882 - ROGER MILLA

E que tal para um futebolista atingir o auge já com os 40 anos à vista? E se esse pico vier depois de tomada a decisão de abandonar o desporto profissional? Dirão vocês que a probabilidade é quase nenhuma! Não, não é! Estamos apenas a falar de Roger Milla!
Foi no início dos anos 50 que o avançado camaronês nasceu. Longe, muito longe, estariam os adeptos do futebol de pensar que, em Yaoundé, acabava de vir ao Mundo uma das futuras estrelas da modalidade. Para ser correcto, mesmo alguns anos depois, aquando do início da sua carreira profissional, não sei se alguém teve tal atrevimento, tal pressentimento.
Avancemos 18 anos no tempo e, em 1970, é no Léopards Douala que Roger Milla faz a sua estreia no patamar sénior. Nessa caminhada, não foi necessário muito tempo para que, no seu currículo, começassem a aparecer alguns títulos. As vitórias nos Campeonatos de 1971/72 e 1972/73, mais valor ganhariam pelo facto do seu nome começar a figurar na lista dos melhores do continente africano. Para entender esse estatuto basta olhar aos números da sua carreira, durante esses anos iniciais. Tanto naquele que foi o seu primeiro emblema, tal como na colectividade para onde, 4 temporadas volvidas, se mudaria, o atacante jamais acabaria uma temporada sem ultrapassar a barreira dos 20 golos.
Tal como no Léopards, também na mudança para o Tonnerre Yaoundé, o goleador daria grande contributo para o sucesso do clube. Para além dos remates certeiros, a vitória na edição de 1975 da Taça dos Vencedores das Taças Africanas seria o momento mais alto dos 3 anos passados no emblema da capital. Ora tal êxito, só poderia resultar na sua mudança para um contexto competitivo bem mais interessante. Na França, onde passaria a competir a partir de 1997, vive os melhores anos do seu percurso clubístico. Valenciennes, Monaco, Bastia, Saint-Ettiénne e Montpellier seriam as cores envergadas. No entanto, sendo essa uma constante na sua carreira, o brilho maior consegui-lo-ia com a camisola do seu país.
Com os “Lions Indomptables”, Roger Milla começaria por ganhar a CAN em 1984 e 1988. Todavia, e mesmo com os títulos de Jogador Africano do Ano de 1976 e Melhor Marcador da já referida Taça de África das Nações em 1986 e 1988, não era com grande frequência que o atacante andava pelos escaparates do futebol internacional. Por essa razão, a sua inclusão na lista de convocados para disputar o Mundial de 1990 não causaria reboliço algum. Bem, talvez não seja assim tão verdade! É que, em bom abono do rigor, o atleta nem sequer fazia parte dos planos do seleccionador Valeri Nepomniatchi. A justificação? Fácil! Por altura do Campeonato do Mundo disputado em Itália, já o avançado tinha decidido abandonar o futebol profissional.
Quem interromperia as suas “férias” na Ilha de Reunião, onde representava o Saint-Pierroise, seria o Presidente dos Camarões, Paul Biya. Não agradado com o olvido do seleccionador, seria o próprio estadista que forçaria a sua inclusão na comitiva nacional. Polémicas à parte, a verdade é que tal imposição daria azo a um verdadeiro milagre. Roger Milla, muito mais do que um mero amuleto, seria a principal figura dos africanos no torneio. Os golos, a celebração dançante na bandeirola de canto e o recorde batido que, aos 38 anos, fazia dele o atleta mais velho a marcar numa fase final, torná-lo-iam numa das grandes estrelas do certame.
Não pensem, contudo, que a sua história acaba aqui! Talvez embalado pelas exibições em Itália, Roger Milla apresenta-se no próximo Mundial. Dessa feita nos Estados Unidos da América, a sua presença voltaria a entrar nos anais da competição. Com uns singelos 42 anos de idade, o avançado voltaria a acertar com a bola no interior das redes e, com esse golo, quebraria a sua própria marca, registada 4 anos antes.

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