430 - PEDRO ROMA

Apesar de passagens por outros clubes, a carreira de Pedro Roma estará, para sempre, relacionada com a Académica. Passou muitos anos a defender a baliza da "Briosa". No entanto, o que o destacou foi o facto de ter conseguido personificar aquela que é a verdadeira mística dos de Coimbra, o "atleta-estudante" - "Posso confidenciar, e parece modéstia, mas para mim, além daquelas defesas que valeram pontos, permanências sofridas na primeira Liga, «frangos», jogos inesquecíveis, a maior delas todas foi ter conseguido terminar a minha licenciatura".
Foi na Académica que, como futebolista, acabou a sua formação. Depois de um empréstimo inicial à Naval, a volta à "casa-mãe" revelou, na segunda temporada após o seu regresso (1991/92), um guardião superior. Apesar da dita época ter sido passada no segundo escalão, o Benfica, certo das qualidades da jovem promessa, decide nele apostar. Como é óbvio, com concorrentes como Neno ou Silvino, as oportunidades não se perspectivavam as melhores. Se foi esta, ou não, a sua espectativa, não saberemos. Certo é que poucas vezes jogou. Ainda assim, segundo o próprio, "Guardo boas recordações do Benfica. É um marco importante, em qualquer profissional, uma passagem pelo Benfica. É pena que as coisas não me tenham corrido de uma forma positiva, mas é um marco que vou guardar para o resto da minha vida".
Sem espaço no "plantel dos "Encarnados", Pedo Roma começa um périplo de empréstimos que o levaria ao Gil Vicente, Académica e Famalicão. O regresso em definitivo à cidade do Mondego, deu-se em 1996/97 e logo para uma temporada que marcaria, quase uma década depois, a subida da Académica ao escalão máximo do futebol nacional. Seguiram-se 14 temporadas que fizeram dele, muito para além do guarda-redes mais utilizado de sempre pelos "Estudantes", um dos históricos do clube - "Foram 20 anos, muitos jogos - quase 400 -, mais de uma centena deles em que tive a suprema honra de ser capitão de equipa. Como o foram antes Alberto Gomes, Mário Wilson, Bentes, Gervásio, Tomás e Miguel Rocha e tantas outras figuras do imaginário Briosa ao longo de décadas. Nunca me imaginei ao pé de homens tão ilustres. Não dá para equacionar a honra que se sente e simultaneamente a responsabilidade que nos pesa sobre os ombros".
Foi com quase 40 anos que Pedro Roma decidiu pôr um ponto final na sua carreira. Começou, então, a sua vida de treinador de guarda-redes que, depois dos primeiros anos na Académica, o levou às camadas jovens da selecção nacional.

429 - REDONDO


Quando se completa a formação num dos históricos clubes dos nossos campeonatos e, ainda por cima, sendo o dito emblema um frequentador assíduo da Primeira Divisão, é normal que o atleta em causa ambicione fazer carreira no escalão máximo. Redondo não deve ter passado ao lado de tal sonho. E se o início da sua carreira até lhe trouxe isso mesmo, passada a primeira temporada como sénior, a 1980/81 (durante a qual também jogou pelos juniores), a Académica de Coimbra haveria de o arrastar para a Segunda Divisão. Azar o do clube, azar também o do polivalente defesa que, assim, lá teve que se afastar de um dos seus objectivos principais.
Podia este "mau olhado" ter sido minimizado, caso a promoção dos "Estudantes" tivesse sido garantida no ano seguinte. Mas, tal como, resumidamente, relatámos no cromo anterior, a Académica, por essa altura (1981/82), haveria de estar envolvida num dos mais polémicos episódios do futebol português, o que impossibilitou a sua subida. Posta de parte a ideia da promoção da equipa, e por consequência a do atleta, não houve outro remédio se não continuarem todos afastados dos palcos maiores do futebol luso.
Foi, talvez, com o intuito de regressar à Primeira Divisão, e já depois de representar a União de Coimbra, que Redondo decide arriscar no Beira-Mar. Não fosse a paciência uma virtude e, por ventura, também esta aposta tinha saído furada. A verdade é que o ano de 1988, ao fim de 3 temporadas no Estádio Mário Duarte, marca o regresso dos aveirenses ao almejado escalão máximo. Cumprido este primeiro objectivo, o que daí adveio é, também, fácil de adivinhar: Redondo quereria, com certeza, conquistar a titularidade neste novo patamar. Foi o que aconteceu. Durante as 4 épocas que se seguiram - entre 1988/89 e 1991/92 -, Redondo foi um dos nomes com presença garantida no escalonamento do "onze" do Beira-Mar. Este cumprir de meta fez com que o defesa ultrapassasse a centena de partidas disputadas, o que, naturalmente, o transformou num dos nomes a reter no desporto, entre o fim dos anos 80 e o princípio dos 90.
Saiu do Beira-Mar, depois de um registo de jogos totalmente oposto ao habitual, no final da temporada de 1992/93. A partir de então, ainda assim com nova passagem, ao serviço do Tirsense, pela Primeira Divisão, a sua carreira entrou numa fase descendente. Haveria de pôr um "ponto final" na mesma, em 1997, depois de ter vestido a camisola da Sanjoanense.

428 - SANTANA

Não gosto que uma identidade, por razão da sua ascendência, tenha valor próprio. Acho, igualmente, que cada um deve ser visto pelo caminho que traça e não, em jeito de legado, por aquilo que foram, a exemplo, os seus pais. Contudo é impossível não fazer esta referência e com certeza que, para este antigo jogador, a mesma deve ser motivo de enorme orgulho. É verdade, o Santana que hoje aqui vos trago é filho da antiga estrela benfiquista (bi-campeão europeu) que se apresentava pelo mesmo nome.
Por razão dessa filiação, o seu começo como atleta fez-se, naturalmente, de "Águia" ao peito. Contudo, Santana, ao contrário do pai, preferia a ponta contrária do campo para mostrar as suas habilidades - jogava como defesa.
Nunca chegaria a vestir a camisola encarnada na categoria principal do emblema da "Luz", tendo, ainda como júnior, abandonado as "Águias". Seguiu, então, rumo ao Estoril-Praia.
Se a primeira época entre os seniores, não resultou numa substancial participação em jogos, já a seguinte, depois da participação do jogador no Mundial de s-20, trouxe um Santana capaz de ocupar o lugar titular no centro da defesa. Essa regularidade valer-lhe-ia a transferência para a Académica de Coimbra (na altura denominado por Clube Académico de Coimbra). Passou 2 anos na "Cidade dos Estudantes" e pode-se dizer que viveu por lá um dos momentos mais polémicos do futebol nacional. O episódio conta-se depressa. Num dos últimos jogos do Campeonato da 2ª Divisão de 1981/82, o Académico, que havia descido de escalão na época anterior, preparava-se para disputar, frente à Guarda, os pontos que lhe poderiam garantir a promoção. O golo haveria de ser marcado ao 78 minutos, mas um coro de protestos que, dizem, cercou o árbitro durante mais de 10 minutos, fez com que este o anulasse. Os protestos da "Briosa" fariam com que o jogo se repetisse. Nessa segunda partida, num "ambiente de cortar à faca", o Académico acabaria por vencer. O pior é que o jogo haveria de ser anulado e os "Estudantes" permaneceriam na 2ª Divisão.
Foi a seguir a esta história que Santana se mudou para aquele que viria a ser o clube que durante mais tempo representou. No Rio Ave esteve 6 temporadas, onde disputou largas dezenas de encontros. Por essa razão é normal que maior parte dos adeptos de futebol, associem este antigo profissional ao verde e branco das suas camisolas. Como é óbvio, também são estes números que fazem dele um dos históricos do emblema vila-condense.
Depois do Rio Ave, de onde saiu em 1988, o defesa haveria de vogar, nos seus derradeiros anos de futebolista, por emblemas das divisões secundárias. Após representar Paredes e Olhanense, terminaria a sua carreira, aos 32 anos, no Amora.

427 - ESMORIZ

Longe da freguesia do concelho de Ovar, que lhe dá nome, nasceu este jogador. A sua carreira também passou um pouco ao lado dessa mesma localidade, já que foi em Lisboa, terra da sua naturalidade, que o antigo médio cumpriu grande parte do seu percurso enquanto profissional.
Começou no Atlético e no popular emblema do bairro de Alcântara, iniciou a sua actividade desportista como defesa (salvo erro, lateral direito). Foi nestas funções dentro de campo que deixou o Atlético para rumar aos vizinhos, e talvez os seus maiores rivais, do Belenenses. Traição ou não, a verdade é que seria o clube do Restelo a projectá-lo para uma carreira, não digo fulgurante, mas a muitos níveis, bem interessante. Foram os da "cruz de Cristo" que lhe permitiram grande parte das partidas disputadas no nosso mais importante escalão (a saber, mais de 200); foram eles que o fizeram médio centro (posição onde mais se destacou); foi aí que na temporada de 1975/76, a da sua estreia, venceria a Taça de Honra da Associação de Futebol de Lisboa; e foi com os "Azuis" que disputou as competições organizadas pela UEFA. Neste campo, o do seu percurso como futebolista, talvez hajam muitas histórias a contar a seu respeito, mas, por certo, essa eliminatória da Taça UEFA (1976/77), contra o Barcelona, é um dos momentos que recordará para sempre. É bem verdade que o Belenenses foi eliminado. Agora, enganem-se aqueles que pensam que o foi sem dar conta de si. Pois é, contra a equipa que contava, entre tantos outras estrelas, com nomes como o de Johan Cruyff e de Neeskens, o Belenenses soube bater-se de igual para igual. O saldo total da contenda foi 5-4, mas para além do empate conseguido em casa (2-2), a equipa "alfacinha" foi a Camp Nou sem qualquer temor, e, espantam-se, só sofreu o golo que decidiria a eliminatória a 3 minutos do fim do tempo regulamentar.
Foi já perto dos 30 anos que surgiu a oportunidade de dar outro passo na sua carreira. O convite surgiu do Sporting e Esmoriz não virou a cara ao desafio que se apresentava. No entanto a concorrência era enorme e o centrocampista raramente teve chance de mostrar os predicados que até ali o tinham levado. Ainda assim, o inglês Malcolm Allison, contratado para a temporada de 1981/82, haveria de o manter no plantel. Quem com ele trabalhou, facilmente compreenderá a opção do técnico, pois Esmoriz era um atleta que, muito para além das suas habilidades técnicas, era muito trabalhador. Foi esse esforço que fez com o treinador lhe desse o prémio de nesse ano, também ele, se juntasse aos nomes que fariam parte do rol de campeões nacionais.
Depois desta vitória, Esmoriz abandonou os "Leões" e deixou também os palcos da Primeira Divisão. Daí em diante vogou pelos escalões secundários onde vestiria as camisolas de Penafiel, União de Leira, Estoril e Cova da Piedade.

426 - FERNANDO PORTO

Já aqui, neste “blog”, falamos de um tempo em que se vulgarizou a contratação, por parte dos emblemas nacionais, de atletas vindos das Ligas espanholas (ver "Armada Espanhola"). Fernando Porto foi um dos que, por essa altura, chegou a Portugal. Veio para jogar no Farense, mas, como é óbvio, para trás já tinha uma carreira firmada no país vizinho. À cerca dessa primeira parte da sua vida profissional, tenho que me referir a ela como peculiar. Não quero que entendam isto como algo pejorativo, mas ao analisarmos esse seus anos, há uma coisa que salta logo à vista. Ora vejamos! No Celta de Vigo haveria de se formar, para depois ser promovido à equipa "B". Apesar de ter sido chamado à equipa principal, o defesa haveria de passar maior parte do seu tempo com o segundo plantel dos "galegos". No entanto, no final dessa temporada de 1993/94, até porque, em abono da verdade se diga, o jovem jogador tinha talento, o Barcelona decidiu apostar nele. Contudo, mais uma vez, o seu destino não foi o esperado e Fernando Porto haveria de ir parar à equipa "B". Apesar de titular, a oportunidade de vestir a camisola na categoria principal nunca apareceu. Conclusão: nova transferência, desta feita para o Numancia. Esta mudança veio vincar aquilo que já aqui foi dito: Fernando Porto era um jogador com qualidades inegáveis. Esse facto, mais uma vez, levou com que outro clube de monta acreditasse no seu potencial. Desta feita no Maiorca, a sua sorte não mudaria. Como já adivinharam, o destino do central foi o mesmo de sempre: EQUIPA "B"!!!
Foi já depois de representar o Legañes que Fernando Porto chegou ao Algarve. Nesse Verão de 2000, o Farense acabava de contratar um defesa forte fisicamente, disciplinado ao nível táctico e que tinha no jogo aéreo a sua maior arma. Talvez a sua falta de experiência nas Primeiras Divisões, ele que a esse nível se estreava, tivesse contribuído para o facto da sua adaptação não ter corrido da melhor maneira. Já a sua segunda temporada por cá, trouxe um atleta mais confiante e capaz de ajudar melhor os seus companheiros. O pior é que, no plano desportivo, o Farense começava a mostrar as debilidades resultantes da grave crise financeira, em que estava mergulhado. Os "Leões de Faro" haveriam de ser despromovidos e Fernando Porto optaria por se mudar para o União da Madeira.
A partir dessa altura a sua carreira perdeu o fulgor que prometeu no início da mesma, vogando apenas pelos escalões secundários dos dois países ibéricos.

425 - ALMEIDA

Variadíssimas vezes internacional pelas camadas jovens da selecção portuguesa, Almeida foi um dos melhores alas direitos que, durante os anos 80, o campeonato português viu jogar. Perguntam, então (e bem!), porque não chegou este craque, nascido em Oliveira do Bairro, à equipa principal das "quinas"? Bem, a resposta não será assim tão fácil de dar e levar-nos-á a muitas especulações sobre o assunto. Uma coisa é verdade: a concorrência que enfrentou durante toda a sua carreira de profissional foi tremenda. Não nos podemos esquecer que o extremo sofreu, na disputa por um lugar na selecção principal, a concorrência de atletas como Chalana, Diamantino ou Jaime Magalhães. Ainda assim, o argumento de que seria menos bom que outros atletas, não é irrefutável. Com isto concordarão todos aqueles que ainda têm memória de o ver jogar. E por isso mesmo, há quem diga que, tendo em conta as suas boas exibições, este boavisteiro de alma e coração, foi, nesse campo, vítima de uma tremenda injustiça.
Independentemente desta questão, uma coisa é certa: Almeida teve uma carreira de que se deve orgulhar. O primeiro motivo para tal, por exemplo, podemos dá-lo pelo facto de cedo, ainda com idade de júnior, ter sido incluído nas contas do plantel principal do Boavista. Mas há mais. Depois de terminada a sua formação na equipa do Bessa, fez com o plantel sénior “Axadrezado”, à excepção da sua passagem pelo Beira-Mar, maior parte da sua vida como "jogador da bola". Foram mais de 150 partidas disputadas para o Campeonato Nacional, com a camisola do xadrez, e que fizeram dele um histórico do clube. No entanto, não é só de números que se faz uma carreira e a de Almeida também teve muitos outros predicados. Bastaria, para provar isso mesmo, falar da maneira como se apresentava em cada disputa. Contudo, o jogador batalhador, com uma técnica muito acima da média, com uma capacidade de passe tremenda e que fazia dos cruzamentos para o centro da área adversária a sua maior arma dentro dos relvados, não se esgotava por aqui. Muito mais do que o futebolista, sempre houve o Homem. E este, segundo quem com ele lidou de perto, sempre foi uma pessoa de caracter modesto, abnegado amigo e muito longe daquilo que foi o querer de algumas estrelas que também brilharam no desporto. Por isso mesmo, Almeida sempre foi um modelo para todos os que com ele trabalharam; por isso mesmo, também, tem sido escolhido para treinador das camadas jovens das "Panteras". Porquê? Esta pergunta, ao contrário daquela com que começamos este "post", é bem fácil de responder! Porque, dentro e fora do campo, Almeida sempre foi, e será, na dedicação com que se entrega, um exemplo a seguir.

424 - MURÇA

Filho de um "homem do mar", que simultaneamente era estrela do Pescadores, Murça haveria de se iniciar, também ele, no emblema da Costa da Caparica. Tal como o pai, a primeira posição que ocuparia no campo de jogo seria a de atacante. Aí, treinado que era pelo "violino" Albano, o jovem atleta rapidamente se tornou num goleador nato. Foi por esta altura que Murça, depois de observado pelo notável belenense Calisto Gomes, ruma aos escalões de formação da "Cruz de Cristo". No Restelo, logo na temporada de subida à equipa principal, haveria de encontrar o treinador que começaria a mudar-lhe a vida de futebolista. Ora se, até então, tinha sido no ataque os seus primeiros tempos de jogador, o técnico espanhol Ángel Zubieta (também ele antigo atleta do Belenenses) achou que posição certa para si, estaria na ponta oposta do campo, ou seja, na defesa. Foi para lá, para o centro da mesma, que Murça haveria de ser recuado. Assim permaneceu até que, numa chamada à selecção de "Esperanças", Fernando Caiado achou por bem deslocá-lo para a esquerda do dito sector. No regresso aos trabalhos do Belenenses, Mário Wilson concordaria com a alteração sugerida pelo seleccionador e, deste modo, até ao fim da sua carreira, aí se manteve.
Se a sua primeira temporada como sénior seria marcada pelo rebuliço que acabei de referir, também a segunda haveria de ter histórias para contar. Deste modo, depois de assegurar a titularidade no Belenenses, o sucesso do jovem Murça haveria de ser sublinhado com a chamada à equipa "A" de Portugal, onde, tal e qual como nos s-21, faria a sua estreia frente à congénere inglesa.
Mas a maneira exemplar como encarava o futebol, onde se caracterizou como um jogador batalhador, mas sempre correcto para com os adversários, desde cedo prometeu a Murça novos e bons horizontes. Deste modo, ninguém estranhou quando, em Agosto de 1974, o lateral esquerdo foi contratado pelo FC Porto. Tal como no Belenenses, rapidamente, haveria de conquistar o seu lugar no "onze". Com a sua maneira abnegada de encarar as partidas, em que o constante vaivém pela sua ala, dava uma vivacidade particular, tanto ao jogo ofensivo, como às acções defensivas da sua equipa, Murça haveria de ser um dos principais responsáveis pelo regresso dos "Dragões" aos títulos. Primeiro, já sob a orientação de José Maria Pedroto, veio a conquista da Taça de Portugal de 1976/77, para nos dois anos a seguir, também ele, erguer o trofeu de Campeão Nacional, algo que, como seguramente se recordarão, já não acontecia nas Antas há 19 anos.
É certo que estes foram os melhores anos da sua carreira, mas já depois de abandonar o FC Porto, onde esteve 7 temporadas, rumou ao Vitória de Guimarães. Nestas 3 épocas no Minho, onde em 1983/84, haveria de partilhar o balneário com o seu irmão Joaquim Murça, o "outro" Murça, o Alfredo, haveria de manter a bitola exibicional ao mais alto nível, isto é, continuando como titular indiscutível.
Já com 36 anos ainda foi jogar para os escalões secundários, onde envergou as cores de Leixões e Tirsense. Aliás seria na terra dos "Jesuítas" que Murça daria início à sua carreira de treinador, que, sem ter grande impacto, ainda o levou ao lugar de adjunto no FC Porto.

423 - PARIS

Quando se nasce no seio de uma casa de futebolistas, qual a probabilidade de fugir a esse destino? Para Paris (este é o António) foi impossível.
Irmão mais novo de Cândido Paris (avançado que passou por Boavista e Varzim, entre outros) e de Manuel Paris (vestiu a camisola do Atlético), foi ele o que se destacou mais na prática da modalidade que apaixonou a sua família, sendo o único a atingir o patamar de jogador internacional.
Natural da ilha de São Vicente, bem distante da capital francesa que lhe dá nome, foi no Estoril-Praia que o defesa haveria de fazer a sua estreia na Primeira Divisão nacional. Apesar de podemos de dizer, acerca destas suas duas primeiras temporadas, ter conseguido alcançar alguma relevância dentro do plantel "Canarinho", a temporada que se seguiria, a de 1979/80, seria feita de uma passagem pelo Nacional da Madeira. Depois de ter "rodado" na cidade do Funchal, o regresso ao emblema da "Linha" trouxe um atleta possante, aguerrido e de uma utilidade tremenda para a manobra defensiva da sua equipa. É assim que o central vê, no Verão de 1982, o Sp.Braga apostar na sua contratação.
Esse primeiro ano passado na "Cidade dos Arcebispos" traz para Paris uma série de novidades na sua carreira. Por um lado começa por disputar um troféu nacional, ao ser escalonado para a contenda da Supertaça Cândido de Oliveira desse ano, que haveria de ser vencida pelo Sporting. Por outro, faz a sua estreia em competições organizadas pela UEFA, ao jogar a ronda inaugural da Taça dos Vencedores das Taças, frente aos britânicos do  Swansea. Claro, não nos podemos esquecer daquele que, provavelmente, terá sido o momento mais alto na sua vida de profissional, isto é, a chamada aos trabalhos da selecção portuguesa, e a respectiva estreia frente à Alemanha (Republica Federal), a 23 de Fevereiro de 1983.
Espantosamente, depois de uma temporada em que se havia de impor como um dos titulares do último reduto bracarense, na que se seguiu, Paris haveria de perder essa preponderância.
Se foi a chegada de um novo treinador (Quinito substituiria Juca), ou outro factor qualquer que provocou este decréscimo de aparições no escalonar do "onze", não sabemos. A verdade é que no final de 1983/84, o defesa sairia para representar o Salgueiros, aliás o seu último clube no escalão maior do nosso futebol.
Existem ainda registos da sua passagem novamente pelo Estoril-Praia e, por fim, no União de Almeirim, não sabendo, também, se esta altura corresponde ao final da sua "vida" nos rectângulos de jogo.

422 - ABRANTES

De Abrantes à localidade capital do distrito das suas origens, Portalegre, distam em linha recta, qualquer coisa como 68,78 km. Também o grosso da sua carreira andou bem longe da terra que lhe dá nome. Depois de ter jogado por emblemas do Alentejo onde nasceu, as suas qualidades, reveladas bem cedo, levaram o Benfica a contratá-lo para os seus escalões de formação.
Motivação não deve ter faltado ao jovem guardião, ou não estivessem os "Encarnados" a atravessar uma das suas épocas de maior glória e o futebol nacional a viver da ressaca do Mundial de 66. Foi exactamente nessa altura que Abrantes subiria, pela mão de Fernando Riera à equipa principal da "Águias". Claro está que, quando no plantel se tem um nome como o de José Henrique, as esperanças de ganhar um lugar como dono da baliza, são muito pequenas. Assim aconteceu com Abrantes, que poucas oportunidades teve na Luz, participando apenas, e em temporadas diferentes, em dois jogos da Taça de Portugal. Aliás, o único trofeu oficial na sua carreira (1968/69), conseguiu-o através de uma destas presenças.
O seu empréstimo foi o passo seguinte, o normal para um atleta promissor, e que até já tinha chegado às selecções jovens nacionais. A Académica recebeu-o. Contudo, se o objectivo da mudança era aprender alguma coisa, grande foi o erro. Primeiro veio a época de 1969/70, onde, peculiarmente, 5 guardiões calçariam as luvas da "Briosa"; depois foi a concorrência de Melo, que o remeteria para o banco de suplentes.
O regresso à "Luz" manteve-o cativo, mais uma vez, da figura principal das redes benfiquistas. Mas é então que se perpetra uma mudança importante na sua vida de desportista. No Barreirense emergia, à altura, um nome que viria a tornar-se mítico do futebol português. O Benfica para o contratar, oferece, entre outras contrapartidas, os préstimos de um dos seus atletas. É assim que Abrantes se vê envolvido no negócio de Bento, e viaja para a margem sul do Tejo. A mudança de que falava, surgiu rapidamente, pois Abrantes conseguiria assegurar o lugar e fazer, pela primeira vez uma temporada como titular na Primeira Divisão. Daí em diante, o seu nome esteve quase sempre associado ao do escalão máximo do nosso futebol. Após representar o colectivo do Barreiro e de outras passagens pelo Sp.Espinho e Montijo, Abrantes chegou ao emblema onde passaria mais anos. Para além de 7 temporadas, pode bem dizer-se que terá sido pelo Estoril-Praia que o guarda-redes viveu um dos episódios mais caricatos na sua vida como profissional - "Eu tinha sempre muito trabalho contra o F.C. Porto mas aquele jogo foi o que mais me ficou na memória. O árbitro marca um penalty contra nós, o Vítor Madeira protesta, vê o segundo amarelo e é expulso. O Gomes mete a bola na marca de penalty mas eu defendo. Quando me levanto vejo que o Vítor Madeira estava em campo. Não sei dizer se nunca saiu ou se tinha voltado a entrar. Mas estava lá e o banco do F.C. Porto estava todo de pé a reclamar. Os jogadores do Porto empurravam o árbitro para a marca do penalty os nossos empurravam-no para fora da área. E ele não tomava nenhuma decisão. Só lhe disse uma coisa [refere-se ao árbitro Graça Oliva]: se vocês não viram se o Vítor Madeira estava em campo, esqueçam lá isso. Eles que joguem à bola que são melhores do que nós. Ele olhou para mim e disse: Tem razão. E o jogo seguiu".

TOPONÍMIA


Se toponímia pode definir-se como a disciplina que estuda os nomes próprios dos lugares, a sua origem e evolução, a pergunta que se apraz fazer é: "mas o que tem isso a ver com o futebol?". Pois bem, todos nós, até os jogadores, têm o seu local de nascimento. Bastaria isto para que conseguíssemos construir algo relacionado com a geografia. Mas longe desta verdade ao jeito de "Monsieur" La Palice, há outra igualmente incontornável. É que ao longo dos tempos, os nomes das cidades, vilas e afins, foram servindo para apelidar pessoas. Claro que é capaz de ter sido exactamente o oposto, mas, também, para que é que isso interessa? Na verdade, o que importa é que este Dezembro, em exclusivo, será dedicado a futebolistas com nome de localidade!!!

421 - DRAGAN GACESA

Foi ao lado de velhos conhecidos do futebol português que Dragan venceria o grande título da sua carreira. Ele que, pode dizer-se, dividiu a sua carreira em duas etapas, fez dessa primeira parte, talvez, a mais importante. No FK Vojvodina Novi Sad, com parceiros como Vujacic (Sporting), Punisic (Beira-Mar e Farense), Milovac (Salgueiros), Vorkapic (Vitória de Guimarães), Curcic (Farense, Belenenses e Estoril), Bosancic (União da Madeira, Nacional e Campomaiorense) e, ainda, os famosíssimos Sinisa Mihajlovic e Slavisa Jokanovic, o defesa haveria de conquistar o Campeonato da antiga Jugoslávia. Essa temporada de 1988/89, para além do referido título, iria permitir a Dragan, tal como aos restantes seus companheiros, a oportunidade de, na época seguinte, disputar a Taça dos Campeões Europeus. Essa presença, naquela que é a maior competição de clubes organizada pela UEFA, haveria, no entanto, de marcar o final desse período passado a jogar na sua cidade e país natal.
A viagem que se seguida faria, trá-lo-ia para Portugal, mais precisamente à ilha da Madeira. No União ocuparia no plantel, um lugar de grande importância, um excelente reforço. Conseguiu alcançar a titularidade e mantê-la durante os oito anos que passou no Funchal. Transformou-se, por isso, numa das figuras emblemáticas do clube. Claro está que não foram só estes anos que o puseram numa posição de destaque. Todo o futebol que foi exibindo, a sua capacidade no jogo aéreo ou a maneira como conseguia colocar-se no terreno de jogo, fizeram dele um dos bons líberos a actuar no nosso campeonato, somando, na Primeira Divisão, um total superior a 100 partidas disputadas.

420 - RODRIGÃO

Talvez já não se lembrem, mas a primeira vez que Rodrigão mostrou o seu futebol em Portugal, não foi quando em 1993 assinou pelo União da Madeira. Já dois anos antes, o médio tinha passado pelo nosso país. Já se lembram porquê? Pois bem, em 1991 foi por cá organizado o Mundial s-20. Na selecção do Brasil, por entre outras figuras que passariam pelos nossos campeonatos (Paulo Nunes; Ernesto Paulo), estava um tal rapaz que dava pelo nome de Rodrigo Dias Carneiro. Esse jovem promissor, que da formação do Fluminense saltara para os rivais do Flamengo, e que, também, já tinha vestido a camisola do Botafogo, no entanto, precisava de ganhar algum "calo". Como a sua utilização, nesses emblemas "cariocas", não era a esperada para alguém que tanto prometera, surge a decisão de experimentar a Europa como novo destino desportivo. Claro que relacionado com esta sua mudança, não é alheia a vontade do seu antigo seleccionador, Ernesto Paulo, que, entretanto, comandava os destinos do emblema madeirense, já acima referido. No Funchal, parece que precisavam de um médio talentoso, que desse alguma sustentabilidade ao meio do terreno. Em Rodrigão encontraram esse homem. Foi assim que, já depois de ter jogado a tal final de 1991 em Lisboa, o centrocampista "canarinho" voltou a brilhar em Portugal.
O próximo passo na sua carreira deu-o em Braga. No Sporting da "Cidade dos Arcebispos" voltou a assumir-se como um elemento importante para a estratégia do clube. Tal foi a maneira brilhante como se impos que de Espanha, rapidamente surgiram alguns convites. Assim, passado ano e meio da sua chegada ao Minho, Rodrigão parte para disputar a "La Liga" e ao serviço do Sporting Gijon, tentar mostrar aos "Nuestros Hermanos" os seus predicados. Contudo a experiência não correria de feição. Nem na capital das Astúrias, nem tem pouco com a mudança para o Málaga, que por esta altura militava nos escalões secundários espanhóis.
O seu regresso a Portugal, e ao Sp. Braga, clube que já lhe tinha permitido a experiência de jogar nas competições europeias, devolveu o atleta a palcos mais condizentes com o seu estatuto e qualidade. Mas ao contrario do que se esperaria, o médio já não voltaria a conseguir afirmar-se como dantes. Daí em diante voltou ao seu país e parece ter terminado a sua carreira na Arabia Saudita, no Al Hilal. Já agora, alguém sabe onde jogou entre 2001 e 2006? Eu não encontro registo nenhum!!!!

419 - ZIVANOVIC

Estreou-se no Estrela Vermelha de Belgrado corria o ano de 1979. Aí, muito para além de ter participado na Taça dos Campeões Europeus, ficaram para o seu currículo os títulos conquistados pelo plantel onde estava inserido: três Campeonatos jugoslavos (1979/80; 1980/81; 1983/84) e uma Taça daquele país (1981/82). Depois de vogar por outros emblemas do mesmo campeonato, o Vardar Skopje (na actual Macedónia) e FK Sutjeska (no actual Montenegro), Zivanovic tem a sua primeira experiência no estrangeiro, quando assina pelos austríacos do Grazer AK. Por tudo isto, quando, em 1991, o guardião aterra no Funchal, já trazia no seu trajecto uma dúzia de temporadas como futebolista profissional.
O experiente jogador, à altura, prestes a fazer 31 anos, acabava de chegar a Portugal para reforçar o União da Madeira. Se nessa época de estreia no nosso campeonato, o protagonismo na defesa das redes "unionistas" seria repartida com o seu colega Balseiro, daí em diante passou a ser, dentro do campo de jogo, o dono e senhor daquele lugar. 5 anos se passariam, os suficientes para que, ainda hoje, mantenha no clube um estatuto invejável. Passou por 3 das 5 temporadas em que o União participou na Primeira Divisão, é o guarda-redes da história do clube com mais partidas disputadas no escalão máximo do nosso futebol, mas um dos momentos mais curiosos desta sua passagem, nem tem muito a ver com a sua carreira de desportista. Zivanovic seria, por assim dizer, o "padrinho" de outro craque, ou não fosse ele o primeiro a sofrer um golo de Nuno Gomes - "O Artur isolou-se à minha frente. Eu atirei-me para os pés dele, consegui tirar-lhe a bola, mas esta ressaltou. O Nuno, que estava no sítio certo, à hora certa, rematou e fez o golo".
Quando muitos pensariam na reforma, o guarda-redes sérvio, achou que ainda teria muito para dar ao futebol. Assim, em 1996 muda-se para o Nacional. Já sem a elasticidade de outros tempos, mas com uma vontade férrea, Zivanovic foi prolongando a sua actividade. Chegou aos 42 anos e em 2002, quando já assumia em simultâneo a função de jogador e a de treinador de guarda-redes, teve esta estirada em relação à sua longevidade - "Já que não atingi altos patamares ao longo da carreira, vou tentar conseguir um recorde qualquer. Nacional ou internacional."
Depois de guardar as luvas, assumiu-se, definitivamente, como técnico. Esta fase da sua vida, tem-no levado a variadíssimos lugares no Mundo. Se tudo começou no Nacional, e já depois de uma pequena passagem pela Académica, Zivanovic, fazendo parte da equipa de José Peseiro (que conheceu nos "alvi-negros"), já passou por países como a Grécia (Panathinaikos), Roménia (Rapid) e, mais recentemente, pela selecção nacional da Arábia Saudita.

418 - RICARDO JORGE

Já depois de ter passado pelos dois principais rivais dentro da ilha da Madeira, o Marítimo e o Nacional, Ricardo Jorge chegaria ao emblema que, verdadeiramente, o lançaria no mundo do futebol profissional. Assim, após ter terminado a formação nos "Maritimistas" e de ter dados os primeiros passos, como sénior, nos "Alvi-negros", o União da Madeira, começava a temporada 1986/87, abriria as portas ao defesa nascido no Funchal. Seriam três temporadas a vogar na Divisão de Honra, até que a época de 1988/89, a derradeira nesse referido triénio, traria um dos momentos mais importantes na história do União. Com Ricardo Jorge a assumir-se como um dos principais pilares, um dos grandes esteios no último reduto, a equipa que, anos antes o tinha recebido, sagra-se campeão nacional no segundo escalão português. Com este título assegura a promoção à Primeira Divisão, e tal como o clube, Ricardo Jorge, na temporada que se seguiria, faz a sua estreia nos maiores palcos futebolísticos nacionais. A exigência da nova competição e, também, o crescer da concorrência dentro do plantel, faz com o atleta perca alguma preponderância nos escalonamentos do "onze". Apesar dessa "perda" não ser assim tão significativa quanto isso, o passo seguinte na sua carreira, leva-o a viajar para o continente. No Gil Vicente, se o propósito desta mudança era o de ganhar alguma experiência, pouco haveria de ser utilizado. Já o regresso à sua terra natal, traria de volta aos relvados o jogador de que todos os adeptos do União se lembravam, nessa memorável campanha da subida. Ricardo Jorge volta a recuperar um lugar no sector mais recuado da equipa, mas apesar da titularidade na maioria das jornadas, essa época de 1991/92, desportivamente, não seria mais do que uma derrota. O último lugar na tabela classificativa iria castigar Ricardo Jorge, e todo o grupo, despromovendo-os para a divisão imediatamente abaixo.
Apesar de ainda ter voltado a jogar entre os "grandes", a carreira do defesa não mais voltaria a ter um tão grande destaque. Depois de nova promoção, os poucos jogos em que vestiria a camisola amarela e azul, fariam com que o seu percurso no União terminasse definitivamente. O resto da sua vida nos relvados, seria feita de passagens pelo Camacha e Câmara de Lobos. Esses 9 anos seriam passados nas divisões ditas amadoras, e onde, em 2003, já com 39 anos, decidiu ser o tempo certo para "pendurar as chuteiras".

417 - MARCO AURÉLIO

Depois do América, a mudança de Marco Aurélio para o conjunto, também carioca, do Vasco da Gama, faz com que a sua cotação comece a subir em flecha. Se em 1988, ano da sua contratação pelos da "cruz maltina", a sua vida não foi muito facilitada, já as temporadas que se seguiriam fariam dele um dos titulares indiscutíveis da sua equipa, e um dos principais obreiros da vitória no Campeonato Brasileiro de 1989. Bastou mais uma época para que, do lado de cá do Atlântico, outros cenários começassem a congregar-se. Apareceu o União da Madeira e a ideia de vir jogar para a Primeira Divisão portuguesa, agradou ao defesa. No entanto, aquando da sua chegada ao Funchal, e apercebendo-se Marco Aurélio que a dimensão do clube era mais modesta do que por ele esperada, começou a mostrar algumas reticências em relação à mudança. Entende-se perfeitamente o surgimento desta dúvida, principalmente para quem vinha de um clube com a grandeza do Vasco da Gama. Não sabemos se ajudado pela sua inabalável fé, ele que foi um dos maiores impulsionadores do movimento dos "Atletas de Cristo" em Portugal, acreditou que o projecto desportivo que tinha pela sua frente, era válido e uma boa "porta de entrada" na Europa. Com uma entrega sem máculas, o central brasileiro, facilmente conquistou os adeptos "unionistas". Se por um lado, fora dos relvados, a sua simpatia, gentileza e educação eram as suas marcas mais características, já dentro de campo, Marco Aurélio, sem nunca deixar de lado a correcção, pautava-se como um verdadeiro "Imperador". A alcunha que ganharia anos mais tarde, já ao serviço do Sporting, demonstrava bem as suas capacidades. Imperativo na hora de cortar a bola, fisicamente possante, rápido, mas sempre mantendo uma elegância e tranquilidade que, nem sempre, se vê nos da sua posição, Marco Aurélio, durante as 4 temporadas em que esteve na Madeira, comandaria, sem contestação possível, o sector mais recuado do União.
Já depois de aí ter chegado a "Capitão", por indicação de Carlos Queiroz, surge o convite do Sporting. Melhor estreia não poderia ter tido, pois logo nessa temporada, os de Alvalade, que já não venciam nada há 13 anos, haveriam de conseguir erguer a Taça de Portugal de 1994/95. No ano seguinte mais um trofeu, a Supertaça. Mas aquilo que haveria de se tornar característico na passagem de Marco Aurélio por Alvalade, seria a sua consistência exibicional, a qual, mesmo em épocas instáveis como a de 1997/98, com constantes mudanças de treinador - foram apenas 4!!! -, mostrou ser sempre muito alta. Isso, e toda a sua capacidade de conduzir os seus semelhantes, fizeram dele a escolha óbvia para, mais uma vez, envergar a braçadeira de capitão. Com pena dos adeptos, essa condição não durou assim tanto tempo, pois, em Dezembro de 1998, já com 32 anos, Marco Aurélio parte para Itália.
Pelo Vicenza estreia-se na Serie A. Contudo, e apesar da oportunidade que foi viver e jogar o "Calcio", a falta de consistência desportiva do clube, fez com que essa sua presença em Itália o fizesse vogar entre as duas maiores divisões. No entanto, continuou no país durante largos anos. Passou  por outros clubes (Palermo; Cosenza; SPAL; Teramo) e aí, já com os 40 anos bem à vista, "penduraria as chuteiras".
Depois do fim da carreira, regressou ao Brasil. E, se por um lado, abraçou ainda mais a sua igreja, onde se tornou professor bíblico. Por outro, continua ligado ao futebol, onde, como "olheiro", procura o surgimento de novas estrelas para a modalidade.

416 - MILTON MENDES

Nascido no seio de uma família adepta do Vasco da Gama, naturalmente, também ele se fez fã do conjunto fundado por portugueses. Residindo em Criciúma, Estado de Santa Catarina, uma das oportunidades que teve de ver ao vivo a sua equipa, foi quando estes se deslocaram à sua cidade. Foi assim, segundo conta o próprio, que teve a oportunidade de conhecer o seu ídolo de infância, Orlando "Lelé", famoso lateral-direito da equipa carioca - "Abeirei-me dele, enchi-o de perguntas e fiquei boquiaberto com a atenção que ele me dispensou. Respondeu-me a tudo o que eu queria saber, pegou no meu livrinho de autógrafos e deu a todos os outros jogadores(...). Fiquei super feliz". Influenciado, ou não, por este encontro, a verdade é que, passados alguns anos, o próprio Milton Mendes haveria de ocupar, também ele com a camisola do Vasco da Gama, a mesma posição em campo.
Já vinda para Portugal, fez-se pela porta do Louletano. Em fim de contrato e com uma proposta de renovação não muito aliciante, Milton Mendes, que também não era uma das primeiras escolhas no alinhamento "vascaíno", prefere, de maneira a lançar a sua carreira, arriscar a viagem para a Europa, participando no campeonato da Divisão de Honra. No Algarve cumpre 4 temporadas. As suficientes para que, do escalão máximo nacional, nele reparassem. E assim, em 1991, a sua aventura prossegue no Beira-Mar.
Rapidamente, nesta sua primeira época entre os maiores do futebol nacional, o defesa consegue posicionar-se como um dos melhores a actuar na sua posição. Aguerrido a defender, e com técnica suficiente para ser uma arma no apoio aos lances ofensivos dos seus companheiros, o nome de Milton Mendes começou a ser cogitado como umas das possíveis contratações dos denominados "Grandes". Dizendo sempre que: "entre estar no banco de um «grande» ou jogar num clube mais modesto de I Divisão, prefiro a segunda hipótese", o lateral brasileiro foi recusando a ideia de que esta mudança de clube era o seu principal objectivo de carreira. Talvez por isso tenha preferido, no final da temporada de 1991/92, assinar pelo Belenenses.
Apesar do clube do Restelo, nesse ano de regresso à Primeira Divisão, ter rubricado um bom Campeonato (7º lugar), a presença do lateral no "onze" da "Cruz de Cristo", não foi muito frequente. Isto fez com que, mais uma vez, tomasse a decisão de trocar de camisola. A mudança levá-lo-ia até ao Funchal, onde encontraria uma verdadeira "constelação de estrelas", vindas do seu país. Muito para além de jogadores como Marco Aurélio ou Rodrigão, à frente dos destinos do União da Madeira estava o antigo seleccionador brasileiro de s-20 e Olímpico, Ernesto Paulo. Neste contexto mais "familiar", Milton Mendes voltou a ganhar o fulgor nele conhecido. Conquistou a titularidade e, bem depressa, arrebatou, com a sua entrega e dedicação dentro dos relvados, o coração dos associados e adeptos "unionistas". Representou a equipa durante as 3 temporadas seguintes, e só a deixou quando, em 1996, depois da descida do ano anterior, o União falha a promoção.
Ao serviço do Sp. Espinho, joga ainda mais uma temporada na 1ª Divisão. No entanto, o que restaria da sua carreira, haveria de a passar por entre os escalões secundários, em clubes da Madeira. Foi num deles, o Machico, que a sua vida mudaria de rumo. Iniciaria a sua vida como técnico, a mesma que o levou em, 2007/08, a aceitar o convite de Sebastião Lazaroni, para o ajudar no comando do Marítimo. O trabalho por si realizado, fez com que o seu chefe de equipa o levasse para o Catar. Desde então, é no Médio Oriente que Milton Mendes tem dado continuidade às suas tarefas de treinador, primeiro no Catar SC e, mais recentemente, à frente do Al-Shahaniya.

