1225 - BEN DAVID

Ao dar os primeiros passos no Clube Sportivo Mindelense, seria também no emblema cabo-verdiano sediado na Ilha de São Vicente que chegaria ao futebol sénior. Como um avançado dotado de excelsas qualidades, que inicialmente costumava posicionar-se tanto como extremo ou como avançado-centro, Henrique Ben David logo começaria a ser falado como uma das grandes promessas do desporto luso.
Na sequência de tão bons predicados, não tardaria muito até que o atacante visse marcada a viagem até à Metrópole. Chegaria à capital pela mão do tio Alector Sena, antigo praticante no já referido emblema do Mindelo e também no portuense Boavista. Mas apesar do assédio dos “grandes”, Ben David, com os olhos postos numa segurança financeira que o futebol, à altura, não dava, preferiria a proposta laboral vinda das empresas da CUF, aos desafios lançados por Benfica, Sporting e Belenenses. Começaria pelo emblema “fabril” associado às unidades instaladas na margem norte do Tejo. Todavia, a passagem pelos Unidos de Lisboa seria curta e o fecho da fábrica que directamente suportava o referido emblema, levá-lo-ia a atravessar o rio.
A partir da temporada de 1945/46, o avançado passaria a integrar o plantel da CUF do Barreiro. No escalão secundário, partilharia o balneário com atletas como Travassos ou Vasques. Seria, no entanto, com o regresso a Lisboa que Ben David começaria, em definitivo, a afirmar-se no futebol português. A transferência para o Atlético, empurrá-lo-ia até à edição de 1947/48 da 1ª divisão. Com algumas dificuldades iniciais para conseguir segurar um lugar no “onze” dos “Alcantarenses”, a temporada seguinte à da sua entrada na Tapadinha revelá-lo-ia como um dos principais elementos da equipa. No lugar de ponta-de-lança, destacar-se-ia como um atleta com um poder de impulsão fantástico, ao qual aliaria uma técnica de cabeceamento superior. Com o somar de boas exibições, o atacante rapidamente passaria de um dos mais importantes elementos do alinhamento “alfacinha”, para ser visto como uma das estrelas do Campeonato Nacional.
Ao ver alimentada a fama, o passo seguinte da sua carreira chegaria sob a alçada da Federação Portuguesa de Futebol. Chamado aos trabalhos da selecção “A”, seria pela mão da tripla Salvador do Carmo, João Brito e Amadeu Rodrigues que Ben David conseguiria estrear-se por Portugal. A 14 de Maio de 1950, frente à Inglaterra, seria arrolado para um “particular” agendado no Estádio do Jamor. Aliás, o desempenho frente à congénere britânica, com os dois golos por si marcados a atenuarem a derrota por 3-5, mereceria, por parte das hostes opositoras, elevados enaltecimentos. Os elogios seriam de tal ordem, que o atleta haveria ser classificado pelos pares adversários, como um intérprete de cariz técnico superior e um dos melhores avançados-centro que os “3 Lions” já alguma vez tinham defrontado.
Tido como um dos grandes praticantes a actuar em Portugal, senão o melhor, a Ben David continuariam a chegar vários convites. Para além das constantes recusas às solicitações endereçadas pelos maiores emblemas nacionais, também do estrangeiro emergiria uma proposta. O Stade Français, emblema parisiense, oferecer-lhe-ia um salário milionário, prémios de jogo exuberantes e, atendendo à sua paixão pela mecânica automóvel, um lugar junto de uma das grandes marcas gaulesas. Os dirigentes do Atlético, perante a recusa dos franceses em pagar 300 contos, negar-lhe-iam a saída. Manter-se-ia pelo bairro de Alcântara até ao fim da carreira. A excepção surgiria em 1951, aquando de uma digressão do Sporting pelo Brasil e que, na condição de “emprestado”, daria ao ponta-de-lança a oportunidade de jogar no Maracanã.
Infelizmente para Ben David, as lesões cedo apareceriam. Depois de uma intervenção cirúrgica mal sucedida ao joelho direito, o avançado começaria a perder a preponderância no seio do “onze” alcantarense. Ao nunca conseguir debelar o estrago no menisco, a mazela levá-lo-ia a retirar-se
com o término da temporada de 1954/55, contava apenas 28 anos de idade. Porém, a paixão pela modalidade manter-se-ia bem presente. Na segunda metade da década de 50, aceitaria o convite do Santa Clara e mudar-se-ia para a ilha de São Miguel. No arquipélago permaneceria até ao fim da vida e treinaria outras equipas como o União Sportiva, o União Micaelense, o Marítimo Sport Clube e até a selecção dos Açores.
Retirado das lides competitivas, passaria a trabalhar para a RTP Açores e assumiria as rédeas do programa “Teledesporto”.

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