989 - PACHECO

Faria a maior parte do seu percurso formativo no Grupo Desportivo Torralta. O emblema, que seria visto como um exemplo de organização e infra-estruturas, permitiria ao jovem jogador evoluir até ao estatuto de internacional. A promoção ao escalão sénior, numa altura em que a sua presença era habitual nas jovens selecções portuguesas, sublinharia as suas qualidades. Ainda que a jogar na 2ª divisão, os ecos das suas exibições seriam suficientes para que um dos “grandes” do Algarve decidisse nele apostar. No Portimonense, a época de 1986/87 seria suficiente para um novo salto. Rápido, com uma boa finta, bom entendimento do jogo e excelente no último passe, Pacheco conseguiria impressionar até os mais sépticos. A transferência para um conjunto de maior monta não tardaria e, passado um ano sobre a sua chegada, já o extremo mudara para as cores do Benfica.
Em Lisboa a sua adaptação seria progressiva. Ainda assim, no final da primeira temporada já Pacheco era um dos atletas consensuais no “onze” benfiquista. Tal facto levá-lo-ia, sem grande surpresa, a jogar a final da Taça dos Campeões Europeus desse ano. Frente ao PSV Eindhoven, o extremo acabaria por ser, por razão de uma situação bem caricata, um dos protagonistas da referida peleja. Na partida disputada em Estugarda, um problema com o equipamento faria com que, constantemente, as chuteiras saltassem dos pés do jogador. O Benfica acabaria por perder no desempate por grandes penalidades e o episódio das botas ficaria imortalizado na memória dos adeptos.
Apesar do desaire frente aos holandeses, a passagem do esquerdino pelo Estádio “da Luz” corresponderia a uma boa fase do conjunto “encarnado”. Nas 6 temporadas ao serviço do Benfica, Pacheco venceria diversos títulos. A bem da verdade, os 2 Campeonatos, as 2 Taças de Portugal e a Supertaça Cândido de Oliveira ganhas pelo atleta, acabariam por ser parca compensação para as desilusões europeias. Para além da final disputada na Alemanha, 2 anos volvidos e as “Águias” chegariam, mais uma vez, ao derradeiro jogo da Taça dos Campeões Europeus. Porém, e tal como tinha acontecido anteriormente, o atacante, dessa feita frente ao AC Milan, teria que contentar-se com o 2º lugar.
Curiosamente, o percurso que conseguiria trilhar pelo Benfica não teria correspondência no caminho feito pela selecção nacional. A estreia pelos “AA” aconteceria, pela mão de Juca, a 15 de Fevereiro de 1989. Todavia, esse desafio disputado frente à Bélgica seria o primeiro de apenas meia-dúzia feitos por Portugal – “Ele [Carlos Queiroz] já não ia à bola comigo e eu não ia à bola com ele desde os tempos da selecção de juniores, quando ele era o adjunto do José Augusto. Depois, cruzámo-nos na selecção AA. Ele chamava-me e depois era eu que ia invariavelmente para a bancada. Só tenho seis internacionalizações, mas fui convocado umas 20-e-tal vezes (…). O Queiroz tinha o dom de me desorientar”*.
Com o “Verão Quente de 1993” dá-se a mudança de Pacheco para o Sporting – “Essa é a ideia que se perpetuou, a de que saí por salários em atraso, e que não corresponde à verdade(…). Eu saí do Benfica por questões pessoais, por desacordo pessoal - sublinho - com pessoas que estavam então no clube(…). Saí por razões pessoais e a essência dessas não se alterou. É, de qualquer forma, evidente que eu preferia, isso sim, nunca ter sentido necessidade de deixar o Benfica”**. Os primeiros tempos em Alvalade, com Bobby Robson no comando, correriam de feição. No entanto o despedimento do treinador inglês e a entrada de Carlos Queiroz viria a reacender contentas antigas.
Pela pouca utilização, Pacheco, no final da temporada de 1994/95, tomaria a decisão de deixar o Sporting. Levaria, dessa passagem por Alvalade, a vitória em mais uma Taça de Portugal. Contudo, o desejo de continuar a jogar empurrá-lo-ia para outros destinos. Tenta o Nottingham Forest, onde, por questões burocráticas, apenas participa nos encontros de “reservas”. Seguir-se-ia o Belenenses e, já na época de 1996/97, o extremo partiria em direcção a Itália. No “calcio”, seguindo as pegadas de Futre e Rui Águas, vestiria as cores da Reggiana. Começaria na “Serie A”, mas o final dessa campanha de estreia levá-lo-ia ao 2º escalão. Ainda representaria o conjunto de Regio Emilia por mais um ano, até ao seu regresso a Portugal, em 1998.
Depois de, na derradeira fase da sua carreira, representar emblemas como Santa Clara, Atlético e Estoril-Praia, Pacheco ainda tenta a sua sorte como treinador. Mais uma vez o clube de Alcântara e também o Portimonense, fariam parte desse curto trajecto. Hoje em dia, o antigo internacional português é empresário e gere um bar na Mariana de Lagos.

