1277 - JACINTO

Nascido nas Barrocas, Cova da Piedade, seria na Margem Sul que Jacinto Marques encetaria a prática do futebol. Liberdade FC, Piedense e Aldegalense precederiam a travessia do Rio Tejo e a contratação pelo Carcavelinhos. No emblema de Alcântara, para além de começar a receber contrapartidas financeiras, o atleta também ganharia notoriedade suficiente para merecer a atenção de um dos “grandes” do cenário português. Tido como um atleta de trabalho, aguerrido, mas, contrariamente ao típico defesa daquela altura, dotado de habilidade com a bola nos pés, o Benfica acabaria por despender 10 contos para a obtenção do seu” passe”.
Chegaria às “Águias” na época de 1943/44, com 21 anos de idade e para reforçar o plantel sob a batuta de János Biri. Porém, mesmo bem cotado, a presença  de atletas mais experientes, casos de César Ferreira ou de Gaspar Pinto, daria a Jacinto poucas oportunidades nas duas primeiras campanhas. Seria já no desenrolar da temporada de 1945/46 que o defesa, ou médio-direito, acabaria por conquistar o seu lugar no “onze”. A partir desse momento, a sua importância no esquema táctico desenhado pelos diferentes treinadores contratados pelo Benfica, cresceria exponencialmente. Outra prova da sua evolução viria com a chamada aos trabalhos da Federação Portuguesa de Futebol. Nesse âmbito, sem ter chegado a internacional “A”, conseguiria, no entanto, uma chamada à equipa “B” e, a 3 de Maio de 1947, entraria no Stade du Parc Lescure para defrontar a França.
Tido como um modelo para colegas e adversários, exemplo de abnegação e lealdade, também o dever de capitão haveria de ser entregue à sua responsabilidade. Aliás, seria nessa condição que participaria num dos grandes momentos da história “encarnada”. Com a Taça Latina de 1950 agendada para o Estádio Nacional, atingiriam o derradeiro desafio o Benfica e os gauleses do Bordeaux. Depois de ter participado na final, encontro que, após o prolongamento, terminaria 3-3, o treinador Ted Smith voltaria a chamar Jacinto para o encontro da finalíssima. Como líder em campo, tornar-se-ia de fulcral importância para a vitória do colectivo português por 2-1. No entanto, com a conquista a ser obtida após dois prolongamentos (150min), o cansaço do defesa seria de tal ordem que o impediria de subir à tribuna presidencial e, para erguer o troféu, acabaria nomeado Rogério de Carvalho.
Curiosamente, seria após a conquista do referido troféu internacional que Jacinto, progressivamente, começaria a desaparecer das fichas de jogo. O ocaso acentuar-se-ia de tal maneira que, na época de 1953/54, o jogador não participaria em qualquer partida oficial. Chegaria a equacionar-se um “jogo de despedida”, mas a entrada de Otto Glória para o comando das “Águias” alteraria os planos de reforma do atleta. Ao entender a sua importância para o grupo, o treinador brasileiro convencê-lo-ia a reverter a decisão de deixar o futebol. Sob a alçada do referido técnico, voltaria a recuperar o lugar no “onze” e, mais uma vez, tornar-se-ia num pilar das conquistas do Benfica.
Com uma idade já bem avançada até para um veterano, o termo da campanha de 1956/57 traria também o final da carreira de Jacinto enquanto futebolista. Como uma das figuras históricas da existência do Benfica, ainda hoje é recordado como um grande atleta. Para tal, em muito contribuiriam os números somados durante a carreira. Nesse sentido, podemos referir as 14 temporadas em que o atleta representaria as “Águias”. Durante esse período, os títulos engrossariam a sua preponderância e, para o palmarés pessoal, para além da aludida vitória na Taça Latina, arrecadaria 4 Campeonatos Nacionais e 4 Taças de Portugal.

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