703 - ARTUR QUARESMA

Depois de, na 2ª divisão, fazer a estreia pela equipa principal do Barreirense, eis que, passados apenas alguns jogos, Artur Quaresma chama a atenção de um dos emblemas da capital. A qualidade que, com apenas 17 anos, já mostrava em campo, levaria a que os responsáveis do Belenenses não tivessem dúvidas e, pela sua contratação, pagassem 5 contos.
Chegado às Salésias, a sua integração iria acabar por confirmar aquilo que já se esperava do jogador. Inteligente na altura de servir os companheiros mais avançados no terreno, também ele sabia movimentar-se de maneira a conseguir aproximar-se das balizas adversárias. Esta sua postura dentro de campo, que haveria de valer um número considerável de golos, acabaria por conquistar a confiança dos seus treinadores e, principalmente, a admiração dos seus colegas de balneário.
Com o avançar dos anos, a sua importância no seio do grupo belenense cresceria exponencialmente. Ainda assim, e tendo chegado apenas em 1936, pouco tempo bastaria para que da selecção nacional chegasse a sua primeira convocatória. A 28 de Novembro de 1937, Artur Quaresma faria a sua estreia com as “quinas” ao peito. Contudo, e se esse particular disputado em Vigo acabaria por ser um marco na carreira do futebolista, seria outro desafio frente à Espanha que ficaria para história. Passados cerca de 6 meses, um novo amigável, desta feita marcado para o Estádio das Salésias, como que servia para selar a amizade entre um Portugal sob o regime de António Salazar e a Espanha “franquista”. Com a tribuna recheada com os mais altos cargos de ambas as nações e convidados dos regimes de extrema-direita alemão e italiano, seria na altura de tocar o hino que Artur Quaresma chamaria sobre si muita da atenção. Num verdadeiro acto de coragem, o jogador acabaria por quebrar o protocolo, mantendo os braços atrás das costas e, desta forma, recusando-se a fazer a saudação nazi – “Fomos à PIDE (…). Eu, deixando o braço em baixo, disse que me esquecera de o levantar. Não houve mais problemas porque o Belenenses moveu influências. Nunca fui político, mas embirrava com aquelas coisas do fascismo. O Barreiro era foco de comunistas opositores ao regime e eu era amigo de muitos. Mas fiz aquilo sem premeditação, foi um acto natural”*.
Apesar de pertencer a um grupo muito bem cotado, só alguns anos após a sua chegada ao Belenenses é que começariam a surgir os grandes títulos na sua carreira. Primeiro, e numa altura em que já era um dos mais conceituados da equipa, aparece a vitória na Taça de Portugal de 1941/42. Depois, viriam as vitórias nos Campeonatos de Lisboa de 1943/44 e 1945/46. Finalmente, e na mesma temporada do último “regional alfacinha”, Artur Quaresma, que jogaria todas as partidas, conseguiria sagrar-se campeão nacional.
Já despois da importante conquista, não passariam muitos anos até que o internacional português decidisse pôr um fim ao seu percurso nos campos de jogo. Na verdade, a sua despedida a 5 de Outubro de 1948, mais do que o definitivo final, seria o ponto de partida para uma fase transitória. Tendo, de imediato, começado a sua actividade como técnico, o que é certo é que, durante algum tempo, ainda desempenharia o papel de treinador-jogador. Aliás, seria nestas funções que Artur Quaresma chegaria à final da Taça de Portugal de 1948/49. Só passado algum tempo é que passaria em exclusivo para o “banco”, e, à parte dos anos estaria ao serviço do Belenenses, o antigo atleta daria o seu contributo a uma série de outros clubes.

 
*retirado do jornal “Record”, Janeiro de 2004

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