*adaptado da entrevista conduzida por Rui Miguel Tovar, publicada em https://observador.pt, a 22/04/2017
**adaptado do artigo publicado em https://desporto.sapo.pt/, a 18/06/2018

988 - PAULO LOPES

Com os irmãos mais velhos a jogar no Mirandela, Paulo Lopes decidiria tentar a sua sorte no emblema da terra natal. O sucesso seria de tal ordem que, com apenas 14 anos de idade, começaria a realizar jogos pela equipa sénior. É nessa tão rápida evolução que o Benfica iria descobri-lo. Convidado para alguns treinos, o jovem atleta conseguiria impressionar os responsáveis técnicos do clube. Passados alguns meses sobre os primeiros testes realizados em Lisboa, o guarda-redes seria convidado a juntar-se às camadas jovens e rubricaria um contrato com os “Encarnados”.
A chegada aos juvenis do Benfica permitir-lhe-ia, não só evoluir com as cores do clube, como abriria ao jogador as portas das jovens selecções portuguesas. Primeiro pelos sub-17 e, na altura da transição para o patamar sénior, com os sub-20 e sub-21 de Portugal, as internacionalizações de Paulo Lopes levá-lo-iam a ganhar algum espaço no plantel principal das “Águias”. Porém, a presença de Michel Preud’Homme e de Sergei Ovchinnikov faria com que o guardião nunca passasse de 3ª escolha.
Depois de 2 temporadas sem jogar, e para que a sua evolução não fosse comprometida, surgiria o empréstimo ao Gil Vicente. A passagem por Barcelos em 1999/00, mesmo tendo em conta a sua estreia na 1ª divisão, também não traria os resultados esperados. Para que Paulo Lopes começasse a aparecer com regularidade nas fichas de jogo, nova cedência seria equacionada. A campanha seguinte, já com as cores do Barreirense, permitiria ao jogador aquilo que, até então, ainda não tinha conseguido. A jogar com frequência, as portas do Benfica abrir-se-iam novamente e o seu regresso à “Luz” aconteceria na temporada de 2001/02.
Mais uma vez a Paulo Lopes não seriam dadas grandes chances. Dessa feita com Robert Enke e Moreira a posicionarem-se à sua frente, a verdade é que voltaria a não conseguir impor-se de “Águia” ao peito. Após essa última tentativa, a desvinculação surgiria com naturalidade. Seguir-se-ia uma década em que, ao saltar entre os dois principais escalões nacionais, teria a oportunidade de representar diversos emblemas. Salgueiros, Estrela da Amadora, Trofense e Feirense seguir-se-iam na sua caminhada profissional. Durante esses anos, e mesmo com a passagem por Paranhos a permitir ao guarda-redes ganhar 1 internacionalização “B”, seriam os anos ao serviço dos “Fogaceiros” que voltariam a mudar o rumo da sua carreira.
Após realizar uma boa temporada no regresso do Feirense à 1ª divisão, surgiria da Luz nova proposta – “Fiquei surpreendido, na altura. O Rui Costa ligou-me e eu pensei que era uma brincadeira. Mas ele disse logo que não era. Pensei e senti que estava em condições de estar a este nível. Tinha uns 34 anos, não havia nenhum registo de o Benfica contratar um guarda-redes português com essa idade, mas sentia-me na minha melhor forma e preparado. E foi a melhor coisa que me aconteceu”*. As campanhas seguintes seriam de grande sucesso. Com os “Encarnados” a entrar para vencer em todas as competições, Paulo Lopes acabaria por fazer parte do grupo que daria ao clube o primeiro “tetra” da sua história. Eternizadas ficariam também as comemorações do atleta que, por inúmeras vezes, subiria à barra da baliza para mostrar os troféus aos adeptos.
Após anunciar o fim da carreira como futebolista, Paulo Lopes, que por essa altura já tinha ultrapassado os 40 anos de idade, aceitaria novo convite do Benfica. De 2018 em diante o antigo jogador passaria a fazer parte do corpo técnico do clube, tendo, no papel de treinador de guarda-redes, orientado os sub-23 e a equipa “b”.

