875 - IZMAILOV

Começar a carreira sénior como uma das maiores esperanças de um clube, nunca é tarefa fácil de assumir. Contudo, Izmailov nunca pareceu intimidar-se com tal estatuto e, durante as primeiras temporadas, foi para o Lokomotiv um verdadeiro tesouro. Apesar disso, e da qualidade patente no seu jogo, aquilo que haveria de assombrar o seu percurso profissional cedo começaria a manifestar-se. As lesões, uma quase constante na sua carreira, afectariam a sua evolução e toldariam as espectativas criadas à sua volta.
Veloz e com uma boa técnica, Izmailov rapidamente assumiria um papel preponderante no escalonamento da equipa moscovita. Como um elemento importante do “onze inicial”, o médio-direito contribuiria para a vitória do Lokomotiv nos Campeonatos de 2002 e 2004. Também por essa altura, já o seu nome era habitual nas convocatórias da selecção nacional. Após a estreia em Agosto de 2001, isto logo no início da 2ª época como profissional, em 2002 o atleta seria chamado ao Mundial. Depois de participar no torneio organizado entre o Japão e a Coreia do Sul, o jogador também marcaria presença em Portugal e no Euro 2004.
Numa altura em que as lesões já tinham arredado Izmailov da ribalta, o Sporting decide apostar na sua contratação. O russo, tentando relançar a sua carreira, viaja para Lisboa no Verão de 2007. Depois dessa primeira campanha, em que jogou pelos “Leões” por empréstimo do Lokomotiv, o seu passe seria comprado em definitivo pelo emblema português. Apesar do seu passado médico, as boas prestações do médio davam razão ao investimento feito e os anos seguintes sublinhariam essa certeza. Todavia, o médio regressaria ao calvário das lesões. A partir de 2009/10, consequência das mazelas sofridas, o jogador perde imenso espaço na equipa. Essa falta de presenças em campo, levaria o clube “alfacinha” a aceitar negociar a sua transferência. Em Janeiro de 2013, com o defesa Miguel Lopes a fazer o caminho inverso, Izmailov chega à cidade do Porto e passa a vestir de “Azul e Branco”.
A sua permanência no Estádio do Dragão pouco mais traria do que uma pequena curiosidade. No FC Porto, muito mais do que ser um atleta preponderante, o jogador decidiria mudar o seu nome de Izmailov para Izmaylov! Para piorar a sua situação, já muito afectada por uma forma física bastante debilitada, os problemas familiares fariam com que o jogador pedisse ao clube para o dispensar dos trabalhos da equipa. O afastamento, que duraria vários meses, acabaria na sua cedência aos azeris do Qabala e, mais tarde, na sua passagem pelo FC Krasnodar.
O regresso à Rússia não devolveria o médio aos bons momentos. Aliás, os problemas pessoais do jogador continuariam a afectar a sua carreira. A doença grave do filho levaria Izmailov a deixar o futebol por uma temporada. Depois, e de volta aos campos em 2016, viria a rescisão por mútuo acordo com o Krasnodar. Tentando estar mais perto da família, é então que decide aceitar o convite do recém-criado Ararat Moscovo. No entanto, a sua vontade de continuar no futebol duraria apenas algumas semanas. Em Setembro de 2017 é anunciado o seu afastamento do clube.

