449 - FOLHA

Terminamos este mês, dedicado que foi aos antigos jovens que, em 1989, conquistaram o título mundial s-20, com um dos jogadores que, dentro do lote convocado para a Arabia Saudita, mais sucesso conseguiu alcançar como profissional. Perguntarão: "Então o João Pinto, o Paulo Sousa ou o Fernando Couto?". Bem, é indiscutível que todos estes nomes são casos paradigmáticos de futebolistas que figurarão, para sempre, nos anais do desporto português. Mas, então, o que dizer de um jogador que conseguiu como sénior, nada mais nada menos do que 14 títulos e um total de 26 internacionalizações pela selecção principal portuguesa?!!!
Folha fez quase toda a sua carreira ao serviço do FC Porto. Fez parte do melhor período da história "Azul e Branca", o conhecido "Penta", de onde, aliás, conseguiu 5 dos 6 Campeonatos Nacionais que contam no seu currículo. Claro está, como a maioria dos jovens que surge da formação, o antigo extremo-esquerdo passou os primeiros anos da sua carreira na normal roda-viva dos empréstimos. Entre o Gil Vicente e o antigo Estádio das Antas, e mais tarde no Sp. Braga, António Folha foi ganhando a necessária estaleca para conseguir vencer, num emblema tão exigente quanto o é o do "Dragão". O regresso à "casa mãe" deu-se, em definitivo, corria o Verão de 1993. Contudo, seria apenas a partir da temporada seguinte, ano em que se deu a partida para o já referido "Penta", que Folha conseguiria agarrar a titularidade do lado canhoto do ataque portista. Esta regularidade que apresentava, fez com se tornasse numa das presenças habituais na convocatória da "Equipa das Quinas". Por essa razão não foi de estranhar que também ele tivesse sido chamado por António Oliveira para participar no Euro de 1996.
A verdade é que o torneio disputado em Inglaterra, estranhamente, marcou para o atacante um momento de viragem na sua vida como atleta. No FC Porto começou, inicialmente, por perder o lugar no "onze". Um par de anos depois, já raramente fazia parte dos planos dos treinadores, até que, corria a época de 2000/01, acabaria mesmo por deixar a "Cidade Invicta". Começou, então, um périplo por outros campeonatos europeus. Jogou na Bélgica ao serviço do Standard Liège e, na Grécia, acabaria por vestir as cores do AEK.
Já depois de voltar a Portugal, Folha terminaria a sua carreira envergando a camisola do Penafiel. Imediatamente, ainda no clube penafidelense, trocou as chuteiras pelas funções de treinador. Foi já nestas funções que Folha regressou ao FC Porto. Começou por ocupar funções na formação "Azul e Branca" e hoje em dia (2013/14) é um dos adjuntos da equipa B portista.