*retirado da entrevista publicada em https://www.slbenfica.pt, a 16/10/2018

987 - GALLARDO

Se quiséssemos sumariar a sua carreira, poderíamos dizer que Marcelo Gallardo representou o River Plate, com intervalos em clubes estrangeiros. Porém, resumir tanto um percurso poderá levar-nos a inúmeros erros. Um deles é dar uma imagem bem mais pobre de algo que até foi relativamente faustoso. Ora, no caso do médio pode dizer-se que tudo começou no Mundial sub-17 de 1991.
Numa altura em que ainda vogava pelas camadas jovens da selecção argentina, Gallardo seria chamado a participar no Campeonato do Mundo de sub-17. O torneio organizado em Itália, onde conseguiria a medalha de bronze, serviria de base para uma caminhada bem rica. Com o River Plate, a sua carreira sénior começaria na temporada de 1992/93. Sendo, de início, pouco utilizado, o médio, aos poucos, começaria a cimentar-se como um dos melhores intérpretes da equipa. Tecnicamente evoluído, o jogador ficaria conhecido pela finta, visão de jogo e pela habilidade nos lances de bola parada.
A sua preponderância no conjunto de Buenos Aires levá-lo-ia, rapidamente, à estreia pela equipa “A” da Argentina. Com as cores da “Albiceleste”, Gallardo, ainda durante a sua primeira passagem pelo River Plate, seria convocado para os mais diversos certames de selecções. Para além dos Jogos Olímpicos de 1996 ou do Mundial sub-20 de 1997, torneios associados a escalões mais novos, o atleta marcaria presença em 2 edições da Copa América, na Taça das Confederações de 1995 e no Campeonato do Mundo de 1998. Porém, e se nas Olimpíadas disputadas em Atlanta conseguiria a Prata e no Mundial sub-20 o Ouro, já a sua participação nas restantes competições não traria troféus ao seu palmarés.
Pelo clube as coisas correriam de modo um pouco mais pomposo. Com 4 vitórias no Torneio Apertura, 1 no Torneio Clausura, a conquista da Copa Libertadores de 1996 e a Supercopa Sudamericana do ano seguinte, o seu prestígio subiria em flecha. Nesse sentido, seria sem surpresa que da Europa surgiria o interesse na sua contratação. O Mónaco seria o clube mais empenhado e, na temporada de 1999/00, Marcelo Gallardo transferir-se-ia para a “Ligue 1”. Logo na época de estreia em França, num plantel que contava com o português Costinha, o centrocampista ajudaria à conquista do Campeonato. Nas épocas seguintes, campanhas que precederiam o regresso ao país natal, o seu currículo seria ainda enriquecido pelos triunfos na Supertaça de 2000 e na Taça da Liga de 2003.
Como aqui já foi dado a entender, a sua carreira seria caracterizada pela intermitência entre o River Plate e outros emblemas de outros países. Paris Saint-Germain, DC United e Nacional de Montevideu seriam esses outros clubes. Apesar de a primeira metade do seu percurso profissional ter sido mais prodiga em conquistas, a segunda não seria isenta de momentos importantes e curiosos. Saltando alguns capítulos, podemos fazer referência aos anos passados no Uruguai. Seria na equipa da capital que o médio faria a transição da vida de futebolista para a de treinador. O engraçado nessa mudança acabaria por ser a conquista de 2 Campeonatos em 2 anos consecutivos, e em 2 papéis diferentes.
No papel de treinador Gallardo também tem conseguido trilhar um percurso glorioso. Mesmo tendo em conta a falta de troféus a nível nacional, o antigo internacional tem brilhado nas competições continentais. Pelo River Plate, que já orienta vai para 7 campanhas, já venceu 1 Copa Sul-Americana, 3 Recopas Sul-Americanas e, principalmente, 2 Libertadores. Hoje, dia 23 Novembro de 2019, irá tentar a sua 3 vitória naquela que é a principal competição organizada pela CONMEBOL. Tentará a sua sorte frente aos brasileiros do Flamengo, orientados pelo português Jorge Jesus.

986 - MÓIA

Com o Belenenses a servir de “escola”, Móia rapidamente ficaria conhecido pelas suas habilidades com a bola. Veloz e com uma excelente técnica, o avançado era uma das boas promessas a “cozinhar” no Restelo. Porém, na transição de júnior para o patamar sénior, o jovem craque acabaria por não dar corpo à fé nele depositada. As “reservas” da “Cruz de Cristo” precederiam um capítulo de 3 anos nos escalões secundários. UD Oliveirense e Famalicão seriam, nessa caminhada, os primeiros emblemas. Depois chegaria o Cova da Piedade e o momento que viria a mudar o seu paradigma.
A 23 de Abril de 1972 o Cova da Piedade receberia, para os quartos-de-final da Taça de Portugal, o Benfica de Jimmy Hagan. Do lado das “Águias” nomes como os de Eusébio, Jaime Graça, Jordão, Nené ou Vítor Baptista faziam prever uma vitória fácil. No entanto, o relato dessa tarde revelaria algo um pouco diferente. O 3-6 final, com os anfitriões a ficarem por duas vezes na dianteira do marcador, acabaria por fazer sobressair um dos avançados da casa. O seu nome? Vítor Manuel dos Santos Móia!
Os dois golos concretizados por Móia na referida eliminatória, levariam os responsáveis do Benfica a equacionar a sua contratação. A transferência concretizar-se-ia para a temporada seguinte. Podendo actuar como avançado centro ou descaído nas alas do sector mais ofensivo, as suas qualidades apontá-lo-iam num caminho de sucesso. Ainda assim, a concorrência era enorme e a primeira oportunidade na equipa principal benfiquista surgiria apenas passados alguns anos.
A passagem pelas “reservas” do Benfica e o empréstimo ao primodivisionário Oriental permitiriam o crescimento do atleta. Titular na temporada de 1973/74, o estatuto alcançado no emblema de Marvila permitir-lhe-ia o regresso ao Estádio “da Luz”. Ainda que integrado por Milorad Pavic na categoria principal, a sua chamada à equipa ficaria aquém do desejado. As 10 partidas disputadas durante essa campanha de 1974/75 acabariam por ser poucas para o manter no plantel. Salvar-se-ia o título de Campeão Nacional e, numa contenda perdida frente ao Boavista, a presença na final da Taça de Portugal.
Ainda que fracassada a sua história no Benfica, esse episódio assegurar-lhe-ia o resto da carreira. A experiência na North American Soccer League (NASL), com as cores dos Rochester Lancers e com os Connecticut Bicentennials, precederiam a sua afirmação em Portugal. Na caminhada pelo mais importante escalão do futebol nacional, o Sporting de Espinho transformar-se-ia no emblema mais representativo do seu trajecto desportivo. Estoril-Praia e Marítimo também fariam parte desse seu desígnio. No entanto, o emblema da Costa Verde seria o que mais peso teria na contagem final. As 5 temporadas (mais uma na 2ª divisão) passadas com os “Tigres” contribuiriam com 121 jogos, para um total de 201 partidas disputadas por Móia na 1ª divisão.
A sua carreira como futebolista cumpriria os derradeiros passos no Paredes e na Ovarense. Com a passagem pelo primeiro clube a permitir-lhe, no papel de treinador-jogador, o arranque das suas tarefas como técnico, Móia, alguns anos volvidos, abraçaria em exclusivo essas funções. Nessa nova demanda, o antigo avançado tem exercido actividade nos escalões secundários nacionais. Destaque para o seu contributo em campanhas pelo Mafra, Atlético ou Casa Pia.

