296 - VERCAUTEREN

Quando há a sorte de partilhar os relvados com a melhor geração futebolística de um país, não é difícil também ser-se um dos melhores!
Muito para além desta pequena introdução que remete para os anos 80 do futebol belga, Vercauteren, sem qualquer excesso nas palavras, foi um excelente praticante. O "Pequeno Príncipe", nome pelo qual foi acarinhado, apenas conheceu, durante grande parte da carreira, a camisola do Anderlecht. No clube da capital fez a formação e durante os doze anos em que fez parte do conjunto principal, acompanhou a equipa naquele que seria o melhor capítulo da sua história. Num grupo por onde passaram nomes como os de Geoges Grün, Michel De Groote, Hugo Broos ou ainda os dinamarqueses Morten Olsen e Per Frimann, o médio-ala esquerdo, entre tantas outras estrelas que fizeram as delícias dos adeptos do futebol, nunca foi somente mais um elemento do plantel. A prová-lo estão as mais de 360 partidas pelo emblema de Bruxelas e, claro, os títulos ganhos. Nesse campo não há assim tantos atletas da modalidade que possam gabar-se de tal rol de conquistas. Ora vejamos: na Bélgica venceu 4 Campeonatos, 2 Taças e 1 Supertaça; já em termos de competições internacionais podemos acrescentar ao seu currículo 2 Taças dos Vencedores das Taças, 2 Supertaças Europeias e 1 Taça UEFA, esta última de má memória para o futebol português, pois a vitória foi conseguida em 1983, frente ao Benfica.
Com a selecção do seu país, Vercauterem foi também um elemento preponderante, fazendo parte dos “Diabos Vermelhos” em diversos certames. Para além de marcarem presença no Europeu de 1984, os belgas participaram nos Mundiais de 1982 e de 1986, onde, no caso do certame organizado no México, atingiram as meias-finais, tendo sido eliminados pela Argentina de Diego Maradona.
Já como treinador, apesar da sua carreira, internacionalmente, ainda não ter tido o peso e o mediatismo de muito dos seus pares, o belga pode orgulhar-se de contar, para além da Supertaça de 2011 ao serviço do Genk, com 3 Campeonatos: 2 pelo Anderlecht (2005/06 e 2006/07) e 1 pelo Genk (2010/11). Para além de uma "folha de serviço" com algum interesse, Vercauteren é também conhecido por lançar muitos jovens nos emblemas por onde tem passado. Se a isso juntarmos que o Sporting, apesar da sua situação financeira pouco recomendável, tem, reconhecidamente e como prova o 1º posto da “equipa B” na classificação da Liga Orangina 2012/13, as melhores “escolas” do país, então, a sua escolha para técnico do conjunto principal leonino até parece ter lógica.