415 - HAJRY

Ao contrário do "cromo" anterior, Hajry não é um dos históricos da vida do União da Madeira. É, contudo, um dos incontornáveis do futebol português, e como teve passagem pelos madeirenses, então, aqui está ele!
Já depois de subir à equipa principal do Raja Casablanca, em 1987, o médio é considerado como o melhor atleta do prestigiado Torneio de Toulon. Sempre à procura de novos craques, o Benfica decide apostar no jovem jogador marroquino. É assim, no início da temporada de 1987/88, que Hajry dá entrada no Estádio da "Luz". Contudo, um forte plantel, onde pontuavam para o meio-campo, nomes como os de Elzo, Shéu ou Nunes, não deram grandes oportunidades ao recém-chegado reforço. Certo, é que durante o campeonato, Hajry poucas vezes vestiu a camisola encarnada. No entanto, com a "Águia" ao peito, haveria de ter a chance de ser o primeiro futebolista do seu país (e por enquanto, o único), a participar numa final da Taça dos Campeões Europeus. A partida, de má memória para os adeptos benfiquistas, haveria de ditar a derrota do Benfica, frente ao PSV. Mas nesse jogo de Estugarda, naquele que foi o desempate por penalties, se há coisa que Hajry se poderá orgulhar, é de ter, frente a van Breukelen, ter concretizado a grande penalidade que lhe calhou marcar.
Já depois desta experiência única, o Benfica, com mais estrangeiros do que era permitido, decide "emprestar" Hajry. Após representar Farense e União da Madeira, e de volta ao emblema da capital do Algarve, o centrocampista enceta uma nova, e a mais importante, etapa da sua carreira nos relvados nacionais. A partir desse Verão de 1990, viriam, então, mais 10 temporadas onde, pelos "Leões de Faro", viveria alguns dos melhores momentos da história do clube. Um deles foi a qualificação, em 1994/95, para as competições europeias, e a participação, na temporada seguinte, na Taça UEFA.
Com uma última época ao serviço do Imortal, e até depois de algumas experiências como treinador, Hajry decide regressar ao "campos da bola". Tal como outras estrelas do nosso futebol (Cadete; Fernando Mendes; Pitico; Mané) veste a camisola do São Marcos, colectividade amadora da Associação de Futebol de Beja - " A ideia é continuar a ser treinador. Em vez de fazer os jogos de veteranos, venho fazer estes jogos, com a mesma alegria que sempre pus no futebol".

414 - NELINHO

Se há figura que pode ser associada aos melhores momentos da história do União da Madeira, então Nelinho é um deles... de certeza!!!
Formado nas escolas do clube sediado no Funchal, ele também nascido na capital madeirense, fez a sua estreia como sénior no Andorinha (sim, esse mesmo... o de Cristiano Ronaldo!!!). O seu regresso ao União, haveria de se fazer nas vésperas da estreia dos insulares no escalão maior do nosso futebol. Já na temporada seguinte, depois dessa vitória no Nacional da Segunda Divisão de 1988/89 e da respectiva promoção, Nelinho, também ele estreante nessas andanças de Primeira Divisão, começa a ganhar preponderância dentro do plantel. Logo à terceira jornada marca, frente ao Boavista, o seu primeiro golo; e com o entrar no último terço do campeonato, assume-se como um dos titulares. No entanto, a época da sua grande afirmação é a de 1990/91. Na lateral da defesa, Nelinho, sem ser um jogador com uma estatura muito surpreendente, mostra, à imagem de tantos outros craques, que o seu 1,70m não o impossibilitaria de mostrar as suas qualidades.
Raçudo, no que ao corte das ofensivas adversárias dizia respeito, e com uma propensão ofensiva que lhe permitia, pela ala dextra, ser um dos apoios atacantes da sua equipa, o defesa direito facilmente começou a mostrar-se como um dos portadores da alma do "União da Bola". Esse reconhecimento é inequívoco. E se mais não houvesse para fazer prova desse mesmo valor, os números de que se fazem a sua carreira, são o bastante demonstrativo do que aqui se tem dito. Assim, para além de mais de uma década a vestir a camisola amarela da equipa principal (onde estão incluídas todas as 5 temporadas na Primeira Divisão), o maior prémio que teve, como recompensa pela entrega demonstrada ao longo de todos esses anos, viria com vestir da braçadeira de capitão.
Depois de concluir a sua carreira futebolística, com passagens por outros emblemas da Madeira (Ribeira Brava e Estrela da Calheta), e de ter, na Universidade da Madeira, concluído uma licenciatura em Educação Física e Desporto, a ligação de Nelinho com o Clube Futebol União, tem sido feita com o assumir de novas funções, como é exemplo a de Director-Desportivo.
Relativamente ao futuro do antigo defesa, não se sabe. Contudo, ainda neste defeso, ouvimos o ex-técnico da equipa, Pedrag Jokanovic, a sugerir o seu nome para ocupar o cargo por ele deixado - "O Nelinho é uma pessoa que está há muito ligada ao clube e percebe muito de futebol. Se eu fosse presidente, era nele que apostava".

413 - UNIÃO DA MADEIRA

Falarmos da fundação do União da Madeira é também falar um pouco da vida de um dos seus grandes rivais, o Clube Sport Marítimo. Assim, segundo reza a história, um grupo de jovens rapazes decide juntar-se para jogar à bola. Sob a protecção do Marítimo, o conjunto, primeiramente denominado Infantil Sport Club, passa a chamar-se Grupo União-Marítimo. Mas se o objectivo deste "casamento" era contribuir na formação de atletas para os "Verde-Rubros", o "divórcio", após a disputa sobre a propriedade de uma baliza, rapidamente aconteceu. A separação dá então origem ao União Futebol Clube, que, mais tarde, mudaria o nome para Clube Futebol União, com data de nascimento a 1 de Novembro de 1913.
Já por essa altura, falava-se na Madeira da necessidade de uma entidade que, de alguma forma, gerisse a pratica do futebol na ilha. José Anastácio Rodrigues Nascimento, antigo dirigente maritimista e um dos fundadores do União, acaba por se tornar numa das figuras de proa dessa ideia, a qual culminaria com a criação, a 28 de Setembro de 1916, da Associação de Futebol do Funchal.
Com a génese deste organismo, começam também os Campeonatos na região. Nas duas primeiras edições a vitória acabaria por sorrir ao Marítimo, mas quando, a 8 de Dezembro de 1918, o União derrota por 2-3, na casa dos próprios rivais, a "Equipa de Honra" "verde-rubra", instala-se então a polémica. O Marítimo contesta a partida, pois, segundo consta, a mesma havia terminado sob condições de visibilidade deficientes. A Associação de Futebol do Funchal, decide invalidar o desfio. E com isto tudo estala a "guerra", cujo resultado seria a paralisação do organismo federativo.
Dois anos depois, sanada a contenda, a prova é reatada. O União faz desta 3ª edição, a de 1920/21, a sua primeira vitória, a qual repetiria em 1927/28. Contudo, esta última conquista teria um sabor especial, pois permitiria a participação do emblema sediado no Funchal, no Campeonato de Portugal. Na prova nacional, a prestação do "União da Bola", alcunha porque ficou famoso, leva-os ao quartos-de-final. Frente ao "todo-poderoso" Benfica, a exibição do União espanta o universo português do desporto, quando bem perto do términus da segunda metade, o resultado se quedava por um surpreendente 3-1. Já nos descontos, a supremacia das "Águias" leva a maior. Os lisboetas conseguem dar a volta ao marcador e acabam por vencer a eliminatória por 3-4.
Tirando as vitórias nas provas organizadas dentro do arquipélago, onde os anos 50 e 60 foram pródigos em conquistas, O União só voltaria à ribalta nacional, quando em 1988/89, para além de alcançar a subida ao escalão máximo português, consegue vencer, em disputa com o Feirense e o Tirsense, o Campeonato da Segunda Divisão. Como é lógico, a estreia, nessa que é a maior prova realizada dentro do nosso território, haveria de acontecer na temporada seguinte. Sem resultados de grande monta, o clube já conta com 5 participações no Campeonato da Primeira Divisão, onde a melhor posição conseguida foi um 10º lugar, em 1993/94.
Desde 1995 que o União tem andado afastado dos palcos maiores do nosso futebol. A sua militância tem-se repartido entre a Divisão de Honra e a Segunda "B". No entanto, o futuro volta a ser risonho, onde o ponto de partida para novos êxitos tem como base o novo complexo desportivo de Vale Paraíso.