985 - ROBERT KELLY

Ainda que ao trocar a escola pelo trabalho nas minas, Robert Kelly não deixaria esmorecer o entusiasmo pelo futebol. Ashton White Star, Ashton Central, Earlestown Rovers e St Helens Town, no caminho até à profissionalização, dariam ao jovem praticante o ensejo de alimentar a sua paixão. É então que, em Novembro de 1913, surge a proposta do Burnley. Os “Clarets” eram por essa altura uma das melhores equipas em Inglaterra e, por essa razão, a oportunidade era faustosa. Ainda que de forma progressiva, o avançado seria lançado na equipa. Pouco depois da sua chegada, faria a estreia pelo conjunto principal e, frente ao Aston Villa, brindaria esse arranque com o primeiro golo no novo emblema.
Na temporada de 1913/14 o Burnley chegaria à final da Taça de Inglaterra. Apesar de não participar na referida campanha, para Robert Kelly, ou Bob Kelly, as sementes da sua afirmação seriam lançadas durante essa época vitoriosa. Todavia, o começo da Grande Guerra forçaria as rivalidades desportivas a um interregno. Com o Armistício de Compiègne assinado e com o retomar da Liga Inglesa, a equipa de Lancashire voltaria em grande força. Em 1919/20 o conjunto ficaria em 2º lugar para, com 23 golos marcados pelo atacante, acabar por vencer a competição na época seguinte.
Por altura da vitória na Liga já Robert Kelly tinha chegado à principal selecção inglesa. Com a estreia, numa partida frente à Escócia, a acontecer em Abril de 1920, o registo total do avançado seria de 14 internacionalizações e 8 golos. Também a nível de clubes, o seu trajecto tornar-se-ia invejável. A habilidade que, no sector mais adiantado, permitia que jogasse como extremo ou como interior, faria com que acabasse por ser visto como um dos praticantes icónicos das décadas de 20 e 30. O estatuto do atleta seria de tal maneira valorizado que, aquando da sua transferência do Burnley para o Sunderland, a maquia envolvida no negócio transformar-se-ia num recorde.
A curta passagem pelo Sunderland precederia a sua transferência para o Huddersfield. O regresso ao Noroeste inglês, mesmo sem a conquista de títulos, traria ao avançado momentos inesquecíveis. Os dois segundo lugares conseguidos nas temporadas de 1927/28 e 1928/29, serviriam de aperitivo para a dupla presença na final da Taça de Inglaterra. Infelizmente para o atleta, em ambas as partidas disputadas, as vitórias sorririam aos conjuntos adversários.
Preston North End e Carlisle tornar-se-iam nos derradeiros emblemas da caminhada de Robert Kelly, enquanto atleta. No último clube, o avançado, já na função de treinador-jogador, acabaria por fazer a transição entre os relvados e o banco de suplentes. O Stockport County, na temporada de 1936/37, marcaria o começo, em exclusivo, do seu trajecto como treinador. Porém, um novo conflito armado voltaria a interromper a sua carreira. Só com o fim da 2ª Guerra Mundial é que o antigo atacante regressaria a actividade desportiva. A partir desse momento, a sua escolha recairia no estrangeiro. Em 1946 aterraria em Portugal para comandar o Sporting. Essa época coincidiria também com primeira em que os “Cinco Violinos” actuaram todos juntos. O resultado não poderia ser o melhor e o seu palmarés, nos 2 anos após a sua chegada, seria colorido por 2 Campeonatos, 1 Taça de Portugal, 2 Campeonatos de Lisboa e 1 Taça de Honra da AFL.
Famalicão, os suíços do St. Gallen, o campeonato holandês ao serviço do Heerenveen e do AZ Alkmaar preencheriam aquilo que foi o seu currículo como técnico. Por fim, e antes de decidir retirar-se, uma última experiência pelos galeses do Barry Town.