295 - PAULO BENTO

Como o próprio já contou, quis a sorte, depois de, por vontade própria, abandonar os estudos prematuramente, ter sido descoberto no Futebol Benfica pelo antigo avançado Augusto Matine, à altura à trabalhar na prospecção do Estrela da Amadora. Porém, para Paulo Bento a primeira oportunidade dada pelo emblema da Linha de Sintra não correu da melhor maneira e não fosse a crença do “olheiro”, que insistiu para que o jovem praticante voltasse a ter nova chance e, provavelmente, o médio tinha sido, irremediavelmente, recambiado para o popular “Fofó".
A sua qualidade de passe e a visão de jogo finalmente convenceram. O treinador João Alves, apesar de não integrar o centrocampista logo no “onze”, ficou rendido às suas capacidades e por altura da finalíssima da edição de 1989/90 da Taça de Portugal, época de estreia do jogador na Reboleira, concedeu ao atleta de 18 anos um lugar como titular. Nessa partida disputada no Estádio Nacional frente ao Farense, Paulo Bento teve um papel importantíssimo e ao marcar um dos golos com que o Estrela da Amadora venceu o encontro, ajudou, de que maneira, a erguer o prestigiado troféu.
Passado um ano sobre a referida conquista, Paulo Bento rumou ao Vitória Sport Clube, encontrando-se novamente com João Alves. Na “Cidade Berço”, o seu crescimento como jogador tornou-se notório, ao ponto de ser chamado à estreia na Selecção Nacional. Curiosamente, foi também com a camisola das “quinas” que o atleta viveu um dos piores momentos da carreira. O episódio passou-se nas meias-finais do Campeonato Europeu de 2000, quando, durante o prolongamento e na sequência de um lance muito polémico, foi assinalada uma grande penalidade a favor da França, equipa que disputava com Portugal o acesso ao derradeiro encontro do torneio. No meio dos exaltados protestos dos jogadores lusos, Paulo Bento tirou o cartão vermelho da mão do árbitro e a consequência desse acto irreflectido, ele que sempre primou por um comportamento irrepreensível, foi uma suspensão de 5 meses.
Por altura do referido castigo, depois de uma passagem de 2 anos pelo Benfica onde também venceu a apelidada “Prova Rainha”, Paulo Bento, ao serviço do Oviedo, encontrava-se a disputar a “La Liga”. A transferência para um clube a vogar pela segunda metade da tabela classificativa, em termos de enriquecimento do palmarés, acabou por não ser a mais ajuizada. Já no plano da evolução pessoal, a mudança, pela experiência ganha num dos melhores campeonatos do mundo, permitiu que o médio conseguisse, de forma definitiva, afirmar-se como um dos grandes médios lusos. Essa avaliação, mesmo com a passagem por Espanha magra em troféus, permitiu-lhe a mudança para o Sporting. Em Alvalade, após a especulada nega dada pelos responsáveis benfiquistas ao seu regresso à “Luz”, o jogador viveu um dos mais brilhantes capítulos da história recente dos “Verde e Brancos”. Com o treinador romeno László Bölöni ao comando dos desígnios colectivos, os “Leões”, em 2001/02, venceram a Liga e a Taça de Portugal e, com tal feito, conquistaram mais uma “dobradinha” para os escaparates do clube.
Após “pendurar as chuteiras” em 2004, Paulo Bento foi convidado pelos dirigentes leoninos para, nesse mesmo ano, ficar à frente da equipa de juniores do clube. O sucesso foi imediato e os jovens “Leões” venceram o Campeonato da categoria. Por essa razão, foi com alguma naturalidade que, com o despedimento de José Peseiro, o antigo médio passou a ser o homem escolhido para assumir a equipa principal. Sem grandes recursos financeiros, o técnico, à custa de aproveitar muitos dos jovens que com ele tinham trabalho na formação, conseguiu formar um grupo que, sem os grandes craques de outrora, ainda assim, venceu 2 Taças de Portugal e 2 Supertaças.
Já depois do seu despedimento do Sporting, assumiu as rédeas da Selecção. Após uma qualificação que, em abono da verdade, não foi a mais tranquila, todos começaram a apostar num desaire de Portugal no Euro 2012. No entanto, a equipa, meritoriamente, acabou por atingir as meias-finais do torneio. Com o arranque da nova temporada, o apuramento para o próximo Mundial começou tremido. Contudo, pela confiança revelada por Paulo Bento no rescaldo do empate caseiro frente à modesta Irlanda do Norte, há que acreditar que estaremos no Brasil.

