Aquando da sua estreia na equipa principal do Livorno, Armando haveria de partilhar o balneário com o irmão. Mas ao contrário de Leo, que nessa temporada de 1953/54 punha termo à sua caminhada, o mais novo da dupla Picchi estava ainda a dar os primeiros passos como profissional.
O pior é que, com o clube a militar entre a “Serie B” e a “Serie C”, a carreira de Armando Picchi parecia querer arrastar-se pelos escalões inferiores do “Calcio”. Só em 1959, meia dúzia de épocas após a sua promoção aos seniores, é que da divisão maior chega o primeiro convite. O SPAL, emblema recém-promovido ao patamar máximo do futebol italiano, decide apostar na sua contratação. O salto de dois patamares não assusta o atleta e, sem grandes dificuldades, consegue conquistar um lugar no “onze” inicial.
A sua permanência na equipa de Ferrara seria curta. Para esse facto contribuiria, e muito, a boa prestação que o conjunto conseguiria nessa temporada de 1959/60. O 7º lugar, melhor classificação de sempre do clube, faria com que os seus jogadores começassem a ser cobiçados por outros emblemas. O Inter, onde Helenio Herrera estava a preparar uma revolução, vai buscá-lo para reforçar o sector mais recuado. No conjunto de Milão, Picchi, que já tinha ocupado posições no meio-campo e na direita da defesa, passa a cumprir as funções de líbero.
No “catenaccio” imaginado pelo técnico argentino, Picchi, com todo o seu pragmatismo, passa a ser o jogador que serve de salva-vidas. Curiosamente, e não tendo como missão jogadas muito bonitas, o defesa até era um atleta que, sempre que podia, saía com a bola dominada ou tentava pô-la de forma jogável nos seus companheiros. Ainda assim, como poderão recordar aqueles que ainda o viram jogar, as suas maiores habilidades eram a força física e a maneira simples como tirava as bolas da grande área.
Foi nesses exercícios defensivos que o atleta auxiliou o Inter numa das fases mais prolíferas da história do clube. Apesar ter participado na obtenção de 3 “Scudettos” (1962/63; 1964/65; 1965/66), seria nas competições internacionais que alcançaria os maiores feitos da sua carreira. Já depois de ajudar à conquista da Taça dos Campeões Europeus de 1963/64, logo no ano seguinte, e frente ao Benfica, Picchi consegue mais uma vitória na referida competição. Já na edição de 1967, numa final disputada no Estádio Nacional, o defesa, que por essa altura era também o capitão de equipa, vê o seu grupo ser batido pelos escoceses do Celtic. Contudo, e muito mais que a derrota, a sua atitude surpreenderia muita gente. Esmagado pelo poderio adversário, Picchi, como haveria de relembrar o seu colega Tacisio Burgnich, claudicaria e desiste de lutar por um resultado positivo – “Lembro-me que, a certa altura, Picchi virou-se para o nosso guarda-redes e disse: «Giuliano, deixa estar, deixar estar. Mais cedo ou mais tarde vão marcar o golo da vitória.» Nunca imaginei ouvir aquelas palavras. Nunca imaginei que o meu capitão dissesse ao nosso guarda-redes para deixar cair a toalha ao chão. Mas aquilo apenas mostra o quanto estávamos destruídos naquele momento. É como se não quiséssemos prolongar a agonia”*.
Seria no final dessa temporada de 1966/67, que o atleta deixaria o Inter para representar o Varese. A mudança de emblema levá-lo-ia também a fazer a passagem dos campos para a vida de treinador. A transição ocorreria ainda no seu último ano como futebolista, quando, após o convite dos dirigentes, assume o papel de treinador-jogador.
Já no desempenho, em exclusivo, das funções de técnico, a progressão de Picchi dar-se-ia de forma espantosa. Uma temporada no já referido clube, outra no regresso ao Livorno e, para a época de 1970/71, a Juventus decide apostar na sua contratação. Tragicamente, a sua carreira terminaria de forma abrupta. Alguns meses após ter sido contratado pela “Vecchia Signora”, os médicos detectam-lhe um tumor em estado terminal. A sua morte, quando estava perto de completar 36 anos de idade, ocorreria em Maio de 1971.
