e num dos grandes exemplos da “Alma Salgueirista”.

199 - SALGUEIROS

Foi no rescaldo de um Porto-Benfica que um grupo de jovens amigos, entusiasmados pelo encontro que, nesse dia, tinham assistido no Campo da Rainha, decidiram formar um clube de futebol. Rapidamente foram resolvidas as primeiras questões, como a denominação ou o desenho dos equipamentos. Ficou Salgueiros, em homenagem a uma fábrica existente em Paranhos. Já para a cor das vestimentas, em referência aos rivais dos “Azuis e Brancos”, foram escolhidos o vermelho e branco.
Ainda assim, tudo o que ficou decidido na noite de 8 de Dezembro de 1911, debaixo do candeeiro 1047, entre a Rua da Constituição e a Particular Salgueiros, não era suficiente para pôr o projecto a andar. Faltava o dinheiro! A solução encontrada, em razão da proximidade com a quadra natalícia, passou por formar um grupo de Janeiras, o qual percorreu as casas da freguesia portuense. A iniciativa até teve algum sucesso e com a maquia angariada, o recém-formado Sport Grupo e Salgueiros pôde comprar algo de essencial para a prática da modalidade que os apaixonava, a bola de futebol.
Tal como o clube, a designação do mesmo foi tendo a sua natural evolução. Assim, a primeira mudança, por quererem mostrar a paixão que nutriam pela terra natal, ocorreu no ano de 1917. Os associados decidiram que na identificação da agremiação devia também figurar o nome da cidade. A resolução levaria a colectividade, a partir daquele momento, a chamar-se Sport Porto e Salgueiros. Passados 3 anos, surgiu uma segunda transformação. Contudo, seria sinónimo de muito mais que uma mera alteração de imagem. Por essa altura, os salgueiristas tinham em mãos uma grande crise financeira e a resposta para os resgatar da anunciada falência acabou por ser a junção com o Sport Comércio.
Da dita união nasceu o emblemático Sport Comércio e Salgueiros, o qual, na época de 1943/44, fez a estreia no Campeonato da 1ª Divisão. Logo na primeira temporada atingiu um espantoso 6º lugar, mas a sua melhor prestação conseguiu-a já na última década do seculo XX, quando, no final da campanha 1990/91, a 5ª posição na tabela classificativa colocou o emblema nas competições europeias.
A disputar a Taça UEFA do ano seguinte, o sorteio ditou como adversário os franceses do Cannes. Apesar de não ser um nome muito sonante, no plantel gaulês figuravam nomes como Zinedine Zidane, Luís Fernandez ou Alen Boksic. Os jogadores do Salgueiros bateram-se orgulhosamente. Todavia, apesar do brio empregue na disputa da ronda, o conjunto português acabou por ser afastado. Depois de, na 1ª mão, o grupo luso conseguir uma vitória caseira por 1-0, a partida em França ditou igual resultado, mas a favor do conjunto sediado na Riviera. Já o desempate por penaltis selou a eliminação dos portuenses.
Novas dificuldades financeiras fizeram com que o Salgueiros, dessa feita com reflexos bem mais sérios, desaparecesse de forma abrupta dos “palcos” do futebol nacional. Depois de extinto o plantel profissional e de alienado quase todo o património, a “Alma Salgueirista” acabou por renascer em 2008, num novo projecto. Hoje em dia, enquanto o Sport Comércio Salgueiros luta com toda a força para evitar o desaparecimento, um “recuperado” Sport Grupo e Salgueiros, ao qual acrescentaram a terminação 08, alimenta, nas divisões distritais da Associação de Futebol do Porto, a esperança dos adeptos.

198 - FANECA

A 27 de Abril de 1935, em Montemor-o-Novo, nasceu Fernando Salvador Faneca. Tal como muitos dos alentejanos seus conterrâneos, ao procurar fugir às agruras da vida no interior, cedo migrou em direcção à Grande Lisboa. Atrás de novas oportunidades e ao escolher o Barreiro para assentar arraiais, uma das portas que primeiro viu abrir-se foi a do Futebol Clube Barreirense. Ainda com idade de juvenil, sensivelmente 16 anos, pela primeira vez envergou o listado alvirrubro da histórica camisola da Margem Sul. O passo seguinte foram 19 anos, 17 dos quais na equipa principal, em que Faneca não conheceu, nas “andanças da bola”, nenhuma outra cor.
Só o facto de ter sido tão fiel ao Barreirense, por si só, é suficiente para pôr o jogador no rol dos notáveis do clube. A verdade é que o carinho que os adeptos têm por ele, vai para além do número de anos dessa relação. É por isso que, ainda hoje, a sua identidade é sinónimo de entrega e de dedicação. Por essa mesma razão, bem distante daquilo que era o homem fora do campo, Faneca tinha a fama de ser rijo e implacável nas acções defensivas. No entanto, muito mais do que temido pelos atacantes adversários, era, acima de tudo, um atleta respeitado e um nome que ocupou, nas palestras que antecediam as partidas, os habituais cuidados dos treinadores oponentes.
Durante tantos anos acompanhou o Barreirense nos bons, como nos maus momentos. Caminhou ao lado do emblema nas 8 temporadas consecutivas em que, nos anos de 1950, esteve na 1ª Divisão. De seguida, foi incapaz de largar o clube nas descidas e subidas que caracterizaram a década de 1960. Por fim, envergou a braçadeira de “capitão” e foi um dos principais intérpretes da 4ª posição no Campeonato Nacional de 1969/70 e na resultante ida às competições europeias do ano seguinte.
Já com 35 terminou a sua ligação contratual com o clube. Contudo, a vontade de praticar a modalidade estava longe de ter chegado ao fim e, reflexo da sua tenacidade, prolongou a carreira, entre o Luso do Barreiro e o Vasco da Gama de Sines, até aos 41 anos de idade.
Apesar da separação que marcou os seus últimos anos como futebolista, soube-se sempre a quem pertencia o seu coração. Era normal, já depois de “penduradas as botas”, encontrá-lo sentado nas bancadas a assistir aos encontros do Barreirense. Dizem também que, no dia em que deitaram abaixo o saudoso Estádio D. Manuel de Melo, não conteve a emoção e as lágrimas correram-lhe face abaixo.

197 - RAUL JORGE

Passados alguns anos sobre a data do seu nascimento, o ainda menino Raul Jorge da Silva abandonou a Moita de onde era natural. Por razão dessa informação, surge uma pequena dúvida sobre a sua vida. Por um lado, alguns testemunhos referem que terá ido morar, quando contava apenas 7 anos, primeiro para Lisboa e depois, já no início da adolescência, para o Barreiro. Outros há que dizem, que foi aos dez anos que saiu da sua terra natal para logo mudar para o concelho vizinho. Com certeza pouco interessará este pormenor. O que importa dizer é que foi no extinto emblema “alfacinha”, o Império Lisboa Clube, que Raul Jorge, provavelmente, terá dado os primeiros pontapés no futebol.
O passo seguinte da sua carreira de desportista, talvez pelo ofício que exercia na CUF, deu-o na margem esquerda do Rio Tejo. Ao contrário do previsível, não pensem que foi jogar para um dos já bem instituídos emblemas da zona! Não! Raul Jorge acabou por ser um dos responsáveis pela unificação de duas das colectividades do Barreiro, o Estrela e o Independente.
A junção dos dois clubes, com intuito de afrontar a hegemonia do FC Barreirense, resultou em tal sucesso que o novo Estrela-Independente rapidamente conseguiu sagrar-se campeão daquela terra. No entanto, e sem que tenha conseguido descortinar o motivo, o facto é que, na época de 1922/23, o avançado decidiu transferir-se para o aludido rival. Com o listado branco e vermelho, fez-se um jogador famoso e a 24 de Março de 1929, num particular frente à França, tornou-se no primeiro futebolista da colectividade a conseguir estrear-se pela equipa nacional portuguesa.
Depois de, sempre em representação dos “Alvi-Rubros”, ter sido convocado mais 4 vezes à selecção das “quinas” e após 16 épocas a jogar pelo Barreirense, o extremo-direito decidiu ser a hora para “pendurar as chuteiras”. Ainda assim, a sua paixão pela modalidade não terminou, havendo registos da sua passagem, durante 7 anos, pelo comando técnico do Grupo Desportivo da CUF.
Raul Jorge veio a falecer em 1994, não sem antes, prova do amor que a cidade que o acolheu nutria por si, ser devidamente homenageado pelo Município que, de forma tão briosa, carregou ao peito.

196 - BARREIRENSE

Já a modalidade tinha sido introduzida na Margem Sul havia uns anos, quando um grupo de aprendizes decidiu formar uma colectividade na qual pudessem praticar aquilo que começava a ser um verdadeiro fenómeno de popularidade em Portugal. Da paixão pelo futebol, no seio do universo trabalhador do Barreiro, mais precisamente nas Oficinas Gerais dos Caminhos de Ferro do Sul e Sueste, nasceu o Sport Recreativo Operário Barreirense. A aceitação do novo emblema foi imediata e, talvez pela fundação num contexto fabril, a colectividade começou a crescer a “olhos vistos”.
Cada vez mais eram aqueles que juntavam esforços ao grupo inicial e o desaparecimento de associações de menor expressão, veio ajudar ao crescimento da colectividade. Contudo, com a equipa a aumentar em quantidade, as dificuldades organizativas começaram, principalmente no campo financeiro, a ser a razão de graves aborrecimentos. Com a resolução dos problemas em mente, a 11 de Abril de 1911, após uma assembleia geral, ficou decidido que, entre muitas outras mudanças, a agremiação devia dar lugar a outra que, daí em diante, passou a denominar-se Foot-Ball Club Barreirense.
Jamais as mudanças pretenderam acabar com o projecto fundador. Pelo contrário, para além de todo património, manteve-se intacto o vermelho e branco das camisolas. De igual modo, ficou preservada a crença numa juventude emergente e com muito a dar ao futebol. Essa fé, já na época de 1929/30, levou o Barreirense a chegar à maior competição da altura e à final frente ao Benfica. Contudo, a caminhada não ficou na memória dos adeptos apenas pela presença em tal desafio. Infelizmente, toda a polémica à volta do derradeiro encontro da prova também ficou para a história. Começou pelo agendamento da partida que, ao contrariar os regulamentos que ditavam o jogo para terreno neutro, foi marcada para o Estádio do Campo Grande, o ressinto das “Águias”. De seguida, veio o perdão do castigo imposto, por agressão a um árbitro, a João Oliveira, uma das estrelas dos “Encarnados”. Por fim, a nomeação para juiz da partida de Silvestre Rosmaninho, um dos mais antigos sócios benfiquistas.
Montado o “teatro”, entre lances muito duvidosos e claros atropelos às leis do jogo, o Barreirense saiu derrotado da contenda. Porém, o episódio não esmoreceu adeptos e praticantes, que continuaram a alimentar aquele que veio a tornar-se num dos principais emblemas da senda portuguesa. O sublinhar desse engrandecimento surgiu com o galgar dos anos e com o arranque do Campeonato Nacional. Foram 24 as campanhas em que o grupo da Margem Sul acompanhou, no patamar máximo, todos os outros históricos do nosso futebol. Houve, no entanto, uma temporada em que o sucesso emergiu de forma mais clara. A época de 1969/70, com o 4º lugar na tabela classificativa, tornou-se na melhor posição de sempre para o clube. Por arrasto, trouxe as provas europeias e a participação na última edição da Taça das Cidades com Feira. Apesar da eliminação logo à 1ª ronda, a eliminatória disputada frente ao Dínamo Zagreb transformou-se num verdadeiro marco e num motivo de orgulho para todos os envolvidos.
Os dias que correm para os lados do Barreiro não são os melhores. A atravessar uma grave crise financeira, o clube desceu às divisões “distritais” da Associação de Futebol de Setúbal. Ainda assim, apesar de um futuro difícil, um clube por onde passaram nomes como os de Raul Jorge, Arsénio, José Augusto, Bento, Chalana, entre tantos e tantos outros, de certeza que conseguirá fazer surgir novos “craques”, que farão o Barreirense emergir e, mais uma vez, caminhar em direcção aos maiores palcos do desporto português.

