191 - McCARTHY

Depois de uma brilhante participação no Mundial sub-20 de 1997, a juntar aos muitos golos que, desde tenra idade, somou por clubes da Cidade do Cabo, os responsáveis do Ajax viram nele uma aposta segura para, na temporada de 1997/98, atacar a “Eredivise”. Com Benny McCarthy nas suas fileiras, o emblema de Amesterdão recuperou o título. Porém, a falta de constância do avançado e, talvez, alguma impaciência por parte do atleta relativa às escassas chamadas à titularidade, acabaram por forçar a sua mudança para a “La Liga”.
No Celta de Vigo a partir de 1999/00, mesmo ao ser utilizado com bastante frequência, os golos teimaram em aparecer. Com 8 remates certeiros em 31 partidas, os números apresentados não foram suficientes para manter o sul-africano como prioritário no escalonamento da equipa. A confiança depositada no ponta-de-lança diminuiu drasticamente e as épocas seguintes à da sua chegada à Galiza reflectiram isso mesmo. Já numa altura em que poucas vezes era chamado a jogo, a solução encontrada foi o “empréstimo” ao FC Porto. Já sob o comando de José Mourinho, com os “Dragões” à procura de recuperar o estatuto de campeão, a apresentação de McCarthy, numa pequena provocação alusiva a uma derrota (7-0) sofrida pelo Benfica nos Balaídos, revelou o 77 colado na sua camisola. Para compor melhor o ramalhete, a sua estreia na Liga portuguesa de 2001/02 aconteceu, passados uns dias, frente às “Águias” e, com o avançado em destaque, os “Azuis e Brancos” venceram os rivais por 3-2.
 Na “Invicta”, McCarthy reencontrou-se com a baliza. Os golos sucederam-se com o avançar das jornadas e no final da temporada, o rácio de 12 golos em 11 encontros para o Campeonato Nacional, levou os dirigentes portistas a tentar, em definitivo, a sua contratação. No entanto, com o jogador novamente valorizado, as exigências feitas pelo clube galego desalinharam-se com os intuitos de um FC Porto com pouco desafogo financeiro. De regresso ao Celta de Vigo, o ponta-de-lança acabou por falhar o primeiro capítulo da nova senda vitoriosa dos “Dragões” na Europa. Mesmo não tendo conquistado a Taça UEFA, a vontade de voltar a vestir de “azul e branco” não esmoreceu. Com o selar do “matrimónio”, o atacante regressou a Portugal a tempo de conquistar a “Champions” de 2003/04 e, já na época seguinte, a Taça Intercontinental.
Mesmo ao vencer os mais importantes títulos na esfera competitiva dos clubes, McCarthy tinha como sonho de menino jogar na Premier League. Já os “Dragões”, apesar dos especulados pedidos do jogador para sair, só permitiu que tal acontecesse em 2006. A oportunidade para jogar na “Albion”, contava o avançado 29 anos, lá apareceu e o jogador acabou por deixar o emblema portuense com o coração cheio de boas recordações – “Estou triste porque deixo para atrás muitos amigos no FC Porto. Verdadeiros irmãos. Foi no FC Porto que experimentei o sucesso e alguns dos momentos mais felizes. Mas ir para Inglaterra é um sonho”*.
As primeiras épocas em Inglaterra serviram para confirmar que a aposta do Blackburn Rovers não tinha sido em vão. Já as seguintes, mormente as passadas com as cores do West Ham United, onde revelou uma forma física notoriamente negligenciada, foram bem penosas. Com tão baixos desempenhos, o pior castigo chegou com o Mundial de 2010. O excesso de peso e mais algumas polémicas, levaram o avançado a ser preterido na convocatória para o certame disputado no seu país natal.
Com os quilos a mais perdidos, e depois de, no ano passado, gorada a hipótese da transferência para o Sporting – “Estivemos muito próximos de um entendimento, mas a transferência acabou por abortar”** – McCarthy regressou à África do Sul e, hoje em dia, representa o Orlando Pirates.

*retirado do artigo publicado em https://mg.co.za, a 25/07/2006
**retirado do artigo de Susana Valente, publicado em http://relvado.aeiou.pt, a 09/10/2011

190 - FARY

Quando, na temporada de 1996/97, chegou a Montemor-o-Novo juntamente com o guarda-redes Khadim – anos mais tarde, seu parceiro no balneário do Boavista – por certo, Fary Faye não pensou que ali acabava o sonho de jogar na Europa. Não que o Grupo União Sport não seja um clube honrado e até ambicioso. É, com certeza! Mas, sejamos realistas: o avançado senegalês, ao deixar o seu país e o ASC Diaraf, logicamente, tinha em ambição um pouco mais do que disputar a 2ª divisão B de Portugal.
Rapidamente essa realidade ficou demonstrada e as boas prestações na colectividade alentejana cativaram os clubes posicionados nos escalões acima. O salto deu-o passadas duas temporadas, em direcção a Norte, e logo para jogar no primodivisionário Beira-Mar. Abnegado, facilmente conquistou um lugar no coração dos adeptos aveirenses. Está claro, os golos – tantos que foram – ajudaram a estreitar a relação entre o atleta e a massa associativa. No entanto, a maneira esforçada, a vontade que, vezes e vezes sem conta, empurrou o avançado para as balizas adversárias, foi a força que fez dele um dos grandes símbolos do emblema sediado no topo da Beira Litoral.
Desportivamente, a sua atitude positiva recompensou-o. Logo na campanha de 1998/99, ano de estreia com os “Auri-Negros”, Fary fez parte do “onze” inicial que entrou em campo no Estádio Nacional, para a inédita conquista da Taça de Portugal. No ano seguinte, e apesar de militarem na divisão de Honra, veio a estreia nas competições europeias e a eliminatória disputada na Taça UEFA, frente aos neerlandeses do Vitesse. Por fim, aquele momento que premiou toda a sua essência como jogador: os 18 golos marcados no Campeonato Nacional de 2002/03 e o consequente título de Melhor Marcador da prova.
O passo seguinte na carreira levou-o até à cidade do Porto. Como atleta do Boavista, ainda que com boas exibições, o ponta-de-lança afastou-se ligeiramente dos golos. No entanto, a sua postura manteve-se. A seriedade com que trabalhou e o sorriso que sempre conservou levaram-no, com o passar dos anos, a assumir um papel de relevo no seio do plantel “axadrezado”. Tal a sua importância, que, no último ano de “pantera” ao peito, passou a envergar a braçadeira de “capitão”. Porém, o clube começava a mergulhar na crise que, ainda hoje, o mantém numa situação deveras tremida. Fary, já com a barreira dos 30 anos de idade ultrapassada há algum tempo, decidiu voltar a Aveiro e à casa onde, desportivamente, acabou por ter as épocas mais felizes e prolíferas.
Cumpridos 2 anos após o regresso a Aveiro e de mais uma temporada a representar as cores do Desportivo das Aves, Fary, na corrente época de 2011/12 e já com 36 anos, apresentou-se novamente no Estádio do Bessa. Mesmo em fim de carreira, o avançado continua a demonstrar uma atitude inabalável e uma crença enorme num Boavista que já viu melhores dias.

189 - HASSAN

Após vencer várias competições em Marrocos e, também como atleta do WAC Casablanca, ter, por 3 vezes, conquistado o título de Melhor Marcador do Campeonato, Hassan decidiu partir para outras aventuras. A viagem, apesar de não muito longa, levou-o para um contexto desportivo distante daquele a que estava habituado no seu país. Do outro lado do Mar Mediterrâneo, nas Baleares, e a vestir o vermelho do RCD Mallorca, o avançado começou por experimentar o fulgor competitivo da “La Liga”. Contudo, à excepção da chegada à final da Copa del Rey de 1990/91, a qual a sua equipa perderia frente ao Atlético Madrid de Paulo Futre, a aventura espanhola não correu de feição.
Com os “Barralets”, no final da segunda temporada de Hassan em Espanha, a serem relegados para o escalão secundário, um desentendimento com o técnico Lorenzo Ferrer agravou, ainda mais, a situação do atacante. Resolveu, então, tentar a sorte do lado de cá da fronteira. No Farense, a história foi diferente. Integrado num plantel ambicioso, num grupo que tinha orgulho de fazer do Estádio São Luís um dos campos mais difíceis do Campeonato português, o ponta-de-lança passou a fazer parte de um plantel com o hábito de “mordiscar” os lugares com acesso às competições europeias.
Nessas lutas pelos lugares cimeiros da tabela classificativa, Hassan assumiu um papel preponderante. Apontado por alguns como trapalhão ou, se preferirem, como tecnicamente desajeitado, ainda assim o atacante passou a dar muita força às ofensivas do colectivo. Veloz e como uma capacidade excepcional para conseguir desmarcar-se e aparecer isolado frente aos guardiões adversários, os remates certeiros passaram a ser o seu principal “cartão de visita”. Tantos marcou que, ainda hoje, é o maior goleador da história da agremiação algarvia. Nesse sentido, foram também os golos marcados com a camisola dos “Leões de Faro” que levaram o avançado a ser incluído, com as cores da selecção de Marrocos, nas disputas do Mundial de 1994. Já na temporada seguinte à da participação no certame organizado nos Estados Unidos da América, as suas ofensivas, para além de ajudarem o Farense a qualificar-se para as provas da UEFA, permitiram-lhe vencer o prémio de Melhor Marcador do Campeonato Nacional de 1994/95.
Com tantas metas alcançadas, o sonho de progredir na carreira começou a ganhar forma. O Benfica passou a materializar-se como o emblema certo para esse novo passo. Até certo ponto, foi. Foi, pelo menos, durante os primeiros tempos em que jogou pelas “Águias”; foi pelas vitórias que os seus golos conseguiram. Porém, a instabilidade vivida para os lados da “Luz”, começou a cobrir tudo com uma espessa impaciência. Quando uma lesão afastou o atleta dos relvados e agravado o insucesso da equipa, a necessidade de apontar culpados, esticou o dedo na direcção de Hassan.
Dois anos volvidos após a chegada a Lisboa, o ponta-de-lança regressou ao Farense. Depois de assobiado em Lisboa, alvo da ira de adeptos incapazes de entender que o mal do clube “encarnado” estava para além do desempenho dos jogadores, o Algarve voltou a acarinhar o avançado. De novo enleado na paixão pelo Farense, Hassan, com muitos anos ainda pela frente, manteve-se ligado, umbilicalmente, à colectividade e à camisola que mais marcou a sua carreira. Mesmo em tempos difíceis, mesmo quando as dificuldades financeiras empurraram os algarvios para as divisões inferiores, o jogador, sinónimo inequívoco de uma grande e nutrida paixão, recusou-se a abandonar o clube e, por aí, terminou a caminhada enquanto futebolista.

188 - YEKINI

Ao contrário de muitas estrelas africanas que, no futebol, surgem bem novas nos campeonatos europeus, a aventura de Yekini fora do seu continente, começou já o atleta contava com vários anos de tarimba.
Depois de competir na Nigéria e na Costa do Marfim, foi com 27 anos feitos que o avançado, na temporada de 1990/91, fez a estreia pelo Vitória Futebol Clube. Em Setúbal, provou aquilo que dele era dito. Apresentou-se como um jogador fisicamente possante e, no entanto, bem veloz; poderoso no jogo aéreo, apesar da maneira pouco estética de atacar os lances; acima de tudo, mostrou ter um instinto capaz de devastar as melhores defesas.
Os 13 golos marcados nessa época de chegada a Portugal, excelente para quem apenas entrou à 14ª jornada, foram insuficientes para evitar a despromoção da equipa sadina. O regresso do Vitória ao convívio dos “grandes”, aconteceu passadas duas campanhas após a aludida descida. Por essa altura, já o ponta-de-lança tinha conseguido um lugar cativo no coração dos adeptos. Ainda assim, faltavam-lhe atingir mais algumas metas para que, globalmente, fosse exaltado como um dos mais bem cotados da sua posição. Tais distinções não tardaram muito a chegar. Após o título de Melhor Jogador Africano de 1993, o primeiro de sempre para um futebolista nigeriano, seguiu-se a disputa da edição de 1994 da Taça das Nações Africanas. Na referida CAN, para além de ajudar a sua selecção a vencer o torneio, também saiu do certame com o troféu de goleador máximo. Para continuar a época em beleza, o ponta-de-lança, com 21 golos, conquistou o lugar cimeiro da tabela dos Melhores Marcadores do Campeonato Nacional de 1993/94.
Em abono da verdade, o atleta ainda tinha mais para dar à temporada. As marcas atingidas na CAN e nas provas portuguesas serviram de presságio para o que estava a chegar. Com a estreia da Nigéria num Mundial marcada para Junho de 1994, o atacante foi incluído nos eleitos para voar até aos Estados Unidos da América. Com o embate inicial agendado frente à Bulgária, a fortuna de ficar na história do desporto do seu país, mais uma vez, coube a Yekini. Na grande-área adversária, com a bola à sua mercê, não desperdiçou a oportunidade de, naquele que é o mais importante certame no planeta do futebol, ser o primeiro a marcar um golo pelas “Super Eagles”. Depois, foi ver os festejos emocionados e a imagem do ponta-de-lança agarrado às redes contrárias correu as televisões de todo o globo.
Obviamente, com todo o sucesso entretanto alcançado, foi muito difícil para o emblema setubalense conseguir aguentar, nas suas fileiras, o goleador. No Verão de 1994, Yekini deu o passo esperado e transferiu-se para o Olympiakos. Contudo, a sua carreira acabou por não sofrer a progressão por si desejada. Muito pelo contrário, tanto na Grécia, como ao serviço dos espanhóis do Sporting Gijon, fruto de uma notória inadaptação, as suas exibições nunca mais mostraram a força antiga. Yekini, talvez na busca do brilho perdido, ainda voltou ao Vitória. Todavia, a idade começou a sentir-se. Ainda assim, reflexo de um temperamento indomável, continuou a jogar por esse mundo fora. Aos 41 anos, depois de regressar a África, decidiu pôr um ponto final na longa e bonita carreira. Fim consagrado pelos números que, ainda hoje, garantem o avançado como o atleta com a maior quantidade de golos marcados pela principal selecção da Nigéria.

