892 - JORGE HUMBERTO

Era ainda um aluno do liceu quando, na Académica do Mindelo, começa a dar os primeiros chutos na bola. A vontade de continuar os estudos e a ilusão de poder construir um futuro no futebol, levá-lo-ia a querer mudar-se para Coimbra. Juntamente com dois amigos, tal como ele de famílias modestas, decidem ir falar com o Governador de Cabo Verde e pedir ajuda. O auxílio chegaria na forma de bolsa que, a dividir pelos três rapazes, tinha duração de apenas 6 meses.
Mesmo com tão escasso recurso, os amigos não pensaram duas vezes. Viajam para Portugal e, aí chegados, dão forma aos seus sonhos. Todavia, para Jorge Humberto havia algo mais a perseguir. Feitas provas na “Briosa”, a velocidade que apresentava em campo, a força física e a facilidade com acertava nas balizas adversárias abrir-lhe-iam um lugar nos juniores da equipa conimbricense. Já no campo académico, a dúvida entre Engenharia e Medicina depressa desapareceria. O atleta decidir-se-ia por atacar a vida de médico e, entre os livros e as chuteiras, lá ia alinhavando o seu futuro.
Pertencendo a uma das mais brilhantes gerações da Académica de Coimbra, onde a figura do atleta-estudante era a alma da equipa, Jorge Humberto chega à primeira categoria. Maló, Manuel António, os irmãos Mário e Vítor Campos ou Artur Jorge seriam alguns dos nomes que o acompanhariam nessa aventura. Em 1956/57, Cândido de Oliveira dá-lhe a oportunidade de fazer a estreia pela equipa principal. Contudo, o azar bate-lhe à porta e a grave lesão contraída nesse jogo chega a pôr a sua carreira em causa. Recupera. Ainda volta aos juniores, mas a sua qualidade, de tão inegável que era, não o afastaria por muito mais tempo dos grandes palcos do futebol.
Já no rescaldo da temporada de 1960/61, e em plena época de exames, Jorge Humberto recebe um telefonema estranho. Do outro lado da linha, convidando-o a juntar-se ao Inter de Milão, apresentava-se o treinador Helenio Herrera. Acreditando tratar-se de uma partida, o avançado desligaria a primeira chamada. Perante a insistência de quem ligava, foi então que o jogador decide pedir que asseverassem a veracidade de tal conversa, com o envio de um telegrama. A confirmação chegaria pouco tempo depois e a surpresa daria lugar a um sentimento arrebatador.
Em Milão, para onde viajaria a fim de jogar uma partida amigável, o avançado causaria boa impressão. Os golos marcados ao Spartak assegurar-lhe-iam um lugar no meio de atletas como Sandro Mazzola, Giacinto Facchetti ou Lorenzo Buffon. Mesmo tendo características que agradavam ao já referido técnico argentino, a verdade é que a limitação de dois estrangeiros imposta pela liga italiana, influenciaria a afirmação do atacante. Com o espanhol Luis Suárez e o inglês Gerry Hitchens à sua frente, Jorge Humberto poucas oportunidades conseguiria durante a temporada passada com as cores “Nerazzurri”. Seguir-se-iam dois anos no Vicenza. Todavia, a vontade de terminar o curso de medicina sobrepor-se-ia à proposta para continuar no “calcio”, acabando o atleta por regressar a Portugal.
Depois de 2 mais épocas na Académica, a decisão de pôr um ponto final na carreira de futebolista precipitar-se-ia com o surgimento de uma grave lesão. Nesse mesmo de 1966, termina também o curso. Depois veio o destacamento para a guerra em Angola e o adiar de mais um sonho. Essa meta, a da especialização em Pediatria, conclui-la-ia passados alguns anos. Desde então, essa tem sido a sua ocupação, a qual, nos anos 80, levá-lo-ia a mudar-se para Macau.

Sem comentários: