155 - OLIVEIRA

Diz-se que aos 13 anos já treinava com os seniores do emblema da sua terra, o Penafiel. Como a equipa não tinha escalões de formação, foi tentar a sorte ao FC Porto. Agradou, ficou e ainda bem novo, nos juniores, começou a despertar a curiosidade dos responsáveis técnicos pelo conjunto principal portista.
O treinador brasileiro Paulo Amaral, mesmo sabendo da sua juventude, não enjeitou a oportunidade de tê-lo a trabalhar no seio do plantel a seu cargo e, aos 17 anos, António Oliveira juntou-se à primeira equipa "azul e branca". Apesar da importância da promoção à equipa sénior na temporada de 1970/71, foi pela mão de José Maria Pedroto que, anos mais tarde, viveu um dos primeiros episódios históricos da sua passagem pelo FC Porto. O Campeonato Nacional de 1977/78, ganho pelos "Dragões" ao fim de 19 anos de jejum, mostrou o médio-ofensivo como uma das pedras basilares da estratégia do conjunto nortenho. A liberdade táctica que gozava permitia-lhe vogar atrás dos avançados e, a partir dessa parte do terreno e com o auxílio da sua brilhante visão de jogo e passe mortífero, armar todo o jogo ofensivo da equipa.
Foi desse modo que, também no ano seguinte, ajudou à conquista do Campeonato Nacional. Com a referida vitória, ganhou a atenção de outros emblemas, nomeadamente a do Real Bétis de Sevilha. Depois de consumada a transferência para a “La Liga”, o jogador esteve pouco tempo em Espanha. Falou-se muito sobre o seu regresso e do temperamento difícil, para explicar o insucesso da passagem pela Andaluzia. De volta à “Invicta” na segunda metade da temporada de 1979/80, o médio viu-se apanhado no meio da contenda que opôs José Maria Pedroto ao Presidente do FC Porto, Américo Sá. Despedido o treinador, Oliveira acabou por sair. Novamente no Penafiel, a sua carreira passou por outro episódio caricato. Ao invés do normal, onde só atletas em final de carreira são convidados, ao jogador foi lançado o desafio de orientar os seus colegas. Não correu mal a aventura, com a equipa a terminar a época de 1980/81 em 10º lugar.
Já no Sporting, dessa feita ao substituir o dispensado Malcolm Allison, repetiu o papel de treinador-jogador. Apesar de, nessas funções, ter conseguido boas marcas, como a participação nos quartos-de-final da Taça dos Clubes Campeões Europeus, ainda hoje recorde no clube, a sua passagem por Alvalade, iniciada na temporada anterior à do despedimento do técnico britânico, foi, claramente, mais importante que isso. Em Lisboa a partir da época 1981/82, Oliveira voltou a assumir-se como o “maestro” de uma das grandes equipas nacionais. Com Jordão e Manuel Fernandes, constituiu uma das frentes de ataque mais temíveis em Portugal e, logo no ano de estreia com o "Leão" ao peito, ajudou à vitória no Campeonato Nacional. No entanto, o entendimento mostrado com os colegas dentro de campo, não era o mesmo fora dele. O acumular de funções não era do agrado de todos os companheiros e o ambiente no balneário tornou-se ainda pior quando Manuel Fernandes, capitão de equipa, pediu ao Presidente João Rocha para contratar um novo técnico.
Apesar dos relatados desentendimentos, Oliveira ainda continuou no Sporting por mais dois anos. Na temporada de 1985/86 decidiu abraçar o desafio lançado pelos responsáveis do Marítimo e mudou-se para o Funchal. Na Madeira, também como treinador-jogador, terminou a carreira enquanto atleta, sem, no entanto, afastar-se da modalidade. Convicto em dedicar-se, em exclusivo, às funções de técnico, as primeiras tentativas, onde incluo as passagens pela Académica de Coimbra, Vitória de Guimarães, Gil Vicente, sub-21 de Portugal e Sporting de Braga, acabaram por ser algo discretas. Por tudo isso, a sua contratação para comandar a principal Selecção Nacional, que se preparava para enfrentar a fase de apuramento para o Euro 96, tornou-se numa surpresa. A verdade é que o seu currículo não o impediu de conseguir a qualificação para a Fase Final e, melhor ainda, de atingir os quartos-de-final do torneio disputado em Inglaterra.
O sucesso à frente da “Equipa das Quinas” fez com que Jorge Nuno Pinto da Costa apostasse nele para suceder a Sir Bobby Robson. Com o treinador inglês a conquistar dois Campeonatos pelo FC Porto, Oliveira repetiu o feito e, findas duas épocas, embarcou em nova aventura no estrangeiro. Mais uma vez no Real Bétis, na nova passagem pela equipa sevilhana estaria ainda menos tempo e, após uma discussão com o Presidente do clube, abandonou os espanhóis sem ter comandado qualquer jogo oficial. O desaire voltou a vivê-lo aquando do seu, até agora, último teste no banco de suplentes. No regresso à Selecção, conseguiu o apuramento para o Mundial de 2002, mas a prestação da equipa lusa, já em pleno torneio, foi desastrosa e Portugal acabou por não passar da fase de grupos.
Afastado do "mundo da bola" desde a passagem pela presidência do Penafiel, posso concluir que António Oliveira teve uma carreira cheia de episódios interessantes. Por alguns dos capítulos menos prolíferos estarem relacionados com as estadias em Espanha, poderá parecer exagerada a sua inclusão na temática deste mês. Todavia, tendo em conta uma altura em que poucos tinham sequer o privilégio de atravessar a fronteira, ele teve a oportunidade de assinar contrato por um clube estrangeiro. Essa realidade, está bem que por pouco tempo, fez dele não um projecto, mas um verdadeiro emigrante.

2 comentários:

David Pereira disse...

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