448 - FILIPE

Dos que fizeram parte do grupo campeão do mundo na Arábia Saudita, já aqui falamos de um jogador cuja sua origem não remonta a nenhum dos ditos "3 grandes". Tal como Tozé, também Filipe começou por furar essa barreira, essa dificuldade que é estar presente nas selecções, sem pertencer a uma das principais montras do futebol português. Ainda assim, conseguiu viver de uma sorte um pouco diferente da do antigo capitão que, em 1989, ergueu a já referida taça. Depois do título mundial conseguido pelos s-20 de Portugal, o Sporting decide apostar nele para a temporada de 1989/90. Os "Leões" acabavam de entrar na era Sousa Cintra e Filipe, que assim deixava o Torreense, tornar-se-ia numa das primeiras contratações do antigo presidente Leonino.
Numa equipa cheia de craques, há algo que qualquer treinador gosta de ter, isto é, "músculo". Foi isso mesmo que o médio veio trazer a Alvalade; foi isso que sempre o caracterizou; foi essa a sua maior força. Por essa razão, logo na sua segunda época de "verde e branco", começa por merecer a titularidade. A raça que mostrava em campo, aquela sua típica disponibilidade, facilmente conquistava os treinadores. Marinho Peres e Sir Bobby Robson sempre mostraram todo o gosto que tinham pelo jogador, dando-lhe, por isso, a confiança de um lugar no "onze" inicial. Acima disto tudo, se é que ser titular no Sporting pode ser tido como pouco, vieram as convocatórias para a selecção principal. Somou 3, o que até era um bom prenuncio para sua carreira. Contudo, as lesões, desde muito cedo, começaram a atormentar o jovem futebolista. Afastaram-no, já com Carlos Queiroz ao leme do Sporting, da equipa e, a bem da verdade, conjuntamente com um feitio um tanto ao quanto irreverente, deixaram-no à margem de uma carreira que poderia ter sido substancialmente maior.
Em 1996/97 deixa Lisboa. Não sai de mãos a abanar, já que na bagagem levava uma Taça de Portugal (1994/95) e uma Supertaça (1995/96). Mas desde a sua partida para o Marítimo que a sua carreira toma os contornos da de um profissional nómada. Daí em diante, quase todos os Verões eram para Filipe sinónimo de nova morada. Passou então pelo Vitória de Guimarães, Desportivo de Chaves, Naval, acabando por mergulhar, apenas com 30 anos, nos escalões ditos amadores.
Após o Atlético, surge na sua vida o Mafra. Muito para além de por aí ter pendurado as botas, o clube saloio haveria de marcar um ponto de viragem para Filipe. Um convite da direcção, leva-o a trocar os relvados pelo comando técnico. No "banco", depois de já ter estado ligado ao Sporting, onde fez parte do plano de cooperação que os "Leões" assinaram com o Real de Massamá, o antigo internacional "luso", chegou a tomar as rédeas dos destinos das selecções jovens nacionais, cargo que, entretanto, abandonaria.

447 - ABEL SILVA

Todo o percurso que levou um grupo de jovens futebolistas a conseguir sagrar-se campeões do mundo, é, por si só, o mote certo para uma conversa interessante. No entanto, nesta simples caminhada (se é que "simples" é palavra que se pode utilizar neste tipo de episódios!!!) houve alguns momentos mais curiosos que outros. Uma das histórias mais engraçadas passou-se com Abel Silva. Como titular que era, nessa selecção que em 1989 venceu o Campeonato do Mundo s-20, o jovem lateral direito foi um dos escolhidos para disputar a final do troféu. Antes do início dessa partida de Riade, todos os que ali se encontravam no relvado do Estádio International King Fahd, acabariam por ter o prazer de ver Pelé a cumprimentar cada um deles. Foi, então, que Abel Silva, no alto da sua jovem irreverência, se lembra de dizer algo - "Na altura em que estamos todos em fila, o Pelé vem cumprimentar um a um e disse-lhe sem pensar: «vou marcar um golo igual aos seus»". Não sei se, alguma vez, o poderemos considerar como tal, mas a verdade é que haveria de ser com um espectacular e portentoso pontapé à entrada da grande área, que Abel Siva se tornaria no primeiro dos marcadores daquele que foi o derradeiro jogo do torneio.
Esse 44º minuto da primeira parte, ficará para sempre na memória do futebol nacional, contudo a carreira de Abel Silva teve um pouco mais do que aquela belíssima finalização. Assim, tendo terminado a sua formação no Benfica, foi com naturalidade que ocorreu, na mesma temporada para que o referido campeonato estava marcado, a sua transição para a categoria sénior. Como é natural nestas alturas da carreira de um profissional, pouco haveria de ser utilizado. Contudo, bastaria uma partida (1-0, em casa, frente ao Sp.Braga) para que, também ele pudesse erguer o troféu atribuído aos campeões nacionais.
As três épocas que se seguiriam, muito em parte devido à forte concorrência que enfrentava dentro do plantel "encarnado", fizeram com que o defesa abandone o clube e, a título de empréstimo, represente, sucessivamente, Académica, Penafiel e Marítimo. No regresso à "casa mãe", apesar de continuar afastado do "onze inicial", trouxe a Abel Silva a oportunidade de conquistar mais um título, o Campeonato de 1993/94.
Com a revolução perpetrada por Artur Jorge, Abel Silva acaba por ser um dos preteridos pelo técnico português. Começa por essa altura um verdadeiro périplo, que, por entre os principais escalões nacionais, o leva a representar uma série considerável de emblemas, dos quais podemos destacar Vitória de Setúbal, Felgueiras, Campomaiorense, Estoril-Praia, Alverca e Atlético.

