804 - PITICO

Já com alguns anos como profissional e passagem por diversos emblemas, o avançado Manoel Inácio da Silva Filho chega ao Sport. Bem, na verdade o nome que acabei de referir pouco diz respeito a esta história. O que interessa é falar de uma tal alcunha, de um tal Pitico, que, sob o comando do mítico Emerson Leão, haveria de ajudar a pôr o Recife em festa.
Pitico chegaria ao Nordeste brasileiro em 1986. Rapidamente, a sua fama de craque eleva-se ao ponto de ser comparado com “astro” Pelé. Ainda nesse ano, o avançado é “vítima” do primeiro assédio por parte de um clube europeu. O Sporting, que corria atrás de outro atacante, fica obcecado por ele. A dúvida instala-se e, na impossibilidade de contratar os dois atletas, os responsáveis leoninos mantêm-se na opção inicial. Nisto, quem acabaria por partir para Lisboa seria o avançado do Santa Cruz, Marlon Brandão. Pitico fica no Brasil e, como prémio, ajuda o Sport a vencer o “Brasileirão” de 1987. No final dessa temporada, e com a ida de Emerson Leão para São José, o jogador transforma-se na prioridade do treinador. Então, segue com ele para o emblema do estado de São Paulo e volta a ser alvo da cobiça de outra colectividade portuguesa.
A competir ao lado de jogadores como Mané ou Ricardo Narusevicius, Pitico, acompanhado pelos referidos companheiros de balneário, viaja para Portugal. Desta feita, o nome não é tão sonante quanto o do Sporting. Ainda assim, ao avançado pouco interessa o estatuto do clube que o acolhe e, rapidamente, consegue transformar-se num dos ídolos da massa adepta do Farense. No Algarve, quase sempre a disputar o nosso escalão máximo, o rápido atacante torna-se numa referência para o futebol nacional. Curiosamente, seria na única temporada em que, durante essas 6 épocas, estaria preso à 2ª divisão, que o seu nome fica consolidado como um dos craques a jogar em Portugal. Nessa campanha de 1989/90, com o clube afastado dos grandes palcos, é a Taça de Portugal que acabaria por o projectar. Numa final surpreendente, que oporia Estrela da Amadora e os algarvios, a vitória acabaria por sorrir aos da “Linha de Sintra”. No entanto, mais do que a “medalha de prata”, Pitico acabaria por ganhar a admiração de todos os fãs do “desporto rei”.
Esse respeito, como é lógico, consolidar-se-ia nos anos vindouros. As boas campanhas do Farense, onde o trabalho do catalão Paco Fortes merece todo o destaque, fariam com que o trabalho de Pitico granjeasse todo o tipo de louvores. O Sporting, usando o avançado Careca como moeda de troca, mais uma vez tentaria a sua aquisição. Falar-se-ia também de outro dos “grandes”, mas nenhuma dessas transferências acabaria por se concretizar. A fama de Pitico, no entanto, manter-se-ia inalterada. Mesmo depois de ter deixado o Sul do país e ter, já em Aveiro, envergado as cores do Beira-Mar, o avançado continuaria a apresentar números inequívocos e sinónimo da sua importância.
É certo que a passagem pelos “auri-negros” marcaria o fim do seu trajecto na 1ª divisão. Todavia, a sua carreira estava longe – muito longe! – de terminar. Imortal e Olhanense, num regresso ao Algarve, até dariam jus ao fim da sua carreira. Contudo, depois desse “pendurar de chuteiras” em 2001, surge o convite dos alentejanos do São Marcos. 3 anos de interregno não seriam suficientes para que Pitico encarasse esse novo desafio como uma mera brincadeira. O emblema do concelho de Castro Verde, ainda que a disputar apenas os “regionais”, conseguiria atrair grandes nomes da modalidade. Cadete, Fernando Mendes, Mané ou Hajry, todos eles seriam aliciados para o projecto da modesta colectividade. Entre estes craques, Pitico acabaria por ser o que, durante mais tempo, ficaria ligado ao emblema. Só em 2016, e já depois de ter ultrapassado os 50 anos de idade, é que o atleta decidiria, de uma vez por todas, abandonar a competição.

803 - NELO


Produto das escolas “axadrezadas”, Nelo, durante os primeiros anos como profissional, cumpriria o tão habitual périplo de empréstimos. Tendo, durante esse período, sido cedido a Felgueiras e, em por duas ocasiões diferentes, também ao Farense, a experiência ganha durante essas épocas iniciais permitiriam ao atleta conquistar o seu lugar no plantel do Boavista.
O seu regresso em definitivo aconteceria na temporada de 1990/91. À altura com 23 anos, o traquejo que já tinha, acrescido à chamada à selecção s-21, dar-lhe-ia a oportunidade de conseguir afirmar-se como um dos titulares. Preferencialmente pela esquerda, podendo actuar no meio-campo ou mais recuado, Nelo tornar-se-ia num dos homens mais importantes da manobra boavisteira. O seu sucesso seria de tal ordem que, poucos meses cumpridos após a sua reintegração no clube, da principal “equipa das quinas” receberia a primeira internacionalização. Nas Antas, numa partida frente à Holanda, o jogador passaria a fazer parte das contas do apuramento para o Euro 92. Todavia, e tendo participado noutras qualificações, ao atleta faltaria uma presença numa fase final de uma grande competição. Como que a compensar essa “falha”, destaque para a sua presença no Torneio Skydome de 1995, onde, na condição de “capitão”, ergueria o troféu organizado no Canadá.
Regressando ao Boavista, e numa altura em que o emblema sediado na cidade do Porto já estava a ser orientado por Manuel José, Nelo faria parte de um dos períodos áureos da história do clube. Batendo-se em todas as provas pelos lugares cimeiros, as “Panteras”, muito para além de afrontaram a hegemonia dos “3 grandes”, acabariam por vencer algumas competições. Tendo Nelo como um dos pilares dessas conquistas, o Boavista, sob a alçada do referido treinador, haveria de sair vitorioso numa Taça de Portugal (1991/92) e numa Supertaça (1992/93).
Claro está, também as competições europeias, resultado das boas classificações obtidas no Campeonato Nacional, fizeram parte do percurso de Nelo. Temporadas como a de 1993/94, na qual o Boavista conseguiria atingir os quartos-de-final da Taça UEFA, contribuiriam muito para exponenciar o seu valor. Neste sentido, nada teve de estranho o aparecimento de interessados na sua contratação. Quem acabaria por ganhar essa corrida, seria o Benfica. No entanto, a sua ida para a “Luz” acabaria por ser pouco positiva. Tendo a transferência ocorrido no início de uma fase conturbada para o clube lisboeta, a sua passagem pelas “Águias” não mostraria um jogador em posse de todas as suas capacidades. Provavelmente, e como o próprio viria a afirmar, alguns problemas familiares acabariam por prejudicar essa “aventura” – "Artur Jorge queria que continuássemos, mas a minha mulher não se adaptou a Lisboa, as minhas filhas choravam e a minha cabeça já não estava lá"*. No final, sobraria a experiência vivida na “Champions” de 1994/95, onde os “Encarnados” cairiam apenas aos pés do poderoso Milan.
O regresso ao Boavista acabaria por ficar marcado por dois acontecimentos de distinta importância. Primeiro, a vitória na Taça de Portugal de 1996/97. Já o segundo momento, logo a seguir à conquista da “Prova Rainha”, seria o fim da ligação com o clube. Com 30 anos de idade, ainda prosseguiria a sua actividade profissional na 1ª divisão. Contudo, e após esses 2 anos com o Rio Ave, o seu percurso conheceria uma realidade bem diferente da vivida até então e Nelo passaria a disputar os escalões inferiores do nosso futebol.
Tendo, durante essa derradeira fase do seu trajecto como futebolista, representado diversos emblemas, o jogador estenderia a sua carreira ainda durante vários anos. Com os 40 bem à vista, e ao serviço do Tirsense, Nelo decidiria ser a altura certa para “pendurar as chuteiras”. Desde a sua retirada dos relvados, o antigo internacional luso tem tido diversas experiências como treinador. Nessa nova caminhada, destaque para o seu trabalho no Boavista, onde é um dos responsáveis pelo trabalho com os craques das camadas jovens.

*retirado do artigo de Rui Frias, publicado em http://www.dn.pt, a 20/03/2016

802 - WENDER

Não sendo caso isolado, e até aqui no “blog” já foram feitas várias referências a diversos casos, Wender foi um jogador cujo caminho ficaria marcado por uma grande alternância de emblemas. Tendo, no cômputo da carreira, vestido 12 camisolas diferentes, só no Brasil, e mudando de camisola quase todos os anos, o extremo passaria por Sport, Botafogo, Ceará e Democrata.
Na sequência deste périplo inicial, seria já ao serviço do clube de Minas Gerais que o esquerdino receberia um convite vindo do outro lado do oceano. A Naval 1º de Maio, mesmo a disputar a Liga de Honra, acabaria por ser um bom desafio para o atleta e, na temporada de 1999/00, Wender apresenta-se em Portugal. Mesmo com os da Figueira da Foz sem conseguir a tão almejada promoção à 1ª divisão, as suas exibições começariam a despertar a cobiça de emblemas de maior monta. Ora, como um atleta Veloz e combativo, o seu tipo de jogo, directo, conseguiria chamar a atenção dos responsáveis técnicos do Sporting de Braga. Já no Minho, Wender torna-se num dos elementos chave da manobra ofensiva dos “arsenalistas”. Durante essas 3 temporadas, o atacante acabaria por ajudar o clube a regressar aos lugares cimeiros da tabela classificativa. Consequência desses bons resultados, viria também o apuramento para as competições internacionais e, frente aos escoceses do Hearts, faria a estreia na Taça UEFA.
É em 2005/06 que surge uma das melhores oportunidades para a carreira de Wender. Sob a alçada técnica de José Peseiro, a aposta do Sporting na sua contratação levá-lo-ia a mudar-se para Lisboa. Contudo, aquilo que parecia ser um salto muito positivo acabaria por tornar-se numa enorme desilusão. Com os “Leões” a viverem uma temporada bastante conturbada, o extremo também acabaria por ver defraudadas as suas expectativas. Poucas seriam as ocasiões em que o chamariam a jogo e, com a chegada de Paulo Bento para o lugar de treinador, Wender acabaria por ser cedido. Esse empréstimo ao Sporting de Braga, acabaria por resultar numa história curiosa. Tendo regressado ao Minho com a abertura do “Mercado de Inverno” de 2006, o primeiro desafio após a sua mudança para o Norte, seria entre os dois emblemas envolvidos na referida transferência. Wender acabaria escalonado para o “onze” arsenalista e, tendo marcado 2 golos à sua antiga equipa, ajudaria os “Guerreiros” a derrotar os “Leões” por 3-2.
2 anos e meio após regressar ao conjunto bracarense, os jogos disputados no início de 2008/09, permitir-lhe-iam juntar ao seu palmarés a vitória na Taça Intertoto desse ano. Curiosamente, depois de ter começado a época como titular, e antes do “fecho das inscrições”, dá-se a sua transferência para o Belenenses. A verdade é que essa mudança, numa altura em que Wender já contava com 33 anos de idade, como que assinalaria o início da derradeira fase do seu percurso como futebolista profissional.
Já depois da passagem pelo Restelo e de uma aventura pelo Chipre, o regresso a Portugal marca a sua primeira experiência como treinador. Todavia, e já como técnico das camadas de formação bracarenses, Wender aceitaria um convite dos amadores do Pasteleira. É, então, no final da temporada de 2013/14 que, no emblemático bairro portuense, o extremo põe um ponto final na sua carreira. Neste momento (2016/17) é um dos responsáveis pela equipa de s-17 do Sporting de Braga.

