1058 - JORGE JESUS

Apesar de já publicado o cromo de Jorge Jesus, não poderia deixar de sublinhar o seu regresso ao futebol português através de uma pequena nota. Se preferirem, até pelo cariz sumariado da primeira biografia, podemos falar de uma “atenta revisão” da sua história. Seja como for, e não querendo tornar massuda esta “sequela”, decidi que, para colmatar a referida carência, deveria focar-me no seu trajecto como treinador. Assim…
Sendo agora, perto de completar 66 anos de idade, um dos mais prestigiados treinadores portugueses, a verdade é que, durante vários anos, o trajecto de Jorge Jesus seria bem sinuoso. Aprendizagem ou falta de oportunidades, o certo é que seriam necessários cerca de 20 anos de carreira para que o técnico conseguisse abrir as portas dos emblemas de topo. Já depois de, na viragem da década de 1980 para a de 1990, ter dado os primeiros passos na função, os decénios seguintes mostrariam alguém cuja inconstância da caminhada revelar-se-ia pouco favorável à inequívoca aferição das suas qualidades. Nessa rota, após a primeira experiência no Amora, seria a ida para o Felgueiras que levaria Jorge Jesus ao patamar máximo do futebol português. Depois de ter orientado a subida do emblema, a campanha de 1995/96 levaria o treinador, e também o clube, à estreia no escalão primodivisionário. Porém, e mesmo com um plantel recheado de bons elementos, o fim da temporada revelar-se-ia de maneira frustrante. Depois de uma primeira metade auspiciosa, nem a presença de vários jogadores de craveira conseguiria evitar o fatídico destino. José Leal, Coelho, José Carlos, Abel Silva, Amaral, Bozinovski e ainda o emergente Sérgio Conceição tornar-se-iam numa fórmula incapaz de conseguir os resultados projectados.
Depois da queda, o regresso ao convívio dos “grandes” só voltaria a acontecer em 1998/99. Dessa feita, seria o emblema da sua terra natal a dar-lhe a oportunidade para, no escalão principal, mostrar os seus dotes de técnico. No Estrela da Amadora, apesar de exibida uma maturidade e intensidade bem ilustrativas das suas qualidades, Jorge Jesus ainda não conseguiria cimentar-se como um treinador de 1ª divisão. Aliás, esse estigma só desapareceria aquando da sua contratação pelo Vitória de Guimarães. Em 2003/04, o treinador, finalmente, passaria a trilhar o seu caminho, de forma exclusiva, no patamar máximo. Moreirense, União de Leiria e Belenenses acabariam por sublinhar essa verdade. Todavia, seria a passagem pelo Sporting de Braga que o aclamaria como um dos grandes “timoneiros” do desporto português.
A temporada de 2008/09, passada na “Cidade dos Arcebispos”, seria decisiva para a sua afirmação. O 5º posto no Campeonato Nacional, a chegada aos oitavos-de-final da Taça UEFA e a vitória na Taça Intertoto, levariam a que o seu prestígio subisse em flecha. À procura de uma solução para o comando técnico do Benfica, Luís Filipe Vieira decidir-se-ia pela aposta no técnico. Na chegada à “Luz”, bem ao seu estilo, Jorge Jesus não mostraria qualquer modéstia na altura da apresentação – “Os jogadores do Benfica para o ano vão jogar o dobro do que jogaram o ano passado. Só isso. E o dobro se calhar é pouco"*. Prometeu e cumpriu com títulos e os “Encarnados”, logo nessa época de 2009/10, sagrar-se-iam campeões nacionais e venceriam a Taça da Liga. Depois, nos 5 anos seguintes, chegariam mais 8 títulos aos escaparates do clube. No meio de outras 2 Ligas, de 1 Taça de Portugal, de mais 4 Taças da Liga e 1 Supertaça, destaque também para as presenças consecutivas em 2 finais da UEFA Europa League.
Curiosamente, e no melhor momento da sua passagem pelo Benfica, o divórcio entre o treinador e o clube terminaria nas primeiras páginas dos jornais. Numa “novela” com inúmeros episódios, Jorge Jesus acabaria por assinar pelo Sporting. Muita tinta correria; muitos argumentos, de parte a parte, haveriam de ser esgrimidos. Do lado das “Águias”, destacar-se-ia a prova de que o treinador não tinha perfil para pôr em prática os planos futuros do clube. Emergiriam também as notícias de hipotéticas e incomportáveis exigências por parte do técnico. Com os capítulos a sucederem-se em catadupa, a controvérsia cresceria de tom e, num surpreendente rol de acusações, a contenda terminaria em tribunal. Já os 3 anos no comando dos “Leões”, muito mais do que a conquista de 1 Supertaça e de 1 Taça da Liga, ficariam marcados por mais polémicas. Primeiro, as já desvendadas pelejas com o Benfica, seus dirigentes, treinadores e jogadores. Depois e já na recta final da sua passagem por Alvalade, o assalto à Academia de Alcochete e a guerra aberta com o Presidente Bruno de Carvalho.
A primeira aventura no estrangeiro aconteceria após a sua saída do Sporting e com paragem nos sauditas do Al Hilal. No entanto, seria a partida para o Brasil que empurraria Jorge Jesus para os momentos mais brilhantes da sua carreira. Ao serviço do Flamengo, depois de enfrentar a desconfiança dos adeptos e da comunicação social, os resultados começariam a surgir. Com o “Mengão” a praticar um futebol, a todos os níveis, deveras atractivo, as vitórias começariam igualmente a empolgar todos os apoiantes do emblema carioca. Com essa ascensão, chegariam também os títulos. A vitória no “Brasileirão” e na Copa Libertadores de 2019, elevariam o treinador ao estatuto de divindade. O “Mister”, já na temporada de 2020,teria ainda a oportunidade de sublinhar a qualidade do seu trabalho e conquistaria o “Estadual” do Rio de Janeiro, a Taça Guanabara, a Supercopa do Brasil e, voltando aos títulos continentais, arrecadaria a Recopa Sul-Americana.
Depois da extensão do seu contrato ter emergido de mais uma novela cheia de dúvidas e suspense, o desaire do Benfica no retomar da temporada de 2019/20, voltaria a alimentar as dúvidas sobre a continuidade de Jorge Jesus à frente do Flamengo. A insistência de Luís Filipe Vieira levaria a melhor e, depois de intensos capítulos, o Presidente do Benfica lá conseguiria convencer o treinador a voltar a Lisboa. Falta agora saber como correrá o regresso daquele que, ainda não há muito tempo, era visto como “persona non grata” para os lados da “Luz”.

*retirado do artigo de Ana Rute Carvalho, publicado em https://sicnoticias.pt, a 17/07/2020

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