554 - ROBERTO BAGGIO

Com uma qualidade precoce, o talento de Roberto Baggio, desde muito cedo, admiraria todos os que com ele trabalharam. Tanto assim foi que, com apenas 16 anos de idade, ao serviço do Vicenza, o atacante é chamado à primeira equipa. A jogar na "Serie C" italiana, os passos que dava na progressão da sua, ainda imberbe, carreira, pareciam os de um qualquer veterano da modalidade.
Jogava e fazia jogar... esta a maneira mais sucinta de descrever o futebol que apresentava dentro de campo. Dono de uma técnica brilhante, mas, acima de tudo, com um entendimento do jogo que o fazia delinear as mais bonitas jogadas, Roberto Baggio era o comandante de qualquer "onze" que se apresentasse em campo. Essa sua capacidade de empurrar os seus companheiros para as vitórias, fez com que a Fiorentina não perdesse muito tempo para garantir os seus serviços. Contudo, quando tudo apontava para que o jovem atleta desse um salto significativo na sua vida profissional, algo de aterrador acontece! Como os grandes jogadores também se vêem nas alturas de aflição, Baggio, para além de um futebolista atacante, tinha um enorme espírito de abnegação. Desse modo, e com essa mentalidade bem presente em todos os lances que disputava, numa partida que opunha a sua à equipa do Rimini, decide afrontar a ofensiva de um dos seus adversários. Ora, esse breve confronto, após uma "entrada de carrinho" de Roberto Baggio, acaba com uma grave lesão no joelho esquerdo do atacante. Com um rotura nos ligamentos, e com incerteza da total recuperação a pairar sobre o seu futuro, o possível abortar da transferência para a Fiorentina, acertada uns dias antes, escurecia todo um cenário já por si bem cinzento. Mas ao contrário daquilo que se vaticinava, os "Viola" haveriam de manter o acordo e, para que tudo corresse pelo melhor, seriam eles a patrocinar a necessária cirurgia e posteriores tratamentos.
É já depois do recobro que o avançado, na temporada de 1985/86, faz a sua estreia pelos de Florença e na “Seria A” italiana. Com um início um pouco atribulado, por razão de mais uma lesão, Roberto Baggio, depois de afastadas todas as mazelas, começa a impor-se como um dos mais influentes elementos da sua equipa. Com o número 10 a ornamentar a sua camisola, Baggio continuava a subir degraus no futebol. A ambição da sua equipa, que contava com nomes importantes da modalidade, leva-o às provas europeias. Com um lugar garantido na Taça UEFA, à Fiorentina calha em sorte um Boavista! Azar dos azares, o tal emblema português não se deixa atemorizar pelo poderio dos italianos, e Roberto Baggio, em 1986/87, acabaria por ser eliminado na ronda inicial da já referida competição!
Desaires à parte, a verdade é que entre os adeptos, a estima pelo jogador era cada vez maior. Acredito também, que a paixão que Roberto Baggio nutria pela equipa, crescia a cada jornada disputada. No entanto, e apesar de todo o romantismo desta relação, os títulos tardavam em colorir o currículo do avançado. Terá sido por esta razão, numa altura em já era tido como uma das maiores estrelas do "Calcio", que a Juventus toma a decisão de o contratar. 10 milhões de euros, recorde mundial em 1990, eram mais do que suficientes para que a mudança ficasse nos anais do futebol. No entanto, seria a loucura dos fãs "viola" que marcaria toda a transferência. Os ditos, ao constatarem que iriam perder o seu ídolo, começam por provocar desacatos em toda a cidade. Ele, Roberto Baggio, que, ainda pouco tempo antes, havia conduzido a equipa à final da Taça UEFA, deixava aqueles que mais o admiravam. Pior, era o facto de a troca ser a favor dos que, na derradeira etapa da referida prova internacional, tinham roubado à Fiorentina, o tão almejado triunfo. Apesar de tudo, apesar dos tumultos e das detenções, nada conseguiria travar a saída… e Roberto Baggio lá seguiria para Turim.
Depois do Campeonato do Mundo de 1990, onde o atleta faria parte dos convocados da anfitriã Itália, a ida para "Vecchia Signora" concluir-se-ia. Mas, enganem-se os que pensam que a novela da troca de emblemas acabaria por ficar esquecida. À 28ª ronda, as duas equipas intervenientes na "novela" mais badalada desse Verão, acabariam por se encontrar no Estádio Artemio Franchi. Aos 64 minutos de jogo, Baggio vê a placa com o seu número a ser erguida na lateral do campo. Depois de consumada a substituição, um cachecol púrpura é atirado na sua direcção. Este apanha-o do chão, beija-o e apesar de acenar em direcção à multidão, o perdão ainda ficaria por conseguir!!!
O curioso é que a carreira de Roberto Baggio está cheia destes episódios de "amor/ódio". Outra história emblemática, e que ilustra bem o que acabo de referir, passou-se em 1994, durante o Mundial disputado nos Estados Unidos. Ora, por esta altura, já o jogador era um dos mais consagrados no planeta. Tinha vencido a Taça UEFA de 1992/93 e a honra de conseguir, em simultâneo, ser eleito pela FIFA e pela "France Football", como o melhor futebolista de 1993. Por todos estes motivos, os seguidores da equipa nacional italiana, olhavam para ele como o principal impulsionador da sua selecção. E numa "Squadra Azzurra" bem apagada, seria esse mesmo o papel de Baggio... seria, pelo menos até à final!!! Ora, nesse que é sempre o mais importante dos jogos, os 90 minutos de tempo regulamentar, acrescidos de mais 30 do prolongamento, apenas trariam ao placar um 0-0!!! Na "roleta" dos penáltis, depois de Marcio Santos falhar para o Brasil e de Baresi e Massaro também não conseguirem concretizar os respectivos remates, chega a vez de Roberto Baggio. Se todos os olhos estavam postos em si, aquela bola por cima da trave, seria a derradeira machadada nos sonhos dos que esperavam uma Itália campeã. Mas como diria o jogador, no rescaldo do encontro: "Só falha penálties quem tem coragem de os marcar".
Incrivelmente, só depois de todo este percurso percorrido, é que Roberto Baggio consegue erguer o seu primeiro "Scudetto". Vence em 1994/95 ao serviço da Juventus, para, na época seguinte, e já com a cores do AC Milan, repetir a façanha.
Nos anos seguintes, a carreira do avançado como que entra numa espécie de corrupio. Veste a camisola do Bologna, do Inter e a do Brescia. Seria neste último emblema que Baggio "penduraria as chuteiras"... o mesmo que, uns anos antes, viu as suas redes serem fustigadas pelo primeiro golo daquele que ficaria conhecido como "il divino codino"!!!!

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