984 - ZAHOVIC

Representava o Kovinar Maribor quando Milko Djurovski, a cumprir o serviço militar na região, o descobre. Zlatko Zahovic, depois da observação feita pelo atleta do Partizan, é convidado a juntar-se ao emblema de Belgrado. Chega à capital da antiga Jugoslávia na temporada de 1989/90, para entrar num balneário que, entre outros internacionais, contava com Predrag Mijatovic. A presença de vários craques faz com a afirmação do jovem jogador tome um caminho mais tortuoso. Na época seguinte acaba cedido aos também primodivisionários do Proleter Zrenjanin. Passa a jogar com maior regularidade e, dando sinais positivos, começa a dar razão a quem nele tinha apostado.
No regresso ao Partizan, Zahovic começa a gozar de outra preponderância. Esse destaque, em Novembro de 1992, leva-o à estreia na selecção principal da Eslovénia. Contudo, o desenrolar da guerra dos Balcãs, e o êxodo daí resultante, faz com que o médio comece a ver com bons olhos a mudança para outro país. Em 1993, e já com 1 Campeonato e 1 Taça no currículo, aceita o convite do Vitória de Guimarães e dá início a uma longa ligação com Portugal.
No Minho, em toda a sua plenitude, mostra as qualidades que tinham feito dele uma grande promessa. Uma técnica singular, com um drible e uma capacidade de passe sublimes, aliada a uma soberba visão de jogo, fazem de Zahovic um dos melhores “10” a actuar no nosso Campeonato. O desempenho colectivo do Vitória de Guimarães, onde pontuavam jogadores como Dimas, Paulo Bento, Pedro Barbosa, José Carlos, Ziad, Pedro Martins, Vítor Paneira ou Capucho, seria também um factor decisivo para o acréscimo de valor na sua carreira. A sua evolução, auxiliada por um percurso internacional em crescendo, leva-lo a entrar no “radar” de emblemas de outra monta. Quem ganha a corrida acaba por ser o FC Porto e, com a mudança para o Estádio das Antas, o seu percurso profissional ganha um novo ímpeto.
Com o “Penta” a entrar no 3º capítulo, Zahovic estreia-se com a camisola “azul e branca”. António Oliveira, como timoneiro do conjunto portuense, lança o esloveno no “onze” inicial. A sua qualidade impõe-se de imediato e o médio passa a ser um dos grandes estrategas da equipa. As exibições por si conseguidas, muito mais do que um tónico para o grupo, transformam-se num dos pilares para as futuras conquistas. Com os agentes do futebol de olhos no FC Porto, os melhores intérpretes desse ciclo de 5 vitórias consecutivas começam a ser cobiçados. Para o médio surgem nas Antas diversas propostas e no Verão de 1999 dá-se a sua partida.
Apesar da vontade do atleta não estar em sintonia com a do clube, o negócio da sua transferência leva-o ao Olympiakos. Tanto na Grécia, como já ao serviço do Valência, o desempenho do médio, em termos de protagonismo, acaba por ser ultrapassado pelas diversas polémicas vividas com os treinadores. Primeiro em Pireus, e depois em Espanha, Zahovic passa mais tempo a discutir a sua utilização do que a jogar. Salva-se o Euro 2000. O médio é chamado àquele que, à altura, passa a ser o primeiro grande torneio disputado pelo seu país. No certame organizado entre a Bélgica e a Holanda, o atleta destaca-se. Boas exibições e 3 golos em 3 partidas, seriam suficientes para manter o seu valor bem alto.
Após a passagem pela “La Liga”, num negócio que envolve a ida de Marchena para Valência, Zahovic regressa a Portugal. Para jogar com as cores do Benfica, o médio chega a Lisboa numa altura em que as “Águias” já estavam na fase de transição entre os “anos negros” de Vale e Azevedo e o recobro planeado por Luís Filipe Vieira. A mudança directiva permite ao clube voltar a sonhar com títulos. O desempenho do médio esloveno, ainda que longe dos anos no FC Porto, toma um papel importante na recuperação e nos troféus conquistados. Porém, e antes das vitórias, mais uma polémica com um treinador. Com Katanec no lugar de seleccionador, a ida da Eslovénia ao Mundial de 2002 resulta em mais uma contenda. Ao discordar da táctica utilizada, o atleta, pouco utilizado, vem a público criticar as opções do treinador.
Já as vitórias no Benfica coincidem com os 2 últimos anos de Zahovic como atleta profissional. A Taça de Portugal de 2003/04 e a conquista da Liga de 2004/05 fecham “com chave d’ouro” a sua caminhada desportiva. Não muito tempo depois vêm o início das funções como dirigente. De volta ao país natal, o antigo internacional enceta um novo capítulo na vida. No NK Maribor, onde entra em 2007, dá os primeiros passos como Director Desportivo. No entanto, não pensem que tais tarefas o afastam dos campos. Com saudades dos relvados, aceita o convite do Limbus Pekre e passa a actuar nos “regionais” da Eslovénia.

983 - BAPTISTA

Nascido em Setúbal, chegaria à primeira categoria do FC Porto já com 23 anos de idade. Tendo sido essa temporada de 1949/50 a única campanha em que há registos da sua participação na equipa principal “Azul e Branca”, a questão que aqui levanto é: por onde terá andado Ezequiel Baptista, até então? A resposta, para quem tenha acesso a outro tipo de arquivos, poderá ser fácil. Eu não a encontrei!
Voltando à sua passagem pelo FC Porto, ainda a jogar no Campo da Constituição, seria, como aqui já foi dito, de pouca duração. Num ano atribulado, com diversas mudanças de treinador, os “Dragões” acabariam (em termos de pontos) mais perto da “linha-de água”, do que do topo da tabela classificativa. Talvez esse turbilhão tivesse, de alguma forma, atrapalhado a adaptação do médio. Pouco utilizado, o seu peso dentro do plantel acabaria por levá-lo a escolher outro caminho para a sua carreira de futebolista. A solução seria encontrada um pouco mais a Norte e a transferência para o Sporting de Braga, com uma época de hiato nos arquivos da sua actividade, tomaria corpo em 1951/52.
A mudança para o Minho seria de fulcral importância para o estatuto de que viria a usufruir mais adiante. Podendo jogar no miolo do terreno, como mais inclinado para a direita do sector intermediário, Baptista tornar-se-ia num elemento fundamental para as manobras tácticas dos bracarenses. Com uma primeira temporada algo discreta, as campanhas seguintes mostrariam o atleta como um dos nomes habituais na ficha de jogo. Essa regularidade exibicional acabaria por levá-lo a vestir a “camisola das quinas”. Baptista, que, frente ao Luxemburgo, também faria uma partida pela equipa “B”, conseguiria a estreia no conjunto principal em Dezembro de 1954. No particular frente à Alemanha Ocidental, disputado no Estádio Nacional, o médio entraria para o “onze” inicial. Escalonado por Fernando Vaz, o jogador acabaria por exibir-se ao lado de nomes como José Maria Pedroto, Vasques, Matateu ou Albano.
A internacionalização conseguida pelo centrocampista, haveria de consagrá-lo na história do emblema bracarense como o segundo atleta da casa, a seguir a Alberto Augusto, a vestir as cores de Portugal. Aliás, poderá haver uma correlação entre o nome de Alberto Augusto e a ida de Baptista para o Sporting de Braga. Nessa atribulada época de 1949/50, a tal do médio na equipa principal do FC Porto, Alberto Augusto orientaria o conjunto “Azul e Branco” até Novembro. Se essa correspondência terá tido, ou não, alguma influência na sua contratação por parte do emblema minhoto, não consegui confirmá-la. No entanto, não deixa de ser curiosa e passível de ser bem investigada.
No Sporting de Braga passaria 6 temporadas. Com o húngaro Joseph Szabo, que já tinha orientado o FC Porto uns anos antes, como o seu primeiro treinador, a caminhada de Ezequiel Baptista com as cores dos “Arsenalistas”, terminaria sob a alçada do mesmo técnico. Essa temporada de 1956/57, em que, após a despromoção 1 ano antes, ajudaria o conjunto minhoto a regressar à 1ª divisão, marcaria o fim da ligação entre o atleta e o clube. Depois viria o Leixões e finda essa campanha vivida em Matosinhos, a impossibilidade de acompanhar o que terá acontecido de seguida. Com 32 anos cumpridos, é bem possível que o médio tenha decidido pôr um “ponto final” no seu trajecto competitivo. Se tal aconteceu ou se, por outro lado, manteve alguma ligação à modalidade, não sei! Talvez seja mais uma boa questão para averiguar!