874 - KARYAKA

Sendo um adepto do FC Dnipro, a melhor maneira para Karyaka começar o seu percurso no futebol teria que ser, obviamente, nas escolas do emblema ucraniano. Assim foi! No entanto, e apesar dessa alegria, no último ano da sua “formação” o médio passaria a representar o Metalurh Zaporizhya. Aliás, seria nesse mesmo clube que o jovem atleta faria a transição para o patamar sénior.
Curiosamente, o jogador encetaria a participação na liga ucraniana frente ao seu primeiro clube. À parte desse pormenor, as suas características fariam com que, desde muito cedo, outros clubes começassem a demonstrar algum interesse na sua evolução. Observado por emblemas de outra monta, Karyaka, 3 temporadas após a sua estreia, acabaria por mudar-se para o CSKA de Kiev. No clube da capital a partir de 1998, a transferência permitir-lhe-ia participar nas provas da UEFA. Contudo, a suposta melhoria na carreira revelar-se-ia um passo atrás e após uma época de 1999 bem discreta, o médio-ofensivo, mais uma vez, decide mudar de rumo.
Dessa feita, a mudança traria resultados bem positivos. Tendo passado a vestir as cores do Krylya Sovetov, a sua carreira iria enriquecer muito. Na segunda temporada ao serviço do emblema de Samara, Karyaka consegue a primeira internacionalização. Apesar de ser natural da Ucrânia, o jogador optaria por vestir as cores da equipa nacional russa. A partir de Agosto de 2001,o seu nome passa a ser habitual na lista de convocados. A presença nos desafios da selecção promovê-lo-iam além-fronteiras e, claro está, essa projecção ficaria ainda mais patente com a sua participação no Euro 2004.
Um ano após a presença em Portugal, Kayaka recebe um convite de um clube estrangeiro. Essa proposta chegaria, exactamente, do país que tinha organizado o Campeonato Europeu. Sendo um jogador que tanto poderia actuar na ala esquerda ou a “playmaker”, a sua técnica, capacidade de passe e visão de jogo faziam dele um bom reforço para qualquer clube. Nesse sentido, a sua chegada ao Benfica viria carregada de espectativas. Todavia, essa esperança acabaria por, sem grande explicação, sair gorada. Numa altura em que ainda não tinha conseguido conquistar o seu espaço na equipa “encarnada”, a entrevista saída num jornal russo levaria a que a sua situação piorasse ainda mais. As declarações publicadas, nas quais o jogador questionava as opções de Ronald Koeman, fariam com que o médio fosse suspenso. Na sequência da polémica, o atleta negaria tais afirmações e acabaria por levar o periódico a tribunal.
É já depois de a justiça ter dado razão ao jogador, que Fernando Santos substitui o técnico holandês no comando das “Águias”. Apesar da mudança, e de um começo de temporada auspicioso, a vontade do treinador português em reduzir o plantel, faria com que Karyaka aparecesse na lista dos possíveis elementos a transferir. É então que surge o interesse de alguns emblemas russos. Apesar de mostrar pouco vontade em mudar-se, em Janeiro de 2007, e com o Dínamo de Moscovo na corrida, o atleta aceita o convite do Saturn. Primeiro por empréstimo dos lisboetas e, finalmente, a título definitivo, a transferência relançaria a sua carreira. Ainda assim, e tendo recuperado algum do protagonismo de anos anteriores, o esquerdino jamais seria chamado à selecção russa.
O resto da carreira, sempre no escalão principal do seu país, seria consumido entre uma curta passagem pelo Dínamo de Moscovo e algumas temporadas no Volga Nizhi Novgorod. Depois de ter “pendurado as chuteiras” em 2014, pouco tempo deixaria passar até encontrar um novo desígnio na modalidade. Tendo aceitado o desafio do FC Amkar Perm, Karyaka, desde 2015 tem desempenhado as funções de treinador-adjunto.

