1207 - JOSÉ MARIA


Oriundo de uma família pobre, a pesca, ainda em criança, tomaria conta da sua vida. Porém, apesar de muito ocupado pela actividade profissional, José Maria conseguiria arranjar tempo para alimentar a paixão pelo futebol. Seria assim que, em idade adolescente, tentaria a sorte no Varzim. Ficaria. No entanto, as faltas dadas por razão dos labores da faina, levariam os responsáveis pelas camadas jovens do emblema poveiro a mandá-lo embora. Dispensado, desistiu da modalidade. Só passado um par anos é que voltaria ao desporto e, dessa feita, ao Futebol de Salão. Regresso suficiente para chamar a atenção da modesta Associação Cultural e Desportiva de Fajozes e, daí em diante, abraçar a variante de “11”com outra força.
Depois de uma curta passagem pelo Castêlo da Maia, o Famalicão daria um novo fôlego à sua caminhada e logo em dois aspectos. Primeiro e com um contrato profissional, José Maria acabaria por deixar a vida no mar. Já o segundo pormenor viria com a substituição de dois colegas – “Eu era ponta de lança, sempre fui ponta de lança. Mas num jogo do Famalicão no terreno do Riopele ficámos sem dois jogadores de combate, que se lesionaram, logo aos vinte minutos: um central e um médio. O treinador era o Fernando Tomé, chamou-me ao banco e disse que só tinha um recurso: tinha de me meter a central. Acabámos por ganhar. A partir daí joguei como trinco, embora às vezes pudesse ser central ou lateral-direito”*.
Apesar de militar na 2ª divisão, os seus desempenhos fariam com que as 2 temporadas ao serviço da equipa minhota contribuíssem para cevar o seu valor. Esse crescimento levaria o Varzim a apostar na sua contratação. Ao mudar-se para o emblema da sua terra, orientado pelo “magriço” José Torres, José Maria, na campanha de 1983/84, teria a oportunidade para fazer a estreia no escalão máximo. Pouco afectado pelo acréscimo da exigência competitiva, o “trinco” logo assumiria um lugar no “onze” inicial. Aliás, a titularidade seria uma constante durante toda a sua caminhada desportiva. Como um atleta de raça, durinho e incapaz de virar as costas à luta, o médio tornar-se-ia indispensável para os treinadores. Poucas vezes seria preterido no alinhar da equipa e só o enorme azar de duas graves lesões contraídas, afastariam o médio dos campos da bola.
A primeira lesão, para além de um longo período de recuperação, interromperia as negociações e impediria mesmo a transferência do jogador para o Sporting. Já o segundo incidente, mais uma vez uma perna partida, aconteceria quando José Maria defendia as cores do Tirsense. Com convites de vários emblemas, a opção do médio-defensivo pelo emblema “jesuíta” levá-lo-ia, na temporada de 1988/89, a abraçar um novo projecto. Contribuiria, na campanha da sua chegada, para o regresso do clube à 1ª divisão. Depois, ajudaria a colectividade a manter-se no convívio com os “grandes”, mas o final da época de 1990/91, não evitada a despromoção, marcaria também o regresso do atleta à Póvoa de Varzim.
Pouco mais duraria a sua carreira desportiva. Ainda na primeira metade da década de 90, ao aceitar o desafio lançado pelos dirigentes dos “Lobos do Mar”, passaria a dedicar-se às tarefas de técnico, no papel de treinador-adjunto do Varzim. “Sol de pouca dura”, pois a decisão de José Maria, após um convite para orientar as camadas jovens da colectividade poveira que nunca chegaria a concretizar-se, seria a de voltar às lides da pesca.

*retirado do artigo de Sérgio Pereira, publicado a 26/04/2018, em https://maisfutebol.iol.pt

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