982- JANKAUSKAS


A carreira daquele que, até aos dias de hoje, pode ser visto como um dos melhores futebolistas do seu país começaria no Zalgiris Vilnius. A ida para o novo clube, onde faria a estreia sénior ainda em idade adolescente, permitir-lhe-ia, quase automaticamente, a estreia pela selecção nacional. Com as cores da Lituânia conseguiria frente à Estónia, e com 16 anos apenas, a primeira internacionalização “A”. Essa edição de 1991 da Taça do Báltico acabaria por representar um pouco mais no seu trajecto desportivo e, com a vitória da sua equipa no torneio, dar-lhe-ia também o primeiro troféu da carreira.
Com o andar dos anos, com os golos que abrilhantariam as suas exibições e com as competições ganhas, o seu valor começaria a subir. Mesmo não tendo a Liga lituana grande visibilidade, a verdade é que a proximidade histórica e geográfica com a Rússia levaria a que alguns clubes desse país reparassem nas capacidades de Jankauskas. Fisicamente possante e com um bom sentido de área, o CSKA de Moscovo veria no ponta-de-lança um bom reforço. Após ter vencido 2 Ligas e 3 Taças no seu país, a mudança para a capital russa representaria um grande desafio. No entanto, o atleta não deixaria amedrontar-se e no já referido emblema, tal como na mudança para o Torpedo, o avançado continuaria a brindar os adeptos com jogos de qualidade superior.
Depois de ter chegado à Rússia em 1996, seria para a temporada de 1997/98 que nova mudança surgiria na sua caminhada profissional. A transferência para o Club Brugge acabaria por catapultar o estatuto do atleta. A vitória na “Pro League”, logo na época da sua chegada, e a conquista da Supertaça da campanha seguinte, serviriam, a par da constância dos seus golos, para colorir ainda mais o seu percurso. Em Janeiro de 2000, conseguiria alcançar mais uma marca para a sua carreira e para o desporto do seu país. Com a Real Sociedad a comprar o seu “passe”, os valores envolvidos nesse negócio transformariam Jankauskas no praticante mais caro de sempre na história do futebol lituano.
O capítulo seguinte na sua carreira seria, sem sombra de dúvidas, o mais prolífero. Apesar do sucesso alcançado ter sido vivido mais a Norte, a sua entrada em Portugal far-se-ia através de um “empréstimo” ao Benfica. Depois de meia temporada sob a orientação de Jesualdo Ferreira, o FC Porto conseguiria passar à frente das “Águias” e, em definitivo, contratar o ponta-de-lança. Com os “Azuis e Brancos” na alçada de José Mourinho, o clube atravessaria uma das mais brilhantes fases da sua história recente. O resultado desses dois anos de Jankauskas na “Cidade Invicta” saldar-se-ia por, nada mais que a vitória em 2 Campeonatos, 1 Taça de Portugal, 1 Supertaça, 1 Taça UEFA e 1 Liga dos Campeões.
Com a substituição de Mourinho por Luigi Del Neri e, logo de seguida, com a contratação do espanhol Víctor Fernandez, o ponta-de-lança acabaria por perder o seu espaço no plantel do FC Porto. A solução encontrada na sua cedência ao Nice levaria Jankauskas a entrar numa fase mais errante. Com presença em 8 países e 9 emblemas diferentes, destaque para a sua presença sua passagem pelos escoceses do Hearts, pela MLS e, num curto regresso a Portugal, a meia temporada feita pelo Belenenses.
Já os seus últimos anos como futebolista seriam passados em convivência com os primeiros passos que daria como treinador. Tendo começado nas tarefas de adjunto em emblemas como o Hearts ou Lokomotiv de Moscovo, esse percurso levá-lo-ia ao cargo de seleccionador da Lituânia. Como timoneiro principal da equipa nacional do seu país, o antigo avançado faria a Fase de Qualificação para o Mundial de 2018 e a UEFA Nations League.