873 - FAIZULIN


Surgiria na primeira equipa do CSKA de Moscovo em 1991 e, tendo crescido de forma exponencial, conseguiria tornar-se na estrela do conjunto russo. Para tal, como é lógico, muito contribuiriam as suas prestações no campeonato. Contudo, também é inegável que a noite que mudaria a sua carreira aconteceria na disputa das provas da UEFA.
É em Camp Nou que, em Novembro de 1992, o CSKA chega para discutir a 2ª mão da 2ª ronda de qualificação para a fase de grupos da “Champions”. Com o 1-1 da 1ª volta, poucos foram os que tiveram o atrevimento de apostar na passagem da formação moscovita. Ainda assim, o conjunto de Leste vinha apostado em contrariar todas probabilidades. A sua grande arma acabaria por ser um jovem atacante que, durante toda a partida, conseguiria surpreender o mundo do futebol. Faizulin, como o motor ofensivo, conseguiria alimentar a dinâmica da equipa. Mesmo sem concretizar qualquer golo, a sua exibição empurraria os colegas para a baliza dos “blaugrana” e, com duas assistências, ajudaria os russos a vencer por 3-2.
A partir desse jogo, muitos clubes começaram a acompanhar a evolução do jovem atleta. Mantendo-se como um dos elementos mais preponderantes do CSKA de Moscovo, a sua cotação continuaria a subir. Para essa ascensão muito contribuiria a sua chamada à principal selecção russa em 1993 ou, logo no ano seguinte, a participação no Euro S-21. Com o seu valor a crescer cada vez mais, quem arriscaria a contratação do avançado seria o Racing de Santander. É então que, em 1995/96, Faizulin chega à região da Cantábria. Todavia, a mudança para o Norte de Espanha tornar-se-ia numa desilusão. Apesar do rótulo de craque, a sua adaptação à “La Liga” seria bastante difícil. Mesmo sendo um jogador com uma técnica acima da média, com uma visão de jogo soberba e uma mobilidade tal que tornava penosa a sua marcação, o atleta não conseguiria conquistar um lugar na nova equipa.
Duas temporadas após a sua chegada a Espanha, Faizulin deixa o Racing de Santander. Começa então um périplo que, com o avançar dos anos, faria esquecer o brilhantismo dos seus primeiros tempos como profissional. Villarreal, na 2ª liga espanhola, Alverca e Farense no principal escalão português, não seriam mais do que discretas tentativas para tentar relançar a sua carreira. Após mais esses fracassos, o percurso do russo ensombrar-se-ia ainda mais. Turquia, os regressos à Rússia e um final de carreira passado em modestos emblemas espanhóis, dariam corpo a uma caminhada que ficaria marcada por alguma decepção e frustração por algo desperdiçado.
Já após ter “pendurado as chuteiras” em 2007, Faizulin começaria a trabalhar na sua carreira de treinador e de dirigente. Nessas funções, o antigo internacional russo já conta com passagens pela equipa técnica do Rubin Kazan, ou como director das “escolas” do Lokomotiv de Moscovo e dos arménios do Banants.

872 - YURAN

Apesar de ter começado o percurso sénior ao serviço do Zorya Voroshlovgrado, seria a mudança para um dos históricos da antiga União Soviética que iria pô-lo na ribalta do futebol europeu. Mesmo tendo começado pelas divisões secundárias, as boas exibições do avançado iriam despertar a curiosidade do Dínamo de Kiev. A transferência aconteceria em 1988 e, a partir desse momento, a sua carreira mudaria.
Numa equipa recheada de estrelas e que, só no sector ofensivo, contava com Blokhin, Protasov ou Belanov, é fácil entender que a sua afirmação não foi nada fácil. Contudo, as características de Yuran seriam suficientes para que, no meio de tamanha concorrência, tivesse a confiança do mítico Valeriy Lobanovskyi. Sendo um avançado fisicamente possante, lutador e com uma boa pontaria, aos poucos iria conquistar o seu espaço. Já em 1990, talvez a sua melhor temporada no tempo da URSS, o ponta-de-lança conseguiria o destaque que há muito perseguia. Vence o Campeonato e a Taça, conquista o Europeu S-21, consegue a 1ª internacionalização com a principal selecção soviética e, em jeito de consagração, é eleito o Jogador Ucraniano do Ano.
Com o seu crescimento, dos países ocidentais começariam a surgir interessados no seu concurso. No Verão de 1991, o avançado consegue um acordo com um novo emblema. A sua chegada ao Benfica é acompanhada pela do seu companheiro de selecção, Kulkov. Aliás, para o bem e para o mal, os dois atletas fariam uma dupla inseparável. Nas “Águias” fariam parte das campanhas que levariam à vitória na Taça de Portugal de 1992/93 e na conquista do Campeonato Nacional da temporada seguinte. Por outro lado, a sua vida extra-futebol também seria alimento para os mais variados periódicos. Pior do que isso, é que esses excessos, como relembraria o técnico Toni, afectaria o bom funcionamento do plantel – “O problema, fora de campo, eram as noitadas. Aliás, nem eram as noitadas, mas o que eles faziam nessas noitadas. Lembro-me do médico ter de ir a Santo António de Cavaleiros, onde eles moravam, buscar o Iuran. 'Tenho febre', dizia ele. Está bem, está bem. 'Se tens febre o doutor vai aí ver-te!' Sabia muito aquele. Há pouco tempo, ele reconheceu que, como treinador, nunca aturaria um jogador como ele. Pudera!”*.
É após ter participado no Mundial de 1994, ele que também já tinha disputado o Euro 92, que recebe a notícia da sua dispensa. Com a troca de Toni por Artur Jorge no comando dos “Encarnados”, Yuran, tal como Kulkov, vê-se na lista de jogadores a libertar. Sem contrato, o avançado aceita o convite do FC Porto e muda-se para as Antas. Todavia, nem a mudança mudaria a atitude do jogador. Tal como na sua passagem por Lisboa, o jogador alimentar-se-ia de excessos e acabaria envolvido num acidente de viação mortal. Apesar dos comportamentos impróprios para um atleta de alta-competição, desportivamente o atacante manteria a sua importância e contribuiria para a vitória no Campeonato de 1994/95.
A passagem pela “Invicta” seria curta. Prejudicado pelo comportamento fora das “4 linhas”, o atleta, mais uma vez acompanhado por Kulkov, seria transferido um ano após a sua chegada. Daí em diante, e até “pendurar as chuteiras”, o seu percurso tornar-se-ia um pouco errante. Tendo, em primeiro lugar, voltado ao seu país, as mudanças de clube tornar-se-iam (quase) uma constante. Spartak de Moscovo (Rússia), Millwall (Inglaterra), Fortuna Düsseldorf e Bochum (Alemanha) antecederiam a sua passagem pelo Sturm Graz (Áustria) e o fim da sua carreira como futebolista.
Um par de anos após ter deixado os relvados, Yuran começaria a dedicar-se- às tarefas de treinador. Nessas funções, assumindo-se como técnico principal, conta já com experiências em diferentes clubes, com especial apetência para os emblemas do antigo bloco soviético. Como curiosidade, sublinhamos a sua passagem pelo Shinnik onde treinaria os portugueses Bruno Basto (ex-Benfica) e Ricardo Silva (ex-FC Porto).

*retirado do artigo de Pedro Candeias, http://expresso.sapo.pt/, publicado a 15/03/2014

871 - PROKOPENKO

Tendo iniciado o percurso sénior no Tom Tomsk, a sua presença nos escalões secundários da antiga União Soviética seria suficiente para que um dos emblemas históricos do país equacionasse a sua contratação. Já no Torpedo de Moscovo, ainda que na sombra de atletas com mais experiência, o avançado começaria a ganhar o seu espaço. Numa equipa conhecida também por lançar jovens, mas talentosos, atletas, Prokopenko passaria a disputar os lugares cimeiros da 1ª divisão.
Na campanha de 1993, para além da presença da equipa moscovita nas competições europeias, o avançado viveria um dos melhores momentos da sua carreira. A Taça da Rússia, numa final ganha ao CSKA de Moscovo, passaria a fazer parte do seu currículo. Apesar de no derradeiro jogo da competição não ter conseguido concretizar qualquer golo, a verdade é que o ponta-de-lança, eleito pelo técnico Yuri Mironov, faria parte do “onze” inicial. Como demonstra essa escolha, Prokopenko era tido como um jogador relevante para o plantel. Tal como nessa temporada, também nas épocas seguintes, a importância do jogador manter-se-ia. Por isso mesmo, terá sido com algum espanto que, alguns anos após a referida vitória, os adeptos receberiam a notícia da sua mudança para o Chernomorets Novorossiysk.
É depois de um ano passado no novo emblema que a sua carreira toma novo rumo. Indicado pelo treinador espanhol Fernando Castro Santos, o atacante é contratado pelo Sporting de Braga. Contudo, e tido com um dos principais reforços dos minhotos para 1997/98, a adaptação de Prokopenko ao Campeonato português não seria a mais fácil. Com exibições intermitentes, o jogador só por raras ocasiões é que consegue chegar à equipa inicial. Na época seguinte, e para colmatar a falta de presenças em campo, a solução encontrada passaria pelo empréstimo do atleta a outro clube. Já no Santa Clara, ainda que a disputar a divisão de Honra, o russo volta às exibições de outrora. Por essa razão, e com a promoção assegurada, novo acordo é conseguido e a ligação do atacante com os açorianos estender-se-ia por mais uma temporada.
A 2ª época passada em Ponta Delgada, haveria de pôr o atacante numa situação bastante complicada. Devido a um desacordo entre o Santa Clara e o Sporting de Braga, sobre quem deveria pagar os salários ao jogador, Prokopenko ficaria sem receber durante toda a temporada de 1999/00. Sem que as duas partes chegassem a um acordo, é o empresário do futebolista que decide avançar com uma acção judicial contra a colectividade sediada no Arquipélago dos Açores. Depois do litígio, o avançado deixaria os insulares para, dessa feita, ingressar no Varzim. Tal como anteriormente, o atleta apanharia o emblema na 2ª divisão e, mais uma vez, seria peça importante no regresso do clube ao escalão máximo do futebol português.
Depois de 2001/02 ter acompanhado os poveiros em mais uma aventura primodivisionária, a carreira de Prokopenko entraria numa fase mais discreta. Ainda em Portugal, numa curta passagem pelo Estrela da Amadora, e no regresso à Russia, o atleta passaria a disputar as divisões secundárias. Luch Vladivostok, Fakel Voronezh e FC Sportacademclub, numa caminhada que terminaria em 2008, seriam os emblemas que completariam o seu currículo como futebolista.

