904 - ARNALDO

Depois de ter encantado no Sport Bissau e Benfica, seria na CUF que o jovem Arnaldo Silva faria a estreia no principal escalão português. No grupo do Barreiro, sob o comando de Manuel de Oliveira, o médio seria lançado na temporada de 1964/65. A segunda metade da referida época mostraria um jogador que, apesar da tenra idade, mereceria a confiança do treinador. No entanto, esse belo arranque acabaria por não ter continuidade nas campanhas seguintes. A irregularidade mostrada levaria os responsáveis da equipa a procurar nova solução. A resposta para a sua carreira viria na forma de empréstimo e, durante os 3 anos seguintes, o centrocampista evoluiria longe da Margem Sul.
Seria no regresso que Arnaldo conseguiria, finalmente, afirmar-se como um atleta fundamental na manobra da sua equipa. Com a ascensão do emblema do Barreiro, expressa na luta pelos lugares cimeiros da tabela classificativa, o médio começaria a ser cobiçado por emblemas de outra monta. Com a “Lei da Opção” a dificultar a sua saída, os “grandes” do futebol português acabariam por ser dissuadidos da, tantas vezes veiculada, contratação. Apesar de nunca conseguir a tão almejada transferência, o prémio para as suas excelsas qualidades acabaria por vir da Federação Portuguesa de Futebol. Já com 30 anos de idade, o médio, com José Maria Pedroto no lugar de seleccionador, envergaria pela primeira vez a camisola das “quinas”.
Até 1976 manter-se-ia como uma das maiores estrelas da CUF. É já com a entrada em decadência da empresa que dava nome ao clube, que o internacional português acaba por deixar a camisola que, durante 10 temporadas, tinha envergado. Com a sua saída, seriam o Montijo, Barreirense e Amora as colectividades que, daí em diante, permitiriam ao jogador dar continuidade à sua carreira. Entre os 2 principais escalões nacionais, o atleta passaria aquela que pode ser vista como a segunda parte do seu percurso. A maior curiosidade desse período prender-se-ia com a polivalência revelada pelo futebolista. Durante essa meia dúzia de anos, o antigo médio acabaria por experimentar diferentes lugares. Ainda assim, e tendo jogado a avançado e defesa, a qualidade do seu jogo pouco diminuiria. Preponderante, Arnaldo poucas vezes seria esquecido na altura de delinear a táctica de jogo.
Bem perto de completar a sua quarta década de vida, e numa altura em que qualquer atleta estaria a pensar na reforma, Arnaldo decidiria manter as chuteiras nos pés. Já a distanciar-se da vontade e técnica mostrados nos mais importantes palcos do futebol português, a sua determinação levá-lo-ia ainda a jogar durante mais algumas temporadas. É em 1987, com 43 anos e a disputar os “distritais”, que decide ser a hora certa para afastar-se dos “jogos da bola”. Curiosamente, seria como segurança em estádios de futebol que, anos mais tarde, o antigo jogador passaria a ganhar a vida.

903 - RYAN GIGGS

Filho do jogador de rugby, e internacional galês Danny Wilson, Ryan Giggs haveria de escolher os pés como ferramenta principal para manobrar a bola. No entanto, e com toda a ironia que tal acarreta, seria a carreira do pai que acabaria por ter grande influência no seu trajecto profissional. Ora, quando era apenas uma criança, a transferência do seu progenitor para o Swinton RLFC levá-lo-ia para a Grande Manchester. Sendo um apaixonado pelo futebol, o jovem praticante teria a primeira oportunidade nos “Citizens”. Curiosamente, seria nos grandes rivais do United, para onde seria transferido passados alguns anos, que faria toda a sua caminhada sénior e onde conquistaria os mais diversos troféus.
Tendo evoluído junto com a fornada que ficaria conhecida como a “Class of 92”, seria ao lado de Gary Neville, Phill Neville, Paul Scholes, Nicky Butt e David Beckham que o extremo apareceria na primeira equipa do Manchester United. Apesar do baptismo do grupo ter sido inspirado na vitória na FA Youth Cup de 1992, a estreia de Ryan Giggs com a principal camisola dos “Red Devils” aconteceria na temporada de 1990/91. Nas mãos de Sir Alex Ferguson, o consagrado “manager” escocês, não tardou muito até que o seu nome passasse a figurar como um dos elementos mais utilizados do plantel. Pelo lado esquerdo do ataque, o destaque que mereceria seria de tal ordem que, logo na segunda e terceira época como sénior, haveria de vencer o “PFA Young Player of the Year”.
Os prémios que, nesses primeiros anos, fariam dele uma revelação no futebol britânico, haveriam de ser um prenúncio para uma carreira recheada de êxitos. Tantos sucessos teriam sempre, como é lógico, de ficar associados a uma das mais brilhantes páginas da história do Manchester United. Durante o tempo em que representou a equipa, atingiu números que conseguirão espantar qualquer um. Podemos começar com as 24 temporadas que passou com a camisola sénior do clube. Depois, temos ainda os 963 jogos seniores pelos “Red Devils” que adicionadas às partidas feitas pelas selecções (sim, plural!!!), ultrapassam as 1000 partidas. Claro está que falta aqui referir o número mais importante. Esse, um cômputo de 34 títulos, faz dele o atleta mais premiado colectivamente no universo britânico.
Nessa sua longa carreira, como é fácil de desvendar, Ryan Giggs vestiu outras camisolas. Agora, o que não é difícil de adivinhar é que, no que a selecções diz respeito, o extremo haveria de vestir 3 camisolas diferentes. Ainda nos “Schoolboys”, a sua escolha recairia pela Inglaterra. Contudo, a ligação que sempre nutriu pela sua nação natal faria com que, ainda nos sub-18, passasse a representar o País de Gales. Pelos “Dragões” faltou ao jogador disputar uma das grandes competições dedicadas às equipas nacionais. No entanto, uma excepção concedida por altura das olimpíadas de 2012, faria com que tivesse a honra de capitanear a Grã-Bretanha nos Jogos disputados em Londres.
Com a sorte de nunca ter sofrido uma lesão grave, a longevidade de Ryan Giggs no desporto também é devida a muita disciplina. Por outro lado, no campo, seriam tudo menos as regras que fariam dele um dos melhores futebolistas de todos os tempos. O atacante foi um virtuoso. Excelso na maneira como lia o jogo, o pé esquerdo, fosse no passe ou no remate, tratava a bola com delicadeza. Essas suas características permitir-lhe-iam, não só marcar muitos golos, como municionar os seus colegas de área. As 162 assistências dar-lhe-iam mais um recorde que, desde o seu afastamento dos relvados em 2014 (a meses de completar 41 anos de idade), ainda não foi batido.

