Natural de Ovar, nascido no seio de uma família abastada e dona de um próspero negócio de cereais, Correia Dias, com a mudança para a “Cidade Invicta” ditada por razão dos estudos, acabaria também por entregar-se à prática do “jogo da bola”. No FC Porto, com o treinador Mihaly Siska agradado com as habilidades do jovem atleta, o avançado-centro, a 22 de Outubro de 1939, seria chamado à estreia. Nesse encontro a contar para o “regional”, o atacante brilharia frente ao Leça e, com um golo, ajudaria à vitória caseira dos “Azuis e Brancos”.
Atleta corpulento, que a dada altura da carreira terá, em franca quantidade, ultrapassado os 100kg de peso, Correia Dias era tido como um jogador batalhador, ágil e dono de um sentido de oportunidade mortífero para os adversários. No entanto, mesmo ao possuir características de excelência para o desempenho das funções de ponta-de-lança, a presença de Kordnya no plantel, adiaria a sua afirmação no “onze” por um par de épocas. A titularidade conquistá-la-ia apenas na temporada de 1941/42. Depois de uma pesada derrota forasteira frente ao Sporting, o já referido técnico luso-húngaro lançá-lo-ia na equipa inicial. Com boas prestações, o avançado agarraria a oportunidade com “unhas e dentes” e os 36 remates certeiros na principal prova nacional sagrá-lo-iam como o Melhor Marcador do Campeonato.
Daí em diante, em grande maioria das ocasiões, o seu nome passaria a ser cogitado para o alinhamento da equipa principal. Apaixonado pela modalidade e pelo clube, mas sem qualquer carência económica, Correia Dias defenderia afincadamente o seu estatuto de atleta amador. O desafogo financeiro, que fazia com que a sua vida não dependesse do desporto, mas dos já aludidos negócios de família, levá-lo-ia, com a temporada de 1946/47 em curso, a deixar as ocupações dos “Dragões”, para preencher o tempo com as actividades geridas, em primeiro plano, pelo seu pai. No entanto, a falta de um substituto à altura para o lugar de avançado-centro, faria com o técnico “azul e branco” fosse no seu encalço. Endereçado o desafio para regressar à competição, o atleta anuiria ao convite. Todavia, teria que ceder na relutante recusa por um ordenado e, acima de tudo, enfrentar a visível má forma física – “O prazer de jogar pelo FC Porto, que há muitos anos represento, desde sempre, desde os meus tempos de estudante na capital do norte, vale bem mais do que «isso» de ganhar ou não ganhar. Obedeci. Nada mais (…).Eu acho o profissionalismo perfeitamente aceitável. É mesmo honroso ser profissional. Se eu precisasse do futebol, acredite que receberia desde há muito. Mas como isso não se tem dado – nunca pensei em remunerações do clube. Agora, posto o problema da disciplina e das «obrigações», considerada necessária a minha inclusão na equipa do meu clube, nestas condições, acedi e ganho. Pronto” (…). Actualmente estou com 105 quilos. Quando reapareci, engordei, e atingi cerca de 113 quilos. É o costume. Agora, graças a uma preparação adequada, estou a baixar de peso. O treinador Eládio Vascheto destinou-me também um sistema alimentar apropriado – que tem resultado”*.
Mesmo tendo acedido ao pedido para voltar, a sua ligação ao FC Porto não haveria de estender-se por muito mais tempo. Ainda assim, o jogador teria a ocasião de participar, e de deixar grande marca, num dos episódios mais marcantes da história do clube. No “particular” agendado para o Estádio do Lima a 6 de Maio de 1948, o avançado seria chamado a defrontar o Arsenal. Tidos os londrinos como um dos melhores conjuntos do mundo e com os prognósticos a indicar um desafio fácil para os “Gunners”, a verdade é que os “Dragões” excederiam todas as expectativas e, com 2 golos de Correia Dias e 1 de Araújo, sairiam da peleja como triunfantes.
Ao deixar a “Cidade Invicta” depois de iniciar a temporada de 1948/49 com as cores da agremiação “azul e branca”, Correia Dias regressaria à terra natal e com 5 Campeonatos “regionais” no palmarés. Sem que conseguisse confirmar em que moldes terá ocorrido, a existência de vários documentos, escritos e fotográficos, que testemunham a presença do atleta a envergar a camisola da Ovarense, leva-me a acreditar que a sua carreira não terá terminado com a saída do FC Porto. Tirando esta curiosidade, não poderia concluir esta pequena biografia sem referir um facto que acho extraordinário e que se prende com a incompreensível ausência de chamadas à selecção nacional, daquele que terá sido um dos melhores atletas a jogar em Portugal na década de 40.