870 - OVCHINNIKOV

Apesar de ter terminado a formação no Dínamo de Moscovo e de, ainda no clube, ter representado a equipa “B”, seria noutro emblema da capital que Ovchinnikov chegaria à ribalta do futebol russo. Após ter passado uma temporada no Dínamo Sukhumi (actual Geórgia), é em 1991 que o guarda-redes chega a acordo com o Lokomotiv. Nos “Ferroviários”, às muitas oportunidades conseguidas logo durante a época de estreia, seguir-se-ia a titularidade. Sendo um atleta com um excelente porte físico, seria na agilidade que o guardião mostraria a maior habilidade. Essa qualidade levá-lo-ia a conseguir, durante as campanhas seguintes, um lugar de destaque no conjunto moscovita. Depois viriam os títulos colectivos, os prémios de “Guarda-Redes Russo do Ano” em 1994 e 1995, a selecção e a chamada ao Euro 96.
Em 1997 Ovchinnikov mudar-se-ia para o Benfica. Apesar do estatuto de internacional e das boas qualidades, a verdade é que o russo não conseguiria impor-se no emblema da “Luz”. Tendo Michel Preud’Homme como principal oponente, a conquista de um lugar a titular acabara por ficar comprometida. Com o fim da carreira do belga, ainda chegou a pensar-se que seria para si o lugar à baliza. Contudo, a chegada de Jupp Heynckes ao comando técnico das “Águias” mostraria exactamente o contrário e a saída do atleta acabaria por ser negociada.
Com as notícias de alguns clubes espanhóis interessados na sua aquisição, seria a empresa de Paulo Barbosa, o seu empresário à altura, que acabaria por adquirir o “passe” do jogador. Já com uma futura transferência em vista, Ovchinnikov seria colocado no Alverca, na época de 1999/00. No ano seguinte, e depois de uma temporada bastante positiva nos ribatejanos, o guarda-redes mudar-se-ia para o FC Porto. Nas Antas, sob a alçada de Fernando Santos, o russo consegueria manter o nível exibicional demonstrado na campanha anterior. É então que, durante esse primeiro ano na “Invicta”, rebenta uma polémica referente ainda à sua passagem pelos “Encarnados”. Com o clube lisboeta a reclamar a falta de pagamento relacionada com a sua saída, as autoridades policiais acabariam por apontar o dedo a João Vale e Azevedo. Tendo sido descoberto um registo dessa maquia nos “cofres” do antigo Presidente “Encarnado”, o dirigente seria acusado de peculato e, mais tarde, acabaria por ser preso.
O último terço da carreira do jogador passar-se-ia no seu país natal. Após ter deixado os “Dragões” em 2002, Ovchinnikov regressaria ao clube que, sem sombra de dúvida, mais peso acabaria por ter no seu percurso profissional. De volta ao Lokomotiv de Moscovo, o atleta, muito mais do que recuperar o estatuto como titular, conseguiria resgatar o seu lugar na selecção. Depois de ter voltado a vencer, por mais duas vezes, o prémio de “Guarda-Redes Russo do Ano” (2002; 2003), é com a equipa nacional que o atleta volta a Portugal. Com as cores da Rússia o guardião seria chamado a disputar o Euro 2004.
Tendo decido terminar a carreira após uma derradeira temporada já ao serviço do Dínamo de Moscovo, o ex-guardião daria os primeiros passos como técnico. Nessas funções desde 2007, tendo desempenhado as tarefas de adjunto, treinador de guarda-redes e treinador principal, Ovchinnikov conta já com passagens por Dínamo de Kiev, Dínamo de Minsk ou Federação Russa de Futebol. Neste momento (2017/18), o antigo internacional é parte integrante dos quadros do CSKA de Moscovo.

