443 - MORGADO

Questões que se interrogam sobre o porquê de algumas carreiras, hão-de sempre ser postas. No entanto, há algumas dessas vidas que sublinham, muito mais do que quaisquer outras, a necessidade deste tipo de pergunta. A carreira de Morgado entra nesta categoria.
Com os últimos anos da sua formação feitos pelas Antas, Morgado era um valor quase seguro, uma promessa, se assim preferirem, no futuro do futebol nacional. Tendo isto em conta, nada mais natural do que a sua presença regular nos mais importantes certames, organizados para as camadas jovens. Assim sendo, já ele estava cedido à equipa principal do Gil Vicente (à altura a militar na Divisão de Honra), a sua convocatória para o grupo de atletas que iria representar Portugal no Mundial s-21 de 1989, não era mais do que uma mera formalidade num caminho que se sabia de sucesso. Tudo correu normalmente, como normal foi, também, o novo empréstimo na temporada que se seguiria.
Já depois de regressar do ano passado ao serviço do Feirense, emblema que representara até ao Juvenis, a sua inclusão no plantel principal do FC Porto demonstrava aquilo que tenho estado a tentar dizer, ou seja, Morgado era visto como uma aposta certa. Contudo, ao invés daquilo que era projectado para o lateral-esquerdo, a sua afirmação de "Dragão" ao peito, parecia querer adiar-se a cada oportunidade recebida. É certo que nomes como os de Branco e Vlk, respectivamente internacionais pelo Brasil e Checoslováquia, não davam grande espaço ao jovem craque. No entanto, o que mais estranha no meio disto tudo, não é a concorrência que tinha dentro do balneário, mas sim que Morgado era mesmo um craque. Com isto, só posso afirmar que não entendo o porque deste falhanço.
Compreensivos ou não, complacentes não o foram de certeza os responsáveis do FC Porto, que, em 1992/93, encaminharam o defesa na direcção de Vila do Conde. No Rio Ave, ainda que de volta ao segundo escalão nacional, as suas prestações começaram a fazer recordar um tal de Morgado que, no longínquo Médio Oriente, havia, uns anos atrás, ajudado a erguer o troféu de campeão do mundo. Mas mais uma vez, o regresso ao patamar máximo, com a responsabilidade e exigência que isso acarreta, mostrou um jogador intermitente e incapaz de segurar, em definitivo, um lugar no onze inicial. Foi assim no Famalicão (1993/94), foi assim no Beira-Mar (1994/95) e só não continuou por aí em diante, porque a descida dos aveirenses voltou a mostrar o jogador que todos esperariam ver… na Primeira Divisão.
Ainda voltou ao "universo dos grandes", e, finalmente, com os números a apontar o trilho do sucesso. Mas se a sua contribuição individual para Desportivo de Chaves pôde ser considerada como positiva, já aquela que, nisto dos desportos colectivos, é a prestação que realmente importa, a da sua equipa, levou a que os flavienses fossem despromovidos. Com isto, veio também o seu eclipse. Assim, depois de representar o emblema transmontano, surpreendentemente, Morgado só viria a encontrar colocação na 2ª Divisão "B". Vestiu, nessa época de 1999/00, a camisola do União da Madeira, seguindo-se, nos anos vindouros, a do Leça e a do Felgueiras (ambos na Divisão de Honra).
O seu final de carreira ficaria marcado pela falta de fulgor, no entanto, aquilo que retiro desta pequena história, que é apenas a conclusão de um mero adepto da modalidade, é que Morgado passou ao lado de uma grande vida como profissional do futebol. Porquê? Não sei… é para mim um grande mistério!

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