801 - CARRAÇA

Após a sua experiência no Vilafranquense, onde terminaria a sua formação e faria também a transição para o patamar sénior, António Carraça prosseguiria a sua carreira no Sacavenense. No emblema do subúrbio lisboeta, o médio conseguiria despertar a atenção de um dos emblemas que, nessa temporada de 1977/78, conseguiria a promoção ao patamar máximo português. Essa mudança para o Famalicão, iria permitir ao jovem atleta zarpar da 3ª divisão e estrear-se entre os “grandes” do nosso futebol.
No Minho, aquilo que poderia ter sido um passo importante na sua progressão, acabaria por ser pouco mais do que uma desilusão. Raramente utilizado, Carraça, no final desse ano, ainda teria que conviver com a despromoção da sua equipa. Continuaria ligado ao emblema famalicense mas, mesmo a disputar a 2ª divisão, a sua condição de 2ª escolha manter-se-ia inalterada. Curiosamente, seria o regresso ao Sacavenense que, na época de 1980/81, permitir-lhe-ia conseguir uma nova oportunidade. Sendo um médio que preferencialmente jogava pelo lado esquerdo, o Vitória de Guimarães, orientado por José Maria Pedroto, veria nele um bom elemento para reforçar o seu plantel. Todavia, e como já tinha acontecido na anterior aventura, as contas dessa nova passagem pela região, mostrariam números bem modestos.
Em 1984, depois de ter representado o Belenenses, a sua afirmação como um jogador primodivisionário parecia estar prestes a acontecer. Contratado pelo Farense, Carraça, finalmente consegue cimentar-se como um jogador titular. Na temporada seguinte, já com as cores do Vitória de Setúbal, o mesmo. O antigo internacional s-18 português mostrava estar preparado para enfrentar esses desafios da alta competição, quando, surpreendentemente, a sua carreira sofre um novo volte-face.
Com a sua ida para o Fafe em 1986, o seu percurso volta a entrar nos trilhos dos escalões secundários. Só que ao contrário de outras ocasiões, o regresso à divisão maior não mais aconteceria. Ora, tendo esta última parte da sua carreira sido preenchida por emblemas modestos, seria já no União de Montemor que outra mudança aconteceria. Tendo chegado ao clube alentejano em 1991, seria aí que, na condição de treinador-jogador, teria a sua primeira experiência como técnico.
Nessas novas funções, tendo também orientado “O Elvas” e Atlético, o seu percurso não seria muito longo. Mantendo-se sempre ligado à modalidade, Carraça acabaria por ter maior destaque como dirigente. Tendo entrado para o Sindicato dos Jogadores Profissionais de Futebol em 1997, e tendo sido eleito para Presidente em 2000, 7 seriam os anos em que manteria um vínculo com a instituição. No que a clubes diz respeito, o seu trabalho no Benfica e no grupo WS Sports (grupo ligado ao Pinhalnovense e Torreense), dar-lhe-ia grande credibilidade como Director Desportivo. Ainda nessas funções, e no âmbito do acordo de cooperação entre as “Águias” e Millonarios, António Carraça, já no decorrer deste ano (2017), mudar-se-ia para a Colômbia.

800 - CAVACO

Mesmo sem nunca ter sido veiculado como um grande jogador, a verdade é que as qualidades de Cavaco, nesses seus primeiros anos de carreira, seriam suficientes para que conseguisse despertar o interesse de um emblema primodivisionário. Ora, tendo sido formado no Almada e tendo vestido, sempre em escalões inferiores, as cores seniores do clube da Margem Sul e do Silves, é a sua passagem pelo Algarve que traz o Estrela da Amadora para o seu caminho. Todavia, aquilo que se esperava como um enorme salto no seu percurso, acabaria por tornar-se numa mão cheia de nada!
Apesar da ligação ao clube da Reboleira, a falta de utilização, ainda nessa temporada de 1993/94, levá-lo-ia a transferir-se para o Casa Pia. Nos “Gansos”, sensivelmente ao fim de 2 épocas, conseguiria um contracto com o Estoril-Praia. Ainda que a disputar a Liga de Honra (2º escalão), esse ano passado com os da Linha de Cascais seria de enorme importância no desenrolar da sua carreira. Numa equipa orientada pelo antigo internacional Carlos Manuel, Cavaco faria dupla no ataque com aquele que viria a tornar-se num dos grandes nomes do futebol português. Com Pauleta como companheiro de acções ofensivas, o seu nome voltaria a figurar como um dos nomes mais apetecidos no panorama nacional. Os golos marcados por ambos acabariam por ser insuficientes para ajudar os “Canarinhos” a regressar aos “grandes palcos”. Contudo, para dois atacantes, esses remates certeiros levá-los-iam à 1ª divisão.
Parecendo estar tudo acertado com o Belenenses, um desentendimento entre os dois emblemas, levaria a que a transferência dos atletas abortasse. Pauleta seguiria então para Salamanca e Cavaco acabaria a jogar em Inglaterra e no Stockport County. No clube da Grande Manchester, o avançado voltaria a mostrar qualidades. Todavia e após uma primeira temporada (1996/97) de grande nível, e durante a qual ajudaria o seu emblema a atingir as meias-finais da Taça da Liga inglesa, uma grave lesão na perna direita deitaria por terra outras oportunidades.
Sem ainda ter tido a chance de jogar no patamar mais alto de Inglaterra, a fractura da tíbia e perónio mantê-lo-iam longe dos relvados por quase um ano. Esse afastamento acabaria, em parte, por ser responsável pelo seu regresso a Portugal. No Boavista, clube que o acolheria, o seu desempenho não agradaria aos responsáveis técnicos e só a mudança para o Algarve voltaria a mostrar Cavaco em boa forma. No Farense, apesar de utilizado com frequência, o atacante seria visto de uma forma peculiar. Passando a ser utilizado mais à direita, posicionando-se a extremo e até como defesa, o atleta começa a ser tido como um jogador polivalente. Sem que tal facto o tenha prejudicado, o que é certo é que o afastaria da zona do terreno onde era mais decisivo. Ainda assim, essas alterações fariam com que o seu nome passasse a ser incluído com maior regularidade na ficha de jogo.
Aquela que foi a sua melhor temporada na 1ª divisão, acabaria por não ter continuidade nas épocas seguintes. Depois de ter sido um dos jogadores mais utilizados durante a campanha de 2001/02, a sua saída do Farense para, na divisão de Honra, passar a envergar a camisola do Felgueiras seria uma grande surpresa. Tendo apenas 30 anos, e sem que a idade tenha tido grande influência nisso, a verdade é que o percurso do atacante não mais figuraria nos planteis primodivisionários. Depois de um ano no Norte do país, o regresso a Sul levá-lo-ia ao Portimonense. Acabaria por ser aí, no Barlavento, que terminaria a sua carreira. Ainda passaria pelas funções de técnico, mas a experiência como adjunto no Olivais e Moscavide não teria continuidade e Cavaco acabaria por deixar o futebol jogado. Nos bastidores da modalidade, ligar-se-ia a uma conhecida marca de equipamentos e, em simultâneo, começaria a desempenhar funções de segurança num centro comercial de Almada.

799 - VUJACIC

Apesar de ter nascido na capital Titograd (actual Podgorica), Budimir Vujacic cresceria em Petrovac na Moru, localidade banhada pelo Mar Adriático. Consequência de tal morada, os primeiros passos do seu percurso futebolístico dá-los-ia nessa antiga vila piscatória. Seria então no OFK Petrovac que o defesa, ainda na metade inicial da década de 80, disputaria as primeiras partidas no patamar sénior.
Curiosamente, as primeiras temporadas da sua carreira caracterizar-se-iam por algumas mudanças de clube. Já depois da estreia e de uma passagem, igualmente curta, pelo Obilic Beograd, a evolução que começava a mostrar dentro de campo levaria a que, da Alemanha, surgisse o interesse na sua contratação. No SC Freiburg, ainda que a disputar as divisões secundárias, o central conseguiria confirmar aquilo que dele já era sabido: Vujacic, alto e possante, fazia do jogo aéreo uma das suas grandes armas.
As suas qualidades levá-lo-iam a afirmar-se como um dos grandes esteios defensivos do emblema germânico. Ainda que longe dos grandes palcos da “Bundesliga”, a verdade é que os seus desempenhos abrir-lhe-iam novas portas. O FK Vojvodina, colectividade que se seguiria na sua carreira, seria a rampa para Vujacic atingir outros patamares. No emblema da cidade de Novi Sad, reflexo de uma excelsa caminhada por parte do clube, o defesa conseguiria as suas primeiras chamadas à principal selecção jugoslava. Praticamente na mesma altura, sagrar-se-ia campeão jugoslavo (1988/89) e esse importante título, juntamente com o estatuto de internacional, fariam dele um alvo apetecido.
A transferência para o Partizan transformá-lo-ia numa das grandes estrelas do futebol jugoslavo. As regulares convocatórias para os jogos da selecção, serviram, ainda mais, para sublinhar essa importância ganha. Nesse sentido, poucos ficariam surpreendidos quando o seu nome foi cogitado para fazer parte do grupo que iria disputar a fase final do Euro 92. No entanto, o agravar do conflito nos Balcãs, faria com que a Jugoslávia fosse afastada do torneio organizado na Suécia.
Já pelo emblema de Belgrado, Vujacic, entretanto promovido a “capitão” de equipa, conseguiria juntar alguns títulos ao seu currículo. É já com a conquista de mais 1 Taça (1991/92) e 1 Campeonato da Jugoslávia (1992/93), que o defesa chega ao Sporting. Contratado por Sousa Cintra e, segundo dizem, à revelia de Bobby Robson, os primeiros tempos em Lisboa seriam difíceis para o atleta. Com o treinador a pôr de parte o jogador, a oportunidade para que pudesse mostrar as suas qualidades só surgiria com o despedimento do inglês e a contratação de Carlos Queiroz.
Foi a partir de Fevereiro de 1994, data da sua primeira partida com a camisola dos “Leões”, que Vujacic começou a fazer parte do “onze” inicial. Mesmo tardia, a verdade é que a estreia permitiria ao defesa assegurar rapidamente um lugar na equipa. Primeiro no centro do sector mais atrasado e, com a chegada de Naybet e Marco Aurélio, a ser encostado à esquerda, o atleta passaria a ser um dos elementos mais relevantes no plantel de Alvalade. A preponderância que ganharia no seio do grupo, seria crucial para a conquista de alguns títulos. Com o Sporting já há muito arredado da vitória no Campeonato, as vitórias na Taça de Portugal de 1994/95 e Supertaça de 1995/96, desafios onde Vujacic entraria como titular, tornar-se-iam de vital importância.
Já depois de iniciada a temporada de 1996/97, a sua ligação aos “Verde e Brancos” chegaria ao fim. Um convite do Vissel Kobe, numa altura em que contava com 31 anos de idade, faria com o atleta decidisse mudar-se para o Japão. No “País do Sol Nascente”, Vujacic, em parte por culpa da lesão que o tinha afectado nos últimos tempos de “Leão” ao peito, decidiria pôr termo ao percurso como futebolista. Anos mais tarde ainda regressaria à modalidade. Desta feita como “olheiro”, e indicado por Carlos Queiroz, o antigo defesa trabalharia para o Manchester United.

798 - LUCAS

Dividido o seu período formativo entre o Ginásio de Alcobaça e a Académica de Coimbra, seria nesse último emblema que Lucas faria a transição para o patamar sénior. Contudo, a falta de experiência competitiva a esse nível, levaria a que os responsáveis pelos “Estudantes” optassem por ceder o atleta a colectividades de escalões inferiores. Já depois dos empréstimos ao Sporting de Pombal (1998/99) e Anadia (1999/00), é então que, para a temporada de 2000/01, é dada ao jovem médio a oportunidade para disputar um lugar no plantel principal da “Briosa”.
Tendo até, no intervalo das duas cedências, jogado algumas partidas pelos conimbricenses, Lucas, já no regresso à “casa mãe”, conseguiria em definitivo assumir um papel preponderante na equipa. Com a Académica a disputar a 2ª divisão, o centrocampista transformar-se-ia num dos esteios do ataque à subida de escalão. Médio aguerrido e igualmente dotado de uma técnica e visão de jogo superiores, o peso que teria no cumprir dos objectivos colectivos, elevá-lo-iam à condição de grande promessa do futebol dos “Estudantes”. Com a promoção conseguida no final da época de 2001/02, esse estatuto confirmar-se-ia e, duas épocas após a sua estreia na 1ª divisão, o jogador dá mais um salto na sua carreira.
É já com uma internacionalização, conseguida pela equipa “B” de Portugal, que Lucas chega ao Estádio do Bessa”. Preparado para esse novo desafio, a maneira inequívoca como haveria de conseguir integrar-se no grupo “axadrezado”, serviria para sublinhar a sua evolução. Num Boavista que, mesmo distante do conjunto campeão, continuava a lutar pelos lugares cimeiros da tabela classificativa, o médio conseguiria conquistar um lugar como titular. A constância que mostraria ao longo dos 3 anos de “Pantera” ao peito, levaria a que, de diferentes paragens, começasse a surgir o interesse de outros emblemas.
Ora, seria do Estrela Vermelha, numa altura em que o sentido das transferências era o oposto, que surge o interesse na sua contratação. Lucas acabaria por aceitar o convite e muda-se para a Sérvia. Todavia, aquilo que era o primeiro desafio no estrangeiro, acabaria por tornar-se numa página negra. Já com a época de 2007/08 a decorrer, novos exames médicos detectariam um problema do foro cardíaco. O pior confirmar-se-ia e depois de, curiosamente, ter feito o seu último jogo oficial frente ao Sporting de Braga, o atleta é forçado a abandonar a carreira profissional.
De volta a Portugal, Lucas não conseguiria manter-se afastado da modalidade que tanto o apaixonava. Em Julho de 2008, juntar-se-ia ao Sindicato dos Jogadores Profissionais de Futebol e, nessa instituição, desempenharia as funções de Delegado da Zona Norte. Também naquilo que era o futebol jogado, o antigo médio não resistiria a um novo convite. Muito para além de jogar pelos “veteranos” do Boavista, o desafio lançado pelo Pasteleira, levá-lo-ia a regressar à competição em 2013/14. Ainda assim, o desejo de “poder voltar a sentir o espírito de grupo e as brincadeiras típicas de uma equipa de futebol”*, não conseguiria fazer esquecer a sua condição médica. Após algumas indisposições, o atleta decidiria abandonar em definitivo o projecto lançado pelo emblema do bairro portuense. Infelizmente, nem esse afastamento evitaria um fim trágico. Na sequência de um súbito agravamento da doença, Lucas viria a falecer em Maio de 2015.