869 - MOSTOVOI

Tendo aparecido no Krasnaya Presnya, a transferência para o Spartak de Moscovo confirmá-lo-ia como um jogador muito talentoso. As suas capacidades levariam a que, pouco tempo após a sua chegada, Mostovoi começasse a ganhar um lugar de destaque no “onze” do novo emblema. Todavia, seria com a contratação de Oleg Romantsev, antiga estrela da colectividade e treinador do médio no seu primeiro clube, que tudo realmente mudaria.
Numa equipa que contava com atletas como Kulkov, Karpin, Radchenko ou Shalimov, o centrocampista assumiria o papel de “maestro” do grupo. O brilhantismo do seu “drible” e a precisão do seu passe eram um prolongamento do entendimento que tinha da dinâmica de jogo. Na campanha de 1991, 5 anos após a sua chegada ao conjunto moscovita, Mostovoi destacar-se-ia na caminhada europeia que levaria o Spartak a chegar às meias-finais da Taça dos Campeões. Resultado dessa aventura, o médio passaria a ser bastante cobiçado e acabaria transferido para outro clube.
Numa altura em que já tinha feito a estreia pela principal selecção soviética, nem o estatuto de internacional valeria grande coisa na sua passagem pelo Benfica. Aliás, as espectativas criadas em redor da sua chegada sairiam todas frustradas. Depois de pouco ter jogado na temporada de 1992/93, na época seguinte o jogador conseguiria ainda menos oportunidades. Tendo participando na Supertaça, a falta de chances dadas ao atleta levá-lo-iam a procurar novo clube. A meio da temporada de 1993/94, é o modesto Caen que decide abrir as portas ao médio. Em bom abono da verdade, a dita mudança lançá-lo-ia no caminho do sucesso.
A sua passagem por França não seria muito longa. Depois do Caen e do destaque conseguido em duas temporadas com as cores do Strasbourg, é a saída para Espanha que o lançaria no melhor período da sua carreira. No Celta de Vigo desde 1996/97, o médio-ofensivo voltaria a merecer uma posição dominante no escalonamento do “onze” inicial e, principalmente, na construção atacante do desenho táctico. Tido como um dos grandes ídolos da massa adepta, Mostovoi em muito contribuiria para as boas campanhas do emblema galego. Mesmo sem conseguir vencer grandes títulos, excepção feita à Taça Intertoto de 2000/01, a verdade é que seria muito à custa do russo que, na passagem de milénio, o conjunto dos Balaídos conseguiria cimentar-se nas provas da UEFA.
Talvez esteja a dizer uma tremenda asneira, mas penso que, relativamente à selecção, Mostovoi nunca conseguiu ser tão preponderante quanto, por exemplo, haveria de ser no Celta de Vigo. Ainda assim, é impossível afirmar que a carreira internacional do médio tenha sido discreta. Tendo sido, ainda durante os anos passados em França, chamado ao Mundial de 1994 e Euro 96, Mostovoi ainda participaria em mais 2 grandes torneios. No Campeonato do Mundo organizado entre a Coreia do Sul e o Japão, apesar de convocado, acabaria por não jogar devido a lesão. Já no Euro 2004, a sua presença ficaria manchada pelas polémicas declarações, logo a seguir à partida frente à Espanha. Tendo criticado publicamente o seleccionador, o atleta seria “mandado para casa” antecipadamente.
2003/04 acabaria por ser uma temporada muito negativa para Mostovoi. Para além do caso já relatado e que envolveria a selecção, também no Celta as coisas não correriam de feição. Tendo, durante vários anos, empurrado a equipa para os lugares do topo da tabela, a verdade é que, durante a referida campanha, o médio russo pouco seria capaz para evitar a descida dos galegos. Com a despromoção deixaria o clube para, no Alavés, fazer a sua última época como futebolista profissional.
Já depois de, em 2005, ter decidido “pendurar as chuteiras”, o antigo futebolista passou a colaborar com uma escola de futebol moscovita. Para além disso, Mostovoi é também um dos mais consagrados comentadores desportivos da televisão russa.