*retirado do artigo de Luís Mateus, em www.maisfutebol.iol.pt, publicado a 15 de Abril de 2015
O pior é que, com o clube a militar entre a “Serie B” e a “Serie C”, a carreira de Armando Picchi parecia querer arrastar-se pelos escalões inferiores do “Calcio”. Só em 1959, meia dúzia de épocas após a sua promoção aos seniores, é que da divisão maior chega o primeiro convite. O SPAL, emblema recém-promovido ao patamar máximo do futebol italiano, decide apostar na sua contratação. O salto de dois patamares não assusta o atleta e, sem grandes dificuldades, consegue conquistar um lugar no “onze” inicial.
A sua permanência na equipa de Ferrara seria curta. Para esse facto contribuiria, e muito, a boa prestação que o conjunto conseguiria nessa temporada de 1959/60. O 7º lugar, melhor classificação de sempre do clube, faria com que os seus jogadores começassem a ser cobiçados por outros emblemas. O Inter, onde Helenio Herrera estava a preparar uma revolução, vai buscá-lo para reforçar o sector mais recuado. No conjunto de Milão, Picchi, que já tinha ocupado posições no meio-campo e na direita da defesa, passa a cumprir as funções de líbero.
No “catenaccio” imaginado pelo técnico argentino, Picchi, com todo o seu pragmatismo, passa a ser o jogador que serve de salva-vidas. Curiosamente, e não tendo como missão jogadas muito bonitas, o defesa até era um atleta que, sempre que podia, saía com a bola dominada ou tentava pô-la de forma jogável nos seus companheiros. Ainda assim, como poderão recordar aqueles que ainda o viram jogar, as suas maiores habilidades eram a força física e a maneira simples como tirava as bolas da grande área.
Foi nesses exercícios defensivos que o atleta auxiliou o Inter numa das fases mais prolíferas da história do clube. Apesar ter participado na obtenção de 3 “Scudettos” (1962/63; 1964/65; 1965/66), seria nas competições internacionais que alcançaria os maiores feitos da sua carreira. Já depois de ajudar à conquista da Taça dos Campeões Europeus de 1963/64, logo no ano seguinte, e frente ao Benfica, Picchi consegue mais uma vitória na referida competição. Já na edição de 1967, numa final disputada no Estádio Nacional, o defesa, que por essa altura era também o capitão de equipa, vê o seu grupo ser batido pelos escoceses do Celtic. Contudo, e muito mais que a derrota, a sua atitude surpreenderia muita gente. Esmagado pelo poderio adversário, Picchi, como haveria de relembrar o seu colega Tacisio Burgnich, claudicaria e desiste de lutar por um resultado positivo – “Lembro-me que, a certa altura, Picchi virou-se para o nosso guarda-redes e disse: «Giuliano, deixa estar, deixar estar. Mais cedo ou mais tarde vão marcar o golo da vitória.» Nunca imaginei ouvir aquelas palavras. Nunca imaginei que o meu capitão dissesse ao nosso guarda-redes para deixar cair a toalha ao chão. Mas aquilo apenas mostra o quanto estávamos destruídos naquele momento. É como se não quiséssemos prolongar a agonia”*.
Seria no final dessa temporada de 1966/67, que o atleta deixaria o Inter para representar o Varese. A mudança de emblema levá-lo-ia também a fazer a passagem dos campos para a vida de treinador. A transição ocorreria ainda no seu último ano como futebolista, quando, após o convite dos dirigentes, assume o papel de treinador-jogador.
Já no desempenho, em exclusivo, das funções de técnico, a progressão de Picchi dar-se-ia de forma espantosa. Uma temporada no já referido clube, outra no regresso ao Livorno e, para a época de 1970/71, a Juventus decide apostar na sua contratação. Tragicamente, a sua carreira terminaria de forma abrupta. Alguns meses após ter sido contratado pela “Vecchia Signora”, os médicos detectam-lhe um tumor em estado terminal. A sua morte, quando estava perto de completar 36 anos de idade, ocorreria em Maio de 1971.
*retirado do artigo de Luís Mateus, em www.maisfutebol.iol.pt, publicado a 15 de Abril de 2015
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