187 - CADETE

Depois de, em 1987/88, subir aos seniores do Sporting, na temporada seguinte, Jorge Cadete viu-se “emprestado” ao Vitória Futebol Clube. O regresso do jovem atleta a Alvalade, por razão das boas exibições na equipa de Setúbal, envolveu-se das melhores expectativas. O avançado depressa mostrou que tinha muito a dar aos “Verde e Branco” e ninguém ficou espantado quando, logo às primeiras jornadas da campanha de 1989/90, assumiu um papel de monta no plantel leonino. Contudo, apesar de mostrar inequívocas qualidades e da sua presença em campo ser regular, os golos teimaram em aparecer. A primeira grande explosão ficou reservada para a época de 1991/92. Finalmente começou a mostrar a assertividade que nele era espectável, mas o mais engraçado é que, os 25 golos alcançados nesse Campeonato – a melhor marca que conseguiu pelos “Leões” – seriam, ante o endiabrado Ricky, insuficientes para vencer a corrida ao lugar cimeiro da tabela dos Melhor Marcadores.
Essa meta dos “goleadores máximos” atingiu-a no ano seguinte. Ironicamente, dessa feita, bastaram-lhe 18 golos para alcançar tal feito. A época seguinte, com a substituição, no comando técnico leonino, de Sir Bobby Robson por Carlos Queiroz, trouxe a Cadete alguns dissabores – “Foi mais um mal-entendido. Eu era o capitão de equipa e dois companheiros meus estavam a discutir. Eu mandei-os calar e Queiroz pensou que eu tinha começado a discussão”*. O equívoco fez com que, aos olhos do treinador, a sua importância no seio da equipa diminuísse. A sua utilização começou a decrescer e a solução encontrada para o problema acabou por ser o “empréstimo” ao Brescia.
Com a passagem pela Serie A, Cadete entrou numa fase mais negativa da carreira. A saída para Itália resultou num falhanço e o regresso a Lisboa não trouxe mais do que novos litígios com o clube. Na Primavera de 1996 deixou de novo Portugal. Rumou a Glasgow e quando tudo pareceu encaminhar-se, surgiu mais um obstáculo. O processo de inscrição pelo Celtic pareceu não ter fim. Especulou-se que o atraso de seis semanas teve como propósito evitar que o avançado participasse na meia-final da Taça da Escócia, frente aos rivais do Rangers. Verdade ou não, o facto é que Jim Farry, Chefe Executivo da Scottish Football Association, na sequência da investigação que deu o erro como grosseiro, foi demitido do cargo.
Caso à parte, a sua estreia aconteceu num desafio contra o Aberdeen. O início foi no banco de suplentes, mas com o avolumar do “placard”, já nos 4-0 para o Celtic, o treinador Tommy Burns decidiu ter chegado a vez do ponta-de-lança. Não foi preciso muito para se mostrar! Bastou responder a uma desmarcação e, ao primeiro toque na bola, com um belo “chapéu” ao guardião contrário, Cadete fez entrar a bola nas redes adversárias. O que se sucedeu foi ainda mais incrível. O público entrou em delírio e tal foi o barulho dos festejos, que os microfones da BBC, durante largos segundos, não conseguiram captar mais nada!
Com tal arranque, os fãs do clube escocês ganharam um novo ídolo e a cada golo seu começaram a entoar hinos inspiradores: “There’s only one Jorge Cadete, / he puts the ball in the netty, / He’s Portuguese and he scores with ease, / walking in Cadete wonderland”. Ora, pelo meio dos cânticos, renasceu o “homem de área”. A rapidez com que voltou a atacar os lances, a facilidade com que passou a movimentar-se no campo, aliado ao seu poder de elevação, ressuscitaram-no como um atacante temível. Já após a participação no Euro 96, com a porta do sucesso de novo escancarada, a maior resposta deu-a na 2ª temporada passada em Glasgow e com 25 remates certeiros conquistou, não só o topo da tabela dos Melhores Marcadores da edição de 1996/97 da Liga escocesa, como o título de maior artilheiro de toda a Grã-Bretanha, na referida campanha.
O que depois aconteceu, por certo, ninguém estava à espera! Ao que parece, por razão das exigências contratuais negadas pelo clube a Cadete, o jogador e os responsáveis directivos do Celtic entraram em “rota de colisão”. Talvez na pior decisão da sua vida futebolística, o avançado exigiu a saída. Com a transferência para o Celta de Vigo e, posteriormente, para o Benfica, a caminhada desportiva do ponta-de-lança entrou em declínio. Em nenhum dos emblemas conseguiu impor-se e depois das passagens pelos ingleses do Bradford City e do Estrela da Amadora, o atleta suspendeu a actividade profissional.
Durante esse interregno acabou por aceitar um convite para participar num “reality show”. Ainda regressou aos campos, ao passar pelos escoceses do Partick Thistle e pelo Pinhalnovense. Nessa derradeira fase da carreira, o destaque acabou mesmo por ser a sua participação, a pedido do amigo e antigo colega Fernando Mendes, nos Distritais de Beja e ao serviço do São Marcos.
Hoje, depois da experiência como treinador na sua escola de formação, orienta pela primeira vez uma equipa de futebol sénior, o Recreio Desportivo do Algueirão, equipa que milita nos “Regionais” da Associação de Futebol de Lisboa.

