424 - MURÇA

Filho de um "homem do mar", que simultaneamente era estrela do Pescadores, Murça haveria de se iniciar, também ele, no emblema da Costa da Caparica. Tal como o pai, a primeira posição que ocuparia no campo de jogo seria a de atacante. Aí, treinado que era pelo "violino" Albano, o jovem atleta rapidamente se tornou num goleador nato. Foi por esta altura que Murça, depois de observado pelo notável belenense Calisto Gomes, ruma aos escalões de formação da "Cruz de Cristo". No Restelo, logo na temporada de subida à equipa principal, haveria de encontrar o treinador que começaria a mudar-lhe a vida de futebolista. Ora se, até então, tinha sido no ataque os seus primeiros tempos de jogador, o técnico espanhol Ángel Zubieta (também ele antigo atleta do Belenenses) achou que posição certa para si, estaria na ponta oposta do campo, ou seja, na defesa. Foi para lá, para o centro da mesma, que Murça haveria de ser recuado. Assim permaneceu até que, numa chamada à selecção de "Esperanças", Fernando Caiado achou por bem deslocá-lo para a esquerda do dito sector. No regresso aos trabalhos do Belenenses, Mário Wilson concordaria com a alteração sugerida pelo seleccionador e, deste modo, até ao fim da sua carreira, aí se manteve.
Se a sua primeira temporada como sénior seria marcada pelo rebuliço que acabei de referir, também a segunda haveria de ter histórias para contar. Deste modo, depois de assegurar a titularidade no Belenenses, o sucesso do jovem Murça haveria de ser sublinhado com a chamada à equipa "A" de Portugal, onde, tal e qual como nos s-21, faria a sua estreia frente à congénere inglesa.
Mas a maneira exemplar como encarava o futebol, onde se caracterizou como um jogador batalhador, mas sempre correcto para com os adversários, desde cedo prometeu a Murça novos e bons horizontes. Deste modo, ninguém estranhou quando, em Agosto de 1974, o lateral esquerdo foi contratado pelo FC Porto. Tal como no Belenenses, rapidamente, haveria de conquistar o seu lugar no "onze". Com a sua maneira abnegada de encarar as partidas, em que o constante vaivém pela sua ala, dava uma vivacidade particular, tanto ao jogo ofensivo, como às acções defensivas da sua equipa, Murça haveria de ser um dos principais responsáveis pelo regresso dos "Dragões" aos títulos. Primeiro, já sob a orientação de José Maria Pedroto, veio a conquista da Taça de Portugal de 1976/77, para nos dois anos a seguir, também ele, erguer o trofeu de Campeão Nacional, algo que, como seguramente se recordarão, já não acontecia nas Antas há 19 anos.
É certo que estes foram os melhores anos da sua carreira, mas já depois de abandonar o FC Porto, onde esteve 7 temporadas, rumou ao Vitória de Guimarães. Nestas 3 épocas no Minho, onde em 1983/84, haveria de partilhar o balneário com o seu irmão Joaquim Murça, o "outro" Murça, o Alfredo, haveria de manter a bitola exibicional ao mais alto nível, isto é, continuando como titular indiscutível.
Já com 36 anos ainda foi jogar para os escalões secundários, onde envergou as cores de Leixões e Tirsense. Aliás seria na terra dos "Jesuítas" que Murça daria início à sua carreira de treinador, que, sem ter grande impacto, ainda o levou ao lugar de adjunto no FC Porto.

Sem comentários: