742 - GATTUSO


Congregar no mesmo “onze” alguns jogadores é, na verdade, saber transformar meras partidas de futebol em momentos (e caneladas) inesquecíveis. Duplas como Dennis Wise e Vinnie Jones (Wimbledon), Jorge Costa e Paulinho Santos (FC Porto) só poderiam ser ultrapassadas, no que ao terror e pancada diz respeito, se conseguíssemos juntar na mesma equipa Marco Materezzi e Gennaro Gattuso. Pois bem, isso até já aconteceu!!!
Gattuso apareceu no futebol com as cores do Perugia. No emblema do centro de Itália, o médio cresceria ao lado de alguns nomes históricos do “Calcio”. Todavia, e como o próprio já o referiu, seria com o antigo central que acabaria por criar fortes laços de amizade – “O Marco foi o meu grande irmão dessa altura (…). Ele levava-me para todo o lado, no seu carro, porque eu ainda não tinha carta de condução, e até me ajudou com dinheiro”*.
Sem grandes oportunidades na Serie A, é no Verão de 1997 que o jogador decide tentar a sua sorte no estrangeiro. Tão novo era, que, com os seus 19 anos de idade, torna-se no atleta mais jovem de sempre a deixar o seu país. Já em Glasgow, vestiria as cores do Rangers e… encontrar-se-ia com Paul Gascoine!!! Ora, as praxes do antigo internacional inglês, tornar-se-iam recorrentes – “Uma vez, estou a equipar-me no balneário para um treino quando toco nos meus calções e noto-os mais pesados que nunca. E é aí que vejo que ele borrou-se no meio dos meus calções”*. Ainda assim, e ao contrário do que possa pensar-se, esta, tal como outras peripécias, acabariam por facilitar a integração de Gattuso.
No que seria o seu processo de adaptação, também a forma como jogava ajudá-lo-ia a afirmar-se na Escócia. Ríspido na disputa de qualquer bola, a sua agressividade adaptava-se bem à cultura futebolística daquele país. Walter Smith rapidamente entende essa mais-valia e, com bastante frequência, começa a incluí-lo no “onze” titular. No entanto, a mesma impetuosidade que o ajudava acabaria por trazer-lhe alguns dissabores. Um deles ocorreria no seu primeiro “Old Firm”. Nesse “derby” de Glasgow, tendo sido chamado ao alinhamento inicial, Gattuso consegue o impensável. Ainda durante os primeiros instantes de jogo, vê um amarelo. Depois, passados apenas 10 minutos, volta a incidir no disparate e, com mais uma cartolina, acaba por ser expulso.
O entendimento que Dick Advocaat, técnico que substituiria Walter Smith, tinha acerca da sua utilidade em campo, faria com que Gattuso, a meio da temporada de 1998/99, decidisse voltar para Itália. No Salernitana, e apesar da fraca prestação colectiva, as boas exibições individuais levariam a que o AC Milan, no final dessa mesma época, decida contratá-lo. Nos “Rossoneri” a sua carreira iria mudar radicalmente. Durante os 13 anos em que representaria o clube do seu coração, Gattuso partilharia o balneário com as mais diferentes estrelas do futebol mundial. Rui Costa, Maldini, Boban, Pirlo, Zlatan Ibrahimovic, Kaká e Shevchenko são apenas alguns dos nomes que ajudariam o médio a construir um currículo invejável. Para além de 2 “Scudettos”, 1 “Coppa” de Itália, 2 “Supercoppa”, também no plano internacional a sua carreira ficaria marcada pelo sucesso. Nesse campo, títulos como as 2 “Champions League”, 2 Supertaças da UEFA e 1 Mundial de clubes só seriam equiparados à conquista conseguida com a selecção italiana. No Mundial de 2006, torneio que ficaria marcado pelo desentendimento entre Zidane e o seu amigo Materazzi, essa mesma final daria a Gattuso o mais prestigiante troféu da sua vida como profissional.
É claro que, paralelamente ao sucesso desportivo, a sua carreira haveria de ser marcada pela excessiva agressividade. Querelas com colegas, adversários, treinadores e quem mais se atravessasse no seu caminho, seriam o alimento predilecto de todos os pasquins desportivos. Espantosamente, esse seu mau génio manter-se-ia mesmo depois de ter abraçado as funções de treinador. Já depois de no Sion, em 2012/13, ter feito a transição dos relvados para o “banco”, Gattuso passaria pelo comando do Palermo e OFI Creta. Seria, no entanto, já ao serviço do Pisa que novo episódio preencheria os cabeçalhos dos jornais. No final da época passada (2016/17) e no jogo que viria a decidir a subida do seu clube, o antigo internacional, exaltado com o desenrolar da partida acabaria por agredir o seu próprio adjunto!


*adaptado da entrevista de Rui Miguel Tovar, em www.observador.pt, a 08/12/2016

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