446 - TOZÉ

Ao contrário de tantos outros que com ele partilhavam o balneário das selecções nacionais, o jovem médio não vinha nem do Benfica, nem do Sporting ou FC Porto. Contudo, isso não o diminuía em nada, não o tornava pior que ninguém, nem o impedia de chegar onde os outros chegavam. Tozé não tinha crescido num dos "três grandes". Ele era um "filho" do Leixões, e tal como a vontade das gentes do mar, que desse Matosinhos, também sua terra natal, partem para a faina, Tozé soube conduzir toda uma geração de futebolistas. Foi esse legado de coragem que transformou o jovem médio no capitão de Portugal; foi a força desse seu povo, que de pequeno se faz tão grande, que lhe trouxe a inspiração e que levou um grupo de jovens atletas a querer mais, a querer acrescentar vitórias à sua fortuna - “Na altura nem imaginava que era possível chegar a levantar o troféu. Ainda hoje é inacreditável, porque todos continuam a associar-me à imagem do campeão do Mundo que levantou a taça”.
Em 1988/89, época do referido Campeonato do Mundo s-20, Tozé fazia a sua primeira temporada na Primeira Divisão. Num Leixões de volta aos palcos principais do futebol português, os momentos de aprendizagem, para um jovem como ele, eram a sua melhor oportunidade. No entanto, depois destes primeiros episódios, aquilo que deveria ser a normal evolução da sua carreira, é interrompida pela despromoção do clube que representava. Ainda assim, neste revés, soube tirar partido da sua natural ambição, acabando por conquistar um lugar como titular. Mas para ele, que na Arábia Saudita tinha levantado ao alto, muito mais do que a taça, todo o orgulho de um país, a Divisão de Honra era pequena demais para os seus sonhos. Foi assim que em 1992/93 apareceu o Tirsense. Prémio justo, é certo. Mas não é menos verdade dizer que, talvez, merecesse um pouco mais; que talvez devesse ter tido a chance de se mostrar em universos de outras montas. Ainda assim, Tozé pode orgulhar-se de ter conseguido atingir metas importantes: ultrapassou largamente, nas 7 temporadas no nosso escalão máximo, os 150 jogos; vestiu, a esse nível, as camisolas dos já referidos Leixões e Tirsense, mas também de Leça e Alverca; e, talvez a melhor prenda de todas, fechou a sua vida como profissional, com a presença na Final da Taça de Portugal de 2001/02 (Sporting 1 - Leixões 0).
Já depois do dito términus, Tozé voltou ao futebol. Teve passagens pelo comando técnico de alguns clubes (Padroense, Pedras Rubras), regressou ao rectângulo de jogo pelos amadores do Custóias, mas o seu verdadeiro objectivo foi cumprido nos livros e cadernos da escola. Tozé acabou por voltar à escola e licenciou-se em Educação Física e Desporto, no Instituto Superior da Maia.


Ver também a rubrica "Recortes"