*retirado da entrevista publicada em www.cmjornal.pt, a 21/03/2009

186 - RICKY

Ainda não tinha atingido a maioridade e já o jovem Richard Owubokiri, nome pelo qual ficou conhecido em várias fases da carreira, espalhava o terror pelas grandes-áreas contrárias. Com a Nigéria espantada com o seu talento, aos 18 anos estreou-se pela equipa nacional. Num trilho ambicioso e em jeito de grandes cavalgadas, o ritmo alucinante da sua evolução levou-o a sagrar-se, enquanto atleta do Sharks FC, o Melhor Marcador do Campeonato. Depois, convocado por um nome bem conhecido do futebol português, o treinador brasileiro Otto Glória, foi vê-lo na Líbia, a participar na edição de 1982 da CAN.
Foi também à custa do técnico “canarinho” que o avançado africano teve a primeira experiência no estrangeiro. Depois de vestir as cores do ACB Lagos, do outro lado do Oceano Atlântico, no América do Rio de Janeiro encontrou alguns obstáculos. Desadaptado a uma realidade nova e tapado por uma linha atacante que não dava grandes oportunidades, foi curta e discreta a “aventura carioca”. Ainda sem deixar o Brasil, tentou a sorte no Vitória, que atravessava uma fase conturbada. Porém, aqui a história foi outra. Logo na primeira partida, no fervoroso “derby” frente ao Bahia, marcou um dos golos da sua equipa e, tal facto, levou-o a entrar no coração dos adeptos.
No emblema nordestino, mostrou ter na velocidade a melhor aliada para a obtenção de golos. Na última temporada ao serviço do Vitória, a de 1985, o, entretanto apelidado, “Gazela Negra”, juntou à vitória no “Estadual”, a conquista do título de Melhor Marcador do Campeonato Baiano. Tão boas prestações aguçaram-lhe o apetite para outros voos e abriram-lhe as portas da Europa. Depois da França, onde representou o Laval e o Metz, chegou a hora de Portugal e do Benfica. De “Águia” ao peito e rebaptizado como Ricky, o atleta viveu momentos em pontos opostos do espectro da felicidade. Se na pré-época teve o azar de fracturar a perna, já a primeira partida pelos “Encarnados” revelou-se memorável. No encontro para a Taça de Portugal, frente ao modesto Riachense, o emblema da “Luz” ganhou por 14-1. Só na lista pessoal do avançado ficaram 6 remates certeiros e, por conta do enorme pedido de autógrafos, o jogador viu-se aflito para sair do Estádio!
Com uma feroz concorrência pelo lugar de ponta-de-lança – Magnusson, Vata, César Brito –, não restou muito mais a Ricky do que, finda a época de 1988/89, aceitar a transferência para o Estrela da Amadora. Na Reboleira, para além dos 28 golos em 2 temporadas, o nigeriano fez parte do conjunto que, em 1990, disputadas a final e a finalíssima, levantou o maior troféu da história do clube, a Taça de Portugal. Apesar do sucesso alcançado na colectividade da “Linha de Sintra”, foi a passagem para o Boavista que catapultou o atacante para um novo patamar. Logo no primeiro ano com os "Axadrezados", o jogador deixou a sua marca e os 30 golos concretizados em 1991/92, incluindo uma “manita” frente ao Estoril Praia, fê-lo vencer a corrida para Melhor Marcador do Campeonato Nacional e a chegar à 2ª posição na corrida pela Bota d’Ouro.
Na Taça de Portugal, ainda na campanha de entrada no Bessa, Ricky, com um golo na final, foi essencial na vitória das “Panteras Negras” na prova. Nesse sentido e com o que já foi relatado, é fácil entender a razão pela qual o jogador, ainda hoje, é tido como uma das grandes “estrelas” boavisteiras. Porém, o seu êxito não ficou alicerçado apenas nas competições internas. Nessa mesma época, o emblema portuense, ao participar na Taça UEFA, eliminou o Inter de Milão. Também foi na dita competição, dois anos passados e frente à Lazio, que o avançado viveu um dos momentos mais caricatos da carreira – “Era a segunda mão dos 16 avos de final da Taça UEFA, e tínhamos perdido 1-0 em Roma. Precisávamos de ganhar. E ele, o major, apareceu no balneário antes do jogo e atirou um saco cheio de dinheiro ali para o meio. Disse-nos: «Isto é vosso se ganharem» Ganhámos 2-0 e eu marquei os dois golos ao Marchegiani”*.
 Por falar em caricato, estranho foi também aquilo que ocorreu na preparação para o Mundial de 1994. Apesar de ter sido chamado durante a qualificação, o avançado, com uma história rocambolesca pelo meio, acabou por falhar a convocatória para a fase final do torneio organizado nos Estados Unidos da América – “O selecionador de então [o holandês Clemens Westerhof] pedia dinheiro aos jogadores. Isto é, quem quisesse jogar, pagava-lhe. Ora eu sou titular da Nigéria porque mereço, trabalho e marco golos, não porque dou um saco de dinheiro a um treinador”*.
Depois de deixar o Bessa, Ricky entrou verdadeiramente na última fase da caminhada enquanto jogador. O regresso ao Brasil e ao Vitória e a posterior passagem pelo Belenenses, precederam a experiência na “Ásia do petróleo”. Mesmo ao entrar na derradeira etapa da carreira, o avançado foi incapaz de deixar a imagem de lutador. Nesse sentido, no Al-Arabi chegou ao lugar cimeiro dos Melhores Marcadores do Qatar. Para terminar, nos sauditas do Al Hilal, tornou-se no artilheiro maior de todo o Médio Oriente.
Ao “pendurar as chuteiras”, o antigo ponta-de-lança mudou-se para o Brasil, onde vive com os filhos e a mulher, uma baiana de gema. Em São Salvador da Bahia criou uma escola de futebol, a “Ricky Soccer Academy”, e é igualmente estimado pela organização de projectos sociais em bairros desfavorecidos.

