881 - CARBAJAL

Escrever sobre Antonio Carbajal é, sem sombra de dúvida, falar das suas presenças no Campeonato do Mundo. Pode parecer redutor fazer-se essa abordagem e, em certa medida, arrisca-se até a transformar um texto num perfeito disparate. É certo que a sua carreira foi muito mais do que isso. Todavia, a marca que conseguiria alcançar nos Mundiais, não é mais do que o reflexo do seu percurso no futebol e da qualidade que emprestou tanto à modalidade, como à história de um dos maiores torneios desportivos a nível global.
Curiosamente, mesmo antes de começar, a carreira do mexicano esteve em risco. Quando ainda era um miúdo e do seu currículo apenas faziam parte as peladinhas de bairro, um terrível acidente abater-se-ia sobre a sua família. Enquanto jogava à bola, um irmão seu acabaria por ser atropelado mortalmente. Perante tamanho infortúnio, o pai proibi-lo-ia de juntar-se aos amigos na rua. Ainda assim, a paixão do jovem praticante era maior que a vontade de mantê-lo na segurança do lar. Carbajal decidiria então trocar uma posição de campo por um lugar à baliza. Desse modo podia controlar melhor a chegada do pai e dar uma corrida até casa, antes que o mesmo o descobrisse.
Após essas primeiras aventuras, é em 1948 que o guardião faz a estreia como sénior no Real Clube España. Nesse mesmo ano, e reconhecendo nele um grande futuro, da selecção mexicana chega a convocatória para estar presente nos Jogos Olímpicos de Londres. Nunca chegaria a entrar em campo, mas a semente estava lançada e as suas qualidades mantê-lo-iam perto da estreia pela equipa nacional do seu país. Essa primeira partida aconteceria cerca de dois anos depois, no jogo inaugural tanto do Mundial de 1950, como do Estádio do Maracanã.
Tendo começado no certame organizado no Brasil, as suas participações nas edições de 1954, 1958, 1962 e 1966 transformar-se-iam num recorde. Entretanto igualada pelo alemão Lothar Matthäus e pelo italiano Gianluigi Buffon, a meta de 5 presenças em Campeonatos do Mundo gravariam para sempre o seu nome nas crónicas do futebol. É certo que de menor expressão, mas também outras marcas ficariam esculpidas no percurso profissional do guarda-redes. Acompanhando o crescimento do seu país como potência do futebol, seria consigo entre os postes que o México, no torneio disputado no Chile, venceria a primeira partida numa fase final.
Voltando um pouco atrás, temos que rever também o seu trajecto em termos clubísticos. Mesmo sem ser um guarda-redes dos mais vistosos, a maneira como saía dos postes ou a agilidade que apresentava entre os mesmos faziam dele um dos melhores na sua posição. Aliás, era a maneira segura como gostava de actuar que o trazia bem cotado.Nesse sentido, e com a extinção do Real Clube España, logo do Club León receberia um convite. Com o novo emblema apareceriam os primeiros títulos. Ao serviço dos “Las Panzas Verdes”, clube que representaria entre 1950 e 1966, venceria os Campeonatos de 1952 e 1956 e ainda a Copa do México de 1958.
Após pendurar as luvas, a ligação de Carbajal à modalidade manter-se-ia. Treinaria o Club Léon, o Unión de Curtidores, o Atletas Campesinos, passaria também pelas funções de adjunto na selecção mexicana e, numa passagem que duraria cerca de uma década, estaria aos comandos do Morelia. Nisto de futebol, a paixão do antigo guarda-redes sempre pareceu não ter limites. Mesmo depois de ter decidido afastar definitivamente do contexto profissional, o ex-internacional decidiu continuar ligado à sua escola.

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