294 - OCEANO

Apesar de nunca ter sido conhecido por possuir uma capacidade técnica muito apurada, a sua combatividade, a maneira concentrada como encarava todos os jogos e a constância ao longo de uma temporada, levaram-no sempre a disfarçar bem qualquer carência.
Ao reconhecer as suas capacidades e aproveitando o facto de estar a caminho da equipa técnica “verde e branca”, a antiga estrela leonina Pedro Gomes, o seu treinador no Nacional da Madeira, acabou por levá-lo consigo para o Sporting. De “verde e branco”, Oceano, que até então apenas tinha representado clubes de escalões inferiores, estreou-se na 1ª divisão. Facilmente, as suas qualidades puseram-no na linha-da-frente para as escolhas no meio-campo. Mormente como “trinco”, ele que chegou a alinhar como defesa-central, a sua utilização, sob a alçada do galês John Toshack, passou a ser uma constante. A titularidade levou-o às convocatórias para a selecção nacional “A”, ainda no decorrer da época de estreia em Alvalade. Em Janeiro de 1985, frente à Roménia, o médio fez a primeira de 54 partidas por Portugal, das quais merecem destaque as relativas à participação no Euro 96, disputado na Inglaterra.
Pelos “Leões” a sua carreira seria longa. Com um interregno de 3 temporadas, durante o qual acompanhou Carlos Xavier numa aventura pela Real Sociedad, Oceano cumpriu 14 anos de “verde e branco”. Durante todo esse tempo, tornou-se numa das figuras míticas do clube, não só pela longevidade, mas principalmente pela maneira como a sua garra fez dele uma referência na estratégia do Sporting. Visto como um ícone, o reconhecimento veio também com a braçadeira de capitão. Para além desse prémio, o sublinhar do seu mérito deu-se em 1988 e 1995, aquando da atribuição do Prémio Stromp.
Como treinador, a sua carreira foi sendo adiada algumas vezes. Porém, a incapacidade de recusar esse destino aconteceu em 2009, aquando da contratação de Carlos Queiroz para a selecção. Oceano Cruz, a convite do técnico da equipa principal lusa, ficou responsável pelos "Esperanças", não conseguindo, contudo, apurar a equipa para o Europeu da categoria. Já esta temporada recebeu a proposta para comandar a renascida equipa “B” do Sporting. O seu sucesso tem sido tal, com os seus pupilos a comandarem a tabela classificativa da Liga Orangina, que foi ele o escolhido para, interinamente, substituir Sá Pinto ao leme da primeira equipa leonina.

293 - NORTON DE MATOS


Ao ser sobrinho-bisneto da personalidade que dá nome à avenida onde está edificado o Estádio do Sport Lisboa e Benfica, o General Norton de Matos, não poderia haver melhor clube para dar início às lides futebolísticas do que as “Águias”. No entanto, Luís Norton de Matos, que, ao lado de craques como Shéu, até chegaria a ser campeão pelos juniores benfiquistas, nunca cumpriria um único jogo pela equipa principal “encarnada”.
Tapado por estrelas como Vítor Batista, Nené, Artur Jorge ou Jordão, a falta de oportunidades levariam o jovem avançado, depois da passagem pelas “reservas” benfiquistas, a ser cedido à Académica de Coimbra, em 1973/74. No entanto, aquela que emergiria como a solução mais lógica para o normal evoluir do jogador, não teria a continuidade desejada. Cumprido um ano sob o início do empréstimo e com o possível regresso à "Luz" em mente, a verdade revelaria ao atacante o rumo de outro emblema.
Os passos seguintes na sua carreira levá-lo-iam a 2 campanhas com as cores do Estoril Praia e depois a cumprir 1 temporada no Atlético. A crescer futebolisticamente, seria já no Belenenses que as suas habilidades ofensivas fá-lo-iam apanhar outros voos. No Restelo, na época de 1977/78, num dia em que o visado até era o atacante Manuel Amaral, os dirigentes de um clube belga ficariam deliciados com a exibição de Norton de Matos e, principalmente, com o golo marcado fora da área – “mal assinei pelo Standard, recebi da Adidas três pares de chuteiras com pitons de alumínio, outras três com pitons de borracha, fatos de treino, sapatilhas, tudo e mais alguma coisa (…). Eu, por exemplo, tinha casa de fãs espalhadas por toda a Bélgica. Em Bruxelas, Antuérpia, Charleroi… Clubes de fãs”*.
Apesar da experiência positiva, onde para além de evoluir muito como praticante ainda ganhou uma Taça da Bélgica, ao fim de três temporadas dar-se-ia o seu regresso a Portugal. No Portimonense, sob a alçada do jovem e promissor técnico Artur Jorge, a qualidade acrescida pela sua contratação ajudaria a construir uma equipa de enorme valor. O resultado dessas épocas de 1981/82 e 1982/83, seriam dois 6ºs lugares consecutivos e, para Norton de Matos, a entrada, há muito merecida, na lista de convocados para a selecção nacional “A”.
Após o regresso ao Belenenses e uma passagem pelo Estrela da Amadora, terminada a carreira de futebolista, Norton de Matos abraçaria a de treinador. Com passagens pela 1ª divisão no Salgueiros, no Vitória Futebol Clube e no Vitória Sport Clube, os seus últimos anos têm sido cumpridos entre a Guiné-Bissau, onde chegou a seleccionador, e o Senegal, onde orientou o Étoile Lusitana. Este ano aceitou o desafio de comandar o regresso da equipa “B” do Benfica. Para já os resultados estão à vista, com a segunda equipa dos “Encarnados” a ocupar os lugares cimeiros da tabela classificativa da Liga Orangina e, principalmente, com o surgimento de boas promessas.

