1032 - VIVAS


Com a sua formação a terminar no União de Lamas, seria naquele que é o emblema da sua terra natal que Alberto Vivas faria a transição para o patamar sénior. Tendo dado esse passo na temporada de 1974/75, a estreia do defesa no degrau maior do futebol nacional ainda demoraria alguns anos a chegar.
Depois de 7 campanhas a vestir o negro-rubro do emblema de Santa Maria de Lamas, o momento de dar o salto de escalão chegaria com a troca de clube. A viagem que o apresentaria à 1ª divisão, apesar de não levar o jogador para muito longe, transportá-lo-ia para um contexto competitivo diferente. Num Sporting de Espinho comandado por Manuel José, por razão do traquejo apaiolado na etapa anterior à sua chegada, Vivas rapidamente conseguiria afirmar-se como um elemento válido para o plantel. No entanto, e com a entrada no Estádio Comendador Manuel Violas a acontecer na temporada de 1981/82, seria a contratação de Álvaro Carolino para treinador que o cimentaria no “onze” inicial.
O novo timoneiro, com a ligação pelos “Tigres” a ser rubricada no defeso de 1982, para além de ajudar o defesa a consolidar-se na equipa, teria também um papel importante na sua definição como um atleta de cariz primodivisionário. Para tal, muito contribuiria aquele que viria a ser o projecto seguinte na carreira do treinador. Ora, o Desportivo de Chaves chegaria à vida de Vivas, muito por culpa de Álvaro Carolino. Agradado com as suas qualidades, seria por indicação do referido treinador que o atleta acabaria por mudar-se para Trás-Os-Montes. Nos flavienses, já sob o comando de Raúl Águas, ajudaria o conjunto a chegar pela primeira vez à 1ª divisão. No entanto, a subida ao escalão máximo não seria o único grande momento vivido na cidade transmontana. Em 1986/87, na 3ª época a envergar a camisola azul-grená, o lateral seria um dos nomes que, ao contribuir para o 5º lugar alcançado no final desse campeonato, empurraria o clube para a inesquecível disputa das competições europeias.
Infelizmente, a campanha de 1986/87, a tal do Desportivo de Chaves na Taça UEFA, tornar-se-ia bem ingrata para Vivas. Sem ser utilizado, muito mais do que falhar as pelejas europeias, a falta de jogos levá-lo-ia a deixar o clube. Pior ainda, o fim da ligação entre o clube e o atleta marcaria também o fim do trajecto do lateral na 1ª divisão. Seguir-se-ia o regresso aos escalões secundários. O Olhanense, no derradeiro capítulo da sua carreira, tornar-se-ia no emblema mais importante. Mesmo afastado dos palcos maiores do futebol português, ainda assim, as 4 temporadas passadas no Algarve trariam algumas curiosidades. Uma delas, em 1991/92, seria a curta experiência como treinador. Contudo, essa passagem pelo comando técnico não extinguiria o seu trajecto como futebolista. O fim viria apenas na época seguinte e com o retorno ao União de Lamas.

