453 - VIRGÍLIO

Nascido no Entroncamento, foi no Ferroviário local que Virgílio deu os seus primeiros pontapés na bola. Tão auspiciosa foi a sua estreia que logo o Benfica se destinou para o contratar. Foi, então, passar 3 semanas a Lisboa, para que, às ordens de Vítor Silva, antigo atleta das "Águias" e, à altura, o treinador dos juniores, pudesse mostrar as suas qualidades. Não agradou. Por essa razão voltou à sua terra natal e aos ofícios de serralheiro mecânico. Mas a maneira como disputava cada partida, deixava os responsáveis de outros clubes, cada vez mais, embevecidos pelas suas habilidades. Surge ainda o "O Elvas" na sua corrida, mas o salário que lhe ofereciam não era suficientemente compensatório para que pudesse deixar, de vez, a sua profissão. É então que um dia, em plena oficina onde trabalhava, aparece um tal de Soares dos Reis. A pessoa em causa era, nada mais nada menos, do que o antigo guarda-redes internacional e figura incontornável do Futebol Clube do Porto. A sua missão era simples e passava por convencer o jovem rapaz a ir treinar-se ao Campo da Constituição. Virgílio aceitou e tão bom ar deu de si que o treinador Jesef Szabo já não o deixou partir.
Contudo, ao contrário daquilo porque hoje o reconhecemos, Virgílio começou por jogar a interior esquerdo. Só mais tarde, já com algum tempo de "Azul e Branco", é que o argentino Scopelli o fez recuar no campo, mas, ainda assim, para defesa esquerdo. Finalmente, seria o técnico Eládio Vaschetto a indicar o caminho certo, e a mostrar-lhe a direita como a lateral que o faria famoso. Pois sim, seria desse lado da defesa que Virgílio faria da sua carreira algo de notável. Para ele, o segredo era simples e passava pela maneira como se entregava àquela que era a sua grande paixão: o futebol. Em suma, Virgílio era corajoso, generoso no seu jeito intrépido de se entregar ao jogo, perfeito nas antecipações, mas com um sentido táctico tremendo, que o fazia, tantas vezes, avançar pelo campo fora, para auxiliar os seus colegas no ataque.
Foram estas suas características que a 27 de Fevereiro de 1949, levou para campo. A partida, em Génova, opunha Itália a Portugal. Apesar da categórica derrota que a nossa selecção sofreria (4-1), houve uns quantos atletas que, pela maneira incansável como lutaram até ao último folgo de jogo, ficaram na retina de todos os que ali assistiam à disputa. Um dos nomes foi o de Virgílio. Espantosamente, ele que se estreava com a "camisola das quinas", nunca acusou o nervosismo de tal responsabilidade. Aliás, rubricaria uma exibição memorável e, pela maneira como anulou o extremo Carapelese, ganharia a alcunha de "Leão de Génova".
Foi a partir deste momento que o portista ganhou uma legião invejável de fãs. Tal fenómeno fez com que os grandes colossos do futebol europeu começassem na sua peugada. Real Madrid e Barcelona perfilavam-se como os principais clubes que serviriam para a nova morada do atleta, mas a sua devoção e sentido de gratidão pelo emblema que o projectara, foi o suficiente para o fazer recusar todos os convites. Manteve-se pelo Porto, no total de toda a sua carreira, por 16 temporadas. Venceu dois Campeonatos Nacionais e duas Taças de Portugal (a de 1955/56 foi a primeira para o FC Porto). Voltou a negar a mudança de cidade quando o Celta de Vigo lhe ofereceu uma proposta milionária. Sobre tal disse: "trocar de camisola apenas por dinheiro, se não era violentar o coração e o clube, era, pelo menos, aceitar viver como um mercenário".

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