*retirado de “101 cromos da Bola”, Rui Miguel Tovar, Lua de Papel, Março de 2012

292 - CASQUILHA

Depois de mais de dez anos em que a sua carreira, mesmo ao destacar-se pelas passagens por clubes como a Académica de Coimbra, Feirense e Amora, ficou cingida a presenças nos escalões secundários, Casquilha, pela mão do Gil Vicente chegou à 1ª Divisão na temporada de 1999/00.
Os 30 anos de idade, que já contava por essa altura, podiam ter sido um empecilho à nova etapa. Na realidade, os números apresentados pelo extremo, com as inúmeras participações a titular durante as épocas seguintes à chegada a Barcelos, provaram o contrário. No Minho, as suas arrancadas pelas alas do campo, as diagonais com que baralhava os opositores, a maneira como rasgava as defensivas adversárias e também a assertividade dos seus cruzamentos passaram a ser uma mais-valia para o plantel gilista. Os golos, apesar de não muito frequentes, também foram aparecendo. Como exemplo temos o seu primeiro remate certeiro na divisão maior do futebol português e que assegurou, no Vidal Pinheiro, a vitória fora do Gil Vicente nessa que foi sua época de estreia entre os “grandes” – ”Tive a felicidade de ser eu a concluir um bom trabalho do Fangueiro, que lateraliza para o Cuc e eu só tive de marcar. Penso que a estreia na I Divisão está a ser muito positiva, estou bastante satisfeito”*.
Foi positivo esse ano, continuaram a ser os seguintes e as contas fazem-se de forma simples, com seis temporadas consecutivas e quase 180 partidas disputadas como atleta primodivisionário. Já no papel de treinador, a sua carreira, que vai no sétimo ano, tem sido caracterizada por um sucesso que pode dizer-se “em crescendo”. Desde que assumiu o comando do Moreirense, Jorge Casquilha tem começado a ganhar alguma notoriedade entre os da sua classe. O técnico conseguiu, desde que pegou na equipa na 2ª divisão “b”, assegurar duas subidas de escalão, fazendo com que os de Moreira de Cónegos voltassem, esta temporada de 2012/13, ao convívio dos maiores do futebol português.

*retirado do artigo de Miguel Sá Pereira, publicado em www.record.pt, a 26/10/99

291 - NUNO

Cedo emergiu das escolas vimaranenses como uma das grandes promessas para as balizas nacionais e por altura dos Jogos Olímpicos de 1996, numa fase em que começava, cada vez mais, a aparecer como titular nas fichas de jogo do Vitória Sport Clube, embarcou com a comitiva lusa em direcção ao certame organizado em Atlanta.
Se antes já vira o seu nome associado a emblemas de maior monta, na volta dos Estados Unidos da América, a hipótese de uma mudança concretizou-se. Nuno, ao passar a fronteira a Norte, fixou-se na vizinha Espanha, mais concretamente no Deportivo. No clube galego, a competir com nomes como Songo'o, Kouba e até Peter Rufai, a vida do jovem guarda-redes não foi fácil e o reflexo aferiu-se no número baixo de partidas disputadas. A solução para a falta de utilização veio, naturalmente, com os empréstimos. No Mérida e principalmente no Osasuna, clube onde, a disputar a La Liga, conseguiu mostrar-se como um atleta de grande valor, Nuno foi crescendo. Nesse sentido, o regresso a La Coruña tornou-se inevitável. Porém, se houve alguém a pensar que o português conseguiria tomar conta das redes no Riazor, então essa pessoa enganou-se.
O que surgiu a seguir na sua carreira foi o reacender de um namoro antigo. Paixão verdadeira ou não, certa foi a transferência para o FC Porto e logo numa altura em que os “Dragões” davam os passos iniciais de mais uma caminhada épica. Com José Mourinho ao leme, os “Azuis e Brancos”, nas temporadas de 2002/03 e 2003/04 ergueram 1 Liga dos Campeões, 1 Taça UEFA, 2 Campeonatos, 2 Supertaças e ainda a Taça de Portugal de 2002/03, onde, no 7-0 infligido ao Varzim nos quartos-de-final da prova, Nuno, na transformação de um “castigo máximo”, também fez o “gosto ao pé”. Já o último troféu dessa série coincidiu com a derradeira edição da Taça Intercontinental. Frente aos colombianos do Once Caldas, o guardião acabou por desempenhar um papel de relevo, pois, com a saída forçada de Vítor Baía, foi dele a responsabilidade de defender a baliza no bem-sucedido desempate por penaltis.
Voltou ao FC Porto em 2007/08, depois da passagem pelo Dínamo de Moscovo e pelo Desportivo das Aves e para, em 2010, terminar a vida de futebolista. Com a mudança, para além da presença no Euro 2008, arrecadou mais uns quantos troféus. O que também ganhou com o regresso aos “Azuis e Brancos”, ao “pendurar as luvas” ainda sob a alçada de Jesualdo Ferreira, foi uma nova carreira. É que com a ida do referido treinador, primeiro para o Málaga e depois para o Panathinaikos, Nuno Espírito Santo seguiu com ele, mas na função de treinador-adjunto.
Já este ano, o Rio Ave decidiu dar-lhe a oportunidade para fazer a estreia à frente de uma equipa técnica. Para já, com os vilacondenses, à 6ª jornada, a posicionarem-se no 5º posto, acho que não podemos dizer que começou mal. Se a tal juntarmos a vitória conseguida em Alvalade, então é provável que possamos estar à frente de um treinador muito promissor.

