444 - PAULO MADEIRA

Foi já como júnior que Paulo Madeira, vindo do Lusitano de Vila Real de Santo António, chegou ao Estádio da Luz. Em Lisboa acabou a sua formação e por altura do seu último ano nas escolas "encarnadas", viu o seu nome ser incluído na lista de convocados para o Mundial-s20 de 1989, realizado na Arábia Saudita. O facto daí ter participado em todos os desafios, daquela que foi uma caminhada vitoriosa, era o sinal, mais do que evidente, de que o defesa central tinha valor para, futuramente, singrar no seu clube. Terá sido com esta ideia em mente que os responsáveis técnicos benfiquistas, nomeadamente Sven-Göran Eriksson, mantiveram o jovem jogador no plantel. Claro está que, como é normal nestas situações, a sua afirmação não foi fácil. Na sombra de jogadores como Ricardo Gomes ou Aldair, as oportunidades não surgiam. É então que se entra na época de 1991/92. Surpreendentemente, para a dita temporada que naquele Verão começava, nenhum nome sonante era anunciado como reforço do sector mais recuado das "Águias". É assim que surge como aposta do, já referido, técnico sueco, o nome de Paulo Madeira. Ainda algo inexperiente, o risco de o apresentar como titular, foi grande. No entanto, o jovem central não iria desiludir ninguém e mostraria ao longo do Campeonato uma consistência exibicional digna dos grandes nomes da sua posição. Uma dessas exibições, que ficarão para sempre na nossa memória, foi o mítico Arsenal - Benfica, disputado em pleno Highbury Park. Ao lado de Rui Bento, outras das jovens promessas que por aquela altura acabara de despontar da formação, o central benfiquista faria um jogo praticamente imaculado, contribuindo, e de que maneira, para a eliminação dos londrinos e, acima de tudo, empurrando o Benfica para a participação na primeira edição da Liga dos Campeões.
Depois desta temporada, quando era esperado a sua afirmação como um dos pilares da equipa, Paulo Madeira começou, novamente, a perder algum espaço. Surge então o Marítimo. Na Madeira faz uma boa época. Contudo, este seu empréstimo acaba por vir, de certo modo, em má altura, pois o Benfica, nessa temporada de 1993/94, sagrar-se-ia Campeão Nacional, fazendo com que o jogador, no seu currículo, não pudesse juntar este título ao Campeonato de 1990/91 e à Taça de Portugal de 1992/93.
Com a chegada de Artur Jorge ao comando das "Águias", deu-se início a uma revolução, em que as purgas de balneário foram uma constante dos períodos de defeso. Um dos nomes indicados pelo treinador português para abandonar o clube, seria o de Paulo Madeira. Esta dispensa levá-lo-ia para a outra ponta da capital, onde, durante dois anos, envergou o azul do Belenenses. Mesmo após este revés, o jogador continuou a manter a qualidade apreciável que, até então, o caracterizava, motivo suficiente para voltar à órbita das pretensas contratações do Benfica. Mas quem "reinava" nesse tempo para os lados da 2ª circular, era João Vale e Azevedo. Escusado será dizer que o regresso de Paulo Madeira, como tantas outras histórias que por ali se passaram naquela altura, ficou envolto em polémica. Sem que vos consiga explicar o porquê das "habilidades" feitas, mas certo que as mesmas apareceram no intuito do Benfica nada pagar ao Belenenses, o atleta, numa primeira fase, seria "contratado" pelo Burgos, para, dias depois, ser inscrito pelo Levante. Finalmente, e já com a época a decorrer, o defesa viu um fim a este estranho périplo e acabou por vir parar ao Benfica.
Trapalhadas à parte, o seu regresso ao Benfica, apanhou o clube na fase mais triste da sua história. Este "arrastar pela lama", trouxe consequências para todos os que nele foram apanhados, e Paulo Madeira não foi excepção. A meu ver, injustamente apontado como medíocre, o defesa pagou, também ele, a factura de um clube em decadência. É certo, como muitos afirmaram, que não era o mais rápido dos centrais; é certo, também, que não era um dos mais virtuosos da equipa. Contudo, apelidarem de "mau" um jogador que, ainda pouco tempo antes, tinha feito parte da convocatória para a fase final do Europeu de 1996, ou porem em causa o valor de um atleta que, no total da sua carreira, conseguiria 24 internacionalizações, foi uma tremenda injustiça. Está bem que podemos justificar esta atitude dos adeptos pelo momento conturbado que o emblema vivia. Há contudo uma coisa que ninguém deve duvidar e isso é a paixão que Paulo Madeira sempre nutriu pelo clube. A prová-lo estão as horas que dizem ter passado na fila de espera, para conseguir votar numa das mais concorridas eleições do Benfica. Essas mesmo que ditariam a derrota do Presidente já aqui citado, elegendo para o seu lugar Manuel Vilarinho.

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