969 - FRANCISCO DOS SANTOS

Por razão da morte do seu pai, Francisco dos Santos ingressa na Casa Pia de Lisboa. Na carismática instituição da capital, o jovem estudante destaca-se em duas áreas bem distintas: as Belas-Artes e o Futebol. Curiosamente, seria a primeira actividade que iria fazer com que ficasse na história da segunda.
Tendo mostrado excelsas qualidades na pintura e, principalmente, na escultura, ao “pequeno” artista seriam concedidas algumas bolsas de estudo. Bem, “pequeno” só mesmo na estatura. No talento, desportivo e artístico, Francisco dos Santos revelar-se-ia enorme. Ainda como casapiano, num Séc. XIX em que o futebol português não era mais do que imberbe, o extremo-esquerdo daria os primeiros chutos na bola. Depois, nos anos logo após a fundação do clube, o Grupo Sport Lisboa entraria para o seu currículo. De “Águia” ao peito brilharia ao lado de nomes históricos como Cosme Damião, Manuel Goularde ou Félix Bermudes.
Seriam os estudos que, numa época de pura paixão e amadorismo no futebol nacional, tomariam as rédeas das suas prioridades. Depois de frequentar a Escola de Belas-Artes e de passar como bolseiro por Paris, é com a ajuda financeira da Casa Valmor que parte para Roma. Instala-se na capital italiana e, num episódio caricato, acaba por dar seguimento à sua carreira de futebolista. Certo dia, enquanto passeava o seu cão num parque, pôs-se a observar um grupo de praticantes. A treinar encontravam-se os “calciatori” da Lazio. Bastaram apenas mais uns dias para que Francisco dos Santos passasse a fazer parte do conjunto. Tornou-se, a partir desse momento, no primeiro português a jogar no estrangeiro e no primeiro estrangeiro da história do emblema romano.
Desenganem-se aqueles que possam pensar que o atacante “luso” não era mais do que um número no seio do plantel da Lazio. Francisco dos Santos era um jogador deveras habilidoso e depressa começou a destacar-se nos torneios disputados pela sua nova equipa – “Pequeno, divertido, aparentemente mais frágil que o pedúnculo de cristal, este estudante português revelou e impôs uma vitalidade espantosa. Salta mais alto do que todos, é o primeiro a correr, o último a mostrar-se cansado e a render-se, é rápido, resistente, em suma, é um fenómeno através do qual, mais uma vez, a natureza parece querer dizer que nunca nos devemos fiar nas aparências"*.
Entre 1907 e 1909 a envergar o azul celeste da Lazio, já no regresso a Portugal tempo ainda para representar o Sporting e disputar o Campeonato de Lisboa. Contudo, o ganha-pão do jogador haveria de tornar-se na sua principal actividade. Como escultor, Francisco dos Santos haveria de elevar o seu nome à categoria de figura maior da nossa cultura. Esculturas como “Prometeu”, no Jardim Constantino, o “Busto da República”, exposto nos Paços da Câmara Municipal de Lisboa, ou “Salomé”, o “Beijo” e “Nina”, todas pertencentes ao espólio do Museu do Chiado, são algumas das suas obras. Para acrescentar ao faustoso rol de criações, há ainda que referir aquela que é uma das mais icónicas da capital portuguesa. A estátua do Marquês do Pombal seria, em parceria com Adães Bermudes (irmão de Félix Bermudes) e António Couto (futebolista do Benfica), o seu maior triunfo. Infelizmente, por motivo de uma morte precoce, já não assistiria à sua inauguração. Faleceria em 1930, em Paiões, Rio de Mouro. A mesma localidade do concelho de Sintra que, em 1878, o vira nascer.

*retirado de “Storia della Lazio”, Mario Penacchia – Editado por “Corriere Dello Sport” (1969)

Sem comentários: