901 - JESUS CORREIA

Ainda antes de chegar ao mais alto nível, já Jesus Correia dividia a sua existência entre duas paixões. Futebol e hóquei em patins eram as modalidades que prendiam a sua atenção. Ao mesmo tempo que brilhava como patinador do Paço de Arcos, também noutras associações daquela localidade jogava à bola. Foi então que um ultimato fê-lo optar pela disciplina dos ringues. Contudo, o jovem praticante jamais esqueceria esse segundo amor e anos mais tarde, no Belenenses, haveria tentar a sua sorte. Curiosamente, dizem que por conta da sua tenra idade, seria recusado. Augusto Silva, antiga estrela da “Cruz de Cristo”, dir-lhe-ia para voltar no ano seguinte. Tarde demais. O atacante não regressaria às Salésias e quem acabaria por ganhar com tudo isso seria outro dos “grandes” de Lisboa.
Quem não o deixaria escapar seria Joseph Szabo. Avisado para o seu excelente potencial, o treinador do Sporting faria tudo para o juntar ao plantel leonino. Claro está que havia ainda a questão do vínculo ao Paço de Arcos. Apesar da relutância em libertar o atleta, a pressão para que tal acontecesse, levaria a que o emblema da “Linha de Cascais” convocasse uma assembleia para deliberar sobre o assunto. É então que tudo fica decidido e, em paralelo com o hóquei, Jesus Correia passa a representar o futebol “Verde e Branco”.
Em Alvalade não demoraria muito até que o jogador conseguisse afirmar-se como um dos elementos mais importantes do conjunto. Com velocidade, excelente técnica e uma, igualmente boa, capacidade finalizadora, Jesus Correia tanto servia para o eixo do ataque, como na extrema-direita do campo. Logo na segunda campanha, com Peyroteo a ocupar a posição de ponta-de-lança, conseguiria um lugar na ala destra dos afamados “Cinco Violinos”. Ainda antes de conquistar a titularidade, sendo suplente de Adolfo Mourão, o atacante começaria a juntar os primeiros títulos ao seu palmarés. Aliás, durante as 10 temporadas que passaria de “Leão” ao peito, os troféus seriam uma constante. Campeão Nacional por 7 vezes, juntaria ainda ao seu currículo 2 Taças de Portugal e 2 “Regionais” de Lisboa.
Também no Hóquei o seu sucesso foi incrível. Pertencendo a uma das melhores equipas de sempre do Paço de Arcos, Jesus Correia começaria por amealhar diversos títulos nacionais. Pela selecção o seu êxito ainda foi maior. Para além dos títulos europeus, o atleta ajudaria Portugal a conquistar 6 Campeonatos do Mundo. Aliás, seria na antevisão de um desses certames que estalaria a guerra entra as duas federações em que estava inscrito. Com mais um torneio à vista, a Federação Portuguesa de Patinagem pede à Direcção Geral dos Desportos para que cancelasse a sua licença de futebolista. O pedido é recusado. Todavia, a contenda faz com que o Sporting exija ao jogador a sua exclusividade. O que ninguém da direcção leonina devia estar à espera, é que o atleta escolhesse a modalidade dos ringues. Assim foi e, sem completar 30 anos de idade, o avançado deixa o futebol.
Apesar do abandono precoce na temporada de 1952/53, o legado deixado por Jesus Correia foi enorme. Para a memória ficarão os 6 remates certeiros conseguidos frente ao Atlético de Madrid, em plena capital espanhola. Também no plano nacional, os seus golos seriam de enorme importância. Com a camisola do Sporting conseguiria, só em partidas oficiais, concretizar mais de 150. Um deles, no entanto, haveria de o lançar para o coração de todos os sportinguintas. Numa altura em que ainda procurava cimentar o seu lugar na equipa, o golo conseguido na final da Taça de Portugal de 1944/45 elevá-lo-ia à condição de estrela do clube.
Alguns anos mais tarde ainda voltaria a envergar as cores de outro emblema. Na temporada de 1955/56, pela CUF do Barreiro, Jesus Correia ainda faria algumas partidas. Contudo, a verdade é que o Hóquei era sua maior paixão. Na modalidade ainda abraçaria as tarefas de treinador. Nessas funções e comandando o seleccionado português, conseguiria juntar ao seu já rico palmarés, mais 2 títulos de Campeão Mundial.

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