868 - IVANOV

Muitos perguntarão o porquê de Ivanov estar a ser colado. É natural que assim o façam, pois nem todos terão dado pela sua presença em Portugal. A verdade é que o defesa russo, já nos últimos anos como futebolista, teria uma participação discreta nos nossos campeonatos. Obviamente, a sua carreira profissional haveria de começar muitos antes da passagem pelo nosso país. O atleta apareceria no Spartak de Moscovo em meados da década de 80 e, tendo algumas dificuldades para conquistar um lugar na equipa, passaria por dois empréstimos, em dois emblemas diferentes.
SKA-Energiya Khabarovsk e FC Guria Lanchkuti (clube sediado na actual Georgia) antecederiam a sua afirmação no emblema da capital. Aliás, o período entre as temporadas de 1991 e 1994 acabaria por ser o mais importante da sua carreira. Nesse sentido, e logo no decorrer da primeira época, Ivanov receberia a primeira convocatória para a principal selecção da União Soviética. Pela mão de Anatoliy Byshovets, o defesa estrear-se-ia num particular frente à Suécia. Esse amigável serviria de ponto de partida para que, um ano após a referida partida, o jogador marcasse presença no Euro 92.
Também a conquista de troféus haveria de marcar esse dito período. Tendo em 1989 vencido pela primeira vez a Liga Soviética, Ivanov ajudaria o Spartak de Moscovo a repetir o feito em 1992 e 1993. Ainda pela “Narodnaya komanda” (Equipa do Povo), o defesa juntaria outros triunfos ao seu currículo. A vitória na Taça em 1992 acabaria por ser mais um bom exemplo daqueles que seriam os anos de maior sucesso no seu percurso profissional.
A partir de 1995 a sua carreira entraria numa fase mais discreta e, talvez consequência disso, bastante mais errante. Tendo nos anos seguintes, saltitado entre diversos emblemas, Ivanov acabaria por vestir as cores de dois outros “grandes” moscovitas. CSKA e Dynamo, tendo pelo meio uma última passagem pelo Spartak de Moscovo, antecederiam as primeiras aventuras no estrangeiro. Seria durante essas temporadas, após representar os austríacos do Tirol Innsbruck e os alemães do Greuther Fürth, que o defesa chegaria a Portugal. No Alverca, e com o emblema ribatejano a disputar a 1ª divisão, o atleta pouco contribuiria para a campanha de 1998/99. Apesar do estatuto de internacional, o jogador seria incapaz de conquistar um lugar no “onze” inicial e acabaria por nunca jogar no campeonato.
Em 2000 regressaria à Rússia para uma última temporada. Ao serviço do FK Nika Moskva, o defesa poria um ponto final no seu percurso como atleta de alta competição. O afastamento da modalidade levariam o antigo jogador, nos anos a seguir à sua despedida, a entregar-se aos vícios do álcool. A dependência acabaria por ter um fim trágico, com Ivanov a pôr termo à sua vida em 2009.