*retirado da entrevista conduzida por Rodrigues Teles, publicada em “Stadium” (nº271), a 11 de Fevereiro de 1948.
Atleta corpulento, que a dada altura da carreira terá, em franca quantidade, ultrapassado os 100kg de peso, Correia Dias era tido como um jogador batalhador, ágil e dono de um sentido de oportunidade mortífero para os adversários. No entanto, mesmo ao possuir características de excelência para o desempenho das funções de ponta-de-lança, a presença de Kordnya no plantel, adiaria a sua afirmação no “onze” por um par de épocas. A titularidade conquistá-la-ia apenas na temporada de 1941/42. Depois de uma pesada derrota forasteira frente ao Sporting, o já referido técnico luso-húngaro lançá-lo-ia na equipa inicial. Com boas prestações, o avançado agarraria a oportunidade com “unhas e dentes” e os 36 remates certeiros na principal prova nacional sagrá-lo-iam como o Melhor Marcador do Campeonato.
Daí em diante, em grande maioria das ocasiões, o seu nome passaria a ser cogitado para o alinhamento da equipa principal. Apaixonado pela modalidade e pelo clube, mas sem qualquer carência económica, Correia Dias defenderia afincadamente o seu estatuto de atleta amador. O desafogo financeiro, que fazia com que a sua vida não dependesse do desporto, mas dos já aludidos negócios de família, levá-lo-ia, com a temporada de 1946/47 em curso, a deixar as ocupações dos “Dragões”, para preencher o tempo com as actividades geridas, em primeiro plano, pelo seu pai. No entanto, a falta de um substituto à altura para o lugar de avançado-centro, faria com o técnico “azul e branco” fosse no seu encalço. Endereçado o desafio para regressar à competição, o atleta anuiria ao convite. Todavia, teria que ceder na relutante recusa por um ordenado e, acima de tudo, enfrentar a visível má forma física – “O prazer de jogar pelo FC Porto, que há muitos anos represento, desde sempre, desde os meus tempos de estudante na capital do norte, vale bem mais do que «isso» de ganhar ou não ganhar. Obedeci. Nada mais (…).Eu acho o profissionalismo perfeitamente aceitável. É mesmo honroso ser profissional. Se eu precisasse do futebol, acredite que receberia desde há muito. Mas como isso não se tem dado – nunca pensei em remunerações do clube. Agora, posto o problema da disciplina e das «obrigações», considerada necessária a minha inclusão na equipa do meu clube, nestas condições, acedi e ganho. Pronto” (…). Actualmente estou com 105 quilos. Quando reapareci, engordei, e atingi cerca de 113 quilos. É o costume. Agora, graças a uma preparação adequada, estou a baixar de peso. O treinador Eládio Vascheto destinou-me também um sistema alimentar apropriado – que tem resultado”*.
Mesmo tendo acedido ao pedido para voltar, a sua ligação ao FC Porto não haveria de estender-se por muito mais tempo. Ainda assim, o jogador teria a ocasião de participar, e de deixar grande marca, num dos episódios mais marcantes da história do clube. No “particular” agendado para o Estádio do Lima a 6 de Maio de 1948, o avançado seria chamado a defrontar o Arsenal. Tidos os londrinos como um dos melhores conjuntos do mundo e com os prognósticos a indicar um desafio fácil para os “Gunners”, a verdade é que os “Dragões” excederiam todas as expectativas e, com 2 golos de Correia Dias e 1 de Araújo, sairiam da peleja como triunfantes.
Ao deixar a “Cidade Invicta” depois de iniciar a temporada de 1948/49 com as cores da agremiação “azul e branca”, Correia Dias regressaria à terra natal e com 5 Campeonatos “regionais” no palmarés. Sem que conseguisse confirmar em que moldes terá ocorrido, a existência de vários documentos, escritos e fotográficos, que testemunham a presença do atleta a envergar a camisola da Ovarense, leva-me a acreditar que a sua carreira não terá terminado com a saída do FC Porto. Tirando esta curiosidade, não poderia concluir esta pequena biografia sem referir um facto que acho extraordinário e que se prende com a incompreensível ausência de chamadas à selecção nacional, daquele que terá sido um dos melhores atletas a jogar em Portugal na década de 40.
*retirado da entrevista conduzida por Rodrigues Teles, publicada em “Stadium” (nº271), a 11 de Fevereiro de 1948.
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