Tendo deixado os estudos após concluir a 4ª classe, Rogério de Carvalho começa a trabalhar no Grémio das Carnes, no Rossio. Alguns anos mais tarde, e tendo como colega Fernando Peyroteo, foi por ele convidado para jogar uma partida de futebol entre os funcionários. O atleta do Sporting ficaria de tal maneira impressionado que, na sequência do desafio, dirige-se ao jovem jogador e convida-o a participar num treino do seu clube. Todavia, o dia das provas não correria de feição. Haveria dizer-se que os outros jogadores o tinham “sabotado”; haveria dizer-se que, durante o tal treino, ninguém lhe passou a bola; haveria dizer-se que ao saber do interesse do clube do seu coração, nem pensou duas vezes e preferiu o Benfica.
A sua estreia com a camisola das “Águias” aconteceria no Outono de 1942, mas numa altura em que a sua carreira já contava com alguns anos. No Chelas FC, onde o seu irmão Armindo França era a estrela do conjunto, Rogério de Carvalho tinha a fama de futebolista de fino recorte. Com uma técnica de excelência, rápido, ágil e com habilidade para o golo, o avançado era conhecido pela maneira subtil como tratava a bola. Por essa razão, o técnico Janos Biri daria ao jovem atleta uma oportunidade no “onze” inicial. Começando como extremo direito e, já mais para o fim dessa temporada, mudando-se para a ponta oposta, o atacante não decepcionaria. Aliás, ao apontar um golo na final da Taça de Portugal de 1942/43, seria fulcral na conquista da primeira “dobradinha” do futebol benfiquista.
Curiosamente, foi na disputa da Taça de Portugal que Rogério de Carvalho estabeleceu um recorde. Os 15 golos que conseguiria concretizar nas 8 finais que disputou, fazem dele o atleta com mais remates certeiros nesses desafios. Claro está que a sua carreira não se resume a esse pormenor. A sua qualidade era tal que, passados 5 anos após a sua entrada no Benfica, e numa altura em que já tinha feito a estreia pela selecção nacional, do outro lado do Oceano surge uma nova proposta – “Um dia entra-me um tipo todo aprumado no ‘Grémio’ e diz que quer conversar comigo. Eu topei-lhe logo a pinta: fatinho branco, bem engomado, bigodinho… era brasileiro. «Oi, seu Rogério, eu venho do Botafogo, conhece?» Conheço, conheço. «Nós queremos contratar um jogador estrangeiro, e você é o cara». Disse-lhe que não. E ele voltou lá, duas ou três vezes, e quando me ofereceu cinco mil cruzeiros – uma fortuna!, que você nem faz ideia – de ordenado, casa em Copacabana, e tudo pago, não pensei duas vezes e fui.”*.
Pela primeira vez, um futebolista português atravessava o Atlântico para envergar a camisola de um emblema brasileiro. Num clube onde o craque maior era o internacional “canarinho” Heleno de Freitas, a estrela “lusa” adaptar-se-ia facilmente. Todavia, com a sua esposa gravida, o desejo de que o seu filho nascesse em Portugal, fá-lo-ia voltar a Lisboa. Depois desses meses no estrangeiro, é em Março de 1948 que Rogério de Carvalho veste novamente a camisola dos “Encarnados”.
Não muito tempo após o seu regresso, a contratação de Ted Smith daria um novo sentido ao seu desempenho. Entendo que as suas capacidades serviriam melhor noutra posição, o técnico inglês adapta-o a interior-esquerdo. É já nesse lugar que em 1950, o atleta ajuda o Benfica à conquista do seu primeiro título internacional. Em pleno Estádio Nacional, frente aos franceses do Bordeaux, as “Águias” são forçadas a uma finalíssima. Nesse derradeiro encontro, e depois de um segundo prolongamento, os portugueses lá conseguem bater os gauleses e, pelas mãos de Rogério de Carvalho, é erguido o almejado troféu.
A chegada de outro mítico treinador vai, mais uma vez, alterar o rumo da sua carreira. Com a vinda de Otto Glória, o Benfica torna-se num clube profissional. A exigência desse novo paradigma, com treinos duas vezes ao dia, impossibilitaria Rogério de Carvalho de compatibilizar a sua actividade profissional, com a prática do desporto. Sabendo que como vendedor de automóveis iria receber mais dinheiro, o atacante decide deixar o clube para dar continuidade à sua carreira noutro emblema.
É no Oriental, clube fundado pela junção do Chelas FC com outras duas colectividades, que o avançado passa os derradeiros anos como futebolista. Nessas 4 temporadas, para além de ajudar o clube a voltar à 1ª divisão, o antigo atleta do Benfica viveria um momento caricato. Aquando do reencontro com as “Águias”, o atleta afirmar-se-ia incapaz de defrontar o antigo clube. Os seus colegas, perante tal recusa, diriam que, assim sendo, também eles não entrariam em campo. Perante tal prenúncio, o avançado não teve outro remédio: cedeu e disputou o encontro.
