714 - ERWIN SÁNCHEZ

Conta-se que por altura de uma visita dos mais altos cargos do futebol à Bolívia, Michel Platini terá sido barrado por um segurança. Quem acompanhava o francês terá dito ao responsável pelo controlo qualquer coisa como: “Não há problema, este senhor é o Platini”. Como resposta teve: “O Platini conheço eu bem, e não é ele!”.
Foi desde muito novo que Erwin Sánchez, ou, para muitos, o “Platini da Bolívia”, começou a mostrar grande entusiasmo pelo futebol. Mas ao invés de tantos outros, à paixão pela modalidade também conseguia adicionar uma dose igual de aptidão. Esse seu jeito, levá-lo-ia, pouco depois de entrar na adolescência, a uma das mais categorizadas academias do seu país. Seria, então, na Tahuichi que o antigo médio começaria a jogar. Logo aí, todo esforço que punha em campo, a sua força e ímpeto, transformá-lo-iam num dos maiores craques da instituição. As chamadas à selecção não tardariam, e já depois de participar nos maiores certames para jovens, eis que chega a profissionalização.
O emblema que daria a primeira grande oportunidade a Sánchez seria o Destroyers. Mantendo a mesma atitude que havia caracterizado o seu percurso de formando, o jogador, rapidamente, passaria a estrela da equipa. Tanto assim foi que, não tardou muito tempo para que um dos gigantes da Bolívia fosse no seu encalço. Já a jogar na capital La Paz, e com as cores do Bolívar, o médio atingiria o topo do futebol no seu país. Por um lado viria o título de campeão nacional; por outro a chamada à selecção principal, a participação na Copa América de 1989 e a projecção além-fronteiras.
Foi já depois do referido torneio sul-americano, que o Benfica decide apostar no jovem jogador. Sven-Göran Eriksson, talvez impressionado pelas suas actuações no referido certame, inclui Sánchez no novo elenco das “Águias”. Contudo, a temporada de 1990/91 acabaria por ficar um pouco aquém do esperado. É certo que o Benfica conseguiria sagrar-se campeão nacional, mas, no plano individual, Sánchez, com algumas dificuldades em adaptar-se, pouco jogaria.
Já na temporada seguinte, o empréstimo ao Estoril-Praia serviria para uma mudança de paradigma. No “clube da linha” Sánchez voltaria a brilhar. Exibições pungentes, remates portentosos e alguns golos, seriam a receita para o seu sucesso. Contudo, e numa altura que o seu regresso à “Luz” seria o mais normal, tal acaba por não acontecer. Com a transferência de João Pinto do Boavista para o Benfica, o médio boliviano vê-se envolvido no negócio. João Pinto acabaria por vestir de “encarnado” e Sánchez marcharia no sentido inverso.
Não sei se esta mudança alguma vez terá sido vista como frustrante. A verdade é que sem a mesma, Sánchez passaria ao lado dos melhores anos da sua carreira. Com os “Axadrezados”, o médio cimentar-se-ia como um dos grandes futebolistas a jogar em Portugal. Num Boavista cada vez mais a beliscar a hegemonia dos ditos “grandes”, o atleta acabaria por ter um papel fulcral nesse crescimento. Como um dos grandes dínamos do meio-campo, o jogador, tanto a nível nacional, como nas competições europeias, ajudaria nas boas campanhas do emblema portuense. O momento mais alto dessa sua primeira passagem pelo clube, aconteceria na final da Taça de Portugal de 1996/97. Com 2 golos da sua autoria, o Boavista derrotaria o Benfica por 3-2 e, desse modo, Sánchez ajudaria a levar o troféu para o Estádio do Bessa.
Seria também durante este período que, com a camisola do seu país, Sánchez entraria para a história do futebol boliviano. Com uma espantosa campanha, que levaria a selecção sul-americana a superar congéneres bem mais poderosas, a Bolívia consegue o apuramento para o Mundial de 1994. Já nos Estados Unidos, e apesar de a sua equipa ter caído ainda na fase de grupos, Sánchez conseguiria um feito único. Com um golo frente à Espanha, o médio tornar-se-ia no primeiro jogador boliviano a marcar num Campeonato do Mundo.
Feitos como este, ou como a final da Copa América alcançada em 1997, fariam com que o valor do jogador subisse em flecha. Nesse sentido, e com a entrada de Manuel José para os “comandos” do Benfica, foi com alguma naturalidade que Sánchez foi apontado como reforço das “Águias”. Todavia, o regresso a Lisboa, mais uma vez, ficaria abaixo das expectativas. O reencontro com o seu antigo treinador no Boavista até que nem começou muito mal. O pior viria com a saída do mesmo e com a entrada de Souness e, já mais tarde, de Heynckes. Tanto o escocês, como o alemão, deixariam de apostar no médio e, entre um empréstimo ao Boavista e novo regresso à “Luz”, Sánchez acabaria a jogar pela equipa “b” do Benfica.
Após este período mais azarado, Sánchez volta novamente à “Invicta”. Mais uma vez no Boavista, o médio voltaria a fazer o que melhor sabia. Ainda que com a forte concorrência de Timofte, o boliviano, depois de uma fase inicial em que seria menos utilizado, volta a tornar-se num dos pilares do emblema nortenho. Com Jaime Pacheco como treinador, o Boavista volta aos anos de glória. Primeiro, vem a estreia na Liga dos Campeões; depois aquilo que há muito o grupo já prometia. Em 2000/01 as “Panteras” conseguiriam superar Benfica, FC Porto e Sporting. Com Sánchez em plano de destaque, o clube faz uma época única e sagra-se campeão nacional.
Com a saída de Jaime Pacheco para o Maiorca, e por razão de uma grave lesão, Sánchez passa para o “banco” boavisteiro. A sua primeira experiência como técnico seria, contudo, interrompida com o regresso do jogador à Bolívia. De volta à sua cidade natal, o internacional boliviano decide aceitar o convite do emblema da sua terra e volta a calçar as chuteiras. Durante dois anos ajudaria o Oriente Petrolero nas suas contendas. No entanto, este desafio conheceria um fim quando, após uma agressão a um árbitro, Sánchez acaba punido com uma suspensão de 18 meses.
O seu regresso ao futebol dar-se-ia, de uma forma lógica, com o retorno às funções de treinador. Com passagens pela selecção da Bolívia, Oriente Petrolero e Blooming, o currículo conseguido durante esse seu percurso leva o Boavista a apostar nos seus préstimos. Em 2015/16 consegue a proeza de salvar o clube de uma descida, por muitos, vaticinada. Depois da meta alcançada, eis que a nova temporada, que ainda decorre, acabaria por não trazer novos sucessos. Sem conseguir atingir o que estaria planeado, Sánchez, vítimas das famosas “chicotadas psicológicas”, acabaria substituído por Miguel Leal.

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