1031 - JOSÉ HENRIQUE

Apesar de ter passado pelas “escolas” do Benfica, só passados já uns bons anos é que José Henrique daria o seu cunho à história dos “Encarnados”. Entretanto, apareceria a oportunidade de fazer a estreia como sénior no Amora. Na Medideira, sempre nos escalões inferiores, jogaria as 3 temporadas que o levariam ao nosso escalão máximo. O Seixal e o Campo do Bravo abrir-lhe-iam, nessa temporada de 1964/65, as portas da 1ª divisão. Porém, a época que empurraria o guarda-redes para o estrelato, seria feita por outro emblema. Um ano volvido, e de regresso ao 2º patamar, seria nos alcantarenses do Atlético que as suas exibições levariam Fernando Cabrita a (re)descobri-lo.
A sua entrada na “Luz” acabaria, mesmo sem ninguém assumir tal ideia, por ter a pesada premissa de substituir o mítico Costa Pereira. Tal fardo, só possível de carregar por alguém de grande calibre, não esmoreceria o recém-chegado jogador. A primeira época, a de 1966/67, ainda a viveria na sombra dessa ideia e da concorrência de Nascimento. Contudo, logo na seguinte, o cenário cambiaria. O guardião, com a sua habilidade felina, agarrar-se-ia à titularidade. Tal seria a confiança nas suas qualidades que Fernando Riera, entretanto chegado ao clube, escolheria o jogador para ir a Wembley e jogar a final da Taça dos Clubes Campeões Europeus. Para ser correcto, a escolha não deverá ter sido muito difícil. Muito mais que um guarda-redes, José Henrique era um atleta notável. Sem ter uma estatura impressionante, a sua agilidade compensava tudo. Essa ligeireza, combinada com a bravura mostrada em todas as suas saídas dos postes, faziam de si uma figura ímpar. A alcunha “Zé Gato” servir-lhe-ia que nem uma luva. Todavia, nessa tarde de Londres nem os seus voos conseguiriam parar o Manchester United. O Benfica sairia derrotado e a oportunidade de vencer o mais prestigiante troféu de clubes perder-se-ia com o desenrolar do prolongamento.
Apesar do desaire vivido em Inglaterra, os títulos que conseguiria ganhar pelas “Águias” surgiriam, na sua caminhada, em boa quantidade. Campeonatos, incluída a invicta campanha de 1972/73, seriam 8. A esses, ainda há que somar 3 Taças de Portugal. Mas nisso de conquistas faltar-lhe-ia uma outra coisa. Apesar da vaidade em vesti-la, a camisola da selecção haveria de ser uma luta, sem querer exagerar, um pouco madrasta. A culpa, sem sombra de dúvidas, tomaria corpo na existência de Vítor Damas. A lenda do futebol português, tornar-se-ia no grande responsável pela sua modesta carreira com as cores das “quinas”. Ainda assim, e mesmo com tamanha concorrência, nunca faltou a José Henrique o orgulho de representar o seu país. Tal honra atingiria o expoente máximo, aquando da participação na Minicopa de 1972. Com exibições de uma excelência impossível de relatar, o guardião haveria de ser um dos pilares de um grupo ainda órfão da geração de 1966. O fantasma dos “Magriços” sairia quase exorcizado dessa passagem pelo torneio disputado no Brasil. Porém, Portugal claudicaria na final. Querem um culpado? Então, a sentença terá que ser lida a Jairzinho e ao golo que, aos 89 minutos, subtrairia a taça ao palmarés luso.
Mesmo ligada incontornavelmente às “Águias”, a sua carreira haveria de ter outros emblemas. Para além dos já referidos e que colorariam os primeiros anos do seu trajecto como sénior, outros houve que também preencheriam o seu currículo. Primeiro, a referência para uma daquelas, tão habituais nos anos 70, estivais passagens pela liga norte-americana. Na NASL (North American Soccer League) de 1971, José Henrique envergaria as cores dos Toronto Metros. Mais tarde, já no ocaso do seu trajecto desportivo, apareceriam ainda o Nacional da Madeira e o Sporting da Covilhã. Na Serra da Estrela surgiria a oportunidade, enquanto treinador-jogador, de dar os primeiros passos nas tarefas de técnico. Longínqua memória que nos reporta para o papel que, com a viragem do milénio, passaria a desempenhar. Integrado nos quadros do Benfica, o antigo internacional haveria de cumprir, durante largos anos, um papel importante na formação de novos talentos.

1030 - ANTÓNIO JORGE



O CD Montijo apareceria na sua vida ainda em idade júnior. Numa altura em que já estava a terminar a formação, e com o clube a viver a 3ª época na 1ª divisão, a António Jorge seria dada a oportunidade de dar os primeiros passos no escalão máximo do futebol nacional. A estreia aconteceria, nada mais, nada menos, do que no Estádio da “Luz”. Chamado a jogo por José Moniz, o avançado entraria no “onze” inicial. Porém, a sua presença em campo seria insuficiente para contrariar o poderio das “Águias” de John Mortimore. O emblema da Margem Sul, nessa 13ª jornada de 1976/77, ainda conseguiria superar-se durante grande parte do desafio. No entanto, a partida terminaria com a vitória do Benfica por 4-1.
Nessa temporada de estreia no patamar sénior, com atletas como Bolota e Gijó a tomarem a dianteira na corrida para o escalonamento da equipa, a António Jorge seriam dadas poucas chances para mostrar a sua habilidade. Com a descida do CD Montijo no final da campanha, o jovem avançado acabaria também por ser empurrado para os escalões secundários. As épocas seguintes, apesar de equipar por conjuntos com ambições aos lugares de subida, prolongariam a sua passagem pela 2ª divisão. Barreirense e Recreio de Águeda, numa senda que traria à sua carreira muita experiência, acabariam por fazer parte dessa etapa.
Com a importância que só o traquejo pode trazer, António Jorge apresentar-se-ia de novo ao escalão maior. No final da 2ª temporada a jogar pelo Recreio de Águeda, o avançado consagrar-se-ia como um dos atletas que, em 1982/83, dariam um bom contributo para a primeira subida do conjunto ao patamar máximo. A preponderância conquistada durante os anos iniciais com os aguedenses, manter-se-ia na época de estreia do emblema no escalão principal. Em 1983/84, sob a alçada do ex-sportinguista José Carlos e, depois da saída deste, com a chegada de Albano Soares, o atacante nunca deixaria de ser presença assídua nas fichas de jogo. Mesmo como um dos pilares do conjunto do Baixo Vouga, mais uma vez o jogador veria o seu grupo descer no final da campanha. Ainda assim, nem tudo seriam más recordações e o golo marcado em Alvalade à 12ª jornada, persistirá como um dos momentos inesquecíveis do seu percurso.
Depois da passagem pela agremiação do Distrito de Aveiro, as escolhas que António Jorge acabaria por fazer não voltariam a pô-lo no convívio dos “grandes”. Apesar de, em 1984/85, ter ajudado à promoção do Desportivo de Chaves, a verdade é que, na época seguinte, o destino levá-lo-ia a outras paragens. Com um papel importante na referida subida, resultado das muitas presenças em campo, a sua saída da colectividade flaviense acabaria envolta em dúvidas. O facto é que na temporada seguinte, o avançado apresentar-se-ia com as cores do Vizela. Daí em diante, e num períplo que podemos classificar como saltitante, o atleta mudaria várias vezes de clube. Lixa, Peniche, o regresso ao CD Montijo e o Moura, precederiam aquele que viria a tornar-se no derradeiro emblema do seu trajecto enquanto futebolista.
Seria no Pinhalnovense que, já na década de 90, o jogador haveria de “pendurar as chuteiras”. Não pensem, no entanto, que o antigo avançado conseguiria desligar-se da modalidade. Alguns anos depois, em 2002, António Jorge Galvão apresentar-se-ia como aspirante à presidência do CD Montijo. Ficaria no lugar, mas encontraria o histórico emblema numa situação bastante difícil – “Quando chegámos, em Julho, encontrámos um passivo de dois milhões de euros. Com este panorama, tomámos a decisão de pagar as dívidas do dia-a-dia, pois não temos a capacidade financeira para resolver todos os problemas (…). Até as taças estão penhoradas. O estádio é da Câmara, não temos terrenos, não podemos ter nada em nosso nome senão também é penhorado”*.

*retirado do artigo publicado a 22 de Janeiro de 2003, em www.record.pt

1029 - DUDA

Produto das afamadas escolas do Corinthians Alagoano, Duda chegaria a Portugal para representar o Benfica. Apesar de ser uma das boas promessas do emblema brasileiro, a sua passagem pela “Luz” tornar-se-ia infrutífera. Sem participar em qualquer partida oficial, o extremo acabaria por deixar os “Encarnados” ainda no decorrer dessa temporada de 1997/98.
Kashiwa Reysol, na J-League, e o regresso ao nosso país para jogar pelo Rio Ave, precederiam a sua ligação a outro dos principais emblemas nacionais. Tal como tinha acontecido em Lisboa, a estadia do avançado no FC Porto traria, praticamente, os mesmos resultados. Em abono da verdade, Duda ainda conseguiria inscrever o seu nome em algumas fichas de jogo. Tendo entrado no Estádio das Antas na época imediatamente a seguir ao fim do ciclo do “Penta”, a qualidade do plantel “Azul e Branco” poucas oportunidades daria ao jogador. Ainda assim, e com colegas como Drulovic, Capucho, Folha e Alessandro, o atacante ainda participaria em desafios da Liga dos Campeões, do Campeonato e da Taça de Portugal.
A referida presença na 4ª eliminatória da “Prova Rainha”, e a vitória do FC Porto na prova, valer-lhe-ia o primeiro troféu em Portugal. Porém, Duda não terminaria essa campanha de 1999/00 nas Antas. O Alverca, sempre na 1ª divisão, seria o passo seguinte e de transição para o Boavista. Já no Bessa, a sua entrada coincidiria com a mais importante fase da história do emblema portuense. Com os “Axadrezados” cada vez mais a tomar a dianteira do futebol português, a época de 2000/01 seria ímpar. As “Panteras”, com um plantel riquíssimo e orientado por Jaime Pacheco, conquistariam o Campeonato. O extremo, nessa senda gloriosa, tornar-se-ia num dos pilares de tamanho êxito. Finalmente, ao avançado seria dada a oportunidade para conseguir mostrar todos os seus predicados. Possante, veloz, com uma técnica apurada e até um bom “faro” para o golo, o jogador daria um enorme contributo para os sucessos do clube.
Para além da vitória no Campeonato, Duda também daria o seu contributo em outras etapas admiráveis. A sua presença na Liga dos Campeões de 2001/02, onde participaria em todas as 12 partidas, ajudaria o Boavista a chegar à 2ª fase de grupos. Também na Taça UEFA de 2002/03, muito da chegada do clube às meias-finais, dever-se-ia às boas prestações do avançado. Ainda assim, e sem ter deixado de ter peso na estratégia da equipa, a verdade é que as suas duas últimas temporadas no Bessa não teriam a preponderância das duas primeiras.
Talvez por essa razão, 2004 marcaria o fim da ligação entre o avançado e o emblema “axadrezado”. No seguimento da separação, o atleta voltaria ao Brasil. Inter de Limeira, o regresso ao Corinthians Alagoano e o Luziâna, precederiam mais uma etapa no estrangeiro. Para a temporada de 2007/08, Duda, mais vez, decidiria atravessar o Oceano Atlântico para tentar a sua sorte na Europa. O surpreendente dessa aposta é que a sua viagem teria como destino a ilha de Malta e o Sliema Wanderers.

1028 - ROSÁRIO

Tendo passado pelas “escolas” do Sporting, período durante o qual também chegaria às camadas jovens da selecção portuguesa, a promoção ao patamar sénior afastá-lo-ia, enquanto atleta, do emblema sediado em Alvalade. O Sacavenense, às portas de Lisboa, recebê-lo-ia e, na temporada de 1979/80, acabaria por lançá-lo na competição profissional.
Um ano bastaria para que Rosário voltasse à “alta-roda” competitiva. Apesar de ter uma estatura baixa, a sua habilidade com a bola haveria de compensar alguma da hipotética fragilidade física. Posicionando-se nas alas do ataque, e podendo jogar em ambos os lados, a Académica de Coimbra veria nele um bom reforço para o seu plantel. Na “Cidade dos Estudantes”, o extremo acabaria por fazer uma época de bom nível. Sendo um dos atletas mais utilizados, o seu contributo seria exíguo para manter a “Briosa” no escalão máximo. Todavia, aquilo que mostraria na campanha de estreia na 1ª divisão tornar-se-ia suficiente para que surgissem clubes com disponibilidade para recebê-lo. Nesse sentido, apareceria o Académico de Viseu e a temporada de 1981/82 passá-la-ia na Beira Alta.
Nova despromoção acabaria mesmo por levar o atleta ao escalão secundário. Dessa feita e apesar de competir em emblemas com ambições à subida de patamar, Rosário passaria um largo período sem pisar os palcos maiores do futebol português. Nacional, Marítimo e Estrela da Amadora marcariam a meia-dúzia de anos dessa travessia pela 2ª divisão. Curiosamente, a sua experiência na Madeira quase que devolveria o atacante à 1ª divisão. No entanto, e apesar de em 1984/85 ter ajudado os “verde-rubro” a regressar ao convívio dos “grandes”, o destino empurrá-lo-ia para a Reboleira.
Seria o emblema da “Linha de Sintra” que devolveria Rosário aos palcos principais. Coincidindo essa época de 1988/89 com a estreia dos “Tricolores” na 1ª divisão, o atleta, inevitavelmente, acabaria por inscrever o seu nome na história do clube. Porém, sem tirar importância à referida temporada, haveria de ser a próxima experiência no escalão máximo que mais marcaria o futuro do atacante. Depois da passagem pela União de Leiria, a campanha de 1989/90 ligá-lo-ia ao Estoril Praia. A aposta nos “Canarinhos” levá-lo-ia a ser orientado por Fernando Santos. Durante as 3 campanhas realizadas no Estádio António Coimbra da Mota, muito mais do que a já referida vivência primodivisionária, a relação criada com o treinador haveria de revelar-se muito importante.
Depois de, no decorrer da campanha de 1993/94, ter terminado a sua carreira de futebolista no Alverca, seria ainda durante essa temporada que abraçaria um novo desafio. Como adjunto de Fernando Santos, o regresso ao Estoril Praia daria a Rosário a oportunidade de estrear-se como técnico. Nessa senda, tornar-se-ia no braço direito do actual seleccionador nacional e acabaria por acompanhá-lo no Estrela da Amadora, FC Porto, Sporting, Benfica e em grande parte da sua aventura pela Grécia. Trabalharia também com Sérgio Conceição, que já tinha orientado aquando da passagem de ambos pelo PAOK, adjuvando-o até à partida deste para França. Em 2016 voltaria a aceitar o convite do “Engenheiro” e, ao começar a trabalhar com as cores de Portugal, daria o seu contributo para a vitória no Euro 2016.