195 - JOSÉ MARIA

Com pouco mais de ano e meio de existência, este “blog” já proporcionou diversos desafios. Uns melhor que os outros, todos foram ultrapassados. Porém, quando, na sequência do tema escolhido para o mês de Dezembro, decidi seleccionar este jogador, jamais pensei que estava perante um confronto nunca antes por mim experimentado!
A história conta-se depressa. Há já uns largos anos, encontrei dentro de uma velha sebenta, pertença de um familiar meu, a estampa de um futebolista que desconhecia. A curiosidade que sempre tive sobre tal figura, fez-me pô-lo na lista de “cromos” a publicar. O que não estava no meu horizonte eram as dificuldades que tal decisão trouxe. A primeira complicação foi com o nome. Como já repararam, o que aparece impresso é “J. Maria”. Obviamente, levantou-se a dúvida sobre o que é que escondia a letra com um ponto à frente! João? Joaquim? A verdade é que, sem conseguir deslindar uma resposta indubitável, o único registo que encontrei no Lusitano de Évora que coubesse em tal denominação, foi o de um atleta chamado José Maria.
Mesmo sem ter a certeza da ligação entre a fotografia e o referido jogador, pareceu-me que o mistério estava a resolver-se. Contudo, a ilusão pouco durou. Com um nome entre mãos, pensei ser fácil descobrir mais alguma informação. Grande erro o meu! Por mais e mais que pesquisasse, tirando alguns dados que, repetidamente, foram aparecendo, pouco encontrei. Assim, a minha história deste, que agora sei ser atacante, resume-se praticamente a alguns números correspondentes à época de 1964/65.
Na aludida temporada, José Maria acabou por ser uma das principais escolhas do treinador Miguel Bertral para o escalonamento do “onze” do Lusitano. Ao ser chamado à titularidade por 24 vezes e, nessas presenças em campo, responsável pela concretização de 9 golos, transformou-se, apesar da quantidade de remates certeiros não ser espantosa, no melhor marcador do emblema alentejano no Campeonato Nacional. Se a marca é suficiente para justificar que, sobre o atleta, houvesse mais alguma coisa escrita, não deixa de ser uma boa questão. No entanto, para minha infelicidade, o que resta acrescentar a esta parca biografia, é aquilo que, gentilmente, foi indicado pelo “bloguista” Armando Ribeiro (http://acribeiro.blogs.sapo.pt/), ou seja, a nacionalidade brasileira do avançado.
Para terminar, quero deixar-vos o encarecido pedido para, caso saibam mais alguma coisa sobre este “misterioso” jogador, que partilhem a informação nos comentários.

194 - VITAL

Existem instantes capazes de mudar o rumo de uma vida. Assim aconteceu com Dinis Vital, médio nos escalões de formação da equipa da sua terra, o Grandolense, quando o habitual guarda-redes não compareceu a um jogo. Como já adivinharam, o elemento escolhido para substituir o faltoso foi aquele que, passados alguns anos e sem abandonar o referido conjunto alentejano, conseguiu estrear-se como sénior!
A rapidez de reflexos, a frieza e a valentia que, com apenas 18 anos, levaram o jovem praticante à categoria principal do emblema de Grândola, transformaram-se nas qualidades que, volvida apenas uma temporada, fizeram do guardião um dos reforços do Lusitano de Évora. Contratado para a temporada de 1951/52, o salto dado por Vital, enorme, fê-lo transitar das “distritais” para a 2ª divisão. No entanto, aquilo que, para muitos, teria sido um passo arrebatador, para o jogador foi encarado com uma naturalidade espantosa. A prova disso chegou com o Campeonato já a meio, pois, ao começar pelas “reservas”, acabou por destronar o habitual titular, Manuel Martelo.
A sua integração no alinhamento inicial, ainda na época de chegada ao Campo Estrela, teve um papel deveras importante no fortalecimento do “onze” e na subida do Lusitano ao principal escalão do futebol luso. O resto é fácil de contar! Foram 14 temporadas consecutivas na 1ª divisão, a defender o listado “verde e branco” dos eborenses. Durante esse período, por conta do estilo felino, ficou conhecido como “El Tigre de Évora”. Conseguiu também o maior prémio para qualquer desportista e recebeu a convocatória para representar a formação principal de Portugal. O encontro aconteceu a 16 de Maio de 1959, em Genebra, contra a congénere suíça. Nisso de internacionalizações, apesar do jogo referido ter sido a única chamada à selecção “A”, pelo seu país também vestiu as camisolas do conjunto “B” e da equipa “Militar”. Aliás, por esta última teve a honra de sagrar-se campeão mundial.
A ligação de Vital ao emblema da “Cidade de Diana” só terminou em 1966 e com a descida de divisão dos alentejanos. Rumou, então, à foz do Rio Sado e a Setúbal. No Vitória Futebol Clube, ao lado de nomes como Conceição, José Maria, Jacinto João, entre outros, brindou os últimos anos da carreira com momentos de enorme nível, como serve de exemplo a conquista da Taça de Portugal de 1966/67. Já o fim da caminhada como futebolista, passou-o ao serviço do Juventude de Évora e, depois, na condição de treinador-jogador, com as cores do União de Montemor.
Ao aproveitar a fase de transição, que incluiu o regresso ao Juventude de Évora, Vital, com o Dinis a figurar, em definitivo, à frente do apelido, continuou a vida de técnico. Nessa senda passou, maioritariamente, pelos escalões secundários. Contudo, ao comando do Farense, o antigo guarda-redes ainda conseguiu uma experimentar a 1ª Divisão.

193 - LUSITANO de ÉVORA

Foi da vontade de um grupo de estudantes de liceu e de trabalhadores do comércio, entusiasmados pela crescente popularidade do futebol, que, a 11 de Novembro de 1911, nasceu o Luzitano Foot-Ball Clube. Sob o lema “Fazer Forte Fraca Gente”, as pelejas, ainda numa fase precoce do sonho, aconteceram frente a outros grupos de entusiastas. Tal como os mentores, o projecto cresceu e tal foi o sucesso dos primeiros jogos que a ambição conduziu-os a novas disputas. Numa fase inicial, a cautela levou-os a competir contra as segundas categorias das equipas da cidade. Porém, a qualidade apresentada logo empurrou os praticantes do novo emblema eborense a planear outros voos.
 Na temporada de 1917/18 o grupo levantou, pela primeira vez, o troféu que o consagrou como campeão de Évora. Nesse correr, o clube começou a crescer a olhos vistos. No entanto, o emergir de novas modalidades no seio do clube, exigiu uma pequena alteração na “imagem” da colectividade. Após uma reunião da direcção, decidiu-se ser necessário a adopção de nova uma denominação e, a 04 de Setembro de 1925, deu-se a mudança do nome para Lusitano Ginásio Clube.
A grandeza que o emblema conquistou no panorama eborense, começou também a pedir outra estabilidade, no que concerne às infra-estruturas. O “andar com a casa às costas” deixou de fazer sentido. Em 1931, consagrados como vencedores a edição de 1926/27 do Campeonato Regional, os dirigentes do Lusitano, num esforço financeiro bem justificado, decidiram investir 30.000 escudos na compra dos terrenos onde acabou por nascer o Campo Estrela.
 Já bem alicerçado o clube, um dos maiores marcos da vida do Lusitano aconteceu nos anos de 1950. Com a estreia no Campeonato Nacional da 1ª Divisão a surgir na época de 1952/53, seguiram-se 14 anos consecutivos de presenças na categoria maior do futebol português. Com o emblema a transformar-se, muito mais do que numa bandeira da cidade de Évora, num estandarte de todo o Alto Alentejo, jogadores como Falé, Dinis Vital, Demétrio Patalino, José Pedro ou José Cardona, entre tantos outros, desfilaram, de norte a sul do país, o listado verde e branco das suas camisolas. Com o crer, o orgulho e com a qualidade dos seus atletas, a agremiação conseguiu muito mais do que lutar por uma simples manutenção. Como exemplo, temos a 5ª posição na tabela classificativa de 1956/57 ou a boa prestação na edição de 1958/59 da Taça de Portugal, onde atingiram as meias-finais.
Infelizmente, a glória conquistada durante o referido período teve um fim. Em 1965/66, com a descida dos alentejanos à 2ª divisão, encetou-se uma crise de génese financeira. A carolice de alguns associados, com a angariação de dinheiro, evitou, na altura, o desaparecimento do emblema. No entanto, a colecta não foi suficiente para desviar o clube do declínio que, este ano, por altura do centenário, viu emergir o pior capítulo da sua história. Sem fundos, o Lusitano suspendeu, por tempo indeterminado, a equipa de futebol sénior.