445 - VALIDO

Nem todos os jogadores profissionais podem orgulhar-se de um início de carreira tão glorioso quanto aquele que teve Valido. Ainda dava os primeiros passos no universo do futebol sénior, quando Carlos Queiroz o chamou para o Mundial s-20, em 1989. Representava, à altura, por empréstimo do Benfica, o Estoril-Praia. Mas nem o facto de apenas disputar aquele que é o segundo patamar do futebol nacional, o atemorizou para a demanda que se avizinhava. A verdade é que, aquando do torneio disputado na Arábia Saudita, o traquejo do antigo defesa central, neste tipo de certames, era já algum. Por exemplo, tinha estado presente, no ano anterior, no Europeu s-18. Aliás, foi nessa mesma categoria que Pedro Valido fez a sua estreia absoluta com a "camisola das quinas". Começo verdadeiramente auspicioso, ou não fosse o mesmo, nessa partida contra a Alemanha, brindado com um golo da sua autoria.
Então, o que foi feito de Valido? É certo que não conseguimos apontar-lhe os mesmos feitos que, doravante, muitos dos seus colegas campeões mundiais conseguiriam alcançar! As razões, se é que elas para aqui interessam, poderão ter sido tantas, quantas a especulação pode fabricar. Ainda assim, e para quem sempre esteve de fora, é fácil descortinar que a conjuntura desportiva que o Benfica apresentava, não era fácil para um jovem que actuava na sua posição. Falo apenas da concorrência que estrelas como Mozer ou Ricardo Gomes ofereciam; falo apenas das dificuldades que, nestas circunstâncias, um jovem tem em impor-se no "onze" inicial.
Apesar de tudo, e à sua maneira, Valido também soube talhar-se num craque. Fê-lo de uma sinceridade absoluta; fê-lo de uma franqueza que se espelhava na maneira apaixonada com que se entregava às suas missões. O resultado de tudo, de tudo o que quis ser, ficou marcado no seu percurso. "Modesto", dirão alguns; "distante daquilo que prometeu", dirão outros. Mas o que vos pergunto é: quantos são os que podem dizer que alicerçaram a maior parte da sua carreira na Primeira Divisão? Pois é... poucos!!!
A este nível, passou por diversos clubes nacionais. Destacou-se na equipa do Marítimo que, pela primeira vez na história dos insulares, conseguiu o apuramento para as provas organizadas pela UEFA. Envergou as cores do Feirense, Gil Vicente, Estrela da Amadora, Tirsense, Belenenses, Alverca. Não conquistou muitos títulos, é certo; não atingiu, também, o mediatismo de tantos outros da sua geração. No entanto, alcançou algo muito mais valioso do que troféus. Conseguiu, neste seu trajecto, ganhar a admiração de muitos que com ele privaram; conseguiu aquilo que apenas alguém com um caracter verdadeiramente vertical merece, isto é, o respeito dos seus pares. 
Por tudo isto, hoje em dia, é confiada a Valido uma outra grande missão: a de orientar jovens jogadores e, principalmente, a de formar homens num mundo tão ingrato quanto o do futebol. Valido é, actualmente, um dos treinadores das escolas do Benfica.

