1098 - ANSELMO FERNANDEZ

Multifacetado, Anselmo Fernandez transformar-se-ia num homem de mil-ofícios. Aos “Leões”, uma das maiores paixões da sua vida, encetaria a longa ligação no dever de futebolista. Subiria pelos diversos escalões de formação, chegaria a sénior pelas “reservas” e quando o treinador “verde e branco” quis promovê-lo à equipa principal, um problema de saúde acabaria por adiar a estreia – “Começara a jogar futebol no Sporting aos 14 anos, aos 20, Szabo quis lançar-me na primeira categoria, disse-lhe que seria operado a uma apendicite, que só depois disso valeria a pena apostar em mim”*.
Terminado o longo recobro, ainda voltaria a tempo de dar o contributo ao futebol leonino. Ao maioritariamente ter jogado nos conjuntos secundários do clube, Anselmo Fernandez, médio-ofensivo, caracterizar-se-ia por ser um atleta com boa técnica e uma grande resistência física. Ainda assim, apesar dos reconhecidos predicados, passados alguns anos sobre o regresso tomaria a decisão de deixar a modalidade. De seguida, o seu eclecticismo levá-lo-ia a dedicar-se ao Rugby, com a mesma abnegação que já tinha posto no basquetebol e no ténis de mesa. Em paralelo, cresceria também na sua profissão, numa carreira que, com obras emblemáticas, haveria de notabilizá-lo como arquitecto. Nesse campo, seriam dele os desenhos da Reitoria da Universidade de Lisboa, da Faculdade de Direito, da Faculdade de Letras e do Hotel Tivoli. Todavia, o seu maior projecto, em parceria com Sá da Costa, viria a ser o Estádio de Alvalade.
A verdade é que, a ligação ao Sporting, transformá-lo-ia em muito mais do que um praticante. Já retirado de qualquer actividade desportiva, um convite da direcção fá-lo-ia regressar ao futebol, mas na condição de Supervisor Técnico. No entanto, seria como treinador que, em definitivo, ganharia um lugar na história do clube. Ao substituir Gentil Martins no comando dos “Leões”, um dos primeiros grandes desafios enfrentá-lo-ia na 2ª mão dos quartos-de-final da Taça dos Vencedores das Taças de 1963/64. Depois de uma copiosa derrota por 4-1 em Inglaterra, seria de Anselmo Fernandez o plano para a recepção ao Manchester United. Em Alvalade, quase sem hipótese de apuramento, os “Verde e Brancos” dariam corpo a uma recuperação memorável e venceriam a partida de Lisboa por 5-0. Seguir-se-iam os franceses do Olympique de Lyon, igualmente derrotados pelo conjunto português. Finalmente, da vitória na finalíssima frente ao MTK Budapeste, emergiria a inédita conquista da referida competição.
Voltaria ao banco do Sporting no decorrer da época seguinte e, mais uma vez, após a passagem de outros treinadores. “Sol de pouca dura”, pois um desentendimento com a direcção fá-lo-ia abandonar a posição pouco tempo depois. Ainda como técnico, abraçaria um desafio lançado pela CUF e à frente do conjunto do Lavradio chegaria às provas europeias, nomeadamente à Taça das Cidades com Feira. Tragicamente, a sua carreira no futebol terminaria de forma abrupta, num acidente de viação. A caminho dos treinos, ao atravessar a ponte sobre o Tejo, Anselmo Fernandez embateria noutro veículo e tendo estado à beira da morte, recuperaria apenas com algumas mazelas numa das pernas.

*retirado de “100 figuras do futebol português”, de António Simões e Homero Serpa; A Bola (1995)

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