1027 - JIMMY MELIA

O destaque que conseguiria ainda como “schoolboy”, levaria Don Welsh, “manager” do Liverpool, a indicar o jovem médio interior para o emblema de Anfield. Em Merseyside faria também a transição para o patamar sénior e, depois de uma passagem pelas “reservas”, Jimmy Melia estrear-se-ia na equipa principal, na temporada de1955/56. Sendo um futebolista que tinha na visão de jogo a melhor arma, a sua adaptação à alta competição levá-lo-ia, progressivamente, a ganhar um lugar no “onze” dos “Reds”. No entanto, e com a equipa a disputar o 2º escalão inglês, seria a chegada de Bill Shankly que viria a mudar o destino tanto do jogador, como do clube.
Na senda de levantar o Liverpool e de devolvê-lo à glória perdida, o novo treinador usaria Jimmy Melia com um dos pilares da estratégia por ele idealizada. Tendo conseguido a promoção no final da campanha de 1961/62, o regresso da equipa à “division 1” em nada diminuiria o médio. Com exibições de grande nível, também da equipa nacional começariam a olhar para si como um elemento seleccionável. A estreia pela Inglaterra acabaria por acontecer logo na época da sua estreia no escalão máximo. Em Abril de 1963, numa partida frente à Escócia, o centrocampista vestiria pela primeira vez a camisola dos “3 Lions”. Num percurso internacional curto, ainda conquistaria uma segunda oportunidade. Essa disputa com a Suíça serviria também para que o jogador conseguisse marcar um golo pelo seu país.
Outra curiosidade no seu percurso, prender-se-ia com o maior troféu ganho na carreira. O título de campeão inglês chegaria ao seu palmarés em 1963/64. Porém, e tendo participado em grande parte das jornadas, Jimmy Melia não terminaria essa temporada em Anfield. Já no derradeiro terço da época, o médio aceitaria o convite vindo do Wolverhampton. Os Wanderers pagariam, à altura, uma maquia recorde na história do clube. Contudo, a sua passagem pelas Midlands seria breve. A meio da campanha seguinte, pois não contava para o treinador do Wolves, o médio seria transferido para o Southampton.
No emblema do Sul de Inglaterra, Jimmy Melia viveria os últimos anos como futebolista. Aliás, em abono da verdade, a sua derradeira presença em campo tê-la-ia já como treinador-jogador. Nesse sentido, seria com as cores do Aldershot e de seguida com o Crewe Alexandra, que o centrocampista daria os primeiros passos como técnico. No novo papel, o destaque maior viria passados alguns anos. No comando do Brighton & Hove Albion, o antigo internacional conseguiria a proeza de levar o emblema até à final da Taça de Inglaterra de 1982/83.
O que chegaria de seguida levá-lo-ia a mais uma aventura no estrangeiro. Depois de diversas experiências, ainda na década de 70, nos Estados Unidos da América, chegaria à sua carreira o Belenenses. Com os “Azuis” a sofrer os efeitos da primeira descida de escalão na sua história, Jimmy Melia encetaria a sua passagem por Portugal à 7ª jornada do Campeonato da 2ª divisão de 1983/84. Substituindo Fernando Mendes, seria dele o mérito do regresso dos da “Cruz de Cristo” ao patamar máximo do futebol nacional. Contudo, e sofrendo o mesmo destino do seu antecessor, a “chicotada psicológica” também serviria para afastá-lo. Sairia no decorrer da temporada de 1985/86 e para regressar ao seu país.
O resto da sua vida no banco de suplentes levá-lo-ia ainda a mais umas experiências engraçadas. Nos Emiratos Árabes Unidos criaria uma escola de futebol. Já alguns anos depois, e de volta à América, passaria a treinar as camadas jovens de um Liverpool nascido no Texas.