981 - PAULO ADRIANO

Subiria à categoria principal do Anadia em 1995/96. Após 3 temporadas no emblema do Distrito de Aveiro, a Académica, talvez impulsionada por uma contratação passada, veria em Paulo Adriano um bom reforço. Em Coimbra, o médio voltaria a cruzar-se com o seu antigo colega. João Tomás, por essa altura, já era um dos atletas mais consagrados do emblema estudantil e, de certo modo, ajudaria a apadrinhar a entrada do novo jogador.
A sua chegada em 1998/99 coincidiria com a despromoção do clube, no final da referida temporada. Por essa razão, e depois do pulo do 3º escalão para o patamar máximo do futebol nacional, o médio, nos anos seguintes, acabaria por disputar a Divisão de Honra. No entanto, esse passo atrás permitiria ao jogador afirmar-se no grupo conimbricense. A continuidade no seio do plantel estudantil, levá-lo-ia a tornar-se numa referência do mesmo. O peso que começaria a ter nas manobras da equipa, assim o justificaria. Porém, outro factor surgiria. Personificar aquilo que de mais nobre há na cultura e história da Académica, o centrocampista escolheria, ao iniciar os estudos em Geografia, alimentar a imagem do atleta-estudante.
Para ser mais correcto, a sua passagem pela Académica acabaria por ter certos períodos de alguma intermitência. Nem sempre amado, nem sempre compreendido, seria por vezes acusado de alguma lentidão e displicência. Ao ocupar uma posição entre o “lugar 6” e o miolo do terreno, Paulo Adriano caracterizar-se-ia por ser um jogador de grande sentido posicional. Podia não ser o elemento mais vistoso na equipa. Porém, era de uma utilidade fulcral. A sua consciência táctica torná-lo-ia, principalmente nos últimos anos a jogar pelos “Estudantes”, numa das peças basilares do grupo. Esse peso traduzir-se-ia, não só pelo número de presenças em campo, mas, essencialmente, pelas vezes que envergaria a braçadeira de capitão.
No final da temporada de 2005/06 e com a troca de Nelo Vingada por Manuel Machado, a separação entre o atleta e o clube consumar-se-ia. Ao fim de 8 anos, Paulo Adriano deixaria as margens do Mondego para, naquela que seria a primeira aventura no estrangeiro, viajar para o Chipre. No AEK Larnaca, onde iria encontrar-se com os portugueses Zé Nando e Miguel Fidalgo, a passagem seria de curta duração. Começaria aí uma fase nova na sua carreira, durante a qual experimentaria jogar por diversos clubes e em diferentes países. O Vitória de Guimarães, na fatídica época na Divisão de Honra, os romenos do Brasov e ainda uma passagem pelos russos do Alania tornar-se-iam nas cores desse capítulo.
O regresso a Portugal representaria para o futebolista a entrada na derradeira fase do seu percurso desportivo. De volta ao Anadia na campanha de 2009/10, Paulo Adriano manter-se-ia no emblema da sua terra natal por 4 temporadas. Contribuiria para a promoção do clube à 2ª divisão e, nas épocas seguintes, seria uma preciosa ajuda na permanência da colectividade no referido escalão.
Depois de uma derradeira temporada ao serviço do Oliveira do Bairro, Paulo Adriano, em 2014, poria um ponto final na vida de futebolista. Alguns anos após o seu afastamento, o antigo médio passaria a dedicar-se à política. Nas listas do Partido Social Democrático seria, no âmbito das Eleições Autárquicas de 2017, o candidato à Assembleia de Freguesia da União de Freguesias de Arcos e Mogofores.

980 - MIKEY WALSH

Nascido no Condado de Lancastre, mas de ascendência irlandesa, Mikey Walsh destacar-se-ia no Chorley FC, clube da sua terra natal. Com 19 anos é descoberto pelo Blackpool. Fisicamente possante, bom no jogo aéreo e com um sentido posicional ideal para marcar muitos golos, o ponta-de-lança parecia, no jogo directo, encaixar-se na perfeição. Tendo isso em conta, a ninguém surpreenderia o sucesso que conseguiria alcançar logo nos primeiros anos como profissional. Mesmo a disputar o 2º escalão inglês, os seus desempenhos acabariam por empurrá-lo para uma carreira internacional. Tendo em conta os seus antepassados, o convite feito pela Football Association of Ireland seria aceite pelo jogador e a estreia pela equipa principal, num “amigável” frente à Noruega, aconteceria em Março de 1976.
Passadas 5 temporadas sobre a sua chegada ao Blackpool e o Everton decide apostar na sua contratação. Entra em Goodison Park na campanha de 1978/79 para, desse modo, estrear-se no escalão máximo inglês. No emblema sediado na cidade de Liverpool, seriam dadas ao avançado oportunidades suficientes para conseguir exibir o seu potencial. No entanto, tal como aconteceria já na sua passagem pelo Queens Park Rangers, as bolas pareciam não querer entrar nas balizas adversárias. Sem os golos que o tinham notabilizado, as suas passagens pelos dois referidos emblemas seriam curtas e, de certo modo, marcadas por alguma desilusão.
Após essas duas épocas, a Walsh é dada uma nova oportunidade. O FC Porto, à procura de colmatar a saída de Fernando Gomes para o Sporting Gijon, olharia para o internacional irlandês como uma solução válida para o ataque. Todavia, as características do avançado, pouco móvel e com algumas falhas nos aspectos técnicos, nem sempre haveriam de agradar aos treinadores do clube “azul e branco”. Por essa razão, e apesar de ser recordado como um bom elemento, a presença do ponta-de-lança caracterizar-se-ia por alguma intermitência exibicional.
Alternando campanhas de grande proveito com outras de desempenhos mais modestos, Walsh, num total de 6 temporadas e 123 partidas disputadas, ainda conseguiria a bela marca de 56 golos. Muitos desses remates certeiros, durante o referido período, seriam importantes para os títulos alcançados pelo grupo. Houve um golo, no entanto, que ficou na memória dos adeptos. Na Taça dos Vencedores das Taças de 1983/84, numa campanha em que o FC Porto chega à final, o atacante, à conta desse lance, tornar-se fulcral na caminhada até à derradeira partida do torneio. Nos quartos-de-final, numa eliminatória em que os “Dragões” enfrentavam o Shakhtar Donetsk, o resultado na 2ª mão atirava os portugueses para fora da prova. É então que António Morais decide pôr em campo o irlandês. Entra aos 67 minutos para aos 72 marcar o tento que empatava o desafio. O 1-1 conseguido na antiga União Soviética, depois do 3-2 verificado nas Antas, empurrava os portistas para a ronda seguinte. Frente ao Aberdeen e na final de Basileia, o atleta manteve a condição de suplente. Ainda entra em campo na partida com a Juventus, mas a sua ajuda seria insuficiente para contrariar a vitória dos italianos.
Com 2 Campeonatos, 1 Taça de Portugal e 2 Supertaças ganhas, o tempo passado no Estádio das Antas seria o mais prolífero da sua carreira. Todavia, a irregularidade que aqui já foi falada ditaria a sua saída do FC Porto. Mikey Walsh, depois da separação, daria seguimento à sua carreira em Portugal. Salgueiros e Sporting de Espinho, ainda na 1ª divisão, e Rio Ave seriam os clubes onde embarcaria. Em Vila do Conde acabaria por pôr um ponto final na sua carreira de futebolista. Depois de retirar-se, o antigo avançado manter-se-ia ligado à modalidade, mas nas funções de Agente Desportivo.

979 - ABÍLIO

Com o último ano de júnior a ser cumprido pelo FC Porto, Abílio, que tinha feito o resto do seu percurso formativo com as cores do Candal, veria uma nova oportunidade a abrir-se no seu, ainda muito curto, trajecto desportivo. Todavia, a sempre difícil transição para o patamar sénior haveria de afastá-lo das Antas nos anos seguintes.
A 3ª divisão, com a Oliveirense e com o União de Lamas, daria corpo aos 2 primeiros anos como sénior. Depois surgiria o Leixões e, tendo ajudado o grupo a conseguir a promoção, viria a entrada no escalão máximo em 1988/89. Tendo conseguido destacar-se nessa temporada de estreia na 1ª divisão, o regresso ao FC Porto seria visto como um justo prémio para tão excelsas exibições. Após a entrada no plantel “azul e branco”, o médio teria que, de seguida, enfrentar algumas dificuldades de adaptação. Dando de caras com a concorrência de elementos como Semedo, ou até mesmo a de Madjer, as oportunidades que conseguiria conquistar durante as duas épocas passadas com os “Dragões”, seriam poucas. Ainda assim, o saldo desse período seria positivo, com 1 Campeonato, 1 Taça de Portugal e 1 Supertaça a dar cor ao seu palmarés.
A mudança para o Salgueiros em 1991/92, daria início à mais prolífera parte da sua carreira. Tendo Paranhos representado 7 anos no seu percurso profissional, seria aí que conseguiria mostrar, em toda a plenitude, os seus melhores atributos. Médio de fino recorte, as suas exibições eram plenas de técnica, capacidade de passe e visão de jogo. Gostava de posicionar-se, mormente em funções de transição ofensiva, entre o centro do terreno e o lugar de “10”. Tirando raras excepções, o atleta acabaria por reservar uma posição no “onze” titular. A sua entrada para o clube coincidiria também com a presença do emblema portuense nas competições europeias. Nessa eliminatória contra o Cannes, onde ainda pontuava Zinedine Zidane, Abílio participaria nas duas mãos.
Apesar de ter sido o Salgueiros o emblema mais figurativo da sua carreira, outros também preencheriam o seu espaço nessa caminhada. Primeiro, e representando 1 ano sabático na sua ligação ao Estádio Engenheiro Vidal Pinheiro, surgiria o Belenenses. Depois e consumado o divórcio com os de Paranhos, viriam Campomaiorense, Desportivo das Aves e o regresso ao Leixões. Na colectividade de Matosinhos, numa altura em que as 13 temporadas consecutivas no escalão máximo do futebol português precediam a sua entrada pela 2ª divisão “B”, Abílio viveria mais um momento histórico. Num plantel recheado de talentos, casos de Antchouet, Besirovic ou Detinho, e com o treinador Carlos Carvalhal a dar os primeiros passos, o grupo conseguiria a proeza de chegar à final da edição de 2001/02 da Taça de Portugal.
Aliás, não seria um, mas vários os momentos marcantes que viveria nessa passagem pelo Leixões. Nesse sentido, é impossível dissociar a experiência vivida no Estádio do Mar, da presença na Supertaça e a disputa da Taça UEFA na época seguinte à presença no Estádio do Jamor. Para completar tudo isso, e a meio dessa segunda temporada, o médio seria convidado a ocupar o lugar deixado vago por Carlos Carvalhal. Começaria aí a sua carreira de treinador que, logo na estreia, contaria com uma subida de escalão. Daí em diante, o antigo futebolista manteria a ligação à modalidade. Nem sempre como técnico, tendo desempenhado funções de “olheiro” e até de Presidente do Sport Canidelo, Abílio tem vogado principalmente pelos patamares inferiores do nosso desporto.