444 - PAULO MADEIRA

Foi já como júnior que Paulo Madeira, vindo do Lusitano de Vila Real de Santo António, chegou ao Estádio da Luz. Em Lisboa acabou a sua formação e por altura do seu último ano nas escolas "encarnadas", viu o seu nome ser incluído na lista de convocados para o Mundial-s20 de 1989, realizado na Arábia Saudita. O facto daí ter participado em todos os desafios, daquela que foi uma caminhada vitoriosa, era o sinal, mais do que evidente, de que o defesa central tinha valor para, futuramente, singrar no seu clube. Terá sido com esta ideia em mente que os responsáveis técnicos benfiquistas, nomeadamente Sven-Göran Eriksson, mantiveram o jovem jogador no plantel. Claro está que, como é normal nestas situações, a sua afirmação não foi fácil. Na sombra de jogadores como Ricardo Gomes ou Aldair, as oportunidades não surgiam. É então que se entra na época de 1991/92. Surpreendentemente, para a dita temporada que naquele Verão começava, nenhum nome sonante era anunciado como reforço do sector mais recuado das "Águias". É assim que surge como aposta do, já referido, técnico sueco, o nome de Paulo Madeira. Ainda algo inexperiente, o risco de o apresentar como titular, foi grande. No entanto, o jovem central não iria desiludir ninguém e mostraria ao longo do Campeonato uma consistência exibicional digna dos grandes nomes da sua posição. Uma dessas exibições, que ficarão para sempre na nossa memória, foi o mítico Arsenal - Benfica, disputado em pleno Highbury Park. Ao lado de Rui Bento, outras das jovens promessas que por aquela altura acabara de despontar da formação, o central benfiquista faria um jogo praticamente imaculado, contribuindo, e de que maneira, para a eliminação dos londrinos e, acima de tudo, empurrando o Benfica para a participação na primeira edição da Liga dos Campeões.
Depois desta temporada, quando era esperado a sua afirmação como um dos pilares da equipa, Paulo Madeira começou, novamente, a perder algum espaço. Surge então o Marítimo. Na Madeira faz uma boa época. Contudo, este seu empréstimo acaba por vir, de certo modo, em má altura, pois o Benfica, nessa temporada de 1993/94, sagrar-se-ia Campeão Nacional, fazendo com que o jogador, no seu currículo, não pudesse juntar este título ao Campeonato de 1990/91 e à Taça de Portugal de 1992/93.
Com a chegada de Artur Jorge ao comando das "Águias", deu-se início a uma revolução, em que as purgas de balneário foram uma constante dos períodos de defeso. Um dos nomes indicados pelo treinador português para abandonar o clube, seria o de Paulo Madeira. Esta dispensa levá-lo-ia para a outra ponta da capital, onde, durante dois anos, envergou o azul do Belenenses. Mesmo após este revés, o jogador continuou a manter a qualidade apreciável que, até então, o caracterizava, motivo suficiente para voltar à órbita das pretensas contratações do Benfica. Mas quem "reinava" nesse tempo para os lados da 2ª circular, era João Vale e Azevedo. Escusado será dizer que o regresso de Paulo Madeira, como tantas outras histórias que por ali se passaram naquela altura, ficou envolto em polémica. Sem que vos consiga explicar o porquê das "habilidades" feitas, mas certo que as mesmas apareceram no intuito do Benfica nada pagar ao Belenenses, o atleta, numa primeira fase, seria "contratado" pelo Burgos, para, dias depois, ser inscrito pelo Levante. Finalmente, e já com a época a decorrer, o defesa viu um fim a este estranho périplo e acabou por vir parar ao Benfica.
Trapalhadas à parte, o seu regresso ao Benfica, apanhou o clube na fase mais triste da sua história. Este "arrastar pela lama", trouxe consequências para todos os que nele foram apanhados, e Paulo Madeira não foi excepção. A meu ver, injustamente apontado como medíocre, o defesa pagou, também ele, a factura de um clube em decadência. É certo, como muitos afirmaram, que não era o mais rápido dos centrais; é certo, também, que não era um dos mais virtuosos da equipa. Contudo, apelidarem de "mau" um jogador que, ainda pouco tempo antes, tinha feito parte da convocatória para a fase final do Europeu de 1996, ou porem em causa o valor de um atleta que, no total da sua carreira, conseguiria 24 internacionalizações, foi uma tremenda injustiça. Está bem que podemos justificar esta atitude dos adeptos pelo momento conturbado que o emblema vivia. Há contudo uma coisa que ninguém deve duvidar e isso é a paixão que Paulo Madeira sempre nutriu pelo clube. A prová-lo estão as horas que dizem ter passado na fila de espera, para conseguir votar numa das mais concorridas eleições do Benfica. Essas mesmo que ditariam a derrota do Presidente já aqui citado, elegendo para o seu lugar Manuel Vilarinho.

