461 - BRANCO

São muitos os jogadores que exibem um "nome de guerra". No entanto, mesmo sabendo das inúmeras vezes que tal acontece, a verdade é que não são assim tantas as que sabemos a origem do apelido. Branco, de sua verdadeira identidade Cláudio Ibrahim Vaz Leal, ganhou a alcunha ainda na infância e por razão de ser o único de raça diferente, numa equipa só de negros.
Já numa senda mais a sério, o futebol levá-lo-ia a vestir a camisola do Internacional de Porto Alegre. Contudo, seria no Fluminense, emblema seguinte, que a sua carreira começaria a ganhar o merecido destaque. No início da década de 1980, o Fluminense atravessaria uma grave crise financeira. Sem dinheiro para contratações sonantes, a solução passaria pela aposta em novos talentos. Branco, entre outros, seria uma das escolhas para reforçar o plantel para a temporada de 1983. Tão boas as opções tidas, ironicamente feitas por necessidade, que o emblema carioca acabaria por encetar uma inesquecível senda de vitórias e de títulos. A mesma começaria com o “estadual” Carioca da campanha acima referida, ao qual a colectividade haveria de juntar os outros dois campeonatos seguintes. Todavia, mesmo com tantos sucessos, aquilo que ninguém esperava aconteceria em 1984 e o "Flu", com um plantel onde pontuavam nomes como Duílio, Ricardo Gomes ou Paulinho Cascavel, viria conquistar o “Brasileirão”.
Tamanho rol de troféus faria com que da selecção brasileira olhassem para si como um dos atletas a incluir em futuras convocatórias. Seria assim que, em 1986, Branco, apesar das críticas de alguns entendidos, assistiria ao seu nome a ser colocado entre os eleitos para viajar até ao México onde, nesse Verão, viria a disputar-se o Mundial de futebol. Prémio tê-lo-ia, igualmente, após o referido certame, aquando da sua contratação pelo Brescia. No entanto, mesmo com o clube italiano a situar-se longe dos emblemas mais apetecíveis, a transferência abrir-lhe-ia as portas da Europa e esse primeiro passo no “Velho Continente” daria azo ao surgimento de outra oportunidade.
A dita chance apareceria um par de anos após a chegada do defesa-esquerdo ao "Calcio", com o FC Porto, em 1988/89, a entrar na sua vida. De "azul e branco", com a conquista de 1 Campeonato Nacional (1989/90) e de 1 Supertaça (1990/91), Branco regressaria ao doce sabor das vitórias e, acima de tudo, voltaria a ser chamado para uma nova participação num Mundial. Nesse torneio viveria uma das mais curiosas histórias da vida como profissional, quando, na partida dos dezasseis avos de final do Itália 90, peleja entre a Argentina e o Brasil, haveria de pedir água aos seus adversários. Sem que ninguém desconfiasse de coisa alguma, o jogador, instantes depois de ingerir o líquido, começaria a sentir-se indisposto. Aparentemente, nada o justificava, até que, anos mais tarde, viria a saber-se a verdade - a água oferecida estava contaminada com calmantes!
Já no decorrer da terceira temporada de "dragão" ao peito, Branco deixaria Portugal para passar a representar o Genoa. É certo, foi pouco o tempo em que o internacional "canarinho" representou o FC Porto. Então, qual a justificação para que, ainda hoje, seja visto como um dos melhores laterais-esquerdos a vestir de “azul e branco”? É fácil responder! Branco era brilhante a defender, era excepcional nos desarmes e na maneira como preenchia a sua área de intervenção. Era, do mesmo modo, portentoso na maneira como ajudava os seus colegas no ataque e era, acima de tudo, mortífero na marcação de livres-directos.
Prestes a entrar na na fase descendente da carreira, Branco, que entretanto já tinha regressado ao Brasil, seria convocado para disputar mais um Mundial, dessa feita o certame organizado, em 1994, nos Estados Unidos da América. A escolha do seleccionar, que por essa ocasião era Carlos Alberto Parreira, voltaria a ser alvo de imensas críticas. No entanto, as mesmas cairiam por terra quando, na disputa por um lugar nas meias-finais, o lateral canhoto, na cobrança de uma falta, conseguiria aplicar o seu forte pontapé e com um estupendo golo acabaria a desempatar a partida frente à Holanda. A “Canarinha” venceria o torneio e o jogador ainda hoje diz – "Esse foi o lance da Copa e o lance da minha vida"*.

*retirado do artigo publicado por “Rebelde_29”, a 08/10/2007, em https://fcporto.forumperso.com

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