867 - KULKOV

Antes do sucesso alcançado na principal equipa do Spartak de Moscovo, já Kulkov tinha passado por diversos emblemas da antiga União Soviética. Dinamo Kashira, Krasnaya Presnya ou Spartak Ordzhonikidze (actual Alania) antecederiam a sua entrada no plantel sénior do conjunto da capital. O primeiro ano com a “Narodnaya komanda” (Equipa do Povo), haveria de ser deveras positivo para a carreira do atleta. Primeiro, resultado do destaque que conseguiria, chega a chamada à selecção; depois, com o final da temporada de 1989, vem a conquista do Campeonato da URSS.
A evolução mostrada dentro de campo levaria a uma consolidação das suas exibições. Tendo conseguido tornar-se num elemento importante do “onze” do clube e da selecção, as épocas seguintes transformá-lo-iam num jogador apetecível. Com a abertura dos países de Leste ao Ocidente, os emblemas interessados no seu concurso começariam a aparecer. Entre vários conjuntos, o Benfica acabaria por ganhar essa corrida e, para temporada de 1991/92, Kulkov é apresentado no Estádio da “Luz”.
Nos anos passados em Lisboa, o “trinco”, a par dos seus conterrâneos Iuran e Mostovoi, tornar-se-ia numa figura polémica. Apesar das boas exibições, o jogador ficaria também conhecido pela indisciplina e pelos excessos da sua vida particular. Ainda assim, Kulkov conseguiria tornar-se num dos jogadores mais relevantes para o clube. Titular com Sven-Göran Eriksson, Tomislav Ivíc e Toni, o internacional russo contribuiria para a vitória na Taça de Portugal de 1992/93 e para a conquista do Campeonato do ano seguinte.
Com a contratação de Artur Jorge para o comando das “Águias”, o seu nome e o de Iuran surgem na lista de jogadores a libertar. Sabendo da dispensa dos atletas, Sir Bobby Robson, à altura o treinador do FC Porto, daria indicações para que o médio e o avançado fossem contratados. Contudo, a mudança de emblema não mudaria muito a atitude dos dois. As polémicas continuariam e, mesmo conseguindo ter um papel preponderante na conquista do Campeonato Nacional de 1994/95, Kulkov e o seu conterrâneo deixariam os “Dragões” um ano após a chegada.
Com o regresso ao Spartak de Moscovo, o centrocampista entraria numa fase mais discreta da sua carreira. Tendo ainda, durante um curto empréstimo ao Millwall, tentado a sua sorte no futebol inglês, a verdade é que, daí em diante, as oportunidades dadas ao atleta viriam, na sua maioria, de emblemas russos. Depois de ter ainda representado Zenit e Krylya Sovetov, a excepção a esses anos passados no Campeonato do seu país viria, mais uma vez, de Portugal. Com o Alverca à procura de reforçar o seu plantel, Kulkov acabaria por ser um dos destaques do conjunto ribatejano e da temporada de 1999/00.
Após um pequeno interregno, o jogador deixaria os relvados ao serviço dos russos do Energiya Shatura. Numa caminhada que conheceria o fim em 2001, a sua carreira acabaria por ficar manchada por um comportamento pouco condizente com o de um atleta de alta competição. Um dos bons exemplos a dar é o seu percurso na selecção. Apesar de ter conseguido mais de 4 dezenas de internacionalizações, o médio acabaria por nunca participar numa fase final de um grande torneio. É bem certo que o seu afastamento do Euro 92 e Euro 96 dever-se-ia a lesões. Já na chamada para o Mundial de 1994, a história seria bem diferente. Tendo entrado em rota de colisão com o treinador Pavel Sadyrin, Kulkov, em conjunto com outros jogadores, exigiria a demissão do seleccionador. A reivindicação não seria aceite e quem acabaria por ser afastado do torneio organizado nos Estados Unidos seria o médio.

CZARES, BOLCHEVIQUES E PERESTROIKA

Com o próximo Campeonato do Mundo a começar daqui a uns meses, chegou a altura do “Cromo sem caderneta” consagrar algumas das suas “colagens” a tão importante certame. Estando o torneio sediado na Rússia, que melhor poderíamos publicar que um pouco do intercâmbio futebolístico entre o nosso e o país organizador do Mundial? Assim sendo, Abril será dedicado a “Czares, Bolcheviques e Perestroika”!