1026 - LUÍS CASTRO

Apesar de ter nascido em Trás-Os-Montes, seria na Região Centro que Luís Castro acabaria por crescer. Filho de uma professora e de um militar colocado na Base Aérea do Monte Real, o Distrito de Leiria serviria para o lançamento do seu percurso no desporto. Nesse sentido, e ainda como um jovem praticante, a União tomaria um papel de relevo nessa caminhada. No clube da “Cidade do Lis”, o defesa cumpriria grande parte da marcha formativa. Já na temporada de 1980/81, surgiria a chance de entrar em campo pela equipa principal. A disputar a 2ª divisão, poucas oportunidades conseguiria alcançar nessa campanha de estreia. A escassez de jogos levá-lo-ia a um empréstimo àquele que, nas “escolas”, tinha sido o seu primeiro emblema. No Vieirense ganharia o traquejo suficiente para garantir o regresso à “casa mãe”, o que viria a acontecer logo no ano seguinte ao da sua partida.
Tendo o União de Leiria deixado uma grande marca na sua carreira, seria por outro emblema que o defesa-direito conseguiria estrear-se no escalão máximo. Após uma época de bom nível com as cores leirienses, os responsáveis do Vitória de Guimarães decidir-se-iam pela sua contratação. Porém, e com Costeado a tapar-lhe os caminhos da titularidade, Luís Castro acabaria por não conseguir impor-se nessa temporada de 1985/86 e, menos ainda, na seguinte. Curiosamente, dando jus ao perfil de líder que desde cedo assumiria, o lateral asseguraria um papel relevante na equipa secundária – “Com 21 anos já era capitão do União de Leiria. Em Guimarães, como não jogava, era capitão das reservas. Depois fui para Elvas e fui capitão do Elvas na 1ª Liga”*.
Como é óbvio, o emblema seguinte na caminhada de Luís Castro seria o “O Elvas”. A temporada de estreia no Alentejo, e posso afirmá-lo com toda a certeza, tornar-se-ia na melhor da sua carreira. Com a transferência a mantê-lo na 1ª divisão, o jogador, finalmente, haveria de conseguir a titularidade. Conservaria o estatuto na época seguinte, mesmo com a despromoção vivida no final de 1987/88. Contudo, a descida marcaria o fim de um ciclo e o defesa nunca mais disputaria o patamar máximo. Seguir-se-iam o Fafe e o RD Águeda. No Baixo Vouga, e apesar da colectividade nunca ter saído dos escalões secundários, a sua passagem pela agremiação marcá-lo-ia. Muito mais do que os 7 anos com as cores aguedenses, seria aí que teria o ensejo de mudar de papel no futebol.
Após um pequeno ensaio, ainda enquanto futebolista sénior, nas camadas jovens do clube, seria na temporada de 1998/99 que assumiria o comando do plantel principal do RD Águeda. Como treinador, e com um percurso feito em emblemas mais modestos, o Penafiel, em 2004, devolvê-lo-ia à 1ª divisão. Ainda assim, seria o convite do FC Porto que cimentaria a sua cotação em papéis técnicos. Como coordenador da formação, mas principalmente à frente da equipa “b”, o antigo lateral passaria a ser visto como um homem de ideias válidas. A robustez do seu trabalho levá-lo-ia, ao substituir o demitido Paulo Fonseca, ao conjunto principal “Azul e Branco”. A experiência seria de curta duração. No entanto, e de volta à labuta habitual, o seu conhecimento sairia justamente premiado. Em 2015/16, sempre a trabalhar com os “bb”, Luís Castro sagrar-se-ia campeão da II Liga.
O Rio Ave, para a temporada de 2016/17, seria o emblema a assumi-lo em definitivo como um técnico de nível primodivisionário. Nessa nova etapa, e sempre assente em prestações valorosas, a sua ascensão levá-lo-ia também ao Desportivo de Chaves. Já em Guimarães, o trabalho feito à frente do Vitória destacá-lo-ia como um dos melhores em Portugal. Tendo qualificado a equipa para as provas europeias, a cotação alcançada durante a campanha de 2018/19 faria com que alguns dos bons emblemas europeus começassem a equacionar a sua contratação. O convite surgiria do Shakhtar Donetsk. Curiosamente, a sua chegada ao clube ucraniano seria, mais uma vez, para substituir Paulo Fonseca.

