388 - LATAPY

Ainda em tenra idade, a sua habilidade levá-lo-ia a ser chamado aos trabalhos das jovens selecções de Trinidad e Tobago. O "Pequeno Mágico", alcunha pela qual ficaria conhecido, cedo revelaria uma grande empatia com a bola. A técnica apurada e uma visão de jogo excepcional, aliados a uma capacidade de passe milimétrica, rapidamente fariam dele um dos melhores a actuar no seu país. Já depois de ter rejeitado um convite para estudar nos Estados Unidos da América, recusa dada em prol de continuar na prática do futebol, Russell Latapy assinaria pelo Portmore United. Como atleta do emblema jamaicano, o médio veria o seu agente entregar uma cassete de vídeo com jogos disputados por si. Agradados com as suas habilidades, os dirigentes do clube visado fechariam o negócio e a sua transferência para a Académica de Coimbra ocorreria na temporada de 1990/91.
Na "Briosa", ao lado dos compatriotas Lewis e Clint, o médio encontrar-se-ia com o técnico Vítor Manuel. Depois de uma fase inicial de normal adaptação, o treinador português rapidamente entenderia o poderio do jogador, entregando-lhe o comando dos colegas dentro de campo – "(…) este homem compreendeu o que eu conseguia fazer e mudou o sistema de jogo da equipa para se enquadrar com a minha maneira de jogar e eu tinha a meu cargo o papel do jogador livre”*.
Terá sido essa capacidade para liderar todo um “onze” que faria com que o FC Porto visse nele alguém com qualidade suficiente para integrar o plantel “azul e branco” e Latapy, após 4 temporadas a envergar as cores dos “Estudantes”, seguiria viagem para a “Cidade Invicta”. Com a entrada no Estádio das Antas a ocorrer na campanha de 1994/95, o atleta, como seria esperado, encontraria outro cenário competitivo. Habituado à titularidade, Latapy, mesmo com algumas dificuldades para conseguir fixar-se como um titular indiscutível, ainda assim lograria de muitas presenças em jogo. Nesse sentido, nos 2 anos a representar os “Dragões”, o médio contribuiria para a conquista de 2 Campeonatos Nacionais e, resultado dessas vitórias, tornar-se-ia no primeiro futebolista do seu país a participar na Liga dos Campeões.
Seria já depois de 2 temporadas a envergar a camisola do Boavista, durante as quais venceria a Taça de Portugal de 1996/97 e a Supertaça da época seguinte, que o jogador deixaria Portugal. Na Escócia a partir de 1998/99, Latapy começaria por vestir a camisola do Hibernian. No emblema de Edimburgo tornar-se-ia num dos favoritos dos adeptos. No entanto, tudo haveria de mudar quando, por razão de uma noite de copos com o conterrâneo Dwight Yorke, é apanhado, pela polícia, a conduzir bêbado. O incidente teria como consequência imediata a quebra dos regulamentos internos do seu clube e tal falha levá-lo-ia ao despedimento.
Curiosamente, em jeito de uma segunda oportunidade, a sua dispensa do emblema sediado na capital escocesa levaria ao seu ingresso no Rangers de 2001/02. Ironia da vida, logo no decorrer do seu primeiro ano de contrato, o holandês Dick Advocaat seria despedido e, para o seu lugar chegaria Alex McLeish, o seu técnico aquando da sua saída do "Hibs". É fácil de adivinhar que a vida de Latapy, a partir dessa troca de treinadores, não ficou mais fácil e o desfecho da história, previsível, com a desculpa que o plantel precisava de “sangue novo”, empurrá-lo-ia para a lista de excedentários da colectividade de Glasgow.
Sem abandonar a Escócia, seguir-se-iam o Dundee Utd e o Falkirk. Por essa altura, sem grandes emoções a agitar a sua vida profissional, o jogador, no entanto, ainda haveria de fruir de uma enorme alegria. Com a Qualificação para o Mundial de 2006 a decorrer, a intervenção de Dwight Yorke levaria médio a revogar a decisão, tomada anos antes, de abandonar a selecção. A sua contribuição acabaria por ser preponderante para o destino dos "Socca Warriors". Depois de disputado o "play-off" e com Trinidad e Tobago a chegar à Fase Final do certame organizado na Alemanha, Latapy, com 37 anos, tornar-se-ia no segundo jogador mais velho a marcar presença no referido torneio.
Já na preparação desta época de 2013/14, no seguimento da sua carreira como treinador, a qual já levou o antigo jogador ao comando da selecção de Trinidad e Tobago, Latapy aceitaria o convite de Petit e hoje é um dos seus adjuntos, naquele que é o seu regresso a Portugal e, neste caso concreto, ao Boavista.

*retirado da entrevista conduzida por Shaun Fuentes, publicada a 08/10/2005, em https://socawarriors.net

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