290 - FONSECA

Nascido em Moçambique, seria já na margem sul do Rio Tejo, mais precisamente na campanha de 1990/91, que Fonseca disputaria as primeiras partidas nos escalões profissionais. No entanto, o Barreirense, emblema onde tinha terminado a formação, por razão das questões financeiras que teimavam em agudizar-se, começaria a entrar no mais penoso calvário da sua história, fazendo com que a época de estreia do defesa no patamar sénior acabasse com o clube no último lugar da divisão de Honra.
Apesar de vetado para a 2ª divisão “b”, o atleta continuaria a crescer. A estatura alta permitia-lhe intersectar grande parte das bolas pelo ar; a maneira aguerrida com que aparecia dentro de campo fazia dele um central de marcação temido; e nem mesmo alguma lentidão evitaria que outros emblemas começassem a ver nele um bom partido. Passadas algumas temporadas, quando já parecia esquecido, o FC Porto apostaria na sua contratação. Porém, no meio de tantos craques, a mudança para as Antas traria inúmeras dificuldades ao defesa e Fonseca acabaria por começar esse Campeonato Nacional de 1995/96 emprestado ao Leça, tendo, na equipa sediada do Concelho de Matosinhos, feito a estreia na 1ª Divisão.
No ano seguinte voltaria a rumar a Sul, dessa feita ao Belenenses. Numa temporada onde nem sempre seria a escolha prioritária para o eixo da defesa, destacar-se-ia o episódio do primeiro golo concretizado pelo defesa, no escalão máximo do futebol luso. Na 17ª jornada, em mais um “derby alfacinha” entre o Benfica e o Belenenses, o encontro marcado para o Estádio da Luz teria como previsão uma tarefa difícil para os homens do Restelo. No entanto, com as “Águias” há muito moribundas, o remate certeiro conseguido por Fonseca, logo aos 6 minutos da partida, desferiria um impiedoso golpe nas ambições dos “Encarnados”. Muito para além do lance por si concretizado, o qual seria fulcral na vitória dos “Azuis” por 1-2, o central faria uma exibição tremenda e, ao anular por completo os avançados benfiquistas, acabaria por ser eleito o Melhor Jogador em campo.
Já na temporada de 1997/98, a passagem de um ano pelo Marítimo, onde ainda estaria por empréstimo do FC Porto, serviria para sublinhar as suas qualidades enquanto futebolista. Aferido como um dos bons defesas a actuar em Portugal, o passo seguinte dá-lo-ia no Vitória Sport Clube. Curiosamente, em sentido contrário ao esperado, Paulo Fonseca não conseguiria afirmar-se em Guimarães. Para além de uma forte concorrência, uma série de lesões acabariam por prejudicar a evolução do jogador e ao fim de 2 épocas, com pouco mais de uma mão cheia de partidas disputadas, a partida tornar-se-ia no único cenário possível.
Com a entrada nos “Tricolores” a acontecer na campanha de 2000/01, seria também no Estrela da Amadora que, após cumprir 5 anos temporadas, acabaria por pôr termo à sua carreira de futebolista. Imediatamente, ao aproveitar a oportunidade concedida pelo emblema da Linha de Sintra, começaria a vida de técnico, orientando as camadas jovens do clube. Nas tarefas de treinador, com um trajecto feito nas pelejas das divisões inferiores, os bons resultados, como prova o 3º posto conseguido, no ano transacto, ao serviço do Desportivo das Aves, têm sido uma constante. Ao comando do Paços de Ferreira essa regra tem vindo a manter-se. Para já, ocupa a metade cimeira da tabela classificativa e as exibições agradáveis dos "Castores" começam a prometer tornar a equipa orientada por si, numa das boas surpresas de 2012/13.

289 - SÉRGIO CONCEIÇÃO

Ao terminar a formação no FC Porto, os 3 primeiros anos como sénior acabaria por passá-los em sucessivos empréstimos. Depois de representar o Penafiel, o Leça e de ter feito a estreia na 1ª Divisão ao serviço do Felgueiras comandado por Jorge Jesus, Sérgio Conceição, finalmente, regressaria ao emblema que, uns anos antes, tinha ido buscar o extremo às camadas jovens da Académica de Coimbra. Perante os adeptos portistas, confirmaria a razão pela qual era considerado uma das maiores promessas para o ataque "azul e branco". Rápido, com uma técnica apuradíssima, um passe certeiro, centros mortíferos e, acima de tudo, uma atitude batalhadora e incapaz de deixá-lo desistir de bola alguma, o atleta rapidamente conquistaria um lugar no "onze" de António Oliveira e, pouco tempo depois, passaria a ser aferido como um dos grandes craques dos “Azuis e Brancos”.
Com o FC Porto a atravessar uma das mais prolíferas fases da história, os inolvidáveis anos do “penta”, Sérgio Conceição também começaria a amealhar títulos para o palmarés pessoal. Assim sendo, dois anos bastariam para que conseguisse ganhar, para além de 1 Taça de Portugal e de 1 Supertaça, 2 Campeonatos Nacionais. Com as vitórias, as provas portuguesas deixariam de estar nos horizontes do atleta e o chamamento vindo do “Calcio” faria com que o extremo passasse a envergar a camisola azul-celeste da Lazio. Já em Roma, viveria os anos mais pródigos da vida como futebolista, onde, a juntar às vitórias internas – 1 "Scudetto", 2 Taças e 1 Supertaça – teria ainda um papel preponderante nas conquistas da Taça dos Vencedores das Taças de 1998/99 e da Supertaça Europeia do ano seguinte.
Nessa aventura italiana, a grande surpresa surgiria no Verão de 2000. O jogador, depois de um excelente Europeu de selecções, onde, com um “hat-trick”, arrasaria por completo a equipa nacional germânica, ver-se-ia envolvido no negócio da transferência de Hernán Crespo, mudando-se para o Parma. Sem desprimor para a sua qualidade como jogador, que manteria, a partir dessa altura, a carreira de Sérgio Conceição tornar-se-ia numa autentica roda-viva. Mudaria 6 vezes de camisola, incluindo os breves regressos à Lazio e ao FC Porto; trocaria por 4 vezes de país, mas nem sempre com o resultado esperado. Claro que nem tudo foram desilusões. Destacar-se-iam a aposta que o Inter de Milão fez em si e a passagem pelos belgas do Standard Liège onde, em 2005, acabaria eleito como o Melhor Jogador do Ano e onde só não seria mais feliz por razão de uma camisola atirada a um árbitro e a correspondente suspensão de vários meses!
Posto um ponto final na vida dentro dos relvados, Sérgio Conceição decidiria manter-se ligado à modalidade. As suas novas funções no PAOK, emblema onde “pendurou as botas”, passariam a ser as de Director-Desportivo. Contudo, o seu sonho levá-lo-ia para mais de perto das emoções de uma partida de futebol e, para tal, nada melhor do que dar início às “artes” de treinador.
É, neste momento e desde meio da temporada passada, o técnico-principal do Olhanense. Depois de uma pré-época muito atribulada, com Sérgio Conceição a ameaçar demitir-se por razão dos diversos desentendimentos com a direcção em relação à falta de contratações, a prestação da equipa também não tem ajudado a que a contenda fique sanada. Para já, a posição abaixo da “linha de água” não faz prever um cenário idílico. Vamos esperar e ver se o treinador, à imagem daquilo que fez quando tomou conta do plantel, consegue arrebitar os jogadores e vogar de uma forma bem mais tranquila, pelo muito que ainda resta da Liga Zon-Sagres 2012/13.

288 - SÁ PINTO

Nascido no Porto, foi no saudoso Estádio Vidal Pinheiro que Sá Pinto deu os primeiros passos como profissional. A interminável garra, a mobilidade, juntamente com uma técnica bem acima da média, levaram-no, quando ainda representava o emblema de Paranhos, a ser chamado à selecção de “esperanças”. Com os sub-21 lusos chegou, em 1994, à final do Europeu da categoria, perdendo Portugal o troféu para os italianos. Todavia, à parte desse desaire, o seu futuro já estava lançado! Cobiçado, havia algum tempo, pelos “grandes”, nesse mesmo Verão deixou o Salgueiros, rumando a Sul e em direcção a Lisboa e ao Sporting.
Extremamente combativo e ainda por cima com um golo na estreia em Alvalade, Ricardo Sá Pinto facilmente ganhou um lugar no “onze” leonino e na crença dos adeptos. A sua primeira temporada de “verde e branco” correu da melhor forma, com o avançado a conseguir juntar à estreia na selecção principal, a vitória na edição de 1994/95 da Taça de Portugal, pondo fim, para os “Leões”, a um jejum de conquistas que durava há muitos anos. Porém, apesar de toda a habilidade e vontade demonstrada em campo, o jogador sempre foi conhecido pelo comportamento irascível. Foi essa postura, já em 1997 e após ter sido deixado de fora de uma convocatória da “equipa das quinas”, que o jogador agrediu, o à altura seleccionador, Artur Jorge. A consequência foi um ano de suspensão das actividades desportivas, o que veio atrasar a estreia do atacante pela Real Sociedad, para onde, entretanto, acabou transferido.
A passagem pela La Liga, sem títulos, marcou, contudo, o regresso à selecção e ainda a tempo de marcar presença, depois da edição de 1996, no Euro 2000. Também no tempo certo foi o retorno a Lisboa. Primeiro pela vitória na Supertaça de 2000/01, depois pelo Campeonato Nacional ganho no ano seguinte e, para terminar, pela presença na final da Taça UEFA em 2004/05, que o Sporting, para grande infelicidade, perdeu num encontro organizado no seu próprio estádio.
Com a carreira a terminar em 2007, ao serviço dos belgas do Standard Liège e onde, em alusão ao ano da fundação da claque Juventude Leonina, envergou a camisola número 76, Sá Pinto só regressou ao Sporting em 2009 e para ocupar o cargo de director-desportivo. Mais uma vez, o seu temperamento deixou marca e veiculado episódio de agressões a envolverem o internacional Liedson ditaram a sua demissão.
Está, desde a temporada transacta, a 2011/12, de volta à casa onde ficou conhecido como “Ricardo Coração de Leão”. É agora o responsável técnico máximo pelo plantel principal sportinguista. Mas, se o início da sua prestação ficou marcado pela recuperação da chama dos atletas, o que levou os de “verde e branco” às meias-finais da Liga Europa, já esta época, o começo tem sido marcado por uma sucessão de desaires, com o seu nome, cada vez mais, a ser contestado.

287 - VÍTOR PEREIRA

Se a vida de jogador, com passagens por emblemas de pouca expressão no futebol português, como Avanca, Estarreja, São João de Ver ou Leões Bairristas, nunca tirou Vítor Pereira do anonimato, também a carreira como treinador não trouxe o antigo futebolista para a ribalta do desporto português. Contudo, o ano passado tudo mudou e com a saída de André Villas-Boas para a Premier League, o seu antigo número dois, sem qualquer experiência de 1ª divisão, foi o escolhido para substituí-lo.
Pelo que é sabido, Vítor Pereira sempre gozou dentro do balneário “azul e branco” da fama de bom estratega e de um excelente condutor de Homens. Em suma, sempre teve a reputação de bom técnico. Todavia, para a massa adepta foi grande a desconfiança com que foi recebido o anúncio da sua promoção para comandante-principal dos “Dragões”. A razão? Simples! E prendeu-se com o facto de no seu currículo apenas contar, nos escalões profissionais, com uma passagem pelos açorianos do Santa Clara.
A responsabilidade em cima dos seus ombros passou a ser enorme e mais pesada ficou quando, já com o Campeonato Nacional bem adiantado, viu o mais directo rival, o Benfica, a distanciar-se na tabela classificativa, com um avanço de 5 pontos. No entanto, a dita pressão acabou por não ser suficiente para que claudicasse na demanda pelo título. Após uma recuperação que muitos chegaram a considerar impossível e, a bem da verdade, bastante controversa, o FC Porto conseguiu mesmo levantar o troféu de campeão.
Apesar da conquista, Vítor Pereira continua a não ser consensual. Por isso, nesta temporada que agora começou, terá de continuar a mostrar aos associados que a aposta feita por Jorge Nuno Pinto da Costa em si, não foi mera fortuna. Claro está, o desempenho nas provas em que o clube está envolvido será a única maneira de provar isso mesmo!

TREINADORES 2012

Depois de termos feito, no mês que ainda ontem terminou, uma pequena revisão daquilo que foram as contratações de futebolistas nesta pré-temporada, no "Cromo sem caderneta", mais uma vez, voltamos àquilo que tem sido a sequência lógica nos inícios de Outono. Assim sendo, Outubro servirá para recordar as carreiras enquanto jogadores, daqueles que hoje ocupam o lugar de líderes nas equipas técnicas.
Serão melhores do lado de fora do campo do que foram dentro dele? Visitem-nos e ajudem-nos a decifrar esta questão, neste mês que é dos "Treinadores"!