1064 - RAUL ÁGUAS

Seria como atleta do Benfica que, em 1967, Raul Águas acabaria integrado nos trabalhos da selecção nacional de juniores. A convocatória, prémio para um percurso meritório, serviria também para sublinhar um futuro promissor. Todavia, a realidade do clube, com um plantel cheio de craques, haveria de diluir as projecções feitas para o avançado. José Torres, Eusébio e a ascensão de jovens como Nené ou Artur Jorge transformar-se-iam nas principais causas para o seu ocaso. Ao fim de 4 temporadas, com a falta de jogos a pôr em causa o seu crescimento como atleta, a partida assumir-se-ia como a melhor opção. Em 1971, com 2 Campeonatos Nacionais e 1 Taça de Portugal a abrilhantarem o seu palmarés, o ponta-de-lança deixaria a “Luz” e passaria a envergar o negro da Académica.
Já em Coimbra, Raul Águas começaria a jogar com mais frequência. No entanto, seria a mudança para o União de Tomar que melhor revelaria as suas qualidades. Depois de um ano a envergar a camisola da “Briosa”, a ida para a “Cidade Templária” permitir-lhe-ia conquistar um lugar no “onze” inicial. Mesmo como titular, a verdade é que a sua maneira de estar em campo não haveria de gerar consenso. Avançado-centro à moda antiga, seria muitas vezes apontado por passar demasiado tempo alheado do jogo. Todavia, a sua destreza, sentido posicional e a maneira sorrateira como atacava a bola, acabariam por refutar todas essas acusações. Os golos fariam o resto e, de forma condizente, o seu valor começaria a subir.
Com a cotação em alta, o interesse de clubes de outra monta começaria a emergir. O convite acabaria por surgir vindo do apetecível Campeonato da Bélgica. O KV Mechelen (Malines, na sua forma francesa), ao tomar a dianteira na sua contratação, apresentaria Raul Águas para a temporada de 1975/76. O avançado, mesmo num contexto competitivo diferente, não desapontaria quem nele tinha apostado. Sempre tido como um elemento preponderante na manobra da equipa, as quase 3 dezenas de golos concretizados em 2 anos, elevá-lo-iam à condição de estrela. Já com a descida do conjunto da Flandres no final da campanha de 1976/77, seguir-se-ia nova transferência. No Lierse, o seu rendimento manter-se-ia num bom nível e, por mais uma par de épocas, o ponta-de-lança continuaria a ser tido como um dos bons intérpretes do panorama belga.
O regresso a Portugal, há que reconhecê-lo, revestir-se-ia de uma singularidade um pouco estranha. Com um percurso conceituado, a surpresa desse seu retorno, prender-se-ia com o clube. Ao contrário de um espectável cenário primodivisionário, o emblema que abriria as portas a Raul Águas seria o Oliveira do Bairro. Mesmo longe dos holofotes, o ponta-de-lança, dando jus aos seus créditos, conseguiria esgrimir 3 temporadas de excelso valor. Essa demonstração de qualidade valer-lhe-ia, já com 33 anos, novo ingresso no escalão máximo do futebol luso. No Portimonense de 1982/83, orientado por Artur Jorge, o avançado viveria a derradeira campanha na 1ª divisão. Depois surgiria ainda o Desportivo de Chaves e, em 1985, o fim da carreira de futebolista.
Seria também em Trás-os-Montes que Raul Águas teria a oportunidade de encetar a sua caminhada como treinador. Nos flavienses, ainda com pouco traquejo, conseguiria entrar para a história do clube. Na temporada de 1984/85, a mesma em que “penduraria as botas”, seria sob seu comando que o emblema selaria a 1ª subida de sempre ao escalão máximo. Já em 1986/87, dando seguimento a campanhas memoráveis, chegaria o apuramento para as provas europeias e, na campanha seguinte, a merecida participação na Taça UEFA.
Lançado pela experiência transmontana, Raul Águas cimentar-se-ia como um treinador de calibre primodivisionário. Boavista, Sporting de Braga, Vitória de Setúbal, Marítimo ou Académica, seriam os emblemas que ajudariam a sublinhar esse estatuto. Destaque também, para a sua passagem pelo Sporting de 1989/90, onde, na categoria principal dos “Leões”, seria o responsável pelo lançamento de Luís Figo.

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