446 - TOZÉ

Ao contrário de tantos outros praticantes que com ele partilhavam o balneário das selecções nacionais, o médio não vinha do Benfica, do Sporting ou do FC Porto. Contudo, tal facto não o diminuía, não o tornava pior que ninguém, nem o impedia de chegar onde os outros também chegavam. Tozé era um "bebé" do Leixões. Dele, tal como a vontade das gentes do mar que, de Matosinhos, sua terra natal, conduz a faina, saía a força para encabeçar toda uma geração de futebolistas. Foi esse legado de coragem a transformar o inocente futebolista no capitão de Portugal, foi essa valentia, que de pequena se fez tão grande, a trazer a inspiração a um grupo de jovens atletas, a fazê-los querer mais, a desejar acrescentar mais vitórias à sua fortuna – “Na altura nem imaginava que era possível chegar a levantar o troféu. Ainda hoje é inacreditável, porque todos continuam a associar-me à imagem do campeão do Mundo que levantou a taça”*.
A campanha de 1988/89, época do referido Campeonato do Mundo sub-20, marcaria para Tozé, após a estreia sénior no ano anterior, o arranque da sua caminhada na 1ª divisão. Num Leixões de volta aos palcos principais do futebol português, os momentos de aprendizagem, em tão exigente contexto, surgiriam como uma enorme oportunidade. No entanto, o que devia ser a normal evolução de uma carreira ainda a dar os passos iniciais, haveria de ser interrompida pela despromoção do clube. Mesmo a viver o revés da descida, o jovem atleta, alimentado por uma ambição natural, saberia tirar partido da situação adversa e acabaria por conquistar a titularidade no grupo matosinhense. Porém, para o médio que, na Arábia Saudita, tinha levantado ao alto, muito mais do que um troféu, o orgulho de um país, a divisão de Honra era pequena demais para os seus sonhos. Apareceria então o plantel de 1992/93 do Tirsense. Prémio justo, é certo. Também não é menos verdade dizer-se que talvez tivesse merecido um pouco mais. Quiçá devesse ter tido a chance de mostrar as suas habilidades em universos de outras montas. Ainda assim, o jogador pode orgulhar-se de ter conseguido atingir metas importantes: ultrapassou, nas 7 temporadas no escalão máximo, os 150 jogos; vestiu, ao mais alto nível, para além das camisolas dos já referidos Leixões e Tirsense, as do Leça e do Alverca; e fechou a sua vida como futebolista, de volta ao listado dos “Bebés”, com a melhor prenda de todas, a presença na final da Taça de Portugal de 2001/02.
Depois do termo da carreira como praticante profissional, Tozé não abandonaria o futebol. Nesse sentido, teria passagens pelo comando técnico de alguns clubes, como o Padroense e o Pedras Rubras e voltaria ao rectângulo de jogo pelos amadores do Custóias. Contudo, o seu verdadeiro objectivo seria cumprido nos livros e nos cadernos da escola, com o antigo internacional a regressar à vida académica e a licenciar-se em Educação Física e Desporto, no Instituto Superior da Maia.

*retirado do artigo publicado a 5/1/2011, em https://desporto.sapo.pt

Ver também a rubrica "Recortes"

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