192 - FONSECA E CASTRO

Dizer que o Académico Futebol Clube, mais conhecido por Académico do Porto, começou pela vontade de um grupo de estudantes, até pela obviedade do nome, não há-de ser surpresa. O que realmente terá espantado, até mesmo o grupo de liceu que o idealizou, foi a popularidade com que a ideia foi acolhida. Porém, os tempos eram outros; o entusiasmo que movia os praticantes era apenas o desporto, o jogo, a competição. Encarada essa paixão como uma forma de divulgar, não só o “jogo da bola”, como uma maneira de disseminar a actividade física por entre os seus pares e – porque não? – por entre todos os portuenses, dois anos foi o tempo necessário para que o sonho ganhasse forma.
A 15 de Setembro de 1911, nasceu o novo emblema da “Invicta”. O dinamismo típico da juventude depressa catapultou o clube para outros projectos. Rapidamente, os seus dirigentes compreenderam a necessidade de encontrar infra-estruturas que dessem largo ao objectivo de formar, não só atletas, como pessoas. Apareceu o Estádio do Lima e a novidade de um relvado em Portugal.
É nesse contexto de saudável ambição que cresceu Fonseca e Castro, um desportista, avançado saído do futebol, a quem coube a responsabilidade de ser o primeiro elemento da agremiação estudantil a representar o país. A estreia deu-se em Lisboa, a 18 de Junho de 1925. No Lumiar, para medir forças, apresentaram-se em campo Portugal e Itália. A partida ficou na história, pois, com o 1-0 final, o resultado assinalou o encetar de vitórias da selecção nacional. Já o atacante, numa altura em que os jogos internacionais não aconteciam com a frequência a que hoje estamos habituados, voltou, por mais duas vezes, contra a Checoslováquia e frente à França, a ser convocado para envergar as cores lusas.

CENTENÁRIOS 2011

Haverá, com certeza, um largo rol de efemérides e conquistas passiveis de serem comemoradas durante a existência de um clube. No entanto, nenhum marco é comparável ao "Centenário". 100 anos de existência são a prova cabal da vontade de um emblema. Resistir, durante um século, às inúmeras adversidades que, como pedras, vão acentuando as agruras de tal caminho, não é só sinónimo de força. É, acima de tudo, a imagem de um crer feito de Homens que, tantas vezes, alienando parte das suas vidas, entregam-se a troco de um ideal, de uma irmandade.
Este ano são exemplos dessa perseverança, até pelo papel que tiveram no desporto e, em particular, no futebol nacional, o Académico do Porto, o Lusitano de Évora, o Barreirense e o Salgueiros. Por isso, neste último mês de 2011, é dessa gente e dessas colectividades que celebraram tamanho triunfo que falaremos. Assim, o mês de Dezembro é dedicado aos "Centenários".

191 - McCARTHY

Depois de uma brilhante participação no Mundial sub-20 de 1997, a juntar aos muitos golos que, desde tenra idade, somou por clubes da Cidade do Cabo, os responsáveis do Ajax viram nele uma aposta segura para, na temporada de 1997/98, atacar a “Eredivise”. Com Benny McCarthy nas suas fileiras, o emblema de Amesterdão recuperou o título. Porém, a falta de constância do avançado e, talvez, alguma impaciência por parte do atleta relativa às escassas chamadas à titularidade, acabaram por forçar a sua mudança para a “La Liga”.
No Celta de Vigo a partir de 1999/00, mesmo ao ser utilizado com bastante frequência, os golos teimaram em aparecer. Com 8 remates certeiros em 31 partidas, os números apresentados não foram suficientes para manter o sul-africano como prioritário no escalonamento da equipa. A confiança depositada no ponta-de-lança diminuiu drasticamente e as épocas seguintes à da sua chegada à Galiza reflectiram isso mesmo. Já numa altura em que poucas vezes era chamado a jogo, a solução encontrada foi o “empréstimo” ao FC Porto. Já sob o comando de José Mourinho, com os “Dragões” à procura de recuperar o estatuto de campeão, a apresentação de McCarthy, numa pequena provocação alusiva a uma derrota (7-0) sofrida pelo Benfica nos Balaídos, revelou o 77 colado na sua camisola. Para compor melhor o ramalhete, a sua estreia na Liga portuguesa de 2001/02 aconteceu, passados uns dias, frente às “Águias” e, com o avançado em destaque, os “Azuis e Brancos” venceram os rivais por 3-2.
 Na “Invicta”, McCarthy reencontrou-se com a baliza. Os golos sucederam-se com o avançar das jornadas e no final da temporada, o rácio de 12 golos em 11 encontros para o Campeonato Nacional, levou os dirigentes portistas a tentar, em definitivo, a sua contratação. No entanto, com o jogador novamente valorizado, as exigências feitas pelo clube galego desalinharam-se com os intuitos de um FC Porto com pouco desafogo financeiro. De regresso ao Celta de Vigo, o ponta-de-lança acabou por falhar o primeiro capítulo da nova senda vitoriosa dos “Dragões” na Europa. Mesmo não tendo conquistado a Taça UEFA, a vontade de voltar a vestir de “azul e branco” não esmoreceu. Com o selar do “matrimónio”, o atacante regressou a Portugal a tempo de conquistar a “Champions” de 2003/04 e, já na época seguinte, a Taça Intercontinental.
Mesmo ao vencer os mais importantes títulos na esfera competitiva dos clubes, McCarthy tinha como sonho de menino jogar na Premier League. Já os “Dragões”, apesar dos especulados pedidos do jogador para sair, só permitiu que tal acontecesse em 2006. A oportunidade para jogar na “Albion”, contava o avançado 29 anos, lá apareceu e o jogador acabou por deixar o emblema portuense com o coração cheio de boas recordações – “Estou triste porque deixo para atrás muitos amigos no FC Porto. Verdadeiros irmãos. Foi no FC Porto que experimentei o sucesso e alguns dos momentos mais felizes. Mas ir para Inglaterra é um sonho”*.
As primeiras épocas em Inglaterra serviram para confirmar que a aposta do Blackburn Rovers não tinha sido em vão. Já as seguintes, mormente as passadas com as cores do West Ham United, onde revelou uma forma física notoriamente negligenciada, foram bem penosas. Com tão baixos desempenhos, o pior castigo chegou com o Mundial de 2010. O excesso de peso e mais algumas polémicas, levaram o avançado a ser preterido na convocatória para o certame disputado no seu país natal.
Com os quilos a mais perdidos, e depois de, no ano passado, gorada a hipótese da transferência para o Sporting – “Estivemos muito próximos de um entendimento, mas a transferência acabou por abortar”** – McCarthy regressou à África do Sul e, hoje em dia, representa o Orlando Pirates.

*retirado do artigo publicado em https://mg.co.za, a 25/07/2006
**retirado do artigo de Susana Valente, publicado em http://relvado.aeiou.pt, a 09/10/2011

190 - FARY

Quando, na temporada de 1996/97, chegou a Montemor-o-Novo juntamente com o guarda-redes Khadim – anos mais tarde, seu parceiro no balneário do Boavista – por certo, Fary Faye não pensou que ali acabava o sonho de jogar na Europa. Não que o Grupo União Sport não seja um clube honrado e até ambicioso. É, com certeza! Mas, sejamos realistas: o avançado senegalês, ao deixar o seu país e o ASC Diaraf, logicamente, tinha em ambição um pouco mais do que disputar a 2ª divisão B de Portugal.
Rapidamente essa realidade ficou demonstrada e as boas prestações na colectividade alentejana cativaram os clubes posicionados nos escalões acima. O salto deu-o passadas duas temporadas, em direcção a Norte, e logo para jogar no primodivisionário Beira-Mar. Abnegado, facilmente conquistou um lugar no coração dos adeptos aveirenses. Está claro, os golos – tantos que foram – ajudaram a estreitar a relação entre o atleta e a massa associativa. No entanto, a maneira esforçada, a vontade que, vezes e vezes sem conta, empurrou o avançado para as balizas adversárias, foi a força que fez dele um dos grandes símbolos do emblema sediado no topo da Beira Litoral.
Desportivamente, a sua atitude positiva recompensou-o. Logo na campanha de 1998/99, ano de estreia com os “Auri-Negros”, Fary fez parte do “onze” inicial que entrou em campo no Estádio Nacional, para a inédita conquista da Taça de Portugal. No ano seguinte, e apesar de militarem na divisão de Honra, veio a estreia nas competições europeias e a eliminatória disputada na Taça UEFA, frente aos neerlandeses do Vitesse. Por fim, aquele momento que premiou toda a sua essência como jogador: os 18 golos marcados no Campeonato Nacional de 2002/03 e o consequente título de Melhor Marcador da prova.
O passo seguinte na carreira levou-o até à cidade do Porto. Como atleta do Boavista, ainda que com boas exibições, o ponta-de-lança afastou-se ligeiramente dos golos. No entanto, a sua postura manteve-se. A seriedade com que trabalhou e o sorriso que sempre conservou levaram-no, com o passar dos anos, a assumir um papel de relevo no seio do plantel “axadrezado”. Tal a sua importância, que, no último ano de “pantera” ao peito, passou a envergar a braçadeira de “capitão”. Porém, o clube começava a mergulhar na crise que, ainda hoje, o mantém numa situação deveras tremida. Fary, já com a barreira dos 30 anos de idade ultrapassada há algum tempo, decidiu voltar a Aveiro e à casa onde, desportivamente, acabou por ter as épocas mais felizes e prolíferas.
Cumpridos 2 anos após o regresso a Aveiro e de mais uma temporada a representar as cores do Desportivo das Aves, Fary, na corrente época de 2011/12 e já com 36 anos, apresentou-se novamente no Estádio do Bessa. Mesmo em fim de carreira, o avançado continua a demonstrar uma atitude inabalável e uma crença enorme num Boavista que já viu melhores dias.