443 - MORGADO

Questões que se interrogam sobre o porquê de algumas carreiras, hão-de sempre ser postas. No entanto, há algumas dessas vidas que sublinham, muito mais do que quaisquer outras, a necessidade deste tipo de pergunta. A carreira de Morgado entra nesta categoria.
Com os últimos anos da sua formação feitos pelas Antas, Morgado era um valor quase seguro, uma promessa, se assim preferirem, no futuro do futebol nacional. Tendo isto em conta, nada mais natural do que a sua presença regular nos mais importantes certames, organizados para as camadas jovens. Assim sendo, já ele estava cedido à equipa principal do Gil Vicente (à altura a militar na Divisão de Honra), a sua convocatória para o grupo de atletas que iria representar Portugal no Mundial s-21 de 1989, não era mais do que uma mera formalidade num caminho que se sabia de sucesso. Tudo correu normalmente, como normal foi, também, o novo empréstimo na temporada que se seguiria.
Já depois de regressar do ano passado ao serviço do Feirense, emblema que representara até ao Juvenis, a sua inclusão no plantel principal do FC Porto demonstrava aquilo que tenho estado a tentar dizer, ou seja, Morgado era visto como uma aposta certa. Contudo, ao invés daquilo que era projectado para o lateral-esquerdo, a sua afirmação de "Dragão" ao peito, parecia querer adiar-se a cada oportunidade recebida. É certo que nomes como os de Branco e Vlk, respectivamente internacionais pelo Brasil e Checoslováquia, não davam grande espaço ao jovem craque. No entanto, o que mais estranha no meio disto tudo, não é a concorrência que tinha dentro do balneário, mas sim que Morgado era mesmo um craque. Com isto, só posso afirmar que não entendo o porque deste falhanço.
Compreensivos ou não, complacentes não o foram de certeza os responsáveis do FC Porto, que, em 1992/93, encaminharam o defesa na direcção de Vila do Conde. No Rio Ave, ainda que de volta ao segundo escalão nacional, as suas prestações começaram a fazer recordar um tal de Morgado que, no longínquo Médio Oriente, havia, uns anos atrás, ajudado a erguer o troféu de campeão do mundo. Mas mais uma vez, o regresso ao patamar máximo, com a responsabilidade e exigência que isso acarreta, mostrou um jogador intermitente e incapaz de segurar, em definitivo, um lugar no onze inicial. Foi assim no Famalicão (1993/94), foi assim no Beira-Mar (1994/95) e só não continuou por aí em diante, porque a descida dos aveirenses voltou a mostrar o jogador que todos esperariam ver… na Primeira Divisão.
Ainda voltou ao "universo dos grandes", e, finalmente, com os números a apontar o trilho do sucesso. Mas se a sua contribuição individual para Desportivo de Chaves pôde ser considerada como positiva, já aquela que, nisto dos desportos colectivos, é a prestação que realmente importa, a da sua equipa, levou a que os flavienses fossem despromovidos. Com isto, veio também o seu eclipse. Assim, depois de representar o emblema transmontano, surpreendentemente, Morgado só viria a encontrar colocação na 2ª Divisão "B". Vestiu, nessa época de 1999/00, a camisola do União da Madeira, seguindo-se, nos anos vindouros, a do Leça e a do Felgueiras (ambos na Divisão de Honra).
O seu final de carreira ficaria marcado pela falta de fulgor, no entanto, aquilo que retiro desta pequena história, que é apenas a conclusão de um mero adepto da modalidade, é que Morgado passou ao lado de uma grande vida como profissional do futebol. Porquê? Não sei… é para mim um grande mistério!

442 - BIZARRO


Por altura do Mundial de s-20, disputado na Arábia Saudita, Bizarro, com anterior passagem pelo Leixões e FC Porto,  era um dos frutos das escolas benfiquistas. Então, como ainda hoje se processa com tantas outras promessas saídas da formação dos clubes portugueses, as oportunidades para o jovem guarda-redes escassearam. É certo que em 1989, a baliza do Benfica estava à guarda de Silvino e Manuel Bento, e, em, certa parte, este cenário até justifica o seu insucesso para as bandas da Luz. Mas daí a ter tido, apenas, a chance de se sentar no banco de suplentes, também, e acho que todos concordamos, me parece muito pouco.
Especulações à parte, Bizarro conseguiu uma carreira bem sustentada. É certo, dirão muito dos que estão a ler este "post", nunca foi um guarda-redes exuberante, daqueles que dá nas vistas pelas suas defesas estonteantes e humanamente designadas de impossíveis. Bizarro era, acima de tudo, um guardião seguro e de quem os seus colegas de equipa podiam depositar bastante confiança. Com isto pergunto-vos - não é isto que se pede a alguém da sua posição de campo???!!! Bem, adiante!!!
Só sofreu 3 golos durante em todo o torneio. Contudo, muito para além deste feito, da titularidade conseguida no Mundial da Arábia, ou, tão pouco, o título aí conquistado, foi a segurança que sempre demonstrou entre os postes, que terá levado o Marítimo, começava a temporada de 1992/93, a contratar Bizarro. Chegava assim, pela primeira vez, à divisão maior do nosso campeonato, aquele que ostentava o título de campeão do mundo de s-20. Mas ao contrário do que possam pensar, o prestígio que daí tirava não lhe entregou, de mão beijada, o lugar no onze titular. Esse estava entregue ao brasileiro Everton.
Incrivelmente, durante a sua passagem pelo Funchal, não se pode dizer que Bizarro tenha, incontestavelmente, gozado desse estatuto. Aliás, só durante a sua estadia em Espanha, nomeadamente quando representou o Ourense, é que foi o dono absoluto da baliza.
Em 2000, já depois de, também, ter envergado as cores do Leganes, Bizarro regressa, em definitivo, ao nosso país. O que me espanta é que, por esta altura, as portas da Primeira Divisão pareciam estar fechadas para ele. Má aposta na escolha de clube? Outra razão qualquer? Não sei! O que é verdade é que Bizarro, com 30 anos e, como ditam as regras, no auge da sua vida profissional, não voltaria a calçar as luvas no patamar máximo do nosso futebol, até ao fim da sua carreira como futebolista.
Já depois de representar Rio Ave, Leixões e Maia, e de, na cidade subúrbio do Porto ter posto um ponto final na carreira, em 2006 decide enveredar pela vida de treinador. Nessas funções tem militado, essencialmente, nos escalões inferiores, onde, nesta época de 2013/14, assumiu o controlo do Coimbrões.