CENTENÁRIOS - C.F. UNIÃO

Quando em anos anteriores, tomámos a decisão de homenagear os clubes que atingiram essa notável marca dos 100 aniversários, sempre tivemos à disposição 3 ou 4 nomes. Isso permitiu-nos, em torno dessas colectividades, variar a nossa oferta, no mês escolhido para o merecido tributo. Ao contrário, 2013 apenas nos deu um emblema dessa grandeza e com passagem na Primeira Divisão. Mas se esse facto, numa abordagem inicial, levou-nos a desistir da ideia de assinalar o seu centenário, por outro, rapidamente entendemos que nunca nos livraríamos da sensação de injustiça, por tal discriminação. Assim, e como as excepções podem sempre ser vistas como oportunidades, este mês de Novembro será, exclusivamente, dedicado à história e aos jogadores que passaram pelo Clube Futebol União.

412 - FIDALGO

Quando, ainda júnior, Fidalgo se transferiu do Sp. Espinho para o Benfica, sabia à partida que a sua vida não iria estar facilitada. Mais consciência deve ter tido disso, quando subiu à primeira categoria e deparou, como seus concorrentes, com José Henrique e, uns anos mais, com Manuel Bento. Tal competição pelo lugar de guarda-redes, fez com que o promissor atleta, na hora de ser escalonada a equipa, ficasse remetido para segundo e terceiro plano. Começaram então os empréstimos a outros emblemas. Assim, entre Leixões e Sp. Braga, intercalados com uma temporada de regresso, Fidalgo mostrou, principalmente na "Cidade dos Arcebispos", que continuava a ter os predicados de um guardião ágil, arrojado e muito elegante entre os postes. Aliás, seria nessa época de 1976/77 que o emblema minhoto atingiria a final da Taça de Portugal. Nessa derradeira e muito almejada partida, daquela que é a segunda competição mais importante em Portugal, o seu nome seria a escolha para o "onze" titular bracarense. No entanto, e apesar da vontade de cumprir o desígnio de manter invioláveis as suas redes, Fidalgo não conseguiria evitar que Fernando Gomes, aos 9 minutos da segunda metade do jogo, fizesse o tento que ditaria o fim do sonho para o Sp. Braga.
Depois dessa temporada em altíssimo plano, o regresso de Fidalgo ao Estádio da "Luz", ter-se-á feito envolto noutras esperanças. A verdade é que o cenário continuava igual, ou seja, os nomes que com ele disputavam o lugar à baliza eram os mesmos. Esse contexto, mais uma vez, fez com que o jogador fosse esquecido. É então que no Verão de 1979, no meio de muita polémica, que envolveria a ida de Botelho e Laranjeira do Sporting para as "Águias", e, em Sentido contrário, a partida de Eurico, que Fidalgo passa também para o outro lado da 2ª Circular.
Na sua época de estreia de "Leão" ao peito, Fidalgo dividiria a protecção do último reduto leonino, com o seu companheiro de posição, António Vaz, contribuindo, e de que maneira, para o sucesso do grupo rumo à conquista do Campeonato Nacional de 1979/80. Já na temporada que se seguiu, e quando tudo apontava para que continuasse nesta senda, uma grave ruptura muscular atirá-lo-ia para uma longa recuperação, fazendo com que perdesse a oportunidade de lutar pela camisola número 1. A partir desse momento, Fidalgo, tal como anteriormente, deixou de estar na linha da frente para ocupar o lugar. Por isso, e já depois de conseguir a "dobradinha" de 1981/82, decidiu que o melhor para a sua carreira era rumar a Norte e ao Salgueiros. Mas aquela que começaria como uma outra qualquer temporada, revelar-se-ia de uma particularidade e importância extraordinária para si - "Octávio Machado abandonou o clube numa altura em que eu não podia jogar por me encontrar lesionado. Por isso pediram-me para ficar como treinador. Foi o que aconteceu até final da temporada e conseguimos a manutenção nesse ano, o que foi algo de extraordinário dado que estávamos praticamente condenados". No entanto, essa experiência, que até podia ter sido vista como um acrescer de valências para o atleta, apenas fez com novas portas se fechassem. Ele que, aos 32 anos, legitimamente, queria continuar pelos relvados, por razão dessa "passagem pelo banco", via agora serem-lhe negadas novas oportunidades. A solução passaria pelo segundo escalão, onde, ao serviço do Estoril-Praia, encontrou novo poiso. Contudo, como o próprio o viria a confessar, "a motivação já não era a mesma", e ao fim de dois anos, acabaria por pôr um ponto final na carreira, transitando, mais uma vez, para o comando da equipa.
Depois de uma carreira de treinador sem grande brilho, Fidalgo tem-se destacado como comentador desportivo. De relevo, ficam as suas passagens pelos programas televisivos da RTP, e também, à moda antiga, pelas rádios, como é o exemplo da Rádio Renascença.

411 - DANI

Ainda antes de se mostrar nas categorias principais, já Dani era visto como um dos talentos emergentes do futebol português, tanto no Sporting como na Selecção Nacional. Aliás, um dos momentos inesquecíveis da sua carreira, isto já no seu ano de estreia como sénior, vivê-lo-ia, ao serviço de Portugal, no Mundial de S-20 de 1995, disputado no Catar. Esse lance memorável, cópia de um idealizado por Alex Fergusson quando este, nos anos 80, orientava o Aberdeen, passou-se na marcação de um livre, numa zona lateral do campo, próxima da grande área adversária. Dani e Bruno Caires, fingindo os dois ter intenção de marcar o castigo, acabam por correr em simultâneo para a bola, esbarrando um no outro e empurrando-se. No meio deste pequeno engodo, os defesas holandeses distraem-se. Aí, Dani marca o livre rapidamente, e centrando a bola para a área, encontra ao segundo poste, a cabeça de Agostinho, que, desta maneira, acaba por fazer o golo.
Também no Sporting, as suas qualidades futebolísticas eram apreciadas. Com uma técnica e compreensão do jogo excepcionais, uma capacidade de passe primorosa e um instinto suficiente para, também ele, conseguir uma boa dose de golos, o médio ofensivo destacava-se, igualmente, por outras razões. Como rapidamente foi entendido pelos responsáveis leoninos, o jovem craque formado na casa, começara a ganhar gosto pela vida boémia, aparecendo muitas vezes nos treinos, segundo consta, vindo directamente das noitadas. No intuito de o desviar do círculo de amigos e tentações noctívagas, o Sporting decide enviá-lo para Londres para, por empréstimo, rodar no West Ham. No entanto, se o objectivo era a sua reabilitação, rapidamente o jovem atleta descobriu onde se divertir fora de horas, e Harry Redknapp, o seu treinador, depois de Dani ter chegado atrasado a um treino, acabaria por dispensá-lo. Há, no entanto, uma outra versão contada pelo antigo futebolista. Dani chegou a dizer que a sua súbita desmotivação, deveu-se à surpreendente decisão do técnico inglês de não o pôr a jogar mais até ao final dessa temporada de 1995/96. Segundo o lhe dissera o treinador, essa sua decisão não se prendia com as prestações do médio, muito pelo contrário, mas pelo facto do "manager" não o querer valorizar muito, para assim, no final da época, o poder negociar com o Sporting por uma quantia mais acessível.
No Verão de 1996, os holandeses do Ajax decidem apostar no internacional português. Apesar de nunca se conseguir afastar da fama de "playboy", Dani passaria em Amesterdão, os melhores anos como profissional de futebol. Conseguiria conquistar 1 Campeonato e duas Taças e, muito para além disso, começaria a jogar, sem nunca chegar a ser indiscutível, com alguma regularidade.
O regresso a Portugal deu-se pelas mãos do Benfica. Apesar das promessas do atleta, que dizia chegar à "Luz" para ajudar o emblema, a sua carreia de "Águia" ao peito, quedou-se por muito curta. Mais uma vez, os seus entreténs, bem à margem daquela que deveria ser a sua actividade principal, estorvariam o seu desempenho profissional. Assim, ao fim apenas de 5 partidas, e na sequência de um processo disciplinar, Dani haveria de ser despedido.
A sua última etapa, temos que ser sinceros, deve-a à admiração que Paulo Futre nutre por ele. Com esperança de o recuperar, a antiga estrela do futebol nacional, à altura dirigente do Atlético de Madrid, estende a mão ao médio e leva-o para capital espanhola. Apesar dos "Colchoneros" estarem na segunda divisão, mais uma vez, Dani parecia estar a enveredar pelo caminho certo. Contudo, pouco mudara, e tal como contado no livro de Paulo Futre, "El Portugués", nem o susto que este lhe pregou, o fez preferir os relvados às discotecas e clubes nocturnos - “Filho de uma grande p..., cab... de m.... Vai ser a primeira e última vez que jogas. Vou buscar uma pistola durante o jogo, seu filho da p... E quando terminares não te vou dar um tiro no joelho. Vou dar-te um tiro nos dois joelhos e nos dois pés. Cab... de m... Passaste todos os limites (...) Levantei-me, dei a volta à secretária com a pistola na mão e desatei aos gritos: Qual é o joelho que queres, cab...? O direito ou o esquerdo. Diz-me filho da p...”.
Para aqueles que ainda tinham esperanças de o ver emergir como uma grande estrela, a desilusão deve ter sido enorme quando, com apenas 27 anos, Dani resigna-se ao facto daquela não ser a sua paixão, e decide pôr um ponto final na sua carreira como profissional.
Hoje em dia, Dani voltou a estar mais próximo do futebol, não dentro de campo, nem sequer a orientar uma equipa, mas como comentador de programas desportivos no canal de televisão TVI.

410 - PEDRO BARBOSA

Não é muito habitual o FC Porto perder oportunidades no que diz respeito a bons jogadores. Bem, talvez não!!! A verdade é que Pedro Barbosa, que nas Antas fez a maior parte da sua formação, viu-lhe ser indicado, pelos responsáveis da equipa, o caminho da Segunda Divisão B. Nesse Verão, o de 1989, o médio, que chegara à idade de transitar para o escalão sénior, tendo as portas fechadas do plantel principal, rumaria ao Freamunde. 
Ímpar na sua maneira de jogar, foram precisos apenas dois anos para que João Alves nele reparasse. À frente do Vitória de Guimarães, o "Luvas Pretas", insistiu na contratação daquele que, já à altura, era um virtuoso tecnicista e um homem com uma visão de jogo extraordinária. 
Foi alicerçado nestas qualidades desportivas que Pedro Barbosa, facilmente, começa a vingar na "Cidade Berço". Claro está que, um jogador que começa a despontar de maneira tão evidente, mais tarde ou mais cedo, tem a cobiça dos denominados "grandes"!!! Pedro Barbosa não foi excepção. Contudo, e ao contrário de muitos, antes da inevitável mudança, já o médio-ofensivo era alvo de grande destaque. Fosse pelos comentários humorísticos dos seus treinadores - "se tivesse muito dinheiro compraria Pedro Barbosa para jogar futebol comigo no meu quintal”, diria um dia Quinito -; fosse pela estreia na Selecção Nacional, o médio era um jogador apetecível.
O dia da mudança acabaria por chegar! Ao contrário do que tinha acontecido durante a sua juventude, a viagem era agora em direcção a Sul e a Lisboa. No Sporting, apesar de reconhecida toda a sua elegância, capacidade de passe e excelente interpretação de todos os lances, Pedro Barbosa sempre suscitou alguma controvérsia. Não sendo um jogador muito rápido, o que lhe valeu alcunhas como "Pastelão", o médio parecia, por vezes, passar partes enormes do jogo completamente alheado do mesmo. Esta aparente postura negligente, valer-lhe-ia alguns assobios. Por outro lado, Pedro Barbosa era capaz dos lances mais geniais. Nesse sentido, e a
quando das suas magistrais jogadas ou dos seus golos adornados de magia, os apupos rapidamente eram substituídos por eufóricos aplausos.
No final, e podem perguntá-lo a qualquer adepto leonino, a paixão que qualquer um deles sentiu pelo atleta, superou, e de que maneira, as dores de cabeça que este lhes possa ter alguma vez causado. Também não é para menos!!! Pedro Barbosa fez parte dos melhores momentos da história recente do "Leão". Não, não foram só as 10 épocas que vestiu de "verde e branco" que marcaram a sua passagem. A estas, há ainda que juntar a braçadeira de capitão por ele envergada; as vitórias em 2 Campeonatos; 1 Taça de Portugal; 2 Supertaças; e, infelizmente perdida, a final da Taça UEFA de 2004/05, disputada no Estádio de Alvalade, frente ao CSKA de Moscovo.
Apesar de se ter retirado em aparente conflito com José Peseiro (treinador) e Dias da Cunha (presidente), Pedro Barbosa, após a demissão deste último, voltaria ao Sporting. De regresso ao clube em 2009, mas agora na condição de Director-desportivo, a sua experiência como dirigente haveria de ser curta. Desde então, o antigo internacional português (com presenças no Euro 96 e Mundial de 2002) tem mantido alguma distância das actividades clubísticas. Contudo, tem mantido alguma ligação com a modalidade. De uma forma diferente, mas sempre inteligente na maneira como comenta as actualidades futebolísticas, Pedro Barbosa é uma das caras da TVI.

409 - TAIRA


Depois da passagem por emblemas nos escalões secundários, como o Oeiras ou o Montijo (neste caso, já na 2ª divisão), chega a vez de se estrear no escalão principal do nosso futebol. No Belenenses, que, nessa temporada de 1989/90, tinha conquistado o estatuto de clube europeu, a preponderância de Taira dentro do plantel era pequena. Na verdade o "trinco" apenas viria a assumir um papel de relevância na equipa do Restelo, duas épocas após a sua chegada, aquando da descida do emblema à Divisão de Honra. A partir desse momento o seu modo cerebral e elegante de encarar o jogo, sem, contudo, perder esse toque físico e aguerrido que, igualmente, era a sua marca, fez com que Taira se tornasse numa das peças fundamentais de toda a movimentação, defensiva e atacante, do Belenenses.
Tirando a temporada de interregno, em que, bastante discreto, teve uma passagem pelo Estrela da Amadora, as restantes que passaria com a "Cruz de Cristo" ao peito levá-lo-iam a ser aclamado como um dos melhores na sua posição a actuar em Portugal. Foi então que no intervalo entre a temporada de 1995/96 e a que se seguiria que, com a partida de João Alves para o Salamanca, se dá uma debandada dos jogadores do Belenenses em direcção a esse clube espanhol. Seguindo o treinador, atletas como Ivkovic, Giovanella, Catanha, César Brito, Taira e mais uma mão cheia de outros jogadores provenientes de outros emblemas lusos, decidem aceitar o desafio de jogar na segunda divisão espanhola.
Para Taira, que, imediatamente, faria, com o brasileiro Giovanella, uma das mais recordadas duplas de meio-campo para aquelas bandas, a mudança significaria, sem sombra de dúvidas, e à falta de melhores oportunidades no seu país, a chance de progedir como futebolista. No Salamanca passou 4 temporadas, entre os dois principais patamares do futebol do país vizinho, que lhe dariam, entre outras coisas, a visibilidade suficiente para o levar à estreia na selecção nacional, a qual ocorreu na qualificação para o Mundial de 1998, numa partida frente à Albânia.
Uma das coisas que também conquistou foi a admiração e reconhecimento por parte de outras equipas, como foi o caso do Sevilla. Está bem que a equipa andaluza, por aquela altura, estava numa fase recessiva da sua história; está bem que a aposta no médio veio com a descida de divisão, mas quantos são os que podem dizer que já vestiram uma camisola com o peso dos "Los Rojiblancos"???
Os derradeiros anos da sua carreira viveu-os já de regresso a Portugal, primeiro ao serviço do Farense e, finalmente, com a camisola do Oriental. Após esse "pendurar de chuteiras", Taira, sem se desviar da sua modalidade de eleição, tem tido diferentes papeis dentro da mesma. Se por um lado a sua carreira de treinador tem sido feita em prol da formação, nomeadamente relacionado com as escolas do Sporting, por outro, o antigo internacional não enjeita a oportunidade de fazer a sua "perninha" como comentador, papel no qual, já o conseguimos ver aos microfones, por exemplo, da Bola Tv e da CMTV.