189 - HASSAN

Após vencer várias competições em Marrocos e, também como atleta do WAC Casablanca, ter, por 3 vezes, conquistado o título de Melhor Marcador do Campeonato, Hassan decidiu partir para outras aventuras. A viagem, apesar de não muito longa, levou-o para um contexto desportivo distante daquele a que estava habituado no seu país. Do outro lado do Mar Mediterrâneo, nas Baleares, e a vestir o vermelho do RCD Mallorca, o avançado começou por experimentar o fulgor competitivo da “La Liga”. Contudo, à excepção da chegada à final da Copa del Rey de 1990/91, a qual a sua equipa perderia frente ao Atlético Madrid de Paulo Futre, a aventura espanhola não correu de feição.
Com os “Barralets”, no final da segunda temporada de Hassan em Espanha, a serem relegados para o escalão secundário, um desentendimento com o técnico Lorenzo Ferrer agravou, ainda mais, a situação do atacante. Resolveu, então, tentar a sorte do lado de cá da fronteira. No Farense, a história foi diferente. Integrado num plantel ambicioso, num grupo que tinha orgulho de fazer do Estádio São Luís um dos campos mais difíceis do Campeonato português, o ponta-de-lança passou a fazer parte de um plantel com o hábito de “mordiscar” os lugares com acesso às competições europeias.
Nessas lutas pelos lugares cimeiros da tabela classificativa, Hassan assumiu um papel preponderante. Apontado por alguns como trapalhão ou, se preferirem, como tecnicamente desajeitado, ainda assim o atacante passou a dar muita força às ofensivas do colectivo. Veloz e como uma capacidade excepcional para conseguir desmarcar-se e aparecer isolado frente aos guardiões adversários, os remates certeiros passaram a ser o seu principal “cartão de visita”. Tantos marcou que, ainda hoje, é o maior goleador da história da agremiação algarvia. Nesse sentido, foram também os golos marcados com a camisola dos “Leões de Faro” que levaram o avançado a ser incluído, com as cores da selecção de Marrocos, nas disputas do Mundial de 1994. Já na temporada seguinte à da participação no certame organizado nos Estados Unidos da América, as suas ofensivas, para além de ajudarem o Farense a qualificar-se para as provas da UEFA, permitiram-lhe vencer o prémio de Melhor Marcador do Campeonato Nacional de 1994/95.
Com tantas metas alcançadas, o sonho de progredir na carreira começou a ganhar forma. O Benfica passou a materializar-se como o emblema certo para esse novo passo. Até certo ponto, foi. Foi, pelo menos, durante os primeiros tempos em que jogou pelas “Águias”; foi pelas vitórias que os seus golos conseguiram. Porém, a instabilidade vivida para os lados da “Luz”, começou a cobrir tudo com uma espessa impaciência. Quando uma lesão afastou o atleta dos relvados e agravado o insucesso da equipa, a necessidade de apontar culpados, esticou o dedo na direcção de Hassan.
Dois anos volvidos após a chegada a Lisboa, o ponta-de-lança regressou ao Farense. Depois de assobiado em Lisboa, alvo da ira de adeptos incapazes de entender que o mal do clube “encarnado” estava para além do desempenho dos jogadores, o Algarve voltou a acarinhar o avançado. De novo enleado na paixão pelo Farense, Hassan, com muitos anos ainda pela frente, manteve-se ligado, umbilicalmente, à colectividade e à camisola que mais marcou a sua carreira. Mesmo em tempos difíceis, mesmo quando as dificuldades financeiras empurraram os algarvios para as divisões inferiores, o jogador, sinónimo inequívoco de uma grande e nutrida paixão, recusou-se a abandonar o clube e, por aí, terminou a caminhada enquanto futebolista.

188 - YEKINI

Ao contrário de muitas estrelas africanas que, no futebol, surgem bem novas nos campeonatos europeus, a aventura de Yekini fora do seu continente, começou já o atleta contava com vários anos de tarimba.
Depois de competir na Nigéria e na Costa do Marfim, foi com 27 anos feitos que o avançado, na temporada de 1990/91, fez a estreia pelo Vitória Futebol Clube. Em Setúbal, provou aquilo que dele era dito. Apresentou-se como um jogador fisicamente possante e, no entanto, bem veloz; poderoso no jogo aéreo, apesar da maneira pouco estética de atacar os lances; acima de tudo, mostrou ter um instinto capaz de devastar as melhores defesas.
Os 13 golos marcados nessa época de chegada a Portugal, excelente para quem apenas entrou à 14ª jornada, foram insuficientes para evitar a despromoção da equipa sadina. O regresso do Vitória ao convívio dos “grandes”, aconteceu passadas duas campanhas após a aludida descida. Por essa altura, já o ponta-de-lança tinha conseguido um lugar cativo no coração dos adeptos. Ainda assim, faltavam-lhe atingir mais algumas metas para que, globalmente, fosse exaltado como um dos mais bem cotados da sua posição. Tais distinções não tardaram muito a chegar. Após o título de Melhor Jogador Africano de 1993, o primeiro de sempre para um futebolista nigeriano, seguiu-se a disputa da edição de 1994 da Taça das Nações Africanas. Na referida CAN, para além de ajudar a sua selecção a vencer o torneio, também saiu do certame com o troféu de goleador máximo. Para continuar a época em beleza, o ponta-de-lança, com 21 golos, conquistou o lugar cimeiro da tabela dos Melhores Marcadores do Campeonato Nacional de 1993/94.
Em abono da verdade, o atleta ainda tinha mais para dar à temporada. As marcas atingidas na CAN e nas provas portuguesas serviram de presságio para o que estava a chegar. Com a estreia da Nigéria num Mundial marcada para Junho de 1994, o atacante foi incluído nos eleitos para voar até aos Estados Unidos da América. Com o embate inicial agendado frente à Bulgária, a fortuna de ficar na história do desporto do seu país, mais uma vez, coube a Yekini. Na grande-área adversária, com a bola à sua mercê, não desperdiçou a oportunidade de, naquele que é o mais importante certame no planeta do futebol, ser o primeiro a marcar um golo pelas “Super Eagles”. Depois, foi ver os festejos emocionados e a imagem do ponta-de-lança agarrado às redes contrárias correu as televisões de todo o globo.
Obviamente, com todo o sucesso entretanto alcançado, foi muito difícil para o emblema setubalense conseguir aguentar, nas suas fileiras, o goleador. No Verão de 1994, Yekini deu o passo esperado e transferiu-se para o Olympiakos. Contudo, a sua carreira acabou por não sofrer a progressão por si desejada. Muito pelo contrário, tanto na Grécia, como ao serviço dos espanhóis do Sporting Gijon, fruto de uma notória inadaptação, as suas exibições nunca mais mostraram a força antiga. Yekini, talvez na busca do brilho perdido, ainda voltou ao Vitória. Todavia, a idade começou a sentir-se. Ainda assim, reflexo de um temperamento indomável, continuou a jogar por esse mundo fora. Aos 41 anos, depois de regressar a África, decidiu pôr um ponto final na longa e bonita carreira. Fim consagrado pelos números que, ainda hoje, garantem o avançado como o atleta com a maior quantidade de golos marcados pela principal selecção da Nigéria.

187 - CADETE

Depois de, em 1987/88, subir aos seniores do Sporting, na temporada seguinte, Jorge Cadete viu-se “emprestado” ao Vitória Futebol Clube. O regresso do jovem atleta a Alvalade, por razão das boas exibições na equipa de Setúbal, envolveu-se das melhores expectativas. O avançado depressa mostrou que tinha muito a dar aos “Verde e Branco” e ninguém ficou espantado quando, logo às primeiras jornadas da campanha de 1989/90, assumiu um papel de monta no plantel leonino. Contudo, apesar de mostrar inequívocas qualidades e da sua presença em campo ser regular, os golos teimaram em aparecer. A primeira grande explosão ficou reservada para a época de 1991/92. Finalmente começou a mostrar a assertividade que nele era espectável, mas o mais engraçado é que, os 25 golos alcançados nesse Campeonato – a melhor marca que conseguiu pelos “Leões” – seriam, ante o endiabrado Ricky, insuficientes para vencer a corrida ao lugar cimeiro da tabela dos Melhor Marcadores.
Essa meta dos “goleadores máximos” atingiu-a no ano seguinte. Ironicamente, dessa feita, bastaram-lhe 18 golos para alcançar tal feito. A época seguinte, com a substituição, no comando técnico leonino, de Sir Bobby Robson por Carlos Queiroz, trouxe a Cadete alguns dissabores – “Foi mais um mal-entendido. Eu era o capitão de equipa e dois companheiros meus estavam a discutir. Eu mandei-os calar e Queiroz pensou que eu tinha começado a discussão”*. O equívoco fez com que, aos olhos do treinador, a sua importância no seio da equipa diminuísse. A sua utilização começou a decrescer e a solução encontrada para o problema acabou por ser o “empréstimo” ao Brescia.
Com a passagem pela Serie A, Cadete entrou numa fase mais negativa da carreira. A saída para Itália resultou num falhanço e o regresso a Lisboa não trouxe mais do que novos litígios com o clube. Na Primavera de 1996 deixou de novo Portugal. Rumou a Glasgow e quando tudo pareceu encaminhar-se, surgiu mais um obstáculo. O processo de inscrição pelo Celtic pareceu não ter fim. Especulou-se que o atraso de seis semanas teve como propósito evitar que o avançado participasse na meia-final da Taça da Escócia, frente aos rivais do Rangers. Verdade ou não, o facto é que Jim Farry, Chefe Executivo da Scottish Football Association, na sequência da investigação que deu o erro como grosseiro, foi demitido do cargo.
Caso à parte, a sua estreia aconteceu num desafio contra o Aberdeen. O início foi no banco de suplentes, mas com o avolumar do “placard”, já nos 4-0 para o Celtic, o treinador Tommy Burns decidiu ter chegado a vez do ponta-de-lança. Não foi preciso muito para se mostrar! Bastou responder a uma desmarcação e, ao primeiro toque na bola, com um belo “chapéu” ao guardião contrário, Cadete fez entrar a bola nas redes adversárias. O que se sucedeu foi ainda mais incrível. O público entrou em delírio e tal foi o barulho dos festejos, que os microfones da BBC, durante largos segundos, não conseguiram captar mais nada!
Com tal arranque, os fãs do clube escocês ganharam um novo ídolo e a cada golo seu começaram a entoar hinos inspiradores: “There’s only one Jorge Cadete, / he puts the ball in the netty, / He’s Portuguese and he scores with ease, / walking in Cadete wonderland”. Ora, pelo meio dos cânticos, renasceu o “homem de área”. A rapidez com que voltou a atacar os lances, a facilidade com que passou a movimentar-se no campo, aliado ao seu poder de elevação, ressuscitaram-no como um atacante temível. Já após a participação no Euro 96, com a porta do sucesso de novo escancarada, a maior resposta deu-a na 2ª temporada passada em Glasgow e com 25 remates certeiros conquistou, não só o topo da tabela dos Melhores Marcadores da edição de 1996/97 da Liga escocesa, como o título de maior artilheiro de toda a Grã-Bretanha, na referida campanha.
O que depois aconteceu, por certo, ninguém estava à espera! Ao que parece, por razão das exigências contratuais negadas pelo clube a Cadete, o jogador e os responsáveis directivos do Celtic entraram em “rota de colisão”. Talvez na pior decisão da sua vida futebolística, o avançado exigiu a saída. Com a transferência para o Celta de Vigo e, posteriormente, para o Benfica, a caminhada desportiva do ponta-de-lança entrou em declínio. Em nenhum dos emblemas conseguiu impor-se e depois das passagens pelos ingleses do Bradford City e do Estrela da Amadora, o atleta suspendeu a actividade profissional.
Durante esse interregno acabou por aceitar um convite para participar num “reality show”. Ainda regressou aos campos, ao passar pelos escoceses do Partick Thistle e pelo Pinhalnovense. Nessa derradeira fase da carreira, o destaque acabou mesmo por ser a sua participação, a pedido do amigo e antigo colega Fernando Mendes, nos Distritais de Beja e ao serviço do São Marcos.
Hoje, depois da experiência como treinador na sua escola de formação, orienta pela primeira vez uma equipa de futebol sénior, o Recreio Desportivo do Algueirão, equipa que milita nos “Regionais” da Associação de Futebol de Lisboa.