*adenda feita à publicação original, com texto retirado da entrevista conduzida por Rui Miguel Tovar, publicada em https://observador.pt, a 30/12/2016

185 - RUI ÁGUAS

Não deve ser nada fácil para um jovem que procura singrar no mundo do futebol, carregar aos ombros o apelido Águas. As comparações com o pai, José Águas, tornaram-se inevitáveis – “(...) era olhado como mais um e como o filho de uma grande estrela”* – e a pressão causada por essa associação, logo nos primeiros passos, acabaram por fazê-lo tropeçar.
Depois de não singrar nas camadas jovens benfiquistas e de igual destino nas “escolas” do Sporting, Rui Águas chegou mesmo a abandonar a modalidade para passar a dedicar-se ao voleibol. Em boa hora emergiu o seu arrependimento, mas as portas dos “grandes” estavam fechadas e o regresso acabou por acontecer no modesto Grupo Desportivo de Sesimbra. Como um atleta de indubitável qualidade, depressa foi subindo degraus e, após uma passagem por Alcântara, no Atlético, finalmente, com as cores do Portimonense, fez a sua estreia na divisão maior do Campeonato Nacional.
No Algarve começou a sublinhar as qualidades que fizeram dele uma das maiores estrelas do futebol português. Inteligente, capaz de, como ninguém, entender toda a dinâmica do desporto que praticava, percebeu, talvez pelas desilusões que viveu no início da carreira, que o esforço e a dedicação eram essenciais para o sucesso. O resto ficou por conta, tal como o pai, de um poder de impulsão generoso e um jogo de cabeça positivamente invulgar.
Com os golos a surgirem naturalmente, a estreia na selecção principal aconteceu ainda durante a sua estadia a Sul. Ainda nesse mesmo ano de 1985, caiu sobre ele o interesse de outros emblemas. Depois dos primeiros contactos feitos pelo FC Porto, o ponta-de-lança, rendido à “mística” que nele nunca esmoreceu, decidiu retornar à "Luz". O primeiro ano de “Águia” ao peito, tapado pelo “gigante” Manniche, não começou de feição. Contudo, o espaço e as oportunidades que foi ganhando no seio do plantel, para além de 11 golos, permitiram-lhe frente ao Desportivo de Chaves, o seu primeiro “hat-trick”.
A importância no seio do conjunto “encarnado”, de jornada em jornada, cresceu. Em 1986/87 tornou-se num dos principais pilares da vitória do clube no Campeonato e, na temporada seguinte, com 2 golos na 2ª mão das meias-finais da Taça dos Clubes Campeões Europeus, ajudou a vencer o Steaua Bucareste e abriu as portas da derradeira peleja da prova. No entanto, e apesar de realizado desportivamente, Rui Águas começou a sentir-se injustiçado – “(...) nós no Benfica ganhávamos muito mal, mesmo em termos nacionais, muito mal mesmo”*. As negociações para a renovação do seu contrato, longe de conseguirem consenso no que diz respeito aos valores, ficaram ainda mais afectadas por uma proposta do FC Porto a oferecer “11 vezes mais do que aquilo que ganhava no Benfica”*. Rumou às “Antas”. Porém, a verdade é que a vida na “Invicta” não trouxe ao atleta o conforto desejado. Por um lado, uma certa hostilidade inicial, por parte de alguns colegas de balneário, não ajudou à adaptação. Por outro, constatou nele um enorme arrependimento que, aliado à tristeza de ver o seu pai desiludido, acabaram por, ao cabo de dois anos, fazê-lo regressar – “(...) sentia a mágoa do clube, do meu pai, enfim, houve um conjunto de coisas que me estimularam a voltar”*.
De novo com a camisola do Benfica, a conquista do título de Melhor Marcador do Campeonato Nacional de 1990/91, sublinhou Rui Águas no caminho do sucesso. Mas na época seguinte, na disputa da Taça dos Clubes Campeões Europeus, o avançado viveu uma das piores experiências da vida como futebolista. Em Kiev, na partida contra o Dínamo, o atacante começou, num lance infeliz à meia hora de jogo, por fazer a “assistência” para o golo de Salenko e que ditaria a derrota das “Águias”. Como se não bastasse o castigo de ver a equipa a perder, no final da segunda parte, num momento arrepiante, o ponta-de-lança partiu o pé.
 A referida lesão, no que restou do seu caminho, retirou-lhe parte do fulgor. Já o fim da carreira, reservado para 1995, só aconteceu depois de ajudar o Benfica a vencer o Campeonato Nacional de 1993/94, de passar alguns meses no Estrela da Amadora e após dar uma “perninha” no Serie A italiana, ao serviço da Reggiana.