902 - AMARAL

Apesar do apelido “Coveiro”, Amaral nunca abriu qualquer sepultura – “Eu trabalhava numa funerária, mas não fazia covas. Eu enfeitava e maquiava os defuntos, que já estavam com a cara triste e eu fazia na cara deles uma risada no caixão”*. Já a sua passagem pelo futebol, ao contrário da alcunha pouco rigorosa, seria feita de algo completamente diferente. Abnegado em todos os momentos do seu percurso, a carreira do médio acabaria por caracterizar-se, para além da longevidade, por uma assertividade exemplar.
Tendo começado nas “escolas” do Palmeiras, Amaral largaria o já referido emprego para profissionalizar-se no desporto. No Palestra Italia, as suas exibições cedo começariam a merecer os mais rasgados elogios. Também colectivamente tudo corria de feição e os sucessos do clube acabariam por entrega-los a outros voos. Já após ter vencido alguns títulos nacionais e estaduais, merece a primeira chamada à selecção “canarinha”. Em seguida, e com o palmarés colorido pela Medalha de Bronze nas Olimpíadas de Atlanta, por 2 “brasileirões” e 3 Campeonatos de São Paulo é da Europa que surge novo desafio. A oportunidade de participar num das melhores ligas do mundo, chegaria com o convite do Parma. Todavia, no “Calcio” as coisas não correriam da melhor maneira e, num plantel que tinha como estrelas Thuram, Buffon, Cannavaro, Brolin ou Sensini, o “trinco” brasileiro poucas vezes apareceria em campo.
Surge então o empréstimo ao Benfica. Poucos meses após a sua chegada a Itália, Amaral transfere-se para as “Águias”. Num clube marcado pela instabilidade, o médio surge como um oásis de força e de vontade. Os fãs reconheceriam o seu esforço e entrega e, finda a época de 1996/97, desponta o movimento “Fica Amaral”. Com os cofres da “Luz” muito debilitados, estando os “Encarnados” longe de conseguir o exigido pelo emblema italiano, é dos adeptos que surgiria o esforço para que a contratação do médio fosse uma realidade. Contudo, a benquerença e o dinheiro angariado pela campanha seriam insuficiente para manter o médio em Lisboa. Ainda assim, as saudades do jogador levariam a que novo esforço fosse feito. Depois de, também por empréstimo, ter regressado ao Palmeiras, o “passe” de Amaral é finalmente adquirido pelo Benfica. Com a aquisição a acontecer na segunda metade de 1997/98, o médio volta a apresentar-se na “Luz”. No entanto, a presença de Graeme Souness ao comando técnico das “Águias”, levaria o jogador a enfrentar uma realidade bem diferente da encarada durante a sua primeira passagem. Pouco conseguiria jogar e acabaria por voltar ao Brasil.
Corinthians e Vasco da Gama dariam ao médio-defensivo uma chance para relançar a carreira. Dessa feita seria a Fiorentina, onde jogavam Rui Costa e Nuno Gomes, a ver em si um bom reforço para o meio-campo. Seguir-se-iam louvadas exibições, tudo para ter êxito e, todavia, mais um contratempo nos intentos do brasileiro. Com o conjunto de Florença a “declarar” falência, não restaria outra opção para o futebolista senão a de procurar um novo destino. Ora, outra mudança só daria mais força à ideia de que a carreira de Amaral era a de um verdadeiro “globetrotter”. Aliás, esse saltitar não pararia por aí. Depois do Besiktas, viriam ainda passagens por diversos emblemas no Brasil, o Catar, a Polónia, a Austrália e a Indonésia. Com tantas paragens, a caminhada do centrocampista só terminaria aos 42 anos de idade e no emblema da sua terra natal, o Capivariano.

*retirado do artigo de Luís Castro Martins, publicado a 21/12/2016 em http://www.maisfutebol.iol.pt

TERNURA DOS 40

Apesar de cada vez mais contrariada a tendência, há ainda quem insista que, a partir dos 30 anos idade, o futebolista começa o seu trajecto descendente. Negando essa máxima, houve muitos praticantes que, em melhor ou pior forma, conseguiram estender o seu caminho competitivo. Ora, é para recordar muitos desses resistentes que o mês de Agosto será dedicado à “Ternura dos 40”.