*retirado do artigo Nuno Pedro Fernandes, publicado no Jornal “A Bola”

797 - BUTOROVIC

Foi no RNK Split, emblema da sua cidade natal, que Butorovic deu os primeiros passos como futebolista. Tendo terminado o percurso formativo na referida colectividade, seria também por esse emblema que faria a sua estreia no patamar sénior.
Mesmo não estando a defender um clube de topo, as suas características depressa despertariam a atenção de um dos “grandes” da Croácia. Apesar de não ser muito alto, a sua velocidade e técnica levariam os responsáveis do Hadjuk Split a decidir-se pela sua contratação. A transferência, ocorrida já no rescaldo da independência do país, daria ao jogador a oportunidade de atingir objectivos que, de outra forma, seriam mais difíceis de alcançar.
Tendo sido um elemento preponderante na conquista de 2 Campeonatos da Croácia (1993/94; 1994/95), a disputa da Liga dos Campeões de 1994/95, onde o Hadjuk Split calharia no mesmo grupo do Benfica, acabaria por tornar-se num dos pontos altos da primeira metade da sua carreira. Essa participação, numa altura em que no balneário do clube pontificavam nomes como os de Asanovic, Stimac, Mornar ou Rapaic, serviria de preâmbulo para outras aventuras. Uma delas aconteceria num desafio frente à Ucrânia, e marcaria a sua estreia pela principal selecção do seu país.
Depois dessa primeira internacionalização, a constância das suas exibições levaria a que o FC Porto visse nele um bom elemento para o lado direito da defesa. Com João Pinto já em fim de carreira, o lateral croata acabaria por ser visto com um bom reforço. No entanto, a sua chegada em Dezembro de 1996, acabaria por não surtir o efeito desejado. Com Sérgio Conceição a ser adaptado a essa posição, Butorovic acabaria por não conseguir ganhar um lugar no “onze” inicial.
Mas se os primeiros meses em Portugal não correram de feição, a segunda temporada ao serviço dos “Dragões” não traria nada de novo. Mais uma vez pouco utilizado, o defesa acabaria por chegar ao fim da campanha de 1997/98 como um dos atletas a dispensar. Mesmo tendo feito parte dos anos do “Penta”, com o seu currículo a ser colorido por mais 2 Campeonatos Nacionais, o desempenho demonstrado durante o período em que esteve nas Antas, levaria a que fosse emprestado a outros clubes.
Depois das passagens discretas pelos holandeses do Vitesse e, de volta a Portugal, pelo Farense, Butorovic decidir-se-ia pelo regresso ao seu país natal. Novamente ao serviço do Hadjuk Split, o primeiro ano, com a conquista do Campeonato de 2000/01, até seria proveitoso. Todavia, a perda de preponderância no seio da equipa, levaria que a carreira do lateral direito se precipitasse para o fim. Com 32 anos de idade, e três após voltar à Croácia, o atleta decidiria ser a altura certa para pôr um ponto final no seu percurso como profissional. Com o “términus” da temporada de 2002/03, o defesa acabaria por “pendurar as chuteiras”.

796 - AFONSO MARTINS

Apesar de ter nascido na Póvoa do Varzim, a ida dos seus pais para o estrangeiro fez com que aí começasse a dar alguns pontapés na bola. No país que acabaria por acolher a sua família, Afonso Martins dá também os primeiros passos como futebolista. No Nancy terminaria o seu percurso formativo e, em 1990, sobe aos patamares seniores. Durante diversos anos, alternaria entre a categoria principal e a equipa “B”. Ainda assim, e mesmo com o emblema gaulês a ser despromovido à 2ª divisão, os bons desempenhos do médio levariam a que os “scouts” da Federação reparassem no seu trabalho. Ainda a residir em França, seria chamado às selecções jovens lusas e começaria a ser cobiçado pelos maiores emblemas de Portugal.
Quem acabaria por apostar na sua contratação, seria o Sporting. À altura orientado por Carlos Queiroz, o emblema de Alvalade veria no esquerdino uma boa aposta para reforçar o seu plantel. Com um técnica apurada, uma visão de jogo bem acima da média e um bom remate, Afonso Martins, em meados da década de 90, era visto como uma das grandes promessas do nosso futebol. No final da primeira temporada em Lisboa, a convocatória para os Jogos Olímpicos de 1996, e o 4º posto alcançado por Portugal, parecia confirmar todas as esperanças nele depositadas. O pior é que, e mesmo conseguindo jogar com bastante regularidade, os níveis performativos do atleta eram insuficientes para agarrar a titularidade.
Incapaz de dar esse salto evolutivo, a temporada de 1998/99 empurraria o seu nome para a lista de dispensáveis. Pouco agradado com o cenário apresentado pelos responsáveis “leoninos”, o médio rejeitaria todas as soluções que não passassem pela sua permanência em Alvalade. Essa recusa em sair ou, pelo menos, em ser emprestado a outro clube, levaria a que o clube retaliasse. Tendo sido posto a treinar à parte, só passado cerca de ano e meio após o início dessa contenda, é que Afonso Martins voltaria a ser integrado no plantel “verde e branco”.
Com a chegada de Augusto Inácio aos comandos do Sporting, o atleta acabaria por voltar a fazer parte dos planos da equipa. Em boa hora tal aconteceria, pois, logo nessa época de 1999/00, e interrompendo um jejum de 18 anos, os “Leões” conseguiriam sagrar-se campeões nacionais. Para além desse título, nos anos em que passaria de “verde e branco”, Afonso Martins conseguiria adicionar ao seu currículo mais 2 troféus (Supertaça 1995/96; Taça de Portugal de 2001/02). Ainda assim, nada seria capaz de disfarçar o afastamento a que o jogador estava a ser, constantemente, sujeito. Mesmo vetado a ser uma segunda (ou terceira) escolha, só em 2002 é que a sua ligação ao clube conheceria o seu fim.
A ida para o Moreirense, acabaria por mostrar um atleta em pleno uso das suas capacidades futebolísticas. Tendo, nessa época de 2002/03, desempenhado muito bem o seu papel, ninguém ficou admirado quando, passada uma temporada após a mudança para o Minho, o Vitória de Guimarães anunciou a sua contratação. A verdade é que a transferência para o clube da “Cidade Berço”, no qual voltaria a encontrar-se com Inácio, revelá-lo-ia a um nível mediano e incapaz de conseguir afirmar-se como um atleta decisivo.
O seu regresso ao Moreirense em 2004/05, marcaria o começo da derradeira etapa como profissional. Depois dessa última temporada no escalão máximo do nosso futebol, e com alguns interregnos pelo meio, Afonso Martins ainda voltaria a aparecer nos “campos da bola”. Ao serviço de clubes de menor nomeada, como Lixa, Trandeiras ou Pasteleira, o internacional português terminaria o seu percurso como atleta. Manter-se-ia, no entanto, ligado à modalidade e, no emblema do popular bairro portuense, acabaria por dar os primeiros passos como treinador.

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