*retirado de entrevista conduzida por Mary Caiado, publicada em http://www.ionline.pt, a 02/04/2011

184 - VATA

Depois de, na agora República Democrática do Congo, ter representado o FC Ruwenzori, onde chegou a ser o melhor marcador do emblema de Kinshasa, Vata voltou a Angola pela mão do técnico Laurindo que, em 1981, apoiando-se no regresso de jogadores espalhados pelo estrangeiro, preparava uma renovação no plantel do Progresso de Sambizanga.
Não foi preciso muito tempo para que o avançado passasse a ser um dos heróis dos “Gregos de Sambila”. Ao carinho oferecido pelos adeptos do emblema da capital, retribuiu com a sua maneira discreta de actuar e, sem que quase ninguém desse por ele, ofereceu à massa associativa um crescente rol de golos. Sempre no mesmo ritmo, manteve-se por Luanda até que, em 1984, não resistiu a novo apelo da diáspora e, dessa feita, rumou até Portugal.
No seu percurso seguiram-se o Recreio de Águeda e o Varzim. Com um jeito típico, aparentemente trapalhão, como quem entra aos tropeções pela grande-área adentro, foi ganhando cada vez mais fãs. Tantos, ao ponto de o Benfica escolher o ponta-de-lança para suprimir a saída de Rui Águas. É verdade que a confiança que os associados “encarnados” depositaram no novo reforço, inicialmente, não foi a melhor. Porém, o ponta-de-lança saiu-se bem. Logo na época de estreia com as “Águias”, a de 1988/89, a juntar ao Campeonato Nacional, acabou também por vencer a tabela dos Melhores Marcadores e, espantam-se, quase sem ter conseguido ser titular!
Já na segunda temporada com o Benfica, mesmo sem as conquistas da anterior, teve um dos momentos áureos da carreira. O jogo frente ao Marseille, correspondente à 2ª mão da meia-final da Taça dos Clubes Campeões Europeus, apresentou-se com o Estádio da "Luz" à pinha. Ansiosamente, os adeptos aguardaram que um golo benfiquista desfizesse a derrota por 2-1, averbada no encontro realizado, 15 dias antes, em França. Com o final da partida a aproximar-se, do campo não chegava o tão almejado remate certeiro. Das bancadas saía o silêncio sepulcral, típico das desilusões. Então, na sequência de um canto marcado por Valdo e depois de um primeiro desvio de Magnusson, Vata empurrou a bola para o fundo das redes. Sim, ”empurrar” é mesmo o verbo certo, pois, o golo foi, sorrateiramente, marcado de forma irregular. O que interessou?! Nada! Finalmente acendeu-se o “Inferno” e o Benfica, à custa dessa “Mão de Deus” africana, rumou pela 7ª vez na história à final da competição.
Posteriormente a esse glorioso momento, passou a ser difícil pensar no devir da sua carreira com idêntica emoção. Ainda assim, após Estrela da Amadora, Torreense e uma curta passagem pelos malteses do Floriana, Vata decidiu arriscar-se por “paragens mais exóticas”. Ao serviço do Gelora Dewata, voltou a ganhar a corrida para Melhor Marcador do Campeonato. Mesmo com o sucesso a alimentar a aposta asiática, depois de 5 anos a jogar na Indonésia, onde reencontrou Abel Campos, antigo camarada na “Luz” e nos “Palancas Negros”, o avançado acabou por pendurar as chuteiras.
Hoje em dia, depois de ter experimentado o papel de treinador, dedica-se ao associativismo e é, desde Outubro passado, o Presidente da Associação Provincial de Futebol de Praia de Luanda.

183 - JACQUES

Foi no Algarve, mais concretamente no Lusitano de Vila Real de Santo António, que nasceu para o futebol. Sucessivas temporadas com boas prestações fizeram com que fosse, progressivamente, subindo degraus na carreira. Nesse escalar, depois de representar na 1ª divisão alguns clubes de menor monta, como o Farense e o Famalicão, chegou a Braga e ao Sporting local. Na “Cidade dos Arcebispos” confirmou tudo o que dele era esperado. Provou que a sua astúcia e a maneira como, na grande-área, parecia omnipresente, eram suficientes para suprimir uma ou outra falta qualquer. Marcou, principalmente no segundo ano com os “Arsenalistas”, golos que começaram a justificar outro salto, outro voo. Foi isso mesmo que o FC Porto viu nele, alguém capaz de outros horizontes, um praticante com propósitos ganhadores.
Vestido de “azul e branco”, a Jacques coube o ingrato papel de fazer esquecer Fernando Gomes, que, no Verão de 1980, um ano antes da sua chegada, tinha deixado o Estádio das Antas. O começo foi prometedor, com o avançado a sagrar-se o Melhor Marcador do Campeonato Nacional de 1981/82, com 27 remates certeiros. Igualmente, nessa época de estreia conseguiu atingir outros marcos. Chegou pela primeira e única vez à Selecção Nacional Portuguesa e fez, se não o seu jogo mais memorável, pelo menos aquele que nenhum adepto portista consegue esquecer. Os “Dragões” vinham da 1ª mão da Supertaça Cândido de Oliveira com uma derrota por 2-0. A vantagem parecia ser confortável para as “Águias”, o suficiente para que poucos acreditassem numa reviravolta. No entanto, o avançado, conhecido pela perseverança, pela vontade incansável de lutar até aos derradeiros instantes, nunca pensou o mesmo. Com um “hat-trick”, o atacante encaminhou o “caneco” para os escaparates “azuis e brancos” e tornou-se no principal responsável pelo resultado de 4-1 que deu a vitória ao FC Porto na primeira edição oficial – organizada pela Federação Portuguesa de Futebol – da prova.
Com exibições semelhantes à acima descrita, o avançado conquistou o coração dos associados e só começou a perder o estatuto de predilecto quando aquele que viria a ser o “Bibota d'Ouro” decidiu voltar da, não muito proveitosa, aventura asturiana. Com o regresso de Fernando Gomes, depois da passagem pelo Sporting Gijon, Jacques viu o seu protagonismo a desvanecer. Contudo, ainda conservou alguma da importância, ao ponto de, na campanha europeia de 1983/84, os seus golos terem sido cruciais para a chegada do emblema da “Cidade Invicta” à Final da Taça dos Vencedores das Taças, em Basileia.
A saída do FC Porto, já com 30 anos, acabou por marcou o início da fase descendente da sua carreira. O regresso ao Sporting de Braga e a posterior passagem pelo Sporting da Covilhã sublinharam esse facto, com Jacques a não conseguir mostrar o fulgor de outrora, mas a prevalecer na lembrança de todos como um dos bravos do futebol nacional.

182 - NENÉ

Quando, em 1966, o pai de Nené endereçou ao irmão alguns recortes de jornais, onde era possível ler que o jovem atleta tinha sido eleito o Melhor Jogador do Campeonato Moçambicano de juniores, nunca supôs estar a dar o primeiro passo para o aparecimento de uma das grandes lendas do futebol português. Por outro lado, também é fácil imaginar que, provavelmente, para além do normal orgulho em mostrar o feito do filho, essa carta terá tido outro propósito. É que o destinatário de tal correio era Norberto Cavém, antigo jogador e pai de Domiciano Cavém, astro maior do futebol benfiquista. Já página seguinte da história é fácil de adivinhar: o jovem acabou por trocar o Ferroviário da Manga pela “Luz”.
No Benfica terminou a formação e, em 1968, pela mão de Otto Glória, chegou à equipa principal. Apesar de, desde cedo, mostrar uma aptidão excepcional para o jogo, as duas primeiras temporadas entre os seniores, ainda na sombra de outros craques, foram discretas. Contudo, a velocidade e a técnica apontaram-no logo como o sucessor natural de José Augusto. Sem nada ficar a dever ao bicampeão europeu, o jovem extremo começou a talhar o seu próprio caminho. O sucesso foi tal que, em 1972, chegou a ser sondado pelo Real Madrid, cujo convite, sem hesitar, recusou.
Nené continuou a crescer em direcção ao estrelato. Em 1973 deu mais uma prova do seu valor quando, ao juntar-se a nomes como Eusébio ou Cruijff, fez parte da selecção da Europa. Nessa evolução, manteve-se pela banda direita do campo até que Mário Wilson, ao aperceber-se da inteligência com que atacava as bolas, decidiu transformá-lo num ponta-de-lança. Em boa hora o fez, pois a adaptação pensada pelo "Velho Capitão", tirando raras excepções, resultou em bem mais de 20 golos por ano. Foi assim na temporada de 1980/81, em que, para além de marcar um “hat-trick” na final da Taça de Portugal, conquistou o lugar cimeiro na tabela dos Melhores Marcadores do Campeonato Nacional.
Também na Supertaça, Nené soube inscrever o seu nome de forma indelével. Depois de 2 edições “informais”, a prova de 1981/82, já organizada pela Federação Portuguesa de Futebol e sob a égide de Cândido de Oliveira, fez do atacante o primeiro a marcar, “oficialmente”, na competição. Porém, apesar de prolífero, o avançado nunca foi consensual no “Terceiro Anel”. Muitos foram os apupos e as acusações a apontá-lo como pouco lutador –“É verdade que havia uma minoria de adeptos que me assobiava porque eu não sujava os calções, porque eu evitava o choque, porque eu não fazia carrinhos despropositados, porque eu não me esforçava naquelas bolas longas e irremediavelmente perdidas. Com a quantidade de golos que marquei, chego à conclusão que, se calhar, era mais esperto que os outros, não? Alguém marca golos deitado? No chão? Não, é de pé. E eu lá estava sempre em pé, a empurrar a bola para a baliza”*.
Tantos foram os golos que, ainda agora, para juntar às 590 partidas disputadas e que fazem de Nené o jogador com mais jogos pelo Benfica, há os seus 359 remates certeiros e, atrás de Eusébio e José Águas, o 3º lugar nos melhores marcadores da história das “Águias”.

*adenda feita à publicação original, com texto retirado do livro “101 Cromos da Bola” (Lua de Papel), Rui Miguel Tovar, 2012

GOLEADORES, parte II

Depois de muitos pedidos e, também por que temos que concordar que o capítulo ficou muito incompleto, decidimos acrescentar mais uns episódios àquela que é a história dos homens que fazem parte do rol dos melhores marcadores do nosso campeonato. Assim, para mais uma vez exaltarmos aquilo que de mais heróico tem o futebol, o golo, dedicamos este mês de Novembro aos incendiários das nossas almas, os "Goleadores"!