1062 - JORGE GOMES

Contratado pelos “Axadrezados” ao Vasco da Gama, Jorge Gomes, ainda no seu país, confrontar-se-ia com os momentos conturbados vividos na sequência da Revolução de Abril – “Quando ia embarcar para Portugal vi na televisão os tanques de guerra na rua, fiquei com medo e adiei a viagem. O representante do Boavista, que me tinha ido buscar ao Brasil, apareceu para me levar, mas estava apavorado e pensei: «Não vou para a guerra» e fugi para casa de um amigo”*.
Já mais apaziguado, o atacante lá seguiria caminho. Porém, à chegada ao Porto deparar-se-ia com mais alguns contratempos. Para além do clima, inesperadamente frio para um “carioca”, a impossibilidade de ficar inscrito pelo Boavista, haveria de empurrar o atleta para o União de Lamas. Contudo, a passagem pela 2ª divisão não duraria mais do que alguns meses e, logo no começo da campanha de 1976/77, já o avançado vestia a camisola das “Panteras”.
Apesar de um início de época marcado por alguma discrição, o derradeiro terço dessa primeira temporada no Bessa, começaria a revelar um jogador preponderante nas manobras da equipa. O valor de Jorge Gomes, mesmo com a mudança de treinadores, manter-se-ia nos anos seguintes. Nessa caminhada, Jimmy Hagan acabaria por assumir um papel de maior destaque. Com o técnico inglês, o clube chegaria à última ronda da Taça de Portugal de 1978/79. O ponta-de-lança seria chamado à peleja e como titular na final, tal como na finalíssima, teria um grande peso na memorável vitória frente ao Sporting.
A conquista do referido troféu acabaria por destacar ainda mais os seus predicados. Com diversos candidatos à sua contratação, seriam as “Águias”, na sequência de um episódio caricato, que acabaria por vencer a corrida – “Estava de férias e vim para Lisboa apanhar o avião para o Brasil, e vinha para assinar pelo Sporting e não pelo Benfica, antes da viagem. Só que quando cheguei ao aeroporto com o presidente do Boavista, Valentim Loureiro, deparei-me lá com o senhor Gaspar Ramos, diretor de futebol do Benfica, e olha, aconteceu”**.
Mais do que um curioso momento, a sua entrada na “Luz” marcaria um momento histórico para o clube. Depois de a 1 de Julho de 1979, ter sido aprovada a utilização de futebolistas de outras nacionalidades, a 1ª jornada da temporada de 1979/80 daria corpo a essa nova vontade. Aos 72 minutos da partida frente ao Vitória de Setúbal, Jorge Gomes entraria em campo para o lugar de Chalana e, nesse instante, transformar-se-ia no primeiro estrangeiro a vestir a camisola dos “Encarnados”.
Apesar de ser forte fisicamente, aguerrido e com boas capacidades técnicas, a verdade é que a presença de atletas como Nené, Reinaldo ou César, não deixariam que Jorge Gomes conseguisse agarrar um lugar como titular. Sentenciado a ser uma segunda escolha, o avançado acabaria por deixar o Benfica. Depois de acrescentar ao seu palmarés mais 2 Taças de Portugal e 1 Campeonato Nacional, o atleta prosseguiria a sua carreira no Sporting de Braga. No Minho, a postura revelada ao longo de 7 temporadas, faria dele um símbolo. Para sublinhar essa sua atitude, receberia muitos louvores e, num deles, ficaria famosa a tirada do treinador Quinito – “Nós conversávamos sempre depois dos jogos com ele, para saber como foi e como não foi. E eu lembro-me que ele disse: «Se todos assumissem o que fazem como o Jorge, éramos muitas vezes campeões»”**.
O último capítulo da carreira vivê-lo-ia nos escalões inferiores e de uma forma um pouco errante. Vestiria as cores da AD Fafe; reencontraria Mário Wilson, seu treinador no Boavista e no Benfica, na passagem pelo Recreio de Águeda; e como jogador dos “regionais”, terminaria o seu trajecto como futebolista.
Já depois de “pendurar as chuteiras”, com a criação de algumas escolas de futebol, haveria ainda de manter a ligação à modalidade. Entretanto, viria a afastar-se das actividades desportivas e, segundo as palavras do próprio – “Agora estou à espera da reforma, sou pai e avô e agricultor nas horas vagas”*.

*retirado do artigo de Isaura Almeida, publicado em www.dn.pt, a 09/04/2017
**retirado da entrevista conduzida por Miguel Henriques, publicada em https://tribunaexpresso.pt, a 11/12/2016

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