1055 - MANICHE

Cumpriria todo o trajecto de formação nas “escolas” do Benfica. Evoluiria como homem e desportista com a “Águia” ao peito e sob o olhar atento de Arnaldo Teixeira. Curiosamente, seria também o referido técnico, recordado pelo atleta como uma referência no seu crescimento, que o alcunharia. Por culpa dos cabelos compridos e louros, a comparação com o dinamarquês Michael Manniche, muito mais do que uma inevitabilidade, transformar-se-ia num carinho. Nuno Ribeiro passaria a chamar-se Maniche e a cada ano caminhado mais evidente começariam a tornar-se as suas qualidades futebolísticas.
A chamada à equipa sénior do Benfica aconteceria na temporada de 1995/96. Convocado por Artur Jorge aos trabalhos do conjunto principal, o despedimento do treinador faria com que a primeira partida por si jogada fosse sob a orientação de Mário Wilson. Porém, e depois desse duplo embate com o Lierse na Taça UEFA, o médio demoraria a ter nova oportunidade. Na época seguinte, resultado da parceria existente com o Alverca, o jovem jogador passaria a integrar o plantel do emblema “satélite” das “Águias”.
As 3 temporadas no Ribatejo, com a derradeira campanha a levá-lo à estreia na 1ª divisão, serviriam para que ganhasse mais estaleca. Cumprido esse propósito, o regresso à “Luz” aconteceria na temporada de 1999/00. Jupp Heynckes, à altura o treinador dos “Encarnados”, poucas dúvidas teria em apostar no médio. Ao tornar-se num dos elementos mais utilizados dentro do plantel, Maniche rapidamente vincaria a sua importância e qualidade. Jogador de características impares, os seus atributos permitir-lhe-iam posicionar-se tanto no centro do terreno, como mais descaído para as alas. Em ambas as funções, os seus predicados mostrariam alguém com uma aptidão especial para conduzir o fluxo ofensivo de jogo. Sem se esgotar nas tarefas atacantes, o atleta conseguiria oferecer ainda mais à estratégia de grupo. Lutador, tornar-se-ia igualmente importante nas tarefas defensivas. Para finalizar, surgiram os golos! Dono de um chuto fácil, a meia-distância torná-lo-ia num dos mais prolíferos rematadores da equipa.
Apesar da sua preponderância, tricas paralelas ao jogo jogado afastá-lo-iam da equipa – “O presidente queria que eu mudasse de empresário, era a condição que metia para renovar. Obviamente recusei. O Benfica renovava comigo, não era o empresário que jogava. Fui colocado a treinar à parte”*. Oficialmente, a contenda e respectivo castigo seriam vinculadas às declarações públicas do atleta, após uma crítica feita por Manuel Vilarinho. A verdade é que, depois dessa temporada de 2001/02, em que apenas apareceria pelo conjunto “B”, Maniche abandonaria o emblema da “Luz”. A saída do Benfica abriria um novo capítulo no seu caminho, ainda assim com uma cara conhecida!
 Seria a pedido de José Mourinho, que já o tinha orientado em Lisboa, que Maniche acabaria por assinar pelo FC Porto. Nos “Azuis e Brancos”, o médio fixar-se-ia como um das peças fulcrais da manobra idealizada pelo referido treinador e que tanta glória traria ao emblema nortenho. Em 3 anos de “Dragão” ao peito, o jogador contribuiria para as vitórias em 2 Campeonatos Nacionais, 1 Taça de Portugal e 1 Supertaça. Obviamente que, para além desses títulos, seriam os troféus ganhos nas competições continentais que catapultariam verdadeiramente a sua carreira. Tendo sido titular em todas as finais, as conquistas da Taça UEFA de 2002/03, da Liga dos Campeões de 2003/04 e da Taça Intercontinental de 2004/05 acabariam por tornar faustoso o seu palmarés.
Paralelamente ao percurso feito com as cores do FC Porto, Maniche também começaria a viver grandes momentos com a camisola de Portugal. Depois de uma vasta carreira nas camadas jovens, seria pela mão de Luiz Felipe Scolari que o médio voltaria a vestir a “camisola das quinas”. Com a estreia pelo principal conjunto luso a acontecer em Março de 2003, os pontos altos da sua caminhada internacional vivê-los-ia com a participação nas fases finais dos mais importantes certames de selecções. No Euro 2004, organizado no nosso país, faria parte do meio-campo que sustentaria a equipa nacional até à derrota na final. Já em 2006, seria convocado para disputar o Mundial e, na Alemanha, ajudaria à chegada ao 4º posto.
A última parte da sua carreira caracterizar-se-ia por algumas inconstâncias. Ao procurar dar seguimento ao seu trajecto profissional no estrangeiro, a primeira oportunidade surgiria vinda da Rússia. Porém, a sua passagem pelo Dynamo de Moscovo, para além dos óbvios benefícios financeiros, ficaria muito aquém do espectável. Curiosamente, também nessa etapa fora-de-portas, José Mourinho acabaria por desempenhar um papel importante. Inadaptado à realidade do futebol russo, seria o “Special One” a resgatá-lo e a levá-lo para o Chelsea. Passados mais uns anos e já como jogador do Atlético Madrid, a chance de envergar as cores do Inter de Milão, mais uma vez, surgira pela mão do referido treinador português.
Para finalizar, às experiências vividas na Rússia, Espanha, Inglaterra e Itália há ainda que acrescentar a sua passagem pelos alemães do FC Köln. Apesar dos altos e baixos, é inegável que, durante vários anos, Maniche representaria importantes equipas, nos mais cotados campeonatos europeus. Irrefutáveis seriam também os títulos ganhos durante essa fase. Nesse sentido, há que destacar as vitórias na “Premier League” e na “Serie A” do “Calcio”.
O Sporting Clube de Portugal, assumidamente o emblema do seu coração, tornar-se-ia no último da sua carreira enquanto futebolista profissional. Depois da temporada de 2010/11, vivida em Alvalade, Maniche retirar-se-ia dos relvados. Tendo “pendurado as chuteiras”, o antigo médio não deixaria o futebol. Como adjunto de Costinha no Paços de Ferreira e na Académica, experimentaria as tarefas de treinador. Mais curiosa seria a sua passagem pela Madeira, onde, no Camacha, desempenharia as funções de Presidente da SAD.

*retirado da entrevista conduzida por Mariana Cabral, publicada a 27/09/2015, em https://tribunaexpresso.pt

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