Rogério “Pipi”, alcunha ganha pelo seu aspecto sempre aprumado, terminaria a carreira no final da temporada de 1957/58. Apesar de ter posto um ponto final ao seu percurso federativo, o antigo internacional continuaria adepto e praticante de diversas actividades desportivas. Um bom exemplo dessa dedicação, foi a admiração que manteve pelo ténis. Muito para além do futebol, foi nos “courts” da modalidade que, daí em diante, passou a distrair-se e a exercitar o corpo.
A sua estreia com a camisola das “Águias” aconteceria no Outono de 1942, mas numa altura em que a sua carreira já contava com alguns anos. No Chelas FC, onde o seu irmão Armindo França era a estrela do conjunto, Rogério de Carvalho tinha a fama de futebolista de fino recorte. Com uma técnica de excelência, rápido, ágil e com habilidade para o golo, o avançado era conhecido pela maneira subtil como tratava a bola. Por essa razão, o técnico Janos Biri daria ao jovem atleta uma oportunidade no “onze” inicial. Começando como extremo direito e, já mais para o fim dessa temporada, mudando-se para a ponta oposta, o atacante não decepcionaria. Aliás, ao apontar um golo na final da Taça de Portugal de 1942/43, seria fulcral na conquista da primeira “dobradinha” do futebol benfiquista.
Curiosamente, foi na disputa da Taça de Portugal que Rogério de Carvalho estabeleceu um recorde. Os 15 golos que conseguiria concretizar nas 8 finais que disputou, fazem dele o atleta com mais remates certeiros nesses desafios. Claro está que a sua carreira não se resume a esse pormenor. A sua qualidade era tal que, passados 5 anos após a sua entrada no Benfica, e numa altura em que já tinha feito a estreia pela selecção nacional, do outro lado do Oceano surge uma nova proposta – “Um dia entra-me um tipo todo aprumado no ‘Grémio’ e diz que quer conversar comigo. Eu topei-lhe logo a pinta: fatinho branco, bem engomado, bigodinho… era brasileiro. «Oi, seu Rogério, eu venho do Botafogo, conhece?» Conheço, conheço. «Nós queremos contratar um jogador estrangeiro, e você é o cara». Disse-lhe que não. E ele voltou lá, duas ou três vezes, e quando me ofereceu cinco mil cruzeiros – uma fortuna!, que você nem faz ideia – de ordenado, casa em Copacabana, e tudo pago, não pensei duas vezes e fui.”*.
Pela primeira vez, um futebolista português atravessava o Atlântico para envergar a camisola de um emblema brasileiro. Num clube onde o craque maior era o internacional “canarinho” Heleno de Freitas, a estrela “lusa” adaptar-se-ia facilmente. Todavia, com a sua esposa gravida, o desejo de que o seu filho nascesse em Portugal, fá-lo-ia voltar a Lisboa. Depois desses meses no estrangeiro, é em Março de 1948 que Rogério de Carvalho veste novamente a camisola dos “Encarnados”.
Não muito tempo após o seu regresso, a contratação de Ted Smith daria um novo sentido ao seu desempenho. Entendo que as suas capacidades serviriam melhor noutra posição, o técnico inglês adapta-o a interior-esquerdo. É já nesse lugar que em 1950, o atleta ajuda o Benfica à conquista do seu primeiro título internacional. Em pleno Estádio Nacional, frente aos franceses do Bordeaux, as “Águias” são forçadas a uma finalíssima. Nesse derradeiro encontro, e depois de um segundo prolongamento, os portugueses lá conseguem bater os gauleses e, pelas mãos de Rogério de Carvalho, é erguido o almejado troféu.
A chegada de outro mítico treinador vai, mais uma vez, alterar o rumo da sua carreira. Com a vinda de Otto Glória, o Benfica torna-se num clube profissional. A exigência desse novo paradigma, com treinos duas vezes ao dia, impossibilitaria Rogério de Carvalho de compatibilizar a sua actividade profissional, com a prática do desporto. Sabendo que como vendedor de automóveis iria receber mais dinheiro, o atacante decide deixar o clube para dar continuidade à sua carreira noutro emblema.
É no Oriental, clube fundado pela junção do Chelas FC com outras duas colectividades, que o avançado passa os derradeiros anos como futebolista. Nessas 4 temporadas, para além de ajudar o clube a voltar à 1ª divisão, o antigo atleta do Benfica viveria um momento caricato. Aquando do reencontro com as “Águias”, o atleta afirmar-se-ia incapaz de defrontar o antigo clube. Os seus colegas, perante tal recusa, diriam que, assim sendo, também eles não entrariam em campo. Perante tal prenúncio, o avançado não teve outro remédio: cedeu e disputou o encontro.
Rogério “Pipi”, alcunha ganha pelo seu aspecto sempre aprumado, terminaria a carreira no final da temporada de 1957/58. Apesar de ter posto um ponto final ao seu percurso federativo, o antigo internacional continuaria adepto e praticante de diversas actividades desportivas. Um bom exemplo dessa dedicação, foi a admiração que manteve pelo ténis. Muito para além do futebol, foi nos “courts” da modalidade que, daí em diante, passou a distrair-se e a exercitar o corpo.
*retirado do artigo de Tiago Palma, em www.observador.pt, publicado a 30/05/2015
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