377 - PAULO FERREIRA

Tendo sido peça fulcral na aclamação de D. João I como rei de Portugal, João das Regras, muito para além do episódio histórico, foi um reconhecido jurisconsulto português no final do sec. XIV. Já Paulo Ferreira, não podendo dizer-se que ditava leis, acabaria a caracterizar a sua carreira por, dentro de campo, ser extremamente disciplinado, ou seja, um futebolista, desculpem-me o exagero, "das regras".
Nascido e criado na "Linha de Cascais", seria no clube mais representativo do concelho metropolitano de Lisboa, o Estoril Praia, que o defesa, na temporada de 1997/98, começaria a carreira como profissional. Depois de ao serviço dos "Canarinhos" militar alguns anos no segundo escalão nacional, surgiria no Vitória Futebol Cube de 2000/01 a oportunidade para experimentar os palcos maiores do futebol português. Nos "Sadinos", sem ser um virtuoso, as suas exibições, durante as quais raramente cometia um erro, chamariam a atenção de outro nome em ascensão em Portugal. José Mourinho, já à frente dos destinos do FC Porto, decidiria que o lateral-direito tinha o perfil certo para vir a tornar-se num dos melhores reforços dos "Azuis e Brancos". Como todos sabemos, o aludido treinador acertaria na previsão. Porém, ninguém adivinharia, nem o próprio atleta, que a mudança de Setúbal para a “Cidade Invicta” seria o primeiro passo para tornar o palmarés de Paulo Ferreira num registo, no mínimo, invejável.
Durante as duas temporadas em que envergaria as cores dos “Dragões”, 2002/03 e 2003/04, o lateral-direito venceria 2 Campeonatos Nacionais, 1 Taça de Portugal, 2 Supertaças, 1 Taça UEFA e 1 Liga dos Campeões. Nessa senda de sucessos, os troféus ganhos com o FC Porto permitir-lhe-iam a transferência para o Chelsea, onde igualmente participara num momento histórico para a colectividade britânica. Ao acompanhar o “Special One” na mudança para Stamford Bridge, e depois de também ter participado na final do Euro 2004, Paulo Ferreira transformar-se-ia numa das peças fulcrais dos “Blues”, para pôr um ponto final no jejum de 50 anos sem conquistar a Liga inglesa. Com um sentido táctico imaculado, a permitir-lhe compensar alguma falta de velocidade, mas, principalmente, pela maneira abnegada e modesta de encarar todos os desafios, o internacional português seria um dos jogadores mais utilizados nas campanhas que levariam ao bicampeonato de 2004/05 e 2005/06. As suas características desportivas e a maneira excepcional como interagia com os colegas e adeptos, fariam do jogador uma pessoa muito admirada – “Treina como o melhor, vai aos jogos com um sorriso, está sempre perto dos mais novos. Ensinou-me muito”*, relembraria Fernando Torres. Como um exemplo para todos, o atleta permaneceria 9 temporadas no emblema londrino e com o termo da campanha de 2012/13, num adeus emocionado, o fim da sua carreira seria anunciado – “Fiquei muito feliz pelo apoio, pela forma como cantaram o meu nome. Foi impressionante”*.
Para trás, entre vitórias domésticas e internacionais, ficariam 13 títulos pelo Chelsea, dos quais mereceriam maior destaque a Liga dos Campeões de 2011/12 e a recente conquista, na final frente ao Benfica, da Liga Europa de 2012/13. Por tudo o que foi dito, por certo que o antigo jogador ficará com muitas saudades da capital de Inglaterra. Talvez não, pois muito já foi especulado sobre a sua continuidade nos “Blues” e, ao que parece, Paulo Ferreira está a preparar-se para iniciar a carreira de treinador nas camadas jovens da agremiação sediada em Londres.

*retirado do artigo publicado a 21/05/2013, em www.record.pt

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