1031 - JOSÉ HENRIQUE

Apesar de ter passado pelas “escolas” do Benfica, só passados já uns bons anos é que José Henrique daria o seu cunho à história dos “Encarnados”. Entretanto, apareceria a oportunidade de fazer a estreia como sénior no Amora. Na Medideira, sempre nos escalões inferiores, jogaria as 3 temporadas que o levariam ao nosso escalão máximo. O Seixal e o Campo do Bravo abrir-lhe-iam, nessa temporada de 1964/65, as portas da 1ª divisão. Porém, a época que empurraria o guarda-redes para o estrelato, seria feita por outro emblema. Um ano volvido, e de regresso ao 2º patamar, seria nos alcantarenses do Atlético que as suas exibições levariam Fernando Cabrita a (re)descobri-lo.
A sua entrada na “Luz” acabaria, mesmo sem ninguém assumir tal ideia, por ter a pesada premissa de substituir o mítico Costa Pereira. Tal fardo, só possível de carregar por alguém de grande calibre, não esmoreceria o recém-chegado jogador. A primeira época, a de 1966/67, ainda a viveria na sombra dessa ideia e da concorrência de Nascimento. Contudo, logo na seguinte, o cenário cambiaria. O guardião, com a sua habilidade felina, agarrar-se-ia à titularidade. Tal seria a confiança nas suas qualidades que Fernando Riera, entretanto chegado ao clube, escolheria o jogador para ir a Wembley e jogar a final da Taça dos Clubes Campeões Europeus. Para ser correcto, a escolha não deverá ter sido muito difícil. Muito mais que um guarda-redes, José Henrique era um atleta notável. Sem ter uma estatura impressionante, a sua agilidade compensava tudo. Essa ligeireza, combinada com a bravura mostrada em todas as suas saídas dos postes, faziam de si uma figura ímpar. A alcunha “Zé Gato” servir-lhe-ia que nem uma luva. Todavia, nessa tarde de Londres nem os seus voos conseguiriam parar o Manchester United. O Benfica sairia derrotado e a oportunidade de vencer o mais prestigiante troféu de clubes perder-se-ia com o desenrolar do prolongamento.
Apesar do desaire vivido em Inglaterra, os títulos que conseguiria ganhar pelas “Águias” surgiriam, na sua caminhada, em boa quantidade. Campeonatos, incluída a invicta campanha de 1972/73, seriam 8. A esses, ainda há que somar 3 Taças de Portugal. Mas nisso de conquistas faltar-lhe-ia uma outra coisa. Apesar da vaidade em vesti-la, a camisola da selecção haveria de ser uma luta, sem querer exagerar, um pouco madrasta. A culpa, sem sombra de dúvidas, tomaria corpo na existência de Vítor Damas. A lenda do futebol português, tornar-se-ia no grande responsável pela sua modesta carreira com as cores das “quinas”. Ainda assim, e mesmo com tamanha concorrência, nunca faltou a José Henrique o orgulho de representar o seu país. Tal honra atingiria o expoente máximo, aquando da participação na Minicopa de 1972. Com exibições de uma excelência impossível de relatar, o guardião haveria de ser um dos pilares de um grupo ainda órfão da geração de 1966. O fantasma dos “Magriços” sairia quase exorcizado dessa passagem pelo torneio disputado no Brasil. Porém, Portugal claudicaria na final. Querem um culpado? Então, a sentença terá que ser lida a Jairzinho e ao golo que, aos 89 minutos, subtrairia a taça ao palmarés luso.
Mesmo ligada incontornavelmente às “Águias”, a sua carreira haveria de ter outros emblemas. Para além dos já referidos e que colorariam os primeiros anos do seu trajecto como sénior, outros houve que também preencheriam o seu currículo. Primeiro, a referência para uma daquelas, tão habituais nos anos 70, estivais passagens pela liga norte-americana. Na NASL (North American Soccer League) de 1971, José Henrique envergaria as cores dos Toronto Metros. Mais tarde, já no ocaso do seu trajecto desportivo, apareceriam ainda o Nacional da Madeira e o Sporting da Covilhã. Na Serra da Estrela surgiria a oportunidade, enquanto treinador-jogador, de dar os primeiros passos nas tarefas de técnico. Longínqua memória que nos reporta para o papel que, com a viragem do milénio, passaria a desempenhar. Integrado nos quadros do Benfica, o antigo internacional haveria de cumprir, durante largos anos, um papel importante na formação de novos talentos.

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