422 - ABRANTES

De Abrantes à localidade capital do distrito das suas origens, Portalegre, distam em linha recta, qualquer coisa como 68,78 km. Também o grosso da sua carreira andou bem longe da terra que lhe dá nome. Depois de ter jogado por emblemas do Alentejo onde nasceu, as suas qualidades, reveladas bem cedo, levaram o Benfica a contratá-lo para os seus escalões de formação.
Motivação não deve ter faltado ao jovem guardião, ou não estivessem os "Encarnados" a atravessar uma das suas épocas de maior glória e o futebol nacional a viver da ressaca do Mundial de 66. Foi exactamente nessa altura que Abrantes subiria, pela mão de Fernando Riera à equipa principal da "Águias". Claro está que, quando no plantel se tem um nome como o de José Henrique, as esperanças de ganhar um lugar como dono da baliza, são muito pequenas. Assim aconteceu com Abrantes, que poucas oportunidades teve na Luz, participando apenas, e em temporadas diferentes, em dois jogos da Taça de Portugal. Aliás, o único trofeu oficial na sua carreira (1968/69), conseguiu-o através de uma destas presenças.
O seu empréstimo foi o passo seguinte, o normal para um atleta promissor, e que até já tinha chegado às selecções jovens nacionais. A Académica recebeu-o. Contudo, se o objectivo da mudança era aprender alguma coisa, grande foi o erro. Primeiro veio a época de 1969/70, onde, peculiarmente, 5 guardiões calçariam as luvas da "Briosa"; depois foi a concorrência de Melo, que o remeteria para o banco de suplentes.
O regresso à "Luz" manteve-o cativo, mais uma vez, da figura principal das redes benfiquistas. Mas é então que se perpetra uma mudança importante na sua vida de desportista. No Barreirense emergia, à altura, um nome que viria a tornar-se mítico do futebol português. O Benfica para o contratar, oferece, entre outras contrapartidas, os préstimos de um dos seus atletas. É assim que Abrantes se vê envolvido no negócio de Bento, e viaja para a margem sul do Tejo. A mudança de que falava, surgiu rapidamente, pois Abrantes conseguiria assegurar o lugar e fazer, pela primeira vez uma temporada como titular na Primeira Divisão. Daí em diante, o seu nome esteve quase sempre associado ao do escalão máximo do nosso futebol. Após representar o colectivo do Barreiro e de outras passagens pelo Sp.Espinho e Montijo, Abrantes chegou ao emblema onde passaria mais anos. Para além de 7 temporadas, pode bem dizer-se que terá sido pelo Estoril-Praia que o guarda-redes viveu um dos episódios mais caricatos na sua vida como profissional - "Eu tinha sempre muito trabalho contra o F.C. Porto mas aquele jogo foi o que mais me ficou na memória. O árbitro marca um penalty contra nós, o Vítor Madeira protesta, vê o segundo amarelo e é expulso. O Gomes mete a bola na marca de penalty mas eu defendo. Quando me levanto vejo que o Vítor Madeira estava em campo. Não sei dizer se nunca saiu ou se tinha voltado a entrar. Mas estava lá e o banco do F.C. Porto estava todo de pé a reclamar. Os jogadores do Porto empurravam o árbitro para a marca do penalty os nossos empurravam-no para fora da área. E ele não tomava nenhuma decisão. Só lhe disse uma coisa [refere-se ao árbitro Graça Oliva]: se vocês não viram se o Vítor Madeira estava em campo, esqueçam lá isso. Eles que joguem à bola que são melhores do que nós. Ele olhou para mim e disse: Tem razão. E o jogo seguiu".

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