441 - CARLOS QUEIROZ

Para Carlos Queiroz, à imagem de tantos outros portugueses, também houve um antes e um pós 25 de Abril. Sem querer entrar no caminho das discussões ideológicas, sociológicas ou de entrar noutro campo qualquer que não o da bola, atrevo-me a dizer que para o jovem Carlos, a “Revolução dos Cravos” só veio trazer-lhe coisas boas.
Bem longe de Lisboa, em Moçambique, ainda jogou à baliza do Ferroviário da sua terra natal, Nampula. No entanto, seria com a vinda para Portugal e com a entrada para o Instituto Superior de Educação Física, que a sua vida, verdadeiramente, se alinhou com a do futebol.
Concluída a sua formação, e com o tão grato título de "Professor", para ostentar antes do nome, Carlos Queiroz haveria de ter a sua primeira experiência como técnico de uma equipa sénior, ao serviço do Estoril-Praia. Mas apesar de estar sob a alçada de Mário Wilson, e de, como seu adjunto, ganhar o traquejo necessário para alavancar a sua carreira, o seu destino parecia estar talhado para orientar as jovens promessas do nosso futebol. Ele que até já tinha tido algumas passagens pela formação de alguns emblemas, era, em 1987, convidado a integrar a Federação Portuguesa de Futebol.
Não foi necessário muito tempo até que a sua metódica maneira de compreender o futebol, começasse a dar frutos. Em Fevereiro de 1989, Portugal dava na Arábia Saudita, os primeiros passos para a conquista do Mundial de s-20. Por certo, poucos esperariam tamanho sucesso; poucos esperariam que num contexto com selecções como o Brasil, a Alemanha ou Argentina, os desconhecidos jovens portugueses conseguissem afirmar-se como os melhores. Tão poucos eram os que acreditavam, que nem mesmo Carlos Queiroz, já depois do troféu ganho, tomou consciência do feito - "Só começamos a perceber a verdadeira dimensão daquilo quando aterrámos em Lisboa. Ninguém estava à espera daquela recepção, daquela espontaneidade, daquela dimensão".
Apesar da pressão que estava sobre a sua cabeça, Carlos Queiroz não vacilou. Continuou a comandar os jovens "lusos" no caminho do sucesso, e em Maio desse mesmo ano, venceria o Europeu de s-16.
Depois de mais uma enorme conquista, a do Mundial de s-20, disputado em Portugal, Carlos Queiroz deve ter achado que já era tempo de se afirmar no universo dos seniores. O convite que surgiu era fácil de aceitar e, de alguma forma, dava continuidade ao trabalho que vinha a fazer. Foi então, com naturalidade, que aceitou o convite para dirigir a selecção principal. Contudo, os sucessos a que nos vinha habituando, acabaram por não ter seguimento, e Portugal falharia tanto o apuramento para o Euro 92, como para o Mundial de 1994, nos EUA.
O passo seguinte, e por sinal, até aos dias de hoje, o único à frente de um primodivisionário em Portugal, foi dado em Alvalade. Depois de, bem ao seu estilo e com uma declaração polémica - "É preciso varrer a porcaria que há na federação portuguesa" - ter abandonado o cargo de seleccionador, conseguiu pelo Sporting, apesar de nunca erguer o tão almejado troféu de campeão, o que a há muito já não se via por aquelas bandas: títulos. Venceu a Taça de Portugal de 1994/95, a Supertaça do ano seguinte e, até, seria consagrado com 2 Prémios Stromp. No entanto, isso não foi suficiente para convencer a direcção "Verde e Branca", de que ele era o homem certo para o lugar de timoneiro, acabando por ser despedido pelo Presidente Pedro Santana Lopes.
Este episódio marcaria o começo daquilo que tem sido a identidade da sua carreia, ou seja, um verdadeiro périplo pelo mundo fora. Esteve nos norte-americanos dos MetroStars, foi até ao Japão para comandar os Nagoya Grampus, passou pela selecção dos Emiratos Árabes Unidos, até que chegou ao leme dos "Bafana Bafana".
Na África do Sul voltou aos sucessos. Começou por conseguir apurar a equipa nacional para o Mundial de 2002. Mas quando tudo se conjugava para que fizesse a sua estreia em tão importante certame, estala uma polémica entre ele e os dirigentes da federação, e Carlos Queiroz vê-se afastado da fase final do torneio disputado na Coreia do Sul e Japão.
Mas há males que vêm por bem, e o seu afastamento abriria as portas de um dos maiores emblemas na Europa. No Manchester Utd, é certo que como adjunto de Sir Alex Ferguson, Carlos Queiroz vê a sua reputação subir em flecha. Foi tão boa esta sua subida que, passado um ano sobre a sua chegada a Inglaterra, surge o Real Madrid. Ora, este presente, que parecia tão bom, estava no entanto (meio) envenenado. Se bem se lembram, em 2003/04, vivia-se na capital espanhola o auge da era dos "Galácticos". Pelos "Merengues" alinhavam jogadores como Figo, Ronaldo, Beckham, Casillas, Raul, etc. Claro está, no meio de tantas estrelas, o choque de egos é, de igual forma, enorme. Carlos Queiroz seria incapaz de gerir todos esses caprichos e, ainda assim com uma Supertaça vencida, o seu reinado seria bem pequeno.
De volta a Old Trafford, ficou por lá durante quatro temporadas. Conquistou tudo o que havia para conquistar, mas aquilo que Queiroz mais queria, a promessa de que sucederia a Sir Alex Ferguson, essa, nunca se concretizaria.
Talvez farto de estar à espera, concorda com o regresso a Portugal e ao comando da "Equipa das Quinas". Na ressaca da era Scolari, Carlos Queiroz consegue a qualificação para o Mundial de 2010. Já na África do Sul, com uma equipa considerada das mais fracas dos últimos anos, consegue, ainda assim, atingir os oitavos-de-final. Mas, mais uma vez, a polémica já andava no ar. A querela, desta feita, começou por envolver o seleccionador e uma equipa da Autoridade Antidopagem de Portugal. A contenda que, ainda no contexto do estágio de preparação e entre as duas partes inicialmente envolvidas, se caracterizaria por uma acesa troca de insultos, pareceu, muito à custa do parco resultado conseguido no Mundial, alastrar-se a jogadores e dirigentes federativos. Tudo, em jeito de espiar os seus próprios pecados, parecia estar contra Carlos Queiroz. Como é lógico, o treinador ver-se-ia afastado do seu cargo e, pior ainda, entraria numa disputa judicial, por razão da suspensão aplicada pela, já referida, entidade de antidopagem.
Já depois de tudo isto, assumiu funções na selecção do Irão. Mais uma vez, contra todas as probabilidades, qualificou a selecção do Médio Oriente para o Campeonato do Mundo de 2014. Claro, há coisas que nunca mudam e Carlos Queiroz ainda recentemente se envolveu numa troca de palavras com os responsáveis directivos... tudo isto por causa da duração do estágio de preparação para o torneio disputado no Brasil.

RIADE '89

A 17 de Fevereiro de 1989, em Riade, começava a caminhada da selecção portuguesa, para aquele que seria um dos episódios mais bonitos do futebol nacional. Passo a passo, esse grupo de jovens surpreendeu o mundo com os seus resultados e exibições. Queremos, neste mês, comemorar o 25º aniversário desse trajecto, que acabaria com a conquista do título mundial de s-20 e, acima de tudo, com a confirmação do aparecimento de uma "geração de ouro".