*retirado da entrevista conduzida por Mariana Cabral e Rui Duarte Silva, publicada a 26/07/2017, em https://tribunaexpresso.pt

1025 - ELISEU

A transferência do Marítimo de Angra do Heroísmo para o Belenenses, empurraria Eliseu para mais perto da 1ª divisão. O momento de jogar no escalão máximo, depois de um ano passado nos juniores da “Cruz de Cristo”, surgiria na temporada de 2002/03. Tendo participado em ambas as partidas da Intertoto frente aos croatas do Slaven, a estreia no Campeonato ainda demoraria um pouco a surgir. Depois de 33 jornadas a trabalhar para granjear tal oportunidade, Manuel José, já na última ronda, lá daria ao jovem extremo a merecida presença em campo.
A temporada imediata mostraria Eliseu já como um dos nomes habituais na folha de jogo. A sua evolução faria com que da Selecção Portuguesa de sub-20 surgissem também as primeiras chamadas. Surpreendentemente, o esquerdino, nas campanhas seguintes, começaria a perder o espaço conquistado anteriormente. Esse passo atrás, levá-lo-ia a um empréstimo ao Varzim. O resultado da cedência e da passagem pela divisão de honra, traria os seus frutos. No regresso ao Restelo, o jogador surgiria com outra estaleca. O traquejo ganho serviria para que, mais uma vez, conseguisse vestir com uma frequência agradável a camisola azul. A regularidade que voltaria a patentear mostrar-lhe-ia outros horizontes. No final dessa época de 2006/07 surgiria o interesse de outros emblemas e o atleta partiria para o estrangeiro.
O Malaga, dando azo a uma aposta no “mercado” português, haveria de levar para os seus quadros, para além da jovem promessa do Belenenses, o atacante Paulo Jorge e o defesa Hélder Rosário. Apesar de ter ido disputar o 2º escalão, a mudança para o “País Vizinho” serviria para cimentar Eliseu como um jogador de boas habilidades. Sendo um dos elementos mais utilizados no conjunto da Costa del Sol, o jogador tornar-se-ia num dos principais obreiros da subida de divisão. No patamar máximo da “La Liga” a partir de 2008/09, essa época elevaria ainda mais a sua cotação. De tal maneira subiria o seu valor que de Itália surgiria um convite irrecusável. Contudo, a sua mudança para a Lazio não surtiria o efeito desejado e, após uns meses na “Serie A”, o regresso a Espanha surgiria como solução para a inadaptação ao “calcio”.
O Zaragoza tornar-se-ia numa ponte para que Eliseu voltasse ao Malaga. E se a primeira estadia no emblema do Sul de Espanha havia servido para catapultar o seu estatuto, já a segunda passagem elevá-lo-ia a um nível internacional. A presença do seu clube na “Champions”, onde, ao lado de Antunes e Duda, atingiria os quartos-de-final da edição de 2012/13, tornar-se-ia num bom contributo para o seu crescimento. Por outro lado, o salto dado dever-se-ia também às chamadas à selecção nacional. Depois de Carlos Queiroz, em Junho de 2009, ter permitido ao jogador estrear-se pela equipa “A” de Portugal, o regresso à “La Liga” voltaria a pô-lo nos planos do conjunto das “quinas”.
Para ser correcto, Eliseu só passaria a ser um nome habitual nas convocatórias da selecção aquando da sua mudança para Portugal. Cumprindo um sonho de criança, o jogador assinaria um contrato que, durante anos, tantas vezes havia aparecido como hipótese nos meios de comunicação. Porém, e apesar de muitas vezes ter sido veiculada, a sua ligação ao Benfica só aconteceria em 2014. Apesar de já ter ultrapassado os 30 anos, a prova de que essa barreira é apenas psicológica ficaria bem patente nas suas exibições. Assumindo-se, principalmente nas duas primeiras épocas, como um dos titulares, o atleta rapidamente conquistaria um lugar no coração dos adeptos. Numa altura que, em definitivo, já tinha largado as acções mais ofensivas para passar a posicionar-se na esquerda da defesa, também os títulos começariam a chegar ao seu palmarés. A Supertaça de 2014/15 daria início a um périplo que levaria o atleta à conquista da Taça da Liga de 2014/15 e à vitória em 3 Campeonatos.
Nos festejos de 2017, a selar um “Tetra” nunca antes alcançado pelo Benfica, ficaria para a história a sua mota. No relvado, no balneário e até na Rotunda do Marquês do Pombal, a motorizada haveria de ficar célebre. Para competir em fama, só outro momento na sua carreira. Falamos, como é lógico, na vitória de Portugal no Euro 2016. Chamado para estar em França por Fernando Santos, o defesa acabaria por ser suplente. Ainda assim, e com Raphaël Guerreiro a assumir a primazia na lateral esquerda, Eliseu daria o seu contributo em 2 partidas. Não entraria em campo na final. Porém, a sua ajuda nos jogos frente à Hungria e com a Polónia, seriam de extrema importância naquele que é o marco maior da selecção lusa.
Antes de pôr um ponto final na carreira, tempo ainda para a presença em mais um grande certame internacional. A chamada à Rússia, e ao grupo que disputaria a Taça das Confederações de 2017, precederia a derradeira temporada no seu percurso como futebolista. Em 2018 Eliseu deixaria os campos. Muitos queixar-se-iam do seu “desaparecimento”. Contudo, o antigo defesa regressaria ao Estádio “da Luz”. Em 2019, para comemorar mais um triunfo no Campeonato, o ex-internacional, acompanhado da mítica moto, voltaria ao relvado das “Águias”.

