1264 - ARAÚJO


Depois de vestir as cores da Académica de Huila, e de ter sido, por duas vezes, campeão nacional pelos juniores do Benfica, a chegada à equipa principal das “Águias” aconteceria na temporada de 1957/58. Sob alçada de Otto Glória, Araújo acabaria inserido num grupo de trabalho onde também marcavam presença, só no sector mais recuado, nomes como Ângelo, Mário João, Serra, Artur Santos ou Cavém. Ora, a presença de tão ilustre concorrência, faria com que o jovem atleta poucas oportunidades conseguisse alcançar. Ainda assim, estrear-se-ia no Campeonato Nacional da 1ª divisão e, ao participar em várias partidas das eliminatórias, ajudaria os “Encarnados” a chegar à final da Taça de Portugal.
Sem espaço no emblema “alfacinha” e com outras metas no horizonte, surgiria mais a norte outra histórica colectividade – “O Benfica é um grande clube. E, eu sou seu jogador… mas a Académica oferece-me mais possibilidades de subir socialmente e, ao estudar, de um futuro seguro. A minha ambição foi sempre a de tornar-me num engenheiro. Eu vim para Lisboa com esta intenção, preparado para lutar por ela e não cedi. Eu sei que através desta conquista darei aos meus pais e irmão uma grande felicidade”*.
Em Coimbra a partir da temporada de 1958/59, Araújo assumiria um papel fundamental no desenho táctico do conjunto estudante. Ao posicionar-se na direita ou no lugar canhoto de uma defesa a três, o atleta, ao lado de Mário Wilson e Jorge Marta, conseguiria afirmar-se como um dos mais importantes do plantel. Sempre a disputar o escalão máximo, as amizades feitas dentro e fora do futebol, num universo académico cada vez mais desperto para outras causas, sublinhariam na sua vida as ideias anticolonialistas dos movimentos afectos às Províncias Ultramarinas, nomeadamente as lutas da sua Angola natal pela independência. Com a “Crise Académica” de 1962 a acicatar no movimento estudantil as vozes contra o regime ditatorial, o defesa, com os colegas de equipa Chipenda, França e José Júlio, acabaria por conseguir fugir ao cerco apertado da PIDE e escapar para África.
Com o fim da ligação de 4 anos à “Briosa” e de regresso à pátria ou como refugiado, por exemplo, em Marrocos, Araújo tornar-se-ia num dos principais membros do Movimento Popular pela Libertação de Angola (MPLA) e uma das mais ilustres figuras das acesas pelejas pela emancipação do seu país. Já depois de conseguida a independência, continuaria a ocupar papéis de enorme relevância na vida política, como no desporto. Nesse sentido, há que dar relevância à sua participação no Comité Olímpico de Angola, no qual, seguindo-se no mandato a Augusto Teixeira, cumpriria as funções de Presidente.

*tradução feita a partir de “Caderno de Estudos Africanos, 26|2013 -  Em torno das práticas desportivas em África”, Nuno Domingos e Augusto Nascimento, Centro de Estudos Internacionais (2013)

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