1317 - ANTÓNIO GARRIDO

Cresceria na Marinha Grande e desde muito cedo revelaria um grande entusiasmo pelo futebol. Ao juntar a sua paixão pela modalidade com a habilidade para a escrita, cedo passaria a ser colaborador do Mundo Desportivo. Curiosamente, uma das suas marcas enquanto jornalista, seriam as críticas à arbitragem, classe de quem chegou a dizer não gostar! De seguida virar-se-ia para o dirigismo e, nessas tarefas, acabaria a desempenhar funções no Marinhense.
Numa altura em que também já exercia a profissão de contabilista, deixaria o emblema referido no parágrafo anterior para abraçar as actividades da arbitragem. Com a estreia a acontecer em 1964 ainda como fiscal de linha, pouco tempo depois, numa partida entre “Os Nazarenos” e o Mirense, António Garrido encetaria o percurso como árbitro-principal. Durante essa caminhada de quase duas décadas, caracterizar-se-ia por ser um elemento com forte tendência para dialogar com os atletas e, tirando raras situações, por pouco utilizar os cartões disciplinares. Uma das excepções ocorreria com o benfiquista Artur que, como pedido de desculpas pelo comportamento que levaria à sua expulsão, acabaria a temporada a oferecer-lhe a faixa de campeão. Outra dessas escassas ocasiões passar-se-ia com um dos grandes astros do futebol mundial, Johan Cruyff. No entanto, um pouco à imagem do mencionado para defesa português, o jogador neerlandês teria a humildade de reconhecer a atitude menos própria e, no dia a seguir a ver o “vermelho”, dirigir-se-ia ao hotel onde o juiz estava hospedado para reconhecer o erro e oferecer a sua camisola.
Claro está que não foi só a faceta de mediador que levaria António Garrido a ser aferido como um dos melhores árbitros mundiais. Integrado nos quadros da FIFA a partir de 1973, tornando-se no primeiro português a ocupar tamanha posição, a prova do seu valor chegaria com a monta dos desafios em que participaria. Nos certames de maior destaque, para além da presença em 2 finais da Taça de Portugal, contaria com as chamadas à final da Taça do Clubes Campeões Europeus de 1979/80, aos Europeu de 1980 e aos Mundiais de 1978 e de 1982, onde chegou a ser apontado para arbitrar a derradeira partida do torneio disputado em Espanha – “Durante o campeonato, tudo indicava que seria o árbitro da final desde que o Brasil fosse à final (…).Acabei por me limitar a fazer o jogo do terceiro e quarto lugares. Estava em grande forma, era considerado um dos melhores, senão o melhor, árbitro mundial nessa altura. Acabei por ter azar e não ir à final”*.
Obviamente, numa carreira bem propensa a controvérsias, António Garrido acabaria envolvido em algumas polémicas. Com o dia em que incendiaram o seu carro após uma partida em Guimarães no rol dos episódios mais explosivos, também na lista de celeumas haveriam de estar as inúmeras acusações a apontá-lo como “favorito” do FC Porto. Para além de ter sido arrolado como testemunha no processo que ficaria conhecido como “Apito Dourado”, nada mais de concreto emergiria da suposta ligação entre o árbitro e o emblema nortenho. A única verdade patenteada, acabaria por ser o seu valor dentro de campo e a prová-lo, já depois de retirado, surgiriam os anos em que pela FIFA e pela UEFA trabalharia como observador e formador.

*retirado do artigo publicado em www.dn.pt, a 10/09/2014

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