1024 - BARRINHA

Das escolas do Belenenses, seria ainda em idade de formação que Barrinha começaria a dar nas vistas. O merecido destaque, antes ainda de ser promovido ao patamar sénior, levá-lo-ia a representar, em 1974, a selecção portuguesa no Torneio Internacional de Juniores da UEFA. Curiosamente, e sendo uma das grandes promessas do emblema do Restelo, aquando da eventual transição para a equipa principal, o jovem jogador acabaria por sair do clube.
A estreia como sénior dar-se-ia, então, com as cores do União de Tomar. A temporada de 1974/75 representaria, não só a transição de escalão, como o começo da sua caminhada no patamar máximo do futebol português. Nos nabantinos, o médio-defensivo, ou defesa de posições centrais, jogaria 4 temporadas (mais uma no fim da carreira). Sendo as 2 iniciais na 1ª divisão, as 2 últimas acabariam por ter um elã especial. A razão? Uma só: a presença de António Simões e Eusébio.
A presença de tamanhas “estrelas” serviria para preservar uma série de memórias. Os campos cheios de gente, os treinos e ensinamentos dos craques, ajudariam a dar outra cor a esses anos passados na cidade de Tomar. No entanto, e numa altura em que a Barrinha já tinha sido entregue o desígnio de capitanear os seus colegas, surge então um dos mais impares momentos aí vividos – “Deram-me a braçadeira porque tinha havido zangas e o Faustino já não queria ser capitão(…). Era eu quem tinha mais anos de balneário(…). Quando o Sr. António Simões chegou, fui dar-lhe a braçadeira. Ele ficou bastante sensibilizado e colocou-me à vontade para continuar. Era o que faltava! Então ele era o capitão da Selecção Nacional e não havia de ser aqui do União?!”*.
Com o União de Tomar incapaz de voltar ao escalão principal, Barrinha haveria de tentar a sua sorte por outros canais. A passagem pelo Juventude de Évora em 1978/79, serviria de montra para que, logo no ano seguinte, o objectivo primodivisionário fosse alcançado. A oportunidade surgiria, no entanto, com o interesse da União de Leiria. Curta seria também a sua experiência nas margens do Rio Lis, pois a campanha seguinte apresentar-lhe-ia um dos maiores desafios do seu percurso profissional.
A boa temporada feita nos leirienses serviria, acima de tudo, para promover Barrinha como um jogador de topo. Como tal, a sua entrada no Vitória de Guimarães acabaria por trazer bons resultados. Conseguindo afirmar-se, ao longo de 4 épocas, como uma das principais figuras do plantel minhoto, o atleta elevaria também o seu nome a um dos históricos do Campeonato Nacional. Sendo um dos pilares na luta colectiva pelas posições cimeiras na tabela classificativa, a participação na Taça UEFA tornar-se-ia num justo prémio para as suas exibições.
Mesmo com a entrada na fase final da carreira, Barrinha, muito mais do que conseguir permanecer no escalão máximo, haveria de manter os seus índices exibicionais a um bom nível. Perto de entrar na casa dos 30, seria no Vitória de Setúbal que daria seguimento ao seu percurso. No entanto, a despromoção dos sadinos em 1985/86 também precipitaria o ocaso da carreira do atleta. Os regressos à União de Leiria e União de Tomar marcariam, desse modo, o fim da sua vida competitiva. Após “pendurar as chuteiras”, o antigo jogador ainda teria uma curta experiência como técnico. Respondendo ao chamamento do emblema da “Cidade dos Templários”, haveria de mostrar, já em 1991/92, os seus dotes de treinador.

*retirado do artigo de António Adão Farias, publicado a 09/05/2018, em https://www.record.pt/