*retirado da entrevista publicada em www.cmjornal.pt, a 21/03/2009

186 - RICKY

Ainda não tinha atingido a maioridade e já o jovem Richard Owubokiri, nome pelo qual ficou conhecido em várias fases da carreira, espalhava o terror pelas grandes-áreas contrárias. Com a Nigéria espantada com o seu talento, aos 18 anos estreou-se pela equipa nacional. Num trilho ambicioso e em jeito de grandes cavalgadas, o ritmo alucinante da sua evolução levou-o a sagrar-se, enquanto atleta do Sharks FC, o Melhor Marcador do Campeonato. Depois, convocado por um nome bem conhecido do futebol português, o treinador brasileiro Otto Glória, foi vê-lo na Líbia, a participar na edição de 1982 da CAN.
Foi também à custa do técnico “canarinho” que o avançado africano teve a primeira experiência no estrangeiro. Depois de vestir as cores do ACB Lagos, do outro lado do Oceano Atlântico, no América do Rio de Janeiro encontrou alguns obstáculos. Desadaptado a uma realidade nova e tapado por uma linha atacante que não dava grandes oportunidades, foi curta e discreta a “aventura carioca”. Ainda sem deixar o Brasil, tentou a sorte no Vitória, que atravessava uma fase conturbada. Porém, aqui a história foi outra. Logo na primeira partida, no fervoroso “derby” frente ao Bahia, marcou um dos golos da sua equipa e, tal facto, levou-o a entrar no coração dos adeptos.
No emblema nordestino, mostrou ter na velocidade a melhor aliada para a obtenção de golos. Na última temporada ao serviço do Vitória, a de 1985, o, entretanto apelidado, “Gazela Negra”, juntou à vitória no “Estadual”, a conquista do título de Melhor Marcador do Campeonato Baiano. Tão boas prestações aguçaram-lhe o apetite para outros voos e abriram-lhe as portas da Europa. Depois da França, onde representou o Laval e o Metz, chegou a hora de Portugal e do Benfica. De “Águia” ao peito e rebaptizado como Ricky, o atleta viveu momentos em pontos opostos do espectro da felicidade. Se na pré-época teve o azar de fracturar a perna, já a primeira partida pelos “Encarnados” revelou-se memorável. No encontro para a Taça de Portugal, frente ao modesto Riachense, o emblema da “Luz” ganhou por 14-1. Só na lista pessoal do avançado ficaram 6 remates certeiros e, por conta do enorme pedido de autógrafos, o jogador viu-se aflito para sair do Estádio!
Com uma feroz concorrência pelo lugar de ponta-de-lança – Magnusson, Vata, César Brito –, não restou muito mais a Ricky do que, finda a época de 1988/89, aceitar a transferência para o Estrela da Amadora. Na Reboleira, para além dos 28 golos em 2 temporadas, o nigeriano fez parte do conjunto que, em 1990, disputadas a final e a finalíssima, levantou o maior troféu da história do clube, a Taça de Portugal. Apesar do sucesso alcançado na colectividade da “Linha de Sintra”, foi a passagem para o Boavista que catapultou o atacante para um novo patamar. Logo no primeiro ano com os "Axadrezados", o jogador deixou a sua marca e os 30 golos concretizados em 1991/92, incluindo uma “manita” frente ao Estoril Praia, fê-lo vencer a corrida para Melhor Marcador do Campeonato Nacional e a chegar à 2ª posição na corrida pela Bota d’Ouro.
Na Taça de Portugal, ainda na campanha de entrada no Bessa, Ricky, com um golo na final, foi essencial na vitória das “Panteras Negras” na prova. Nesse sentido e com o que já foi relatado, é fácil entender a razão pela qual o jogador, ainda hoje, é tido como uma das grandes “estrelas” boavisteiras. Porém, o seu êxito não ficou alicerçado apenas nas competições internas. Nessa mesma época, o emblema portuense, ao participar na Taça UEFA, eliminou o Inter de Milão. Também foi na dita competição, dois anos passados e frente à Lazio, que o avançado viveu um dos momentos mais caricatos da carreira – “Era a segunda mão dos 16 avos de final da Taça UEFA, e tínhamos perdido 1-0 em Roma. Precisávamos de ganhar. E ele, o major, apareceu no balneário antes do jogo e atirou um saco cheio de dinheiro ali para o meio. Disse-nos: «Isto é vosso se ganharem» Ganhámos 2-0 e eu marquei os dois golos ao Marchegiani”*.
 Por falar em caricato, estranho foi também aquilo que ocorreu na preparação para o Mundial de 1994. Apesar de ter sido chamado durante a qualificação, o avançado, com uma história rocambolesca pelo meio, acabou por falhar a convocatória para a fase final do torneio organizado nos Estados Unidos da América – “O selecionador de então [o holandês Clemens Westerhof] pedia dinheiro aos jogadores. Isto é, quem quisesse jogar, pagava-lhe. Ora eu sou titular da Nigéria porque mereço, trabalho e marco golos, não porque dou um saco de dinheiro a um treinador”*.
Depois de deixar o Bessa, Ricky entrou verdadeiramente na última fase da caminhada enquanto jogador. O regresso ao Brasil e ao Vitória e a posterior passagem pelo Belenenses, precederam a experiência na “Ásia do petróleo”. Mesmo ao entrar na derradeira etapa da carreira, o avançado foi incapaz de deixar a imagem de lutador. Nesse sentido, no Al-Arabi chegou ao lugar cimeiro dos Melhores Marcadores do Qatar. Para terminar, nos sauditas do Al Hilal, tornou-se no artilheiro maior de todo o Médio Oriente.
Ao “pendurar as chuteiras”, o antigo ponta-de-lança mudou-se para o Brasil, onde vive com os filhos e a mulher, uma baiana de gema. Em São Salvador da Bahia criou uma escola de futebol, a “Ricky Soccer Academy”, e é igualmente estimado pela organização de projectos sociais em bairros desfavorecidos.

*adenda feita à publicação original, com texto retirado da entrevista conduzida por Rui Miguel Tovar, publicada em https://observador.pt, a 30/12/2016

185 - RUI ÁGUAS

Não deve ser nada fácil para um jovem que procura singrar no mundo do futebol, carregar aos ombros o apelido Águas. As comparações com o pai, José Águas, tornaram-se inevitáveis – “(...) era olhado como mais um e como o filho de uma grande estrela”* – e a pressão causada por essa associação, logo nos primeiros passos, acabaram por fazê-lo tropeçar.
Depois de não singrar nas camadas jovens benfiquistas e de igual destino nas “escolas” do Sporting, Rui Águas chegou mesmo a abandonar a modalidade para passar a dedicar-se ao voleibol. Em boa hora emergiu o seu arrependimento, mas as portas dos “grandes” estavam fechadas e o regresso acabou por acontecer no modesto Grupo Desportivo de Sesimbra. Como um atleta de indubitável qualidade, depressa foi subindo degraus e, após uma passagem por Alcântara, no Atlético, finalmente, com as cores do Portimonense, fez a sua estreia na divisão maior do Campeonato Nacional.
No Algarve começou a sublinhar as qualidades que fizeram dele uma das maiores estrelas do futebol português. Inteligente, capaz de, como ninguém, entender toda a dinâmica do desporto que praticava, percebeu, talvez pelas desilusões que viveu no início da carreira, que o esforço e a dedicação eram essenciais para o sucesso. O resto ficou por conta, tal como o pai, de um poder de impulsão generoso e um jogo de cabeça positivamente invulgar.
Com os golos a surgirem naturalmente, a estreia na selecção principal aconteceu ainda durante a sua estadia a Sul. Ainda nesse mesmo ano de 1985, caiu sobre ele o interesse de outros emblemas. Depois dos primeiros contactos feitos pelo FC Porto, o ponta-de-lança, rendido à “mística” que nele nunca esmoreceu, decidiu retornar à "Luz". O primeiro ano de “Águia” ao peito, tapado pelo “gigante” Manniche, não começou de feição. Contudo, o espaço e as oportunidades que foi ganhando no seio do plantel, para além de 11 golos, permitiram-lhe frente ao Desportivo de Chaves, o seu primeiro “hat-trick”.
A importância no seio do conjunto “encarnado”, de jornada em jornada, cresceu. Em 1986/87 tornou-se num dos principais pilares da vitória do clube no Campeonato e, na temporada seguinte, com 2 golos na 2ª mão das meias-finais da Taça dos Clubes Campeões Europeus, ajudou a vencer o Steaua Bucareste e abriu as portas da derradeira peleja da prova. No entanto, e apesar de realizado desportivamente, Rui Águas começou a sentir-se injustiçado – “(...) nós no Benfica ganhávamos muito mal, mesmo em termos nacionais, muito mal mesmo”*. As negociações para a renovação do seu contrato, longe de conseguirem consenso no que diz respeito aos valores, ficaram ainda mais afectadas por uma proposta do FC Porto a oferecer “11 vezes mais do que aquilo que ganhava no Benfica”*. Rumou às “Antas”. Porém, a verdade é que a vida na “Invicta” não trouxe ao atleta o conforto desejado. Por um lado, uma certa hostilidade inicial, por parte de alguns colegas de balneário, não ajudou à adaptação. Por outro, constatou nele um enorme arrependimento que, aliado à tristeza de ver o seu pai desiludido, acabaram por, ao cabo de dois anos, fazê-lo regressar – “(...) sentia a mágoa do clube, do meu pai, enfim, houve um conjunto de coisas que me estimularam a voltar”*.
De novo com a camisola do Benfica, a conquista do título de Melhor Marcador do Campeonato Nacional de 1990/91, sublinhou Rui Águas no caminho do sucesso. Mas na época seguinte, na disputa da Taça dos Clubes Campeões Europeus, o avançado viveu uma das piores experiências da vida como futebolista. Em Kiev, na partida contra o Dínamo, o atacante começou, num lance infeliz à meia hora de jogo, por fazer a “assistência” para o golo de Salenko e que ditaria a derrota das “Águias”. Como se não bastasse o castigo de ver a equipa a perder, no final da segunda parte, num momento arrepiante, o ponta-de-lança partiu o pé.
 A referida lesão, no que restou do seu caminho, retirou-lhe parte do fulgor. Já o fim da carreira, reservado para 1995, só aconteceu depois de ajudar o Benfica a vencer o Campeonato Nacional de 1993/94, de passar alguns meses no Estrela da Amadora e após dar uma “perninha” no Serie A italiana, ao serviço da Reggiana.

*retirado de entrevista conduzida por Mary Caiado, publicada em http://www.ionline.pt, a 02/04/2011

184 - VATA

Depois de, na agora República Democrática do Congo, ter representado o FC Ruwenzori, onde chegou a ser o melhor marcador do emblema de Kinshasa, Vata voltou a Angola pela mão do técnico Laurindo que, em 1981, apoiando-se no regresso de jogadores espalhados pelo estrangeiro, preparava uma renovação no plantel do Progresso de Sambizanga.
Não foi preciso muito tempo para que o avançado passasse a ser um dos heróis dos “Gregos de Sambila”. Ao carinho oferecido pelos adeptos do emblema da capital, retribuiu com a sua maneira discreta de actuar e, sem que quase ninguém desse por ele, ofereceu à massa associativa um crescente rol de golos. Sempre no mesmo ritmo, manteve-se por Luanda até que, em 1984, não resistiu a novo apelo da diáspora e, dessa feita, rumou até Portugal.
No seu percurso seguiram-se o Recreio de Águeda e o Varzim. Com um jeito típico, aparentemente trapalhão, como quem entra aos tropeções pela grande-área adentro, foi ganhando cada vez mais fãs. Tantos, ao ponto de o Benfica escolher o ponta-de-lança para suprimir a saída de Rui Águas. É verdade que a confiança que os associados “encarnados” depositaram no novo reforço, inicialmente, não foi a melhor. Porém, o ponta-de-lança saiu-se bem. Logo na época de estreia com as “Águias”, a de 1988/89, a juntar ao Campeonato Nacional, acabou também por vencer a tabela dos Melhores Marcadores e, espantam-se, quase sem ter conseguido ser titular!
Já na segunda temporada com o Benfica, mesmo sem as conquistas da anterior, teve um dos momentos áureos da carreira. O jogo frente ao Marseille, correspondente à 2ª mão da meia-final da Taça dos Clubes Campeões Europeus, apresentou-se com o Estádio da "Luz" à pinha. Ansiosamente, os adeptos aguardaram que um golo benfiquista desfizesse a derrota por 2-1, averbada no encontro realizado, 15 dias antes, em França. Com o final da partida a aproximar-se, do campo não chegava o tão almejado remate certeiro. Das bancadas saía o silêncio sepulcral, típico das desilusões. Então, na sequência de um canto marcado por Valdo e depois de um primeiro desvio de Magnusson, Vata empurrou a bola para o fundo das redes. Sim, ”empurrar” é mesmo o verbo certo, pois, o golo foi, sorrateiramente, marcado de forma irregular. O que interessou?! Nada! Finalmente acendeu-se o “Inferno” e o Benfica, à custa dessa “Mão de Deus” africana, rumou pela 7ª vez na história à final da competição.
Posteriormente a esse glorioso momento, passou a ser difícil pensar no devir da sua carreira com idêntica emoção. Ainda assim, após Estrela da Amadora, Torreense e uma curta passagem pelos malteses do Floriana, Vata decidiu arriscar-se por “paragens mais exóticas”. Ao serviço do Gelora Dewata, voltou a ganhar a corrida para Melhor Marcador do Campeonato. Mesmo com o sucesso a alimentar a aposta asiática, depois de 5 anos a jogar na Indonésia, onde reencontrou Abel Campos, antigo camarada na “Luz” e nos “Palancas Negros”, o avançado acabou por pendurar as chuteiras.
Hoje em dia, depois de ter experimentado o papel de treinador, dedica-se ao associativismo e é, desde Outubro passado, o Presidente da Associação Provincial de Futebol de Praia de Luanda.

183 - JACQUES

Foi no Algarve, mais concretamente no Lusitano de Vila Real de Santo António, que nasceu para o futebol. Sucessivas temporadas com boas prestações fizeram com que fosse, progressivamente, subindo degraus na carreira. Nesse escalar, depois de representar na 1ª divisão alguns clubes de menor monta, como o Farense e o Famalicão, chegou a Braga e ao Sporting local. Na “Cidade dos Arcebispos” confirmou tudo o que dele era esperado. Provou que a sua astúcia e a maneira como, na grande-área, parecia omnipresente, eram suficientes para suprimir uma ou outra falta qualquer. Marcou, principalmente no segundo ano com os “Arsenalistas”, golos que começaram a justificar outro salto, outro voo. Foi isso mesmo que o FC Porto viu nele, alguém capaz de outros horizontes, um praticante com propósitos ganhadores.
Vestido de “azul e branco”, a Jacques coube o ingrato papel de fazer esquecer Fernando Gomes, que, no Verão de 1980, um ano antes da sua chegada, tinha deixado o Estádio das Antas. O começo foi prometedor, com o avançado a sagrar-se o Melhor Marcador do Campeonato Nacional de 1981/82, com 27 remates certeiros. Igualmente, nessa época de estreia conseguiu atingir outros marcos. Chegou pela primeira e única vez à Selecção Nacional Portuguesa e fez, se não o seu jogo mais memorável, pelo menos aquele que nenhum adepto portista consegue esquecer. Os “Dragões” vinham da 1ª mão da Supertaça Cândido de Oliveira com uma derrota por 2-0. A vantagem parecia ser confortável para as “Águias”, o suficiente para que poucos acreditassem numa reviravolta. No entanto, o avançado, conhecido pela perseverança, pela vontade incansável de lutar até aos derradeiros instantes, nunca pensou o mesmo. Com um “hat-trick”, o atacante encaminhou o “caneco” para os escaparates “azuis e brancos” e tornou-se no principal responsável pelo resultado de 4-1 que deu a vitória ao FC Porto na primeira edição oficial – organizada pela Federação Portuguesa de Futebol – da prova.
Com exibições semelhantes à acima descrita, o avançado conquistou o coração dos associados e só começou a perder o estatuto de predilecto quando aquele que viria a ser o “Bibota d'Ouro” decidiu voltar da, não muito proveitosa, aventura asturiana. Com o regresso de Fernando Gomes, depois da passagem pelo Sporting Gijon, Jacques viu o seu protagonismo a desvanecer. Contudo, ainda conservou alguma da importância, ao ponto de, na campanha europeia de 1983/84, os seus golos terem sido cruciais para a chegada do emblema da “Cidade Invicta” à Final da Taça dos Vencedores das Taças, em Basileia.
A saída do FC Porto, já com 30 anos, acabou por marcou o início da fase descendente da sua carreira. O regresso ao Sporting de Braga e a posterior passagem pelo Sporting da Covilhã sublinharam esse facto, com Jacques a não conseguir mostrar o fulgor de outrora, mas a prevalecer na lembrança de todos como um dos bravos do futebol nacional.

182 - NENÉ

Quando, em 1966, o pai de Nené endereçou ao irmão alguns recortes de jornais, onde era possível ler que o jovem atleta tinha sido eleito o Melhor Jogador do Campeonato Moçambicano de juniores, nunca supôs estar a dar o primeiro passo para o aparecimento de uma das grandes lendas do futebol português. Por outro lado, também é fácil imaginar que, provavelmente, para além do normal orgulho em mostrar o feito do filho, essa carta terá tido outro propósito. É que o destinatário de tal correio era Norberto Cavém, antigo jogador e pai de Domiciano Cavém, astro maior do futebol benfiquista. Já página seguinte da história é fácil de adivinhar: o jovem acabou por trocar o Ferroviário da Manga pela “Luz”.
No Benfica terminou a formação e, em 1968, pela mão de Otto Glória, chegou à equipa principal. Apesar de, desde cedo, mostrar uma aptidão excepcional para o jogo, as duas primeiras temporadas entre os seniores, ainda na sombra de outros craques, foram discretas. Contudo, a velocidade e a técnica apontaram-no logo como o sucessor natural de José Augusto. Sem nada ficar a dever ao bicampeão europeu, o jovem extremo começou a talhar o seu próprio caminho. O sucesso foi tal que, em 1972, chegou a ser sondado pelo Real Madrid, cujo convite, sem hesitar, recusou.
Nené continuou a crescer em direcção ao estrelato. Em 1973 deu mais uma prova do seu valor quando, ao juntar-se a nomes como Eusébio ou Cruijff, fez parte da selecção da Europa. Nessa evolução, manteve-se pela banda direita do campo até que Mário Wilson, ao aperceber-se da inteligência com que atacava as bolas, decidiu transformá-lo num ponta-de-lança. Em boa hora o fez, pois a adaptação pensada pelo "Velho Capitão", tirando raras excepções, resultou em bem mais de 20 golos por ano. Foi assim na temporada de 1980/81, em que, para além de marcar um “hat-trick” na final da Taça de Portugal, conquistou o lugar cimeiro na tabela dos Melhores Marcadores do Campeonato Nacional.
Também na Supertaça, Nené soube inscrever o seu nome de forma indelével. Depois de 2 edições “informais”, a prova de 1981/82, já organizada pela Federação Portuguesa de Futebol e sob a égide de Cândido de Oliveira, fez do atacante o primeiro a marcar, “oficialmente”, na competição. Porém, apesar de prolífero, o avançado nunca foi consensual no “Terceiro Anel”. Muitos foram os apupos e as acusações a apontá-lo como pouco lutador –“É verdade que havia uma minoria de adeptos que me assobiava porque eu não sujava os calções, porque eu evitava o choque, porque eu não fazia carrinhos despropositados, porque eu não me esforçava naquelas bolas longas e irremediavelmente perdidas. Com a quantidade de golos que marquei, chego à conclusão que, se calhar, era mais esperto que os outros, não? Alguém marca golos deitado? No chão? Não, é de pé. E eu lá estava sempre em pé, a empurrar a bola para a baliza”*.
Tantos foram os golos que, ainda agora, para juntar às 590 partidas disputadas e que fazem de Nené o jogador com mais jogos pelo Benfica, há os seus 359 remates certeiros e, atrás de Eusébio e José Águas, o 3º lugar nos melhores marcadores da história das “Águias”.

*adenda feita à publicação original, com texto retirado do livro “101 Cromos da Bola” (Lua de Papel), Rui Miguel Tovar, 2012

GOLEADORES, parte II

Depois de muitos pedidos e, também por que temos que concordar que o capítulo ficou muito incompleto, decidimos acrescentar mais uns episódios àquela que é a história dos homens que fazem parte do rol dos melhores marcadores do nosso campeonato. Assim, para mais uma vez exaltarmos aquilo que de mais heróico tem o futebol, o golo, dedicamos este mês de Novembro aos incendiários das nossas almas, os "Goleadores"!

181 - VÍTOR PONTES

Como jogador, Vítor Pontes sofreu da síndrome que só os guarda-redes costumam padecer, a do “eterno suplente”. Os indícios surgiram após completar a formação na União de Leiria e, depois do curto empréstimo ao Vieirense, na volta à “Cidade do Lis”. Durante as épocas seguintes ao regresso, pouco mais alcançou do que a sombra de nomes como Padrão ou Álvaro. Passados 5 anos, a ida para o Vitória Sport Clube só veio agudizar a sua condição. Em Guimarães encontrou-se com o internacional luso, Jesus. De início ainda conseguiu sentar-se no banco. Porém, o que o destino trouxe daí em diante acabou por ser bem pior e com o fim da segunda temporada no Minho, ao não conseguir ser convocado uma única vez, restou-lhe a saída. Seguiram-se outros clubes na 1ª divisão. Porém, tanto no "O Elvas", como no Nacional da Madeira ou ainda no Tirsense, a sua história teimou em repetir-se, acabando por agrilhoar o guardião a à ideia de uma carreira bem recatada.
Como treinador parece estar a delinear uma trajectória igualmente discreta. Após o estágio com José Mourinho e de, pelo "Special One", ter sido avaliado como uma das grandes promessas na função, Vítor Pontes pouco mais tem feito do que acumular desaires. Este ano não foi excepção! Não sei se deram por isso, mas o treinador passou pelo nosso Campeonato! É verdade, o técnico substituiu Pedro Caixinha à 4ª ronda para, após a 6ª jornada, abandonar o comando da União de Leiria!
Agora pensem bem! Quem quer ser honesto, tem que ser coerente na maneira de viver. Como já fiz referência, a imagem de Vítor Pontes no futebol, tem sido a discrição. A prová-lo temos números a dizerem-nos que, nas suas 7 épocas primodivisionárias enquanto atleta, participou em cerca de meia-dúzia de partidas. Tal registo torna óbvio que o antigo futebolista e agora técnico tem aversão ao estrelato!

180 - TULIPA

Tendo em conta aquilo que foi o começo do seu percurso no futebol, muito dificilmente alguém conseguiria delinear um prognóstico tão tortuoso para a sua vida de praticante.
O sucesso que começou por conquistar nas camadas de formação do FC Porto, onde chegou a ser campeão ao lado de Pauleta, depressa pôs o médio na rota das selecções jovens portuguesas. Sob a alçada do Professor Carlos Queirós, Tulipa fez parte do conjunto que, em Lisboa, conseguiu vencer a final de 1991 do Mundial sub-20. Desse modo, o seu destino pareceu estar bem encaminhado e talhado para novas conquistas. Todavia, a verdade é que após os três primeiros anos como sénior, com os “empréstimos” ao Rio Ave, Paços de Ferreira e Salgueiros a aferirem-no como um bom intérprete, o centrocampista não conseguiu regressar às Antas.
Envolvido na transferência de Emerson para o FC Porto, Tulipa acabou por ir parar ao Restelo. Talvez desiludido pelo rumo da carreira, o seu jogo começou a vestir-se em tons de cinzento. Sem lugar no plantel “azul”, os responsáveis do Belenenses decidem cedê-lo, novamente por empréstimo, à equipa sediada no portuense bairro de Paranhos. Já de volta ao emblema da “Cruz de Cristo”, dessa feita com João Alves como treinador, o jogador despontou. Ao mostrar uma boa técnica, facilidade no remate e, principalmente, uma visão de jogo superior, o médio-ofensivo, naquela que foi, provavelmente, a sua melhor época em Portugal, começou a pautar o jogo atacante da equipa.
Embalado pela boa época, durante a qual regressou à selecção “A”, Tulipa viu-se transferido para o Boavista. No entanto, ao invés de dar continuidade ao que tinha feito em Lisboa, as suas prestações voltaram a esmorecer. No ano seguinte, ao engrossar o contingente luso do Salamanca, voltou a claudicar e a revelar-se sem fôlego. Durante o pouco tempo passado em Espanha, para além das críticas à sua contracção, muito foi dito sobre o seu insucesso. Acusado de viver à sombra do prestígio outorgado pela vivência nas camadas jovens do FC Porto, viu-se forçado a regressar ao lado de cá da fronteira.
A partir daí foi mais do mesmo. Ao mudar de clube praticamente todos os anos, terminou a carreira com 11 emblemas diferentes a fazer parte do seu currículo. Iniciou-se, de imediato, como treinador. Nas novas funções, à excepção da experiência com o Trofense de 2008/09, tem passado pelas divisões secundárias. Esta época assumiu a árdua tarefa de conseguir para o Sporting da Covilhã a manutenção. A verdade é que, com o 3º lugar que, actualmente, ocupa na tabela classificativa da Liga Orangina, é bem capaz de alcançar um pouco mais!

179 - MOTA

Ao ensinar, é normal que uma boa parte daquele que veicula, bem mais do que a matéria a partilhar, passe e fique colado nos seus discípulos. Facilmente conseguimos sublinhar esta perspectiva, quando uma dada característica, tal como um elixir, serviu o professor nos mais duros desafios. Nesse sentido, a ilustrar a realidade oferecida por José Mota, não há melhor termo dentro do vasto léxico da língua portuguesa que a palavra “sacrifício”. É assim que recordo o seu jogo enquanto futebolista: muita corrida, muita corrida, para ajudar a disfarçar as limitações de uma técnica não tão apurada.
Como treinador, a todos sob a sua batuta exige aquilo que, como lateral-direito, sempre deu no campo. A imagem que deixou enquanto atleta vê-se bem nas equipas à sua guarda. Alimentados pela abnegação, os planteis de José Mota, mesmo sujeitos às assimetrias financeiras do futebol, conseguem sempre mais. Foi por essa razão que o Paços Ferreira, com o passar das temporadas, alcançou as suas metas e soube renovar os objectivos. Depois do 8 º lugar em 2001/02 e do 6º em 2002/03, o repetir da 6ª posição em 2006/07 deu ao clube uma vaga nas provas europeias. Feitos suficientes para que os adeptos dos “Castores” estejam eternamente gratos pelo seu trabalho. No entanto, ao fim de quase duas décadas dedicadas ao emblema da "Capital do Móvel", o antigo defesa decidiu despedir-se daquela que era sua “casa” desde 1987, ano em que chegou do Aliados do Lordelo e após ter representado as “escolas” do FC Porto.
Numa carreira de treinador que também já teve uma passagem pelo Leixões e, na temporada de 2008/09, conseguiu, pelos de Matosinhos, outro 6º posto na tabela classificativa do escalão maior, José Mota, no ano transacto, assumiu os destinos do Clube de Futebol “Os Belenenses”. Com tal responsabilidade aceitou também a responsabilidade de carregar as esperanças de todos os adeptos “azuis” e, nesse sentido, concordou em encaminhar a colectividade lisboeta à subida de patamar e ao regresso aos palcos da 1ª divisão.

178 - QUIM MACHADO

Apesar de, como sénior, nunca ter chegado a representar um dos ditos “grandes”, nem ter vestido a camisola da selecção “A” de Portugal, Quim Machado foi um dos bons defesas que, durante vários anos, correu a lateral-direita dos relvados do Campeonato Nacional. Das onze, e consecutivas, temporadas no escalão principal do futebol luso, conseguem destacar-se os anos que passou no Sporting de Braga e que ajudaram o atleta a catapultar-se. Por outro lado, de grande importância, não podemos esquecer as jornadas europeias disputadas com a camisola do Vitória de Guimarães. Por fim, há ainda que recordar a sua passagem pelo Campomaiorense e a final da Taça de Portugal disputada em 1998/99 pelo clube alentejano, perdida frente ao Beira-Mar.
Sem ter sido um intérprete “galáctico”, para além de possuir uma capacidade atlética que permitia subir e descer o campo de forma incansável, Quim Machado primou por ser um jogador cujo maior talento era o brio com que encarava todos os desafios. É essa mesma competência que, como treinador, incute nas equipas que comanda. Fê-lo o ano passado ao assumir o Feirense e conseguiu o que muitos acharam impossível para um plantel tão inexperiente. Alcançou a subida e já na Liga Zon Sagres voltou a delinear-se num discurso descomplexado, ao garantir, muito mais do que a mera luta pela manutenção, a permanência no patamar máximo.
Para já, a sua ambição arrancou um empate caseiro, que bem poderia ter tido o gosto da vitória, frente ao FC Porto. Claro que para a meta traçada, falta ainda muito para jogar. Contudo, depois do que já conseguimos ver, é com algum optimismo que continuamos de olhos posto no jovem grupo do Feirense e naquilo que poderão vir a concretizar.

177 - PAULO ALVES

Após terminar a formação no FC Porto e a cumprir, no Gil Vicente, a primeira temporada como sénior, Paulo Alves viu Carlos Queirós nomeá-lo para o lote de atletas que, em 1989, acabou a disputar o Mundial sub-20, organizado na Arábia Saudita. Portugal saiu do referido torneio com o título de campeão. Contudo, ao contrário de alguns dos seus companheiros que aproveitaram a façanha para catapultar a carreira, o jovem avançado, com muitas passagens pela 2ª divisão, permaneceu em “banho-maria” ainda durante alguns anos.
O verdadeiro despontar viveu-o quando representava o Marítimo. No Funchal, o ponta-de-lança, clássico jogador de área e cabeceador nato, conseguiu as merecidas oportunidades. Em primeiro lugar, chegou à selecção “A” e às chamadas para os encontros de qualificação do Euro 96. Depois, resultado das boas prestações tanto na equipa insular, como com a “camisola das quinas”, surgiu a cobiça dos “grandes” de Lisboa. Já na “capital”, o avançado viveu um dos episódios mais caricatos da sua vida futebolística. Tal como veio a tornar-se habitual no “pontificado” de João Vale e Azevedo, Paulo Alves, seguido de Rushfeldt e Luzhny, foi apresentado na “Luz” para, logo de seguida, assinar contrato pelo Sporting.
 Como “Leão”, a época de estreia em Alvalade, durante a qual conseguiu ser um dos melhores marcadores, pareceu servir de bom agoiro. A verdade é que, apesar da boa temporada, Paulo Alves acabou excluído do rol de atletas chamados por António Oliveira para, em Inglaterra, disputar a fase final do Euro 96. Ainda assim, como forma de reconhecimento pelos bons desempenhos, algumas semanas depois, Paulo Alves acabou chamado aos Jogos Olímpicos de Atlanta.
A segunda metade da sua carreira começou com uma decisão incompreensível, por parte de Octávio Machado. Ao ser tido como um sinónimo de dedicação, a surpresa foi grande quando o treinador leonino transformou o jogador num elemento dispensável. A saída do Sporting levou o avançado a passagens pelo West Ham, Bastia, União de Leiria e Gil Vicente. Mesmo sem o fulgor de outrora, essas experiências, principalmente após o regresso a Portugal, mostraram Paulo Alves como um elemento útil em qualquer equipa.
Também no conjunto de Barcelos, após uma curta passagem por um cargo directivo, o antigo futebolista assumiu o papel de treinador. Depois de, no clube minhoto, consequência do “Caso Mateus”, ter vivido a experiência da descida de divisão, já este ano conseguiu orientar os “Galos” até ao regresso ao contexto primodivisionário. Para já, encontra-se a meio da tabela e pela prestação do grupo às suas ordens, prepara-se para um Campeonato Nacional, na pior das hipóteses, tranquilo.

176 - PEDRO EMANUEL

Após os três primeiros anos como sénior em que, de empréstimo em empréstimo, passou por Marco, Ovarense e Penafiel, Pedro Emanuel voltou ao Estádio do Bessa. O ano não podia ser melhor, pois o retorno ao clube onde fez a formação coincidiria com a vitória do Boavista na Taça de Portugal de 1997.
Nos "Axadrezados", nas 6 temporadas a seguir ao seu regresso e durante as quais foi, na maioria dos desafios, titular, a entrega, o destemor e, principalmente, a sua assertividade defensiva, tornaram-no num elemento cada vez mais valioso. Ao ver, no seio do grupo de trabalho, a sua importância crescer, o respeito que ganhou ao passar de cada jogo, fê-lo ser, na derradeira temporada ao serviço das “Panteras”, eleito “capitão”.
Já sob a égide da sua braçadeira, o Boavista ganhou o Campeonato Nacional de 2000/01. Contudo, após outra temporada no Bessa e com o assédio benfiquista a acentuar-se, Pedro Emanuel decidiu assinar contrato com o FC Porto de José Mourinho. Mais uma vez, o “timing” foi oportuno. Os “Dragões”, nessa temporada 2002/03, com a vitória na Taça UEFA, encetou uma série de triunfos internacionais, onde acabaram incluídos as conquistas da Liga dos Campeões de 2003/04 e a Taça Intercontinental da campanha seguinte. Na partida que opôs o campeão europeu ao sul-americano, naquela que foi a edição final da competição, o antigo defesa-central veio a assumir um papel de destaque. Como o último a marcar um dos pontapés no desempate por penaltis, o remate certeiro transformou-o no herói do desafio frente aos colombianos do Once Caldas.
No entanto, na sua carreira nem tudo foram rosas. Duas situações houve, e praticamente juntas, em que a vida foi um pouco madrasta. A primeira prendeu-se com a recusa da FIFA em permitir que representasse a selecção de Angola. Ao ter jogado por Portugal nas camadas jovens e, segundo as exigências da entidade máxima para o futebol, com a nacionalidade do país de nascimento a ser obtida tardiamente, Pedro Emanuel acabou impedido de vestir a camisola das “Palancas Negras” e, por conseguinte, de ser convocado pelo país africano para disputar o Mundial de 2006. Já a segunda situação, bem mais grave, emergiu com a lesão sofrida no aquecimento de um “particular” contra o Manchester City. O rompimento do tendão de Aquiles fê-lo perder toda a época de 2006/07. Ainda assim, Pedro Emanuel recuperou da maleita e ainda a tempo de, pelo FC Porto, envergar o símbolo de “capitão”.
Reconhecida a sua capacidade de liderança, com o fim da carreira de futebolista, transitou de imediato para as funções de treinador. Neste ano estreia-se como técnico-principal de uma equipa da Liga Zon Sagres. Ao comando da Académica de Coimbra conseguiu, para já, ser a sensação da prova, agoirando uma possível disputa pelos "lugares europeus".

175 - RUI BENTO

Na temporada que terminou com a vitória de Portugal do Mundial sub-20, Rui Bento, com apenas 18 anos e vindo da formação do clube, já trabalhava com o plantel principal benfiquista. Com uma época de estreia pelos seniores discreta, a seguinte – 1991/92 – embalou-o para a titularidade. Talvez inspirado pelo título ganho com as cores da jovem selecção lusa, o seu desempenho, a cada partida disputada, começou a solidificar-se. Desafios como o de Highbury Park, no inesquecível 1-3 que daria a qualificação das “Águias” para a fase de grupos da Taça dos Clubes Campeões Europeus, tornaram-no num dos atletas indiscutíveis no eixo da defesa "encarnada" e, com isso, levaram-no à primeira internacionalização "A".
À custa das boas exibições, acabou baptizado por Sven-Göran Eriksson como “o pequeno Baresi”. Curiosamente, a sua baixa estatura – 1,75m – serviu de razão para, já como atleta do Boavista, sofrer um ajuste posicional. Recebido no Bessa em 1992, como parte da transferência de João Vieira Pinto para o Benfica, Rui Bento passou a actuar como médio-defensivo. Nas novas funções transformou-se num jogador de cariz superior. Mesmo sem ser um virtuoso, tornou-se num intérprete que, ao utilizar métodos simples e imensa vontade, passou a dominar a arte da marcação individual, da leitura de jogo e do posicionamento.
É verdade que não era um primor com a bola nos pés. Talvez falhasse um pouco nas transições ofensivas. Ainda assim, não era tosco e a consistência defensiva que dava revelou-se essencial para as cores que, durante a carreira, representou. Nesse sentido, ainda no Bessa, foi peça fulcral na vitória da Taça de Portugal de 1996/97 e, já na temporada de 2000/01, fez parte do plantel “axadrezado” que, pela primeira vez na história do clube, conquistou o Campeonato Nacional.
Já no Verão de 2001 deixou o emblema portuense para rumar de novo a Lisboa e envergar a camisola verde e branca do Sporting. Logo na temporada de entrada em Alvalade, voltou a sagrar-se campeão. Porém, a sua carreira estava a aproximar-se do fim e dois anos após a conquista do Campeonato, já ao serviço do Académico de Viseu, Rui Bento deu por terminada a caminhada de futebolista.
Foi também no emblema da Beira Alta que começou a vida de treinador. Nessas funções, até ao ano passado, apenas contava com passagens por clubes dos escalões secundários. Porém, já nas derradeiras jornadas da época transacta, ao substituir Leonardo Jardim, assumiu o comando técnico do Beira-Mar e, desse modo, conseguiu estrear-se na 1ª divisão. Ao manter-se em Aveiro, a curiosidade passa por saber o que conseguirá fazer neste Campeonato. É que, com a compra do emblema aurinegro por um magnata iraniano, o treinador poderá querer ambicionar a um pouco mais do que a luta pela manutenção.

174 - BRUNO RIBEIRO

Por volta da segunda metade dos anos de 1990, das escolas do Vitória de Setúbal emergiram uma série de jovens que, uns de forma mais concreta que outros, conseguiram singrar no cenário futebolístico português e até além-fronteiras. Ao lado de nomes como Mário Loja, Frechaut, Mamede, Carlos Manuel, Nuno Santos ou Sandro, Bruno Ribeiro fez também parte desse núcleo de jogadores.
Não passou muito tempo até que novos voos começassem a perspectivar-se. Três temporadas após a promoção à equipa principal “sadina”, com 21 anos e sem que, por cá, alguém tivesse, verdadeiramente, reparado nele, recebeu o convite de George Graham para viajar até Inglaterra. Ao serviço do Leeds United, no mesmíssimo ano em que o Boavista transferiu Jimmy Hasselbaink para o emblema sediado em Yorkshire, Bruno Ribeiro deu os primeiros passos na Premier League. A estreia foi auspiciosa, com o médio a mostrar grande raça. Com uma atitude apreciada em terras britânicas, conseguiu, em quase todas as jornadas, um lugar entre os eleitos para o “onze” inicial da equipa. No entanto, o pior estava para vir. Uma lesão no começo da época seguinte à da sua chegada e a contracção do “manager” David O'Leary, afastaram-no da titularidade e daquilo que podia ter sido uma carreira excepcional.
As páginas seguintes da sua vida profissional, no Sheffield United e, depois de voltar a Portugal, no Beira-Mar e no Santa Clara, não trouxeram acrescento maior. As grandes conquistas estavam reservadas para o regresso ao emblema do seu coração. Na cidade natal, ao fazer parte dos melhores anos da história recente do Vitória Futebol Clube, gravou brilhantes páginas na memória pessoal. Numa inolvidável senda de títulos, em 2005 ajudou a levar a Taça de Portugal até Setúbal para, três anos depois, conquistar a primeira edição da Taça da Liga.
No ano passado, com apenas alguns meses de experiência como técnico dos escalões jovens, aceitou o desafio de comandar a luta dos seus antigos companheiros e, com o trabalho desenvolvido nas derradeiras partidas do Campeonato Nacional, salvou-os da despromoção. Esta temporada, embebido pela garra habitual ou, se preferirem, pela paixão tão bem transmitida aos seus pupilos, ocupa, reflexo dos bons resultados, a metade superior da tabela classificativa.