729 - ANTÓNIO PEDRO

Indo assistir aos treinos do Operário Vilafranquense, a sua pequena estatura fazia com que os responsáveis pela equipa achassem que não tinha condições para singrar no futebol. Todavia, e por falta de um dos jogadores, um dia pedem ao jovem adepto para se juntar ao grupo. Mesmo jogando à defesa, posição a que não estava habituado, as suas habilidades haveriam de impressionar o responsável técnico da equipa, que pede a António Pedro para voltar a aparecer no campo.
Por razões burocráticas a sua inscrição seria adiada até à data do seu 17º aniversário. É por essa altura que, então, o médio faz a sua estreia pela equipa de juniores do Operário Vilafranquense:
 
“- Joguei a interior e marquei um golo... que me custou um olho negro !
- Bateram-lhe?
Sem querer, um adversário ao tentar aliviar com um pontapé "de bicicleta", apanhou-me a vista, quando meti a cabeça à bola para marcar o golo...
- De modo que deve ter recebido os abraços de felicitações a ver estrelas...
António Pedro riu-se e concordou (…)”*.

 
Já no seu segundo ano como júnior, António Pedro haveria de marcar presença em algumas das partidas das “reservas” e, igualmente, da primeira equipa. Contudo, só a partir da temporada de 1947/48 é que, em definitivo, passa a fazer parte do plantel principal.
Ainda que sem a experiência dos seus colegas, o jovem futebolista, que tanto podia jogar a médio centro como a interior, depressa começaria a exibir excelentes qualidades. Apesar de franzino, a disponibilidade que mostrava em campo, tornavam-no num dos melhores jogadores do emblema ribatejano. Rápido, com um bom passe e uma leitura de jogo superior, o atleta gostava de assumir a responsabilidade pela organização das jogadas. O peso que tinha no seio do grupo era enorme, e com o clube a abandonar a Associação de Futebol de Santarém para se juntar à de Lisboa (1949/50), António Pedro tornar-se-ia num dos principais responsáveis pelas consecutivas subidas de divisão.
Seria durante um encontro disputado em Pombal, partida a contar para a final da 3ª divisão, que António Pedro é descoberto por um antigo árbitro vila-franquense. Com residência nas Caldas da Rainha, o ex-juiz de jogo, que tinha por amigos alguns dos responsáveis do Caldas SC, dá boas indicações sobre o atleta. Convencidos do seu real valor, os dirigentes do clube, no intuito de o contratarem, partem para Vila Franca de Xira. Depois de muitas ofertas e outras tantas contrapropostas, é a altas-horas da noite, e já em plena rua, que o acordo é conseguido: para o clube – 12.500 escudos; para o atleta – um subsídio mensal de 500 escudos e a promessa de um emprego, onde iria auferir de um salário de 1.200 escudos.
Depois de trocar de emblema, mesmo tendo continuado a jogar na 3ª divisão, António Pedro começa a ser alvo de cobiça. O Sporting seria o primeiro a tentar a sua sorte e o atleta chegaria mesmo a treinar em Alvalade. Todavia, e achando o treinador Álvaro Cardozo que o médio não tinha qualidade suficiente para se juntar à equipa principal, a proposta para integrar a equipa de “reservas” e as fracas contrapartidas financeiras acabariam por não convencer António Pedro, que recusaria a oferta.
Com o avançar dos anos, e com o Caldas a subir na hierarquia das divisões, outras propostas foram surgindo. Sporting de Braga, Belenenses, Benfica e até o Ferroviário de Luanda, por diversas razões, foram sendo recusados. É nisto que o Caldas surge na 1ª divisão. No patamar mais alto do nosso futebol, o médio torna-se num dos atletas mais influentes do grupo. Tão importante era, que chega a ser chamado aos trabalhos da Selecção Nacional. Mesmo sem ter conseguido a tão almejada internacionalização, António Pedro continuaria como um dos mais utilizados no Caldas SC e peça fulcral das 4 campanhas feitas pelo emblema caldense nos grandes palcos do futebol português.
O seu caminho continuaria e terminaria no Caldas SC. Já depois de aí ter merecido a braçadeira de capitão e de ter granjeado a devoção de todos os que o viram jogar no Campo da Mata, António Pedro decide pôr um ponto final na sua vida de futebolista. Ainda assim, o antigo médio, que, ainda hoje, é tido como o melhor jogador a ter passado pelo emblema das Caldas da Rainha, continuaria ligado à modalidade. Nas funções de treinador, faria carreira no Caldas SC e, a exemplo, também no União de Santarém.

 
*excerto da entrevista dada à revista